segunda-feira, julho 23

Doentes com cancro

Estão a ser punidos em Portugal
Vítor Veloso é muito crítico em relação ao modo como está a ser feita em Portugal a luta contra o cancro: link

Antes de começarmos esta entrevista dizia que estava muito preocupado. Com quê?
Uma das questões que mais me preocupa está relacionada com os sobreviventes do cancro que não estão a ser devidamente tratados. Estas pessoas têm de ter, indiscutivelmente, uma vigilância contínua mesmo depois dos cinco anos livres de cancro e, para a Liga, é muito preocupante que estes doentes não sejam defendidos.

Mas estas pessoas não estão isentas de taxas moderadoras, como diz o ministro da Saúde?
O senhor ministro anunciou publicamente, há cerca de dois meses, que os sobreviventes de cancro, após cinco anos livres da doença, não pagariam taxas moderadoras dos exames e consultas relacionadas com a sua patologia. Mas, de qualquer modo, isso ainda não saiu em sítio nenhum. Estes doentes continuam a pagar e sem qualquer apoio.

Existem cerca de 250 mil pessoas nesta situação, é isso?
Mais. Na minha opinião serão entre os 300 e 400 mil doentes. É preciso que haja uma portaria, directriz, circular, qualquer coisa oficial que diga que estes doentes estão efectivamente isentos. Nessa altura, estes que estão a pagar deviam ser reembolsados. Os doentes reclamam que estão isentos e a parte administrativa diz que não sabe de nada e, por isso, acabam por pagar. Só houve a palavra do ministro e mais nada. Isto não pode ser.

Relativamente aos doentes com cancro, a LPCC também está preocupada ?
Também. A nível da acessibilidade há muitos problemas. As pessoas não têm dinheiro para pagar os transportes. Uma senhora contavame que gastava todo o dinheiro que o Estado dá só no táxi de sua casa até ao transporte público que precisava de apanhar até ao Porto. Isso é dramático. O Governo fixa a isenção na base do ordenado mínimo mas, para as pessoas que têm rendimentos um pouco acima disso e que não estão isentas, é muito difícil aguentar. São muitas consultas e tratamentos.

Há doentes a faltar às consultas?
Houve muitos doentes que faltaram a consultas e tratamentos de radioterapia e quimioterapia e que continuam a faltar. Repare que isso faz a diferença entre uma cura ou a sobrevivência com qualidade e uma morte desnecessária.

Tem ideia de quantas pessoas estão nessa situação?
Não. É difícil ter dados sobre isso até porque os doentes têm medo de se queixar, seja do que for.

Medo?
Pode acreditar que sim. Têm medo de represálias dos serviços onde são tratados. É uma realidade e uma tolice. Aliás, quando um doente faz queixa, provavelmente, vai ser mais bem tratado.

Entrevista Andrea Cunha Freitas, JP 23.07.12

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