segunda-feira, julho 23

Paulo Macedo, contagem decrescente

Saúde sem soluções ?
A situação actual não permite análises “politicamente correctas”, manipuladoras ou conviventes. O resultado de um ano de intervenção governamental no sector da saúde agudizou a crise do SNS. Sendo que, no curto prazo, os desastrosos indicadores financeiros resultaram, sobretudo, da inacção da anterior ministra da saúde, a verdade é que a actual equipa falhou na gestão estratégica e operacional dos dossiers. Desde que há SNS esta é a primeira equipa ministerial que, um ano depois de chegar ao Poder, não apresentou um único documento de intervenção global no sentido de criar, no minino, uma expectativa de visão para o Futuro. Vejamos alguns temas essenciais.
A reforma hospitalar?
Um enigma da governação. Após duas encomendas falhadas de “carta hospitalar” continuamos com a noção de que esta equipa não sabe o que anda a fazer. Faltarão “boas” orientações externas? A urgência no encerramento da mais importante Maternidade do país parece servir, exclusivamente, interesses de terceiros e de forma pouco transparente. Não tendo justificação técnica independente, a intenção indicia uma aparente “agenda escondida” que descredibiliza o governo. Admitindo que algumas camas hospitalares deverão ser substituídas por respostas comunitárias, a MAC não faz parte desse processo.
Também a inaptidão na gestão de processos gerou retrocessos graves nos cuidados de saúde primários e gerou, no terreno, dinâmicas incoerentes entre si. Os baixos níveis de reserva de sangue também resultam de má gestão das relações com os dadores.
Em relação à política do medicamento, perderam todos: os doentes, as famílias, a indústria e as farmácias. As contas do Estado não sairão melhoradas, no médio-prazo;
A falta de sensibilidade para com os cuidados continuados integrados reflecte ignorância e, praticamente, inviabilizou uma dinâmica fundamental para a sustentabilidade do SNS;
Ficamos chocados coma forma intelectualmente desonesta como se fingiu, a certa altura, que o ministro desconhecia o lançamento de contratos de trabalho temporário abusivos e promotores de dumping social. Também prova que o governo precisa de umas aulas de “gestão de equipas de saúde”. As acções de alerta das profissões da saúde são de louvar e mereceram todo o apoio popular. Para além de todas estas falhas na gestão do SNS, o repetido processo de desrespeitar e ostracizar quem ousa analisar de forma independente o SNS é sinal de uma cultura totalitária.
O discurso do ministro no debate do “estado da nação” na AR foi incoerente como seu carácter alegadamente técnico. Fica mal tentar escamotear as grandes dificuldades que são inegáveis e seriam sempre de esperar para reformar o SNS. A noção de incapacidade de gerir estes dossiers resultará no início da contagem decrescente para a saída da equipa ministerial? ■
Paulo Moreira, DE 23.07.12

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