sábado, dezembro 1

Espanha, reforma da Saúde

Governo PP da Comunidade de Madrid pretende levar a cabo um ambicioso 'programa de reformas da Saúde.
Na região de Madrid, além dos hospitais mais antigos de gestão pública (como os nossos SPA), existem outros  hospitais da rede pública de gestão privada:  Hospitais PFI (sete) com gestão privada dos serviços não clínicos e gestão clínica pública. Hospitais PPP (três)  de gestão inteiramente privada (clínica e não clínica)- Neste, o estado limita-se a fiscalizar e pagar o serviço. Tal como nos nossos hospitais PPP (Cascais, Braga, Loures).
Pretende-se com esta reforma privatizar inteiramente seis hospitais públicos (cerca de 1.250 camas) envolvendo cerca de 5.500 profissionais de saúde. Externalizar os serviços não clínicos de todos os hospitais públicos (serviços que não pertencem ao “core business” hospitalar) como lavandarias, restauração, serviços de higiene e limpeza, assistência técnica, envolvendo a extinção de cerca de 1.500 postos de trabalho públicos. Encerrar/reconverter antigos hospitais públicos: Instituto de Cardiologia (despromovido, à última da hora, a unidade de apoio sem população de referência), Hospital de La Princesa (hospital escolar) transformado em asilo,  Hospital Carlos III, reduzido a hospital de retaguarda.
Privatização de  40 centro de saúde dos 400 existentes na região.
A reacção dos profissionais de saúde a este programa de reformas tem sido muito forte.

Li, hoje, a entrevista do "consejero de Sanidad madrileño", Javier Fernández-Lasquetty link no “El País” (duro defensor da gestão privada), onde defende a  externalização (rejeita admitir a privatização num jogo semântico)  de  serviços de saúde a entidades capazes de gerar eficiência (os privados na sua opinião) e, assim, reduzir os encargos do estado. Quanto à existência de estudos independentes a justificar esta opção política e a intenção de negociar com os profissionais o desenvolvimento da reforma em curso: nickles.  
Noutra intervenção, Javier Fernández-Lasquetty  defende que o custo  per capita dos novos centros hospitalares é em média de 437 euros por habitante, frente aos 734 euros dos centros hospitalares mais antigos de gestão pública. O cálculo de Lasquetty, contrapõe a crítica, resulta simplesmente da divisão do custo global pelo número de habitantes, não tendo em consideração  a diferença de  complexidade entre hospitais que realizam por exemplo transplantes e outras cirurgias mais complexas.
O perfil do político habilidoso do costume.

O que acontece em Espanha, contrasta com a forma inteligente e sensata como tem sido conduzida a governação da Saúde no nosso país. Mérito que temos de dar aqui, finalmente, a Paulo Macedo (espero não me arrepender do que escrevo mais tarde). A excepção num governo de incompetentes, fanáticos e irresponsáveis.

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5 Comments:

Blogger Tavisto said...

A verdadeira agenda política do governo só agora vai entrar em acção sob a dissimulada rotulagem de refundação do estado social. Numa primeira fase tratou-se de reduzir salários e reformas, num ajustamento de rendimentos muito além do exigido pela troika, agora vão moldar o Estado seguindo o modelo político neoliberal. Numa terceira etapa, se nada os detiver, irão colocar as elites a salvo do descalabro social causado através de medidas de “opting out” na Segura Social, Educação e Saúde.
Medidas semelhantes às aqui declaradas para a região autónoma de Madrid, fazem parte do programa PSD/CDS para a saúde podendo a todo o momento ser entre nós anunciadas. Ver-se-á então em que medida Paulo Macedo se identifica com o modelo de gestão hospitalar pública.
Apesar do modelo PPP no nosso País se mostrar um fracasso, lembremos o descalabro gestionário no hospital de Cascais e, mais recentemente Braga, com o grupo gestor a declarar prejuízo pouco tempo depois da abertura pretendendo renegociar o contrato programa, o ministro elogia o modelo alegando que, contrariamente às rodoviárias, as PPP na saúde foram bem negociadas. É, aliás, cumprindo este figurino que o futuro hospital de todos-os-santos foi anunciado. Pergunta-se pois, serão os encómios de Paulo Macedo às PPP em saúde inocentes?
De mau augúrio é, também, a insistência de Passos Coelho no alegado desperdício, apesar dos cortes sucessivos no financiamento e da relação de parasitismo que os subsistemas públicos passaram a estabelecer com o SNS.
Convém ainda ter presente não ser do conhecimento público as contrapartidas negociais com o poderoso grupo americano Amil, comprador do património de saúde da Caixa Geral de Depósitos, podendo muito bem existir o compromisso de privatização futura da maioria da rede hospitalar pública.
Receio pois que a excepção Paulo Macedo num grupo de fanáticos irresponsáveis seja aparente, acabando por vir a engrossar a estratégia neoliberal do governo.

11:03 da tarde  
Blogger DrFeelGood said...

Excelente comentário do Tavisto.
O Xavier, hoje, passou-se.

11:14 da tarde  
Blogger Clara said...

Também entre nós não são conhecidos estudos independentes que demonstrem que as PPP são uma boa opção aos HH EPE.

Paulo Macedo também terá feito a suas contas (de merceeiro certamente) para fundamentar a sua decisão de construir o Hospital de Todos os Santos segundo o modelo de financiamento PPP.
Terá também decidido não concessionar a gestão clínica a entidades privadas também, não se sabe, com fundamento em que informação.

Todos os Santos será assim, a bem dizer, o nosso primeiro hospital de modelo PFI. Ou modelo PPP coxo (sem gestão privada).

HH SPA, EPE, Hospital S. Sebastião, EPE (um EPE especial), HH PPP.
Um mar de experiências sem avaliação que se veja.

12:30 da tarde  
Blogger saudepe said...

O processo de privatização dos hospitais da Comunidade de Madrid decorre desde 2003 com a governação PP de Esperanza Aguirre e a construção de novos hospitais segundo o modelo de financiamento PFI e PPP.
A crise que a Espanha presentemente atravessa serve de pretexto para acelerar este processo estendendo a privatização aos velhos hospitais, com toda a contestação que se conhece e greve médica por tempo indefinido.

É, por isso, temendo cair em situações deste tipo, que, entre nós, Paulo Macedo foge de intervir nos hospitais da rede do SNS como o diabo da cruz, preferindo investir no projecto do Hospital de Todos os Santos que servirá de pretexto ao encerramento mais ou menos pacífico dos velhos hospitais da região de Lisboa.
Para isso, PM precisará de duas legislaturas o que me parece difícil. Entretanto, vai tendo justificação para não intervir mais a fundo na rede, que é o que importa. A arte de bem encanar a perna à rã em que PM é doutorado como aqui já se referiu.
É por estas e por outras que eu concordo que o Xavier, ontem, passou-se!

12:57 da tarde  
Blogger tambemquero said...

...Este experto en gestión sanitaria apunta a otros motivos cuando el modelo es el enteramente privado, que funciona con pago poblacional, o per cápita. “Es otra cosa. Se trata de una privatización de la provisión y revela una preferencia política que abunda en el argumento de que todo lo privado es, por definición, más barato que lo público”, señala. Alberto de Rosa asegura que “el modelo es más barato para la Administración” y precisa que ahorra un 25% con respecto a los centros gestionados directamente. Reconoce, sin embargo, que el dato procede de las propias consejerías de sanidad de Madrid y la Comunidad Valenciana, que son las que han optado por el sistema.

El consejero madrileño, Javier Fernández-Lasquetty, ofreció una cifra esta semana, durante la presentación del balance de la actividad de los nuevos hospitales. El coste comparado per cápita es de 437 euros de media por habitante, frente a los 734 euros de media del resto de centros, afirmó. “Todo el mundo sabe que esos cálculos son falsos”, opina Sánchez-Bayle. “El coste por cama de los nuevos hospitales supera de media en 100.000 euros anuales el de los hospitales tradicionales”. Un estudio realizado por UGT a partir de datos oficiales (presupuestos) mostró que el coste por cama de los nuevos hospitales era sustancialmente mayor que el de los tradicionales. El centro con coste por cama más bajo de los nuevos (Henares, 335.000 euros por cama y año) resultaba prácticamente igual que el más caro de los tradicionales y de gestión pública, el Clínico (338.000 euros)...

El pais 27.11.12

10:16 da tarde  

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