Consultas aos sábados
O secretário de Estado Adjunto do ministro da Saúde confirmou
hoje que está em curso o alargamento dos horários de atendimento aos doentes.
"É um processo que está em curso, é um processo silencioso,
do qual muitas vezes as pessoas não se apercebem. Já há muitos hospitais e
centros de saúde com horário alargado. A ideia é, tão breve quanto possível,
desde que tenhamos os recursos humanos necessários, tornar isso a regra para o
Serviço Nacional de Saúde", frisou Fernando Leal da Costa. O Governante acrescentou, após a inauguração de uma Unidade de
Saúde Familiar no Bairro da Boavista, em Lisboa, que o processo "demorará
os seus anos", mas deseja que o mesmo esteja concluído "até ao fim
desta legislatura".O Diário de Notícias noticiou hoje que o Ministério da
Saúde quer que os hospitais e centros de saúde alarguem os horários de
atendimento aos doentes nas consultas até às 22:00 e aos sábados.Segundo o
jornal, esta mudança está prevista num documento entregue aos hospitais, sendo
que o vogal do conselho diretivo da Administração Central do Sistema de Saúde
Alexandre Lourenço assegurou que a medida "vai avançar e estará prevista nos
planos estratégicos dos hospitais link
Económico 23.04.13
Ciumeira ou protagonismo na ACSS?
A sede de protagonismo não torna admissível
que altos funcionários da ACSS como o Dr Alexandre Lourenço façam letra morta
dos acordos assinados com os sindicatos médicos pelo Sr. Ministro da
Saúde.
Pretender alterar por peregrina inspiração
a legislação laboral e os horários de trabalho, e "vendê-la" à
comunicação social, é de extrema gravidade.
Os portugueses sabem bem que são os seus
médicos quem merece confiança para defender a sua saúde. Não são burocratas com
pele de cordeiro que apelam a atropelos a lei.
É fundamental que o Sr. Ministro da Saúde
tome as devidas providências em relação a um subordinado seu que rasga
compromissos, por si, obviamente, assinados...
SIM, 23-04-2013 link
Mais um ensaio experimental. Será que o ministro vai desmentir o secretário de estado adjunto nas próximas horas? Ou subir a parada para consultas ao domingo ?!
Aguardemos as cenas dos próximos capítulos.
Etiquetas: s.n.s
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Os estudos e o Estado
Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff perderam-se numa folha de cálculo. Baralharam-se com a informação que nela colocaram e mais ainda com a que deixaram de fora. Tiraram conclusões que pecam por falta de rigor na sustentação. O caso não teria a mesma importância se não fosse portador de força suficiente para abalar umas convicções e reforçar outras.
Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff perderam-se numa folha de cálculo. Baralharam-se com a informação que nela colocaram e mais ainda com a que deixaram de fora. Tiraram conclusões que pecam por falta de rigor na sustentação. O caso não teria a mesma importância se não fosse portador de força suficiente para abalar umas convicções e reforçar outras.
A história conta-se de forma resumida. Num estudo divulgado em 2010, os dois economistas analisaram dados estatísticos de diversos países para avaliarem a relação entre dívida e crescimento no período compreendido entre 1790 e 2009. No final, garantiram que uma dívida pública correspondente a 90% do produto representa o limiar a partir do qual as taxas de crescimento começam a abrandar.
O trabalho sempre gerou controvérsia e discussão, mas não deixou de ser adoptado como uma base teórica para as medidas de redução dos défices e das dívidas que estão a ser aplicadas na Zona Euro. Acontece que um estudante curioso escrutinou os dados usados por Rogoff e Reinhart e chegou à conclusão de que havia erros nos cálculos, incluindo a omissão de dados que, curiosamente, colidiam com a conclusão central apresentada.
A discussão foi reacendida e, coincidência ou não, surge na altura em que o discurso em defesa da austeridade e dos programas de ajustamento para cumprir em prazos apertados está a ser substituído por outra visão. Durão Barroso, por exemplo, acaba de afirmar que "a austeridade atingiu o limite", poucas semanas depois de ter declarado que "o crescimento alimentado pela dívida é um crescimento artificial", sendo necessário "restaurar a sustentabilidade das finanças públicas".
Quando se olha para um estudo, lê-se muitas vezes aquilo que se quer ou aquilo que se deseja, sobretudo quando está em causa encontrar sustentação para tomar decisões políticas. No "caso" Reinhart e Rogoff, o risco está em assumir agora a sua falta de credibilidade com a mesma paixão com que se viu no estudo dos dois economistas a verdade absoluta. Os académicos que já reviram e corrigiram os dados do "paper" de 2010, chegaram à conclusão de que o limiar é de 120%, e não de 90%, mas confirmaram que um nível excessivo de encargos financeiros acaba por tolher o ritmo de crescimento.
Tudo isto pode ter a aparência de uma mera guerra de números entre coca-bichinhos. Mas o consenso sobre os efeitos do endividamento sobre o desempenho económico devia fazer pensar duas vezes antes de se começar a deitar foguetes por haver agora um estudo que parece dispensar os Governos de racionalizarem os gastos e de retirarem o Estado do papel de inimigo da economia. Sem necessidade de estudos académicos, que também os há, o mero bom senso permite perceber que Portugal é um exemplo de como gastar muito, à custa da acumulação de dívida, não significa gastar bem e promover o crescimento. Caso contrário, o país não estaria afundado na grave crise actual.
Ninguém contesta que em Portugal e na Zona Euro é preciso encontrar soluções para reanimar a actividade e baixar o desemprego. Mas o caminho não pode ser o de abandonar o objectivo de reformar o Estado e de reduzir o peso asfixiante que exerce sobre a economia. Nem vale a pena esperar por um novo estudo que aponte os 150% da dívida sobre o produto para endireitar as finanças públicas.
João Cândido da Silva
JN 24.04.13
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