ADSE, maior furo por resolver
Premiado pela Ordem dos Médicos diz que ADSE é "maior
furo" por resolver na Saúde.
O vencedor da primeira edição do Prémio Miller Guerra,
instituído pela Ordem dos Médicos, indicou, esta quarta-feira, ao ministro da
Saúde que a ADSE é "o maior furo" quem tem para resolver.
O médico Mário Moura, que exerceu durante anos no
centro de saúde de Setúbal, foi o vencedor da primeira edição do Prémio Miller
Guerra, galardão que hoje foi entregue, numa cerimónia presidida pelo ministro
da Saúde, Paulo Macedo, que decorreu na Ordem dos Médicos, em Lisboa.
"A ADSE é o maior furo que o senhor tem no seu
Ministério", declarou Mário Moura dirigindo-se a Paulo Macedo,
considerando que o subsistema dos funcionários públicos deve ser mexido para se
conseguir racionalização económica.
"Julgo que os hospitais privados vivem em parte disto
[da ADSE] ", acrescentou.
Para o médico, atualmente com 85 anos e que sempre trabalhou
ligado à clínica geral e familiar, a base da medicina está na relação entre
médico e doente.
Entre as várias experiências de carreira que contou, lembrou
ter chegado a trabalhar durante três anos "24 horas dia sim, dia
não", recebendo apenas mil escudos (atuais cinco euros).
Apesar de "nunca lamentar os esforços" que foi
fazendo durante a sua carreira, diz que viveu tempos mais difíceis do que
aqueles que são atualmente partilhados pela sua classe
Contudo reconhece que o atual momento da sociedade
portuguesa é de dificuldade: "isto está tudo agravado por causa do
Gasparzinho, que me desculpe o senhor ministro da Saúde", afirmou,
referindo-se ao ministro das Finanças.
O júri do Prémio Miller Guerra de Carreira Médica escolheu
por unanimidade distinguir na sua primeira edição o médico Mário Moura, entre
10 candidaturas.
Segundo o regulamento, o prémio destina-se a galardoar um
profissional médico que se tenha distinguido por uma carreira exemplar dedicada
ao serviço dos doentes e ao progresso da assistência médica em Portugal.
Nascido em Coimbra em 1927, Mário Silva Moura licenciou-se
nessa cidade em Medicina, tendo depois fundado a Caixa de Auxílio Médico à
Academia, primeiro serviço de assistência médica para estudantes.
Mas foi em Setúbal, no Hospital do Espírito Santo, que
começou a sua carreira de dedicação à clínica geral e à medicina familiar.
Até à data da criação do Serviço Nacional de Saúde (SNS)
exerceu no Instituto de Assistência Nacional dos Tuberculosos e nos Serviços
Médico-Sociais das Caixas de Previdência.
No ano de criação do SNS, em 1979, ingressou no centro de
saúde de Setúbal, onde chegou a ser diretor clínico, cargo que manteve até à
sua aposentação.
O Prémio Miller Guerra, instituído em 2012 pela Ordem dos
Médicos e pela Fundação Merck Sharp Dohme, tem um valor de 50 mil euros e será
entregue pela primeira vez na quarta-feira, numa sessão solene a realizar na
sede da Ordem, em Lisboa.
Este prémio foi lançado no final do ano passado, ano do
centenário do nascimento do médico Miller Guerra, neurologista e discípulo de
Egas Moniz, o único prémio Nobel da Medicina português.
JN 31/05/13
Bem! No que respeita a furos este governo pede meças. Paulo
Macedo terá pensado, a ADSE é de facto um enorme furo. Mas que é isso comparado
com o buraco das finanças públicas do Gasparzinho?
Tavisto
1 Comments:
O prémio Miller Guerra atribuído ao médico Mário Moura que, resumindo, consagra toda uma (longa) vida dedicada ao exercício da Medicina fez-me recordar Fernando Namora e as suas narrativas (esta palavra 'proscrita') condensadas nos 'Retalhos da Vida de um Médico'.
Os tempos são outros, i. e., com Fernando Namora estavamos no início do século XX e agora - quase cem anos depois - Mário Moura conseguiu (teve oportunidade) de exercer parte substancial do seu mister num outro 'ambiente social' construído ao redor de um enorme capital de esperança e solidariedade: o SNS.
Namora, teve de enfrentar e conviver, como médico de aldeia, o charlatanismo, as supertições e as crendices. É por assim dizer a memória viva de uma figura mítica criada por Júlio Diniz no séc. XIX - o João Semana.
Mário Moura viveu, porque longevo, as entusiasmantes e progressistas (outra palavra proscrita) transformações decorrentes do 25 de Abril, e mais, integrou-se nelas, nomeadamente quando dedica parte substancial da sua carreira (outra basfémia!) aos cuidados primários de saúde, pilar desse serviço universal o SNS.
Então porque a vida de Mário Moura nos traz à memória Namora?
Porque, sendo efectivamente os tempos outros - e distantes sem dúvida - o actual espectro social determinado pelo tal 'Gasparinho' e executado pelo 'Macedinho' caminha para uma trágica convergência com o início do século passado.
Estão de volta os fantasmas (a realidade?) do subdesenvolvimento, da subalimentação e da desconfiança no futuro.
Resta-nos lutar (e não só 'esperar') para que o percurso de Mário Moura não tenha sido uma caminhada errática através de um SNS que, acossado por ilusões monetaristas e desvarios orçamentais, com 'enormes' dificuldades, ainda resiste.
De facto, o grande drama relativamente a este prémio é o 'laureado' correr o risco de terminar a sua meritória carreira como começou. Isto é, com uma insípida e rudimentar 'Previdenciazinha'... e de regresso às 'Casas do Povo'...
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