Administradores avisam
«Administradores Hospitalares dizem que medidas não podem ser
avulsas e receiam que os hospitais não tenham capacidade para pagar o
alargamento do horário de trabalho para as 40 horas semanais
A presidente da Associação Portuguesa dos Administradores
Hospitalares (APAH), Marta Temido receia que o aumento das horas de trabalho se vá traduzir
em mais custos para o setor e considera que a redução dos trabalhadores menos
qualificados teria "consequências devastadoras".
À frente desta associação há um mês, Marta Temido defende
uma política estratégica para os recursos humanos, lembrando que estes são
responsáveis por 70 por cento das despesas nos hospitais.
Em entrevista à agência Lusa, a administradora do Hospital
de Cantanhede manifestou-se contra "medidas avulsas" nesta área e
disse recear o impacto do anunciado alargamento do horário de trabalho para as
40 horas semanais.
"Trabalhar mais não significa produzir mais, mas por
uma lógica normal, trabalhar mais horas irá trazer uma maior quantidade de
cuidados de saúde produzidos. Será que temos a capacidade de a pagar",
questionou.
Para Marta Temido, "para o alargamento do horário de
trabalho ser rentável não basta contar com mais horas de força de trabalho. É preciso
contar com os custos de exploração concretos: custos com consumíveis, por
exemplo. E são mais custos".
Por outro lado, avançou, os profissionais "podem estar
mais horas disponíveis e nem por isso estarem a trabalhar com eficiência".
"Discutimos tanto as horas que as pessoas estão a
trabalhar e não discutimos o que estão a fazer dentro das horas de trabalho
disponíveis", disse, defendendo uma análise do desempenho para saber como
estão organizadas e o que estão a fazer.
Questionada sobre a saída de trabalhadores menos
qualificados, no âmbito da reforma do Estado, Marta Temido disse que esta teria
"consequências devastadoras".
Isto porque, "hoje em dia, a atividade dos hospitais
reside muito no trabalho em equipa, mais do que no ato de saúde do médico,
enfermeiro ou técnico", lembrou.
"Pensar que vamos abdicar de profissionais menos
diferenciados por restrições financeiras significa que se vai aceitar que
profissionais mais diferenciados vão ter de fazer também esse trabalho, porque
alguém vai ter de o fazer, o que é tudo menos eficiente", disse.
A administradora exemplificou: "Se prescindo de ter um
enfermeiro no gabinete da consulta para apoiar o médico, então assumo que o
médico vai fazer as tarefas da consulta que está a fazer e realizar um conjunto
de atividades que o enfermeiro poderia fazer".
"Se eu assumo que prescindo [dos assistentes
operacionais] estou a aceitar que o médico vai chamar os doentes para a
consulta e preencher ele determinados papéis administrativos. É para isso que
pagamos aos médicos? Que os formamos? É para isso que os queremos? É isso que é
eficiente?", questionou.
Para a gestora, "a eficiência tem de ser uma opção
inteligente e não uma solução de recurso acéfala", mostrando-se
apreensiva com a desmotivação dos profissionais.
Marta Temido atribui parte desta desmotivação à forma como
algumas medidas têm sido explicadas aos profissionais, como o controlo da
assiduidade.
"Algumas medidas incontornáveis em qualquer empresa --
como o controlo biométrico de assiduidade -- talvez tenha sido implementado da
forma menos boa, como um instrumento de controlo e de tortura e não explicado
como um instrumento.»
07.06.13 link
Excelente intervenção da nossa presidenta. Lufada de ar fresco. Ouvir quem tem algo acertado para dizer.
Metem dó os trapalhões que somos obrigados a ouvir todos os dias. Cortes a eito e medidas avulsas, paradigma desta política de saúde acéfala.
Clara
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