domingo, julho 14

Encerramento da MAC

Um insano desperdício 
Tem-se tornado habitual a concretização de medidas polémicas, que suscitam forte reacção social, durante o tempo de férias, garantindo assim quase nula intervenção de quem é atingido pelas suas consequências. Refiro explicitamente a Maternidade Alfredo da Costa (MAC) e a notícia vinda a público de que a transferência dos serviços de urgência e de cuidados intensivos neonatais far-se-ia no final de Julho link, e relembro que o trabalho desenvolvido neste último serviço é considerado de excelência, o que eu própria, como mãe de gémeos que aí se encontram, posso vivamente testemunhar, juntamente com o meu marido e tantos outros casais que aí acompanham os seus filhos. É lamentável que a obsessão com o fecho da MAC descure o cuidado que é imperioso ter numa transferência de serviços, tratando-se sobretudo de neonatologia. Não ignora a administração do Centro Hospitalar de Lisboa Central (CHLC) que Julho e Agosto são meses de férias e que muito pessoal se encontra ausente, situação que desaconselha vivamente uma transferência que exige uma imensa segurança e vigilância no trabalho a realizar. Estes senhores nunca passaram pela neonatologia da MAC e por isso desconhecem a luta que ali se trava pela Vida. Muito menos têm em conta, e lamenta-se a sua insensibilidade, as muitas histórias contadas por pais, médicos, enfermeiros e auxiliares sobre a força que estes bebés, tão pequeninos, nos transmitem ao longo de semanas, em que cada dia é uma vitória para o seu crescimento. Imperioso é que refira a dedicação e o empenho com que todos sem excepção trabalham neste serviço, revelando a grandeza que guarda o verbo “servir”. Nós, pais, de olhar e de ouvido sempre atentos, quantas vezes em sobressalto perante os inúmeros avisos das máquinas, testemunhamos a paciência dos enfermeiros em explicar-nos o significado de tudo o que rodeia os nossos filhos para que não nos atormentemos desnecessariamente com este ou com aquele ruído súbito ou contínuo.
Revoltante é observar que um serviço avaliado como excelente, entre os melhores da Europa, e, obviamente, fruto de um aturado estudo e trabalho de anos, na formação de equipas coesas, em que o mínimo pormenor de actuação não é descurado, e em que o profundo respeito pelos casais se evidencia ao longo dos dias que aí passam, se desmembre, perdendo-se irremediavelmente. Com efeito, o objectivo parece ser o de querer destruir todo este excelente trabalho de equipa que beneficia e se dirige a todos sem excepção. A este propósito dei comigo a pensar que, talvez por isso mesmo, o anunciado fecho da MAC (no qual não queremos acreditar) queira significar que não nos podemos habituar a serviços públicos de excelência.
É impossível esquecer o papel precursor da MAC, a nível nacional, em neonatologia, bem como a visão holística que caracteriza a actividade que desenvolve, em que todos os casos têm um acompanhamento pluridisciplinar envolvendo os diversos serviços de uma forma integrada (ginecologia/obstetrícia, pediatria/ neonatologia, não sendo descurado o acompanhamento psicológico).
Como se explica também a avultada quantia gasta na remodelação do Serviço de Neonatologia há cerca de seis anos, e o seu insano desperdício com o anúncio do encerramento da MAC ? Tem igualmente seis anos o Banco de Leite Humano da MAC, do qual, em caso de necessidade, usufruem todos os bebés internados. Paradoxalmente, este serviço imprescindível não existe nos serviços de neonatologia dos hospitais de Santa Maria e de S. Francisco Xavier conforme soube, tendo recebido a informação que “infelizmente ele só existia na MAC”.
Qualquer que seja a decisão da Justiça em relação à providência cautelar, será que ainda podemos contar com um acto de lucidez por parte do senhor ministro da Saúde?
Maria Vieira Raposo, geógrafa
JP 14.07.13

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