Encerramento da MAC
Tem-se tornado habitual a concretização de medidas
polémicas, que suscitam forte reacção social, durante o tempo de férias,
garantindo assim quase nula intervenção de quem é atingido pelas suas
consequências. Refiro explicitamente a Maternidade Alfredo da Costa (MAC) e a
notícia vinda a público de que a transferência dos serviços de urgência e de
cuidados intensivos neonatais far-se-ia no final de Julho link,
e relembro que o trabalho desenvolvido neste último serviço é considerado de
excelência, o que eu própria, como mãe de gémeos que aí se encontram, posso
vivamente testemunhar, juntamente com o meu marido e tantos outros casais que
aí acompanham os seus filhos. É lamentável que a obsessão com o fecho da MAC
descure o cuidado que é imperioso ter numa transferência de serviços,
tratando-se sobretudo de neonatologia. Não ignora a administração do Centro
Hospitalar de Lisboa Central (CHLC) que Julho e Agosto são meses de férias e
que muito pessoal se encontra ausente, situação que desaconselha vivamente uma
transferência que exige uma imensa segurança e vigilância no trabalho a
realizar. Estes senhores nunca passaram pela neonatologia da MAC e por isso
desconhecem a luta que ali se trava pela Vida. Muito menos têm em conta, e
lamenta-se a sua insensibilidade, as muitas histórias contadas por pais,
médicos, enfermeiros e auxiliares sobre a força que estes bebés, tão
pequeninos, nos transmitem ao longo de semanas, em que cada dia é uma vitória
para o seu crescimento. Imperioso é que refira a dedicação e o empenho com que
todos sem excepção trabalham neste serviço, revelando a grandeza que guarda o
verbo “servir”. Nós, pais, de olhar e de ouvido sempre atentos, quantas vezes
em sobressalto perante os inúmeros avisos das máquinas, testemunhamos a
paciência dos enfermeiros em explicar-nos o significado de tudo o que rodeia os
nossos filhos para que não nos atormentemos desnecessariamente com este ou com
aquele ruído súbito ou contínuo.
Revoltante é observar que um serviço avaliado como
excelente, entre os melhores da Europa, e, obviamente, fruto de um aturado
estudo e trabalho de anos, na formação de equipas coesas, em que o mínimo
pormenor de actuação não é descurado, e em que o profundo respeito pelos casais
se evidencia ao longo dos dias que aí passam, se desmembre, perdendo-se
irremediavelmente. Com efeito, o objectivo parece ser o de querer destruir todo
este excelente trabalho de equipa que beneficia e se dirige a todos sem
excepção. A este propósito dei comigo a pensar que, talvez por isso mesmo, o
anunciado fecho da MAC (no qual não queremos acreditar) queira significar que
não nos podemos habituar a serviços públicos de excelência.
É impossível esquecer o papel precursor da MAC, a nível
nacional, em neonatologia, bem como a visão holística que caracteriza a
actividade que desenvolve, em que todos os casos têm um acompanhamento
pluridisciplinar envolvendo os diversos serviços de uma forma integrada
(ginecologia/obstetrícia, pediatria/ neonatologia, não sendo descurado o
acompanhamento psicológico).
Como se explica também a avultada quantia gasta na
remodelação do Serviço de Neonatologia há cerca de seis anos, e o seu insano
desperdício com o anúncio do encerramento da MAC ? Tem igualmente seis anos o
Banco de Leite Humano da MAC, do qual, em caso de necessidade, usufruem todos
os bebés internados. Paradoxalmente, este serviço imprescindível não existe nos
serviços de neonatologia dos hospitais de Santa Maria e de S. Francisco Xavier
conforme soube, tendo recebido a informação que “infelizmente ele só existia na
MAC”.
Qualquer que seja a decisão da Justiça em relação à
providência cautelar, será que ainda podemos contar com um acto de lucidez por
parte do senhor ministro da Saúde?
Maria Vieira Raposo, geógrafa
JP 14.07.13
Etiquetas: Paulo Macedo, s.n.s
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