terça-feira, setembro 3

Carrossel é uma espécie de ‘feira’

‘turismo’ é outra coisa… 
 Ontem, em declarações públicas link, foram verdadeiramente patéticas as declarações do presidente da ARSLVT, Luís Cunha Ribeiro, sobre as alterações em curso nas urgências de Lisboa. Procedeu-se a um dramático ‘ajustamento’ na oferta de cuidados de urgência na área de Lisboa e o mesmo senhor aparece categórico a afirmar que “nada de essencial vai mudar para os utentes”… E se algo faltasse para acalentar receios o ar assertivo e ‘confiante’ do responsável pela ARSLVT levanta mais suspeitas sobre a validade da mudança do que tranquiliza os utentes. O dito senhor, contudo, teve o pudor de evitar propagandear as ‘inevitáveis melhorias’ (melhor coordenação, mais eficiência, melhor resposta, etc.) facto que já se tornou uma habitual ‘boutade’ dos actuais dirigentes da Saúde na avaliação prévia das ‘suas’ reformas, antes de quaisquer resultados. Esta púdica mudança de retórica é uma atitude cautelar e revela a precaução (no passado precaução e caldos de galinha foram importantes para preservar estados de saúde) de deixar 'aberto' um caminho de recuo que se afigura provável, para não dizer necessário. 
 Perante as questões que lhe foram colocadas manteve-se hirto e firme. Só muito a custo admitiu que “que até ao final do ano vão ser analisadas todas estas experiências” e lembrou que o que se fez na especialidade de otorrino «permitiu-nos aprender e corrigir erros que eventualmente se cometem nestas coisas»link
Mas a sua indignação suprema recaiu sobre a Associação Portuguesa de Medicina de Emergência (APME) e sobre a rábula tecida pelo seu presidente Vítor Almeida sobre um eventual “turismo de doentes” (entre aspas). link. 
 É uma típica manobra de diversão. Na verdade, o ‘carrossel de transferências interhospitalares’ (mais uma agressão ao léxico hospitalar) é um facto bem conhecido de quem trabalha nos Hospitais, tem causas múltiplas e vícios e, necessariamente, são para os que se assumem como insignes gestores da saúde (apesar de licenciados em Medicina) meros ou rotineiros ‘fluxos de utentes’. Só que quer para o utente e para o médico e em casos de verdadeira urgência, i. e., situações graves (críticas), não interessou ao dirigente da ARSLVT – quando propõe alterações deste tipo - valorizar a ‘instabilidade’ inerente a toda e qualquer transferência interhospitalar. Nem considerar que cerca de 2/3 dos doentes transferidos sofrem importantes alterações fisiológicas durante o transporte. São – para os actuais decisores da Saúde - danos colaterais que a emergência orçamental justifica politicamente e a equação de problemas inerentes e subjacentes - "atitudes obstaculizantes". 
 Isto, é óbvio, não um turismo vulgar, nem inócuo. O presidente da ARSLVT sabe (ou devia saber) que a ‘medicina do transporte’ é, ainda no nosso País, uma actividade em fase de consolidação, carente de contexto normativo e de meios adequados. 
 O que pode vir a transformar-se é num estranho ‘carrossel de doentes pela rede de urgência de Lisboa’ onde - não podem deixar de existir dúvidas - sobre o ratio entre a oferta, a procura, os meios de transporte e tempo de acesso. Porque turismo a sério, nesta área, é outra coisa. Por exemplo: ser consultor do MS e andar a fazer prospecção de recrutamento médicos estrangeiros para o SNS (em cima do momento em que começava a diáspora dos médicos portugueses) … link 
E-Pá!

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