quarta-feira, dezembro 3

A Saúde é um negócio !

Após vários adiamentos e seis anos depois do seu lançamento, o complexo hospitalar Senhor do Bonfim, em Vila do Conde, está concluído e será inaugurado no início de dezembro pelo primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho. Em meados de janeiro entra em operação. É o maior hospital privado do país, envolvendo um investimento de 100 milhões de euros. link
O projeto Senhor do Bonfim é da responsabilidade do empresário Manuel Agonia, 77 anos, e foi o único da área da saúde a ser declarado PIN- Potencial Interesse Nacional.
Agonia fundara a rede Clipóvoa (dois hospitais e três ambulatórios) que venderia, em 2006, à Espírito Santo Saúde. Foi o encaixe deste negócio que concedeu músculo ao empresário poveiro para se abalançar um investimento tão elevado no Senhor do Bonfim. Em velocidade cruzeiro, ocupará perto de 850 profissionais, tendo já recebido mais de nove mil candidaturas.
Vocação global
"Será o melhor hospital da Europa em todas as valências. Não valia a pena fazer mais um hospitalzinho", orgulha-se Manuel Agonia que não receia a dimensão do projeto "pela sua vocação global".
O financiamento foi assegurado por capitais próprios. "Não tive ajudas de ninguém, apliquei os capitais que acumulei. Nunca depositei dinheiro no estrangeiro", diz o empresário. Agonia justifica a ousadia do investimento "pelo seu amor à Pátria", comparando o seu espírito empreendedor ao caráter aventureiro dos navegadores portugueses que se lançaram à descoberta de novos mundos.
A capacidade é de 525 camas. O hospital geral, com 113 quartos duplos e 15 individuais, conta com 241 camas e sete salas de bloco operatório. Para se ter uma ideia da dimensão, o maior hospital privado do Norte (o Cuf Porto), conta com 150 camas e o grupo Trofa Saúde, que atua na mesma área de influência do Senhor do Bonfim, tem 404 camas nas quatro unidades que gere. Em número de camas, descontando as parcerias público-privadas, a maior unidade privada é o Hospital da Luz, em Lisboa (231 camas).
A previsão da empresa promotora é que duas mil pessoas frequentem diariamente as instalações, entre doentes internados, consultas e profissionais de saúde.
Geriatria e patologias do foro mental
O complexo hospitalar acolhe oito edifícios autónomos e terá uma vocação no turismo de saúde, em especial nos segmentos de geriatria e psiquiatria. A proximidade ao aeroporto Sá Carneiro é um fator suplementar de atractibilidade. Além de um hospital geral e de um centro neurológico, conta com uma unidade residencial, uma unidade de serviços de ambulatório e até uma capela.
Mas, Manuel Agonia rejeita o conceito de "turismo de saúde", porque os doentes querem "recuperar a saúde, não fazer turismo". E para acentuar que o novo complexo vai disputar os principais mercados europeus, interroga: "Sabe quantos russos estão em lista de espera em São Petersburgo? Ou o tempo de espera por cirurgias em Londres? E qual o preço de uma diária de internamento na Suécia?", Com as viagens tão baratas, a área de influência dos Hospitais Senhor do Bonfim é todo o espaço europeu.
Segundo a sua memória descritiva, a conceção do projeto "teve em conta as prioridades enunciadas pelo Plano nacional de Saúde e no relatório "Health in Portugal da União Europeia". Nesta medida, "será particularmente orientado para as áreas de pediatra e geriatria e para as patologias do foro mental, como Parkinson, Alzheimer, esquizofrenia e bipolaridade".
Na altura do apresentação do PIN, um estudo de viabilidade da EGP- Porto Business School apontavam para uma Taxa Interna de Rentabilidade (TIR) de 21%, alcançando "o ponto crítico de volume de negócios", estimado em 52,5 milhões, no terceiro ano de exploração. Depois, a faturação deve crescer 12% ao ano. A atualização do relatório levou a EGP a subir a TIR para 26% e a ser mais prudente nos níveis de faturação, calculando um Valor Atualizado Líquido (VAL) de 298 milhões de euros.
Se, entretanto, o mundo mudou, a nova realidade não assusta Manuel Agonia. Se fosse hoje, o programa teria a mesma ambição. "Ao longo da minha vida, o mundo já mudou muitas vezes e nunca esperei pelos oásis da vida para tomar decisões. A mudança faz parte do mundo". argumenta o empresário de 77 anos.
Semanário Expresso 02.11.14
Mais um hospital privado inaugurado ao mais alto nível por Passos Coelho e Paulo Macedo. Por que acho que vale a pena divulgar as sentidas e visionárias palavras do empresário Manuel Agonia, aqui deixo a entrevista. link
Lembro apenas que ocorreu antes dos recentes movimentos de espionagem Russa por ar e por mar. Será que tudo não passou de um equívoco, não trariam eles doentes das longas listas de espera de S. Petersburgo ?
Tavisto
“A saúde é um negócio" link


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segunda-feira, fevereiro 3

Iniciativa do PCP

Ex. ma Sr.ª Presidente da Assembleia da República
O PCP tem ao longo dos anos denunciado a transferência de dinheiro público para os privados, sendo que esta prática é transversal a todos os setores de atividade, porém ganha cada vez mais expressão no setor da saúde.
As notícias dos últimos dias relativas à principal fonte de financiamento de um grande grupo privado de saúde atestam o que o PCP tem dito. Assim, de acordo com a informação veiculada pela comunicação social mais de metade das receitas do Grupo Espírito Santo Saúde decorrem da transferência de dinheiros públicos por via do pagamento das rendas da Parceria Público Privada do Hospital Beatriz Ângelo e dos subsistemas de saúde (ADSE, SAD E ADM).
É crível que o mesmo se passe com outros grandes grupos económicos da saúde.
A informações agora tornadas públicas confirmam plenamente o que o PCP diz o Governo corta no financiamento do Serviço Nacional de Saúde (SNS), só este ano serão 300 milhões a menos no orçamento do SNS, mas mantém a transferência de 500 milhões de euros para os grandes hospitais privados ao abrigo da ADSE e aumenta os encargos com as parcerias público privadas da saúde em 6%, atingindo um montante de 418 milhões de euros em 2014.
O Governo tem afirmado publicamente de que tem sido forte com a indústria e os grupos económicos e financeiros, mas realidade mostra exatamente o oposto. A promiscuidade entre público e privado tem vindo a acentuar-se, assim como o financiamento dos grandes grupos económicos e financeiros pelo orçamento de estado.
Assim, ao abrigo das disposições constitucionais e regimentais aplicáveis, solicitamos ao Governo que, por intermédio do Ministério da Saúde, nos sejam prestados os seguintes esclarecimentos:
1.Quais os montantes transferidos do Estado para os grupos privados de saúde durante os anos de 2010, 2011, 2012 e 2013? Solicitamos que a informação seja fornecida de forma desagregada por grupo privado de saúde.
2.Quais os montantes transferidos pelo Estado, por via dos subsistemas de saúde (ADSE, SAD e ADM), para os grupos privados de saúde durante os anos de 2010, 2011,2012 e 2013?
Solicitamos que a informação seja fornecida de forma desagregada por grupo privado de saúde e por respetivo subsistema de saúde.
3.Como pode afirmar que tem tomado medidas fortes relativamente aos grupos económicos e financeiros e ao mesmo tempo garantir mais de 50% da receitas do Grupo Espírito Santo Saúde?
4.É beneficiando os grandes grupos económicos e financeiros na área da saúde que o Governo pretende salvaguardar o SNS?
Palácio de São Bento, sexta-feira, 31 de Janeiro de 2014 link
Deputado(a)s CARLA CRUZ(PCP) PAULA SANTOS(PCP)
...
Uma importante iniciativa do PCP tendo em vista conhecer o montante do financiamento público aos grupos económicos privados ao longo dos últimos anos que, como sabemos, é em grande medida realizado através dos subsistemas públicos (ADSE, SAD e ADM).
Espera-se que este conjunto de questões tenha cabal esclarecimento e que, de uma vez por todas, se perceba que há uma clara incompatibilidade entre o financiamento dos susbsistemas públicos através do orçamento de Estado e o reforço do SNS. Questão em que a Esquerda em geral tem mantido uma confortável ambiguidade, em grande medida explicada por evitar afrontar interesses sindicais.
Tavisto

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domingo, fevereiro 2

O estado da Saúde

Jerónimo de Sousa, no final de uma visita ao Hospital Garcia de Orta,  concluiu que a urgência do Hospital Garcia de Orta reflecte o agravamento das condições de vida de muitos portugueses obrigados a recorrerem àquele serviço devido ao encerramento de serviços de saúde. “A política de encerramentos das unidades de proximidade dos últimos anos, leva a que muitos idosos recorram às urgências, porque não têm médico de família, não têm acompanhamento de qualquer serviço de saúde . Vêm para o hospital sem alternativa, porque a única alternativa é morrerem”.
O dirigente comunista alertou para a destruição progressiva do SNS, não por decreto, mas através de sucessivos cortes orçamentais e da precariedade das relações de trabalho dos profissionais de saúde, que acabam por prejudicar a qualidade do serviço prestado aos utentes.
Segundo Jerónimo de Sousa, a defesa do SNS passa por uma nova política de saúde. “Nós consideramos fundamental que o SNS, que a Constituição da República consagra, ainda pode ser defendido desde que haja uma política diferente que respeite quem trabalha, que não destrua mais serviços de proximidade fundamentais para as populações e, particularmente, para os idosos”. link
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Dentro em breve, o SNS mais se parecerá com um molho de brócolos. O acesso a cuidados de qualidade apenas possível aos detentores de seguros de saúde em unidades privadas de referência. Com a taxa de mortalidade dos pobres idosos indefesos, sempre a subir, entre picos de ondas de calor e gripes de inverno.
Clara Gomes

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terça-feira, setembro 3

Carrossel é uma espécie de ‘feira’

‘turismo’ é outra coisa… 
 Ontem, em declarações públicas link, foram verdadeiramente patéticas as declarações do presidente da ARSLVT, Luís Cunha Ribeiro, sobre as alterações em curso nas urgências de Lisboa. Procedeu-se a um dramático ‘ajustamento’ na oferta de cuidados de urgência na área de Lisboa e o mesmo senhor aparece categórico a afirmar que “nada de essencial vai mudar para os utentes”… E se algo faltasse para acalentar receios o ar assertivo e ‘confiante’ do responsável pela ARSLVT levanta mais suspeitas sobre a validade da mudança do que tranquiliza os utentes. O dito senhor, contudo, teve o pudor de evitar propagandear as ‘inevitáveis melhorias’ (melhor coordenação, mais eficiência, melhor resposta, etc.) facto que já se tornou uma habitual ‘boutade’ dos actuais dirigentes da Saúde na avaliação prévia das ‘suas’ reformas, antes de quaisquer resultados. Esta púdica mudança de retórica é uma atitude cautelar e revela a precaução (no passado precaução e caldos de galinha foram importantes para preservar estados de saúde) de deixar 'aberto' um caminho de recuo que se afigura provável, para não dizer necessário. 
 Perante as questões que lhe foram colocadas manteve-se hirto e firme. Só muito a custo admitiu que “que até ao final do ano vão ser analisadas todas estas experiências” e lembrou que o que se fez na especialidade de otorrino «permitiu-nos aprender e corrigir erros que eventualmente se cometem nestas coisas»link
Mas a sua indignação suprema recaiu sobre a Associação Portuguesa de Medicina de Emergência (APME) e sobre a rábula tecida pelo seu presidente Vítor Almeida sobre um eventual “turismo de doentes” (entre aspas). link. 
 É uma típica manobra de diversão. Na verdade, o ‘carrossel de transferências interhospitalares’ (mais uma agressão ao léxico hospitalar) é um facto bem conhecido de quem trabalha nos Hospitais, tem causas múltiplas e vícios e, necessariamente, são para os que se assumem como insignes gestores da saúde (apesar de licenciados em Medicina) meros ou rotineiros ‘fluxos de utentes’. Só que quer para o utente e para o médico e em casos de verdadeira urgência, i. e., situações graves (críticas), não interessou ao dirigente da ARSLVT – quando propõe alterações deste tipo - valorizar a ‘instabilidade’ inerente a toda e qualquer transferência interhospitalar. Nem considerar que cerca de 2/3 dos doentes transferidos sofrem importantes alterações fisiológicas durante o transporte. São – para os actuais decisores da Saúde - danos colaterais que a emergência orçamental justifica politicamente e a equação de problemas inerentes e subjacentes - "atitudes obstaculizantes". 
 Isto, é óbvio, não um turismo vulgar, nem inócuo. O presidente da ARSLVT sabe (ou devia saber) que a ‘medicina do transporte’ é, ainda no nosso País, uma actividade em fase de consolidação, carente de contexto normativo e de meios adequados. 
 O que pode vir a transformar-se é num estranho ‘carrossel de doentes pela rede de urgência de Lisboa’ onde - não podem deixar de existir dúvidas - sobre o ratio entre a oferta, a procura, os meios de transporte e tempo de acesso. Porque turismo a sério, nesta área, é outra coisa. Por exemplo: ser consultor do MS e andar a fazer prospecção de recrutamento médicos estrangeiros para o SNS (em cima do momento em que começava a diáspora dos médicos portugueses) … link 
E-Pá!

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quinta-feira, julho 18

MAC, Tribunal trava fecho

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Sentença obriga Ministério da Saúde a manter maternidade aberta e a repor serviços entretanto transferidos para a Estefânia. link link

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quinta-feira, agosto 23

Saúde, mais cortes a eito (2)

De que forma é possível obter uma nova redução de duzentos milhões de euros no orçamento do SNS?
Nós esperaríamos que as poupanças surgissem com a melhoria da gestão do SNS e das suas instituições, mas o que vemos é que em áreas como a dos CSP se viola a lei e o memorando de entendimento da Troika, já que as nomeações são de pessoas cujo principal atributo é pertencerem ao aparelho partidário. E isso deixa-nos preocupados, já que estas pessoas não saberão fazer poupanças rigorosas e nas áreas em que deviam. Se o memorando é para cumprir, que se cumpra na totalidade.
 Acredita que os doentes serão lesados por estas medidas?
Vem certamente prejudicar o SNS e os seus utentes. Isto porque o ministério poderá fazer estes cortes apostando em mais encerramentos, por exemplo. È isso que receio. E com estes encerramentos os cidadãos irão esperar mais tempo pelos cuidados e terão outros custos e despesas relacionados com estas mudanças, nem que seja com transportes para irem a outras unidades.
 O que seria desejável para obter estas poupanças?
Apostar nas Centrais de Compras, por exemplo, seja a nível nacional seja regional. Mas era importante que na área do medicamento essas poupanças fossem obtidas sem que os doentes deixassem de ter acesso à inovação.
Entrevista, José Manuel Silva, DN 21.08.12

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quarta-feira, maio 9

Por que falta sangue nos hospitais

Por que falta e vai continuar a faltar sangue nos hospitais?
O governo aposta no desmantelamento da capacidade de recolha do instituto e na transferência dessa responsabilidade para os hospitais. É um erro de consequências muito graves.
Muito recentemente, diversos hospitais de diferentes pontos do país têm publicamente assumido continuarem confrontados com falta de sangue para satisfazer as necessidades dos seus doentes.
Esta arrastada e continuada falta de sangue resulta da persistente diminuição do número de dadores e de colheitas realizadas pelo IPST (Instituto de Sangue e da Transplantação) e que o governo não consegue resolver. Há hospitais que para poupar nas transfusões de sangue dão comprimidos de ferro aos doentes.
No mês de Abril do corrente ano, a redução foi de 11,2%, correspondendo a menos 2307 colheitas em igual período de 2011. A quebra mais acentuada foi no Centro (Coimbra): menos 23,12%.
Há portanto, hoje, menos colheitas e menos dadores. Menos dadores em virtude da desmotivação provocada pela decisão do governo de acabar com a isenção do pagamento de taxas moderadoras – reconhecimento e recompensa mínima, até agora em vigor, por um gesto solidário e altruísta.
E, menos colheitas, quer porque as associações de dadores viram fortemente diminuídos os apoios públicos à sua atividade de organização de recolhas quer porque o IPST está profundamente desorganizado – em virtude das mudanças introduzidas precipitadamente e de um quadro de colaboradores fortemente reduzido.
Apenas a título de exemplo, citamos o caso de uma recolha efetuada em Ponte-de-Sôr, no dia de 14 de abril de manhã: compareceram 35 dadores, quando era usual estarem entre 130 a 150.
O governo – e, portanto, a direção do IPST, apostam no desmantelamento da capacidade de recolha do instituto e na transferência dessa responsabilidade para os hospitais. É um erro de consequências muito graves – algumas das quais já bem visíveis - e uma orientação que contraria toda a evidência da própria história do então chamado Instituto Português de Sangue.
Quando as colheitas eram efetuadas praticamente apenas pelos hospitais, isto é até 1993, o índice de dádiva era de 18/1000 habitantes por ano. Com o IPS, cresceram até 2010, para 40/1000 habitantes, permitindo a satisfação plena das necessidades do país em sangue.
No ano seguinte, a inversão do caminho escolhido pelo IPS, fez as recolhas baixar para 37/1000 habitantes. E, em 2012, esse número continua a descer.
O governo insiste numa opção errada e que não vai conseguir estancar a redução das colheitas nem equilibrar as reservas de sangue.
Os hospitais são para tratar doentes e não para consumir tempo, energia e meios a arranjar dadores e a recolher sangue. É urgente restabelecer a autonomia do país em matéria de disponibilidade de sangue e impedir o desmantelamento do IPST enquanto centro de uma rede nacional de recolha de sangue. O governo devia proceder a uma auditoria à organização e funcionamento do IPST que permita a regularização da sua atividade e colocar o IPST no centro da recolha de sangue. E, urgentemente, devolver aos dadores a isenção de pagamento das taxas moderadoras.
O desmantelamento do IPST abre portas à privatização do “negócio” do sangue, velha ambição da direita. Seria mais uma profunda machadada no SNS.
João Semedo, JP 08.05.12

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