A gestão pública não é para CHICCOS
Chicos espertos na gestão do IPO do Porto
Em 2008 os gestores do IPO decidiram começar a fazer contabilidade criativa, inventando sessões de quimioterapia que nunca existiram, violando a legislação e as normas de registo e facturação da actividade.
A desculpa que apresentaram, de que havia que cobrir custos sem financiamento, não passa disso mesmo:
- O contrato remunera algumas actividades do IPO muito bem, como a radioterapia e o lar, e outras menos bem, mas o orçamento global não era insuficiente pois em 2007 o défice foi apenas de 1,4% da receita, um pouco mais de atenção e controlo bastavam para o eliminar.
- Se fosse encargo com medicamentos completamente novo, que não era, o IPO podia solicitar financiamento para projecto específico e recebia o custo dos medicamentos. Mas com esta habilidade vieram a receber mais de 30 milhões de euros acima daquele custo.
- Os dois restantes IPO tinham o mesmo "não-problema" e nem por isso usaram daquele chico espertismo.
Segundo o Tribunal de Contas o hospital facturou 56 milhões a mais nos quatro anos. Teve por isso lucros muito superiores aos restantes IPO o que lhe trouxe várias vantagens:
- O hospital iniciou um programa megalómano de investimentos, especialmente na área lucrativa da radioterapia, e continuou com algum despesismo e com contratos com clínicas privadas.
- Os outros hospitais deixaram de ter 56 milhões para melhorar e expandir o acesso dos doentes e os seus gestores ainda ficram com o rótulo de pouco competentes.
- Os espertos gestores começaram a aparecer em jornadas e congressos, ufanos da sua muita competência e capacidade, aptos para verem os mandatos renovados no IPO ou noutros hospitais.
Chicos Molezas no financiamento e controlo
A ARS e a ACCS, que deviam ter monitorizado a actividade e o financiamento, nada fizeram durante anos. Foi preciso vir o tribunal de contas para detectar esta ilegalidade continuada e mandá-la corrigir.
Mesmo com uma ordem para corrigir, o IPO limitou-se a parar com a contabilidade criativa e a pedir instruções à ACCS, a qual só passados cinco trimestres vai corrigir e porque o Tribunal voltou à carga.
Entretanto os espertos gestores do IPO foram recompensados e ninguém na tutela foi responsabilizado. Eu quero aplaudir!
Vem o ministério alegar que está previsto o sancionamento de gestores que não cumpram a lei e que pode ser com a demissão. Mas, na verdade, o que fez até agora? Renovar mandatos e nomear os chicos espertos para outros hospitais, e especialistas do mel e do granito para ASES.
Está mesmo em curso a renovação de mandatos de dois desses chicos espertos para grandes hospitais do norte.
Esperemos que com tanta hesitação não tenha de ser o tribunal de Contas, ou o Minsitério público para quem seguiu o relatório, a reporem um pouco de justiça e normalidade na gestão do SNS.
Chico Faria
2 Comments:
O que estas questões do IPO-Porto não podem deixar de levantar - mesmo para os que estão à margem dos processos de gestão pública - são múltiplas interrogações.
E a primeira será: Não estaremos perante um iceberg?
Como há algum tempo disse o nosso inefável primeiro-ministro os tempos de crise (de cortes) abrem as 'janelas de oportunidades'.
Falta indentificar se o 'fenómeno' é singular ou endémico.
Será legítimo supor que esteja a decorrer uma correria a estes malabarismos 'criativos' para adequar os cortes orçamentais?
Da capacidade (ou incapacidade) do Ministério da Saúde em lidar com as 'inconformidades' detectadas pelo Tribunal de Contas poderemos tirar ilações sobre o conceito de 'sustentabilidade' do SNS que vigora na João Crisóstomo?
Será que se pode considerar o sucedido no IPO como um exemplo de 'contas à moda do Porto'?
Bem, estamos perante uma infindável cascata de interrogações que ultrapassa largamente o 'chicoespertismo' e se inscreve no âmbito de uma total ausência de probidade...
A tutela da saúde sai muito mal destas cenas tristes.
Terá que actuar de imediato e dar um sinal claro a todos os gestores que estes comportamentos não são aceitáveis. Justifica-se uma repreensão escrita aos espertos gestores, como lhe chamou o Chico Faria, e pô-los uns tempos em reeducação para assimilarem os valores que presidem ao SNS.
Antes da nomeação há que garantir que os gestores tenham, como mínimo, competência, seriedade, vontade de cumprir as leis vigentes.
Por outro lado não é certo que o caso seja único na região e muito menos no resto do país. Bastará perguntar à ARS quantos casos com confusões em hospitais de dia e cirurgia de ambulatório já detectou, sem consequências evidentemente.
A fragilidade evidenciada pela ARS e pela ACSS tem que ser rapidamente colmatada, para que confiemos que há controle na saúde.
Se nada se fizer, como até aqui, é grande a probabilidade de continuar a haver destas aldrabices.
Finalmente gostaria de perguntar:
Se é possível acontecer uma espertice destas no valor de 56 milhões, durante anos, num hospital público não lucrativo o que se passará no controle dos privados - PPP, CVP, Prelada e outros? O SNS não estará a pagar gato por lebre?
Quem nos garante que a apregoada eficiência dos privados não passa apenas de mais habilidade para dourar os números?
Limpinho Limpinho
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