Paulo Macedo e o síndroma
Ministro da Saúde
corre o risco de sofrer de síndrome de Estocolmo
O presidente da
Fundação SNS, Constantino Sakellarides, referiu que o ministro da Saúde
corre o risco de sofrer de síndrome de Estocolmo (criação de laços afectivos
com o sequestrador) e defendeu que este deve recusar na União Europeia mais
cortes no sector.
Durante a sua
intervenção no VI Fórum Nacional sobre a Gestão do Medicamento em Meio
Hospitalar "Acesso à Inovação", Constantino Sakellarides denunciou
aquilo que classificou de "teatro sistémico" e que consiste nos
condicionantes que levam os governos a minimizar os sinais da crise na saúde.
O também presidente
da Associação Europeia de Saúde Pública (AESP), ao debruçar-se sobre o que
resultou da crise e do ajustamento financeiro na área da saúde, concluiu que
"o sistema politico não aprendeu nada".
Constantino
Sakellarides enumerou várias evidências que apontam para efeitos práticos da
crise na saúde dos portugueses, as quais lamentou que não sejam interpretados
como tal pelos governantes.
A este propósito,
enumerou um inquérito numa unidade local de saúde, o qual identificou metade
dos profissionais com a percepção de que os problemas do foro mental tinham
aumentado entre 2011 e 2012.
De uma forma mais
precisa, Sakellarides deu conta de registos médicos que apontavam para o
aumento dos casos de depressão (mais 30 por cento) e de tentativas de suicídio
(mais 35 a 50 por cento).
"Aqui a
evidência ainda é maior, porque agora já não é só a percepção dos
profissionais, mas sim registos das unidades de saúde", disse.
Outro dado apontado
refere-se a uma Unidade de Saúde Familiar (USF) que terá identificado nos seus
utentes 16,5 por cento que deixaram de ir a uma consulta, fazer um tratamento
ou tomar medicamentos por razões económicas.
Estas terão sido as
mesmas razões para 11,9 por cento dos inquiridos desta USF terem deixado de
fazer uma das refeições que anteriormente fazia.
Constantino
Sakellarides considera que existem outros sinais, como as recaídas no consumo
de heroína que triplicaram entre 2010 e 2012, que não deviam ser ignorados pelo
governo e, a esse propósito, questionou: "Uma pessoa tão inteligente como
Paulo Macedo não sabe isso?".
"Estamos
condicionados por um teatro de regras rigorosas", disse, lamentando a
dificuldade no acesso a informação - determinante para a tomada acertada de
decisões - espelhada num despacho que "restringe o acesso à
informação" (nº 9635/2013).
Para o antigo
director-geral da Saúde, o ministro da Saúde português tem "a obrigação
moral de, junto dos seus colegas ministros da União Europeia, apresentar um
relatório sobre os efeitos da crise na saúde e dizer que não podemos ter cortes
mais na saúde.
"Só assim poderá
tentar ultrapassar o grande teatro", disse, concluindo que, se não o
fizer, Paulo Macedo "corre o grave risco de sofrer o síndrome de
Estocolmo: achar graça aos seus carcereiros".
JM/Lusa, em 08-11-2013
Etiquetas: Paulo Macedo
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