2017-2018, o limite
Estamos a falar num horizonte de três-quatro anos. E porquê?
Porque todos os Estados-membros que sentem a sua posição identitária nacional
em jogo vão sentir essa posição ameaçada num horizonte de três ou quatro anos.
A França vive excessivamente obcecada com as eleições presidenciais. Em
Espanha, o problema catalão terá grandes repercussões em termos da relação com
a Europa. E isso é uma questão de três ou quatro anos. A Itália chegou ao fim
de qualquer possibilidade de compromisso político. Nada mais interessante do
que a forma como Mario Monti foi despachado de carrinho; o Monti e o Lucas
Papademos [ex-primeiro-ministro grego] foram ensaios para saber se seria possível
instalar governos acima dos partidos apoiados na racionalidade europeia tal
como a interpreta a Comissão, o BCE e Berlim. Não foi possível e o fracasso
mais claro é o do Monti. Então e agora quem é que é o Monti dois? O que aparece
é o Renzi, que diz: eu faço reformas, mas dêem-me ovos para fazer omoletes.
Mas também foram depositadas grandes esperanças em François Hollande…
Mas entre o Renzi e o Hollande há uma grande diferença: uma
coisa é o verbo, outra é a acção.
Está convencido de que neste espaço de tempo se irá avançar para
reestruturações de dívida na Europa e em Portugal?
A reestruturação não é um problema de se saber se irá ser
feita. O problema é saber quando e como será feita, porque há várias
modalidades possíveis. O quando não está muito afastado. Temos todas as
condições para dentro de três ou quatro anos estarmos numa situação aflitiva.
A persistir este pensamento mágico de que basta escrever num
papel que tudo se vai resolver amanhã e agora aperta-se mais um bocadinho,
chegamos a 2017 ou 2018 ao limite máximo que é possível suportar.
E nessa altura a Europa já terá mudado para aceitar uma reestruturação?
Não há maior lucidez do que a de um sujeito quando caminha
para o cadafalso. As pessoas, desde o homem comum até aos políticos, têm hoje
uma visão do que é o espaço da sua própria exigência pessoal que é muito
diferente do que era antes da crise. A cultura de rigor orçamental começou a
entrar em países como Portugal. Está no começo, tem muitas falhas; não digo que
teve uma mudança de 180 graus, mas teve à vontade uma mudança de 120.
Etiquetas: EU
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