segunda-feira, junho 30

Leal da Costa ou o São Macaio deu à costa [*] ...


A entrevista concedida ao JP de hoje link pelo Secretário de Estado da Saúde, Fernando Leal da Costa é extremamente reveladora.
Trata-se de um político oriundo do sector cavaquista que se acantonou no Governo de Passos Coelho. É por assim dizer um ‘buliqueimado’.
Após a ministra das Finanças ter anunciado na apresentação do DEO para o período ‘pós-troika’ (2015) a vaga intenção de taxação sobre os produtos nocivos para a saúde o Secretário de Estado cometeu um pequeno deslize e adiantou-se especificando os produto a taxar (tabaco, álcool, produtos com excesso de açúcar e sal, etc.) link. Esta calinada provocou a reacção imediata do Ministro da Economia que classificou a medida como uma ‘ficção’ link.
Ficou assim exposta mais uma dissonância governamental (entre muitas outras) que sucessivamente envolveu os ministros Paulo Macedo e Assunção Cristas link
A facção ‘demo-cristã’ da coligação não estava pelos ajustes. O voluntarioso Secretário de Estado estava literalmente entalado.
Escreveu então um longo artigo socorrendo-se de amplas e conveniente referenciação onde tenta emendar a mão, afirmando: “Estas perspectivas têm de ser vistas numa lógica de grande sensatez, equilíbrio e de ponderação científica. Vamos fazer as coisas ponderada e sensatamente, numa perspectiva de saúde pública, que deve ser mais valorizada do que uma lógica estrita de ganho de colecta", disse hoje o secretário de Estado Leal da Costa link.
A entrevista de hoje ao Público parece revelar que não conseguiu redimir a sua imagem no seio da coligação governamental. Volta aí a fazer ‘piruetas’ para explicar (à cause des mouches) que foi obrigado (pelas circunstâncias políticas e pela burocracia europeia) a colocar em stand by a famosa ‘lei do álcool’. Manifesta ‘vontades’ mas aguarda avaliações (orçamentais ou sanitárias?). Com o ‘fast-food’ a mesma coisa: manifesta uma prudência (política) muito cautelar e oportunista.
Este ziguezaguear é muito revelador de uma personalidade que foi alcandorada a um cargo governamental mas não possuiu peso específico político próprio apesar da laudatória experiência prévia adquirida em Belém ao lado de Cavaco Silva.
Na sua fuga em frente descobre que a Ordem, que profissionalmente o representa, se transformou numa coisa que, para um neoliberal de pacotilha, é um crime. A Ordem dos Médicos seria, na sua concepção, um sindicato, o ‘terceiro sindicato médico’. E acusa a sua Ordem de ter abandonado o ‘papel ético-normativo que lhe compete’. Ora, a Ordem é dirigida por seus colegas de profissão democraticamente eleitos, logo representativos e dentro do papel normativo que invoca existe uma coisa que o Dr. Leal da Costa tenta passar ao largo, isto é, o Código Deontológico. Deverá ser aí que a acusação de ‘deriva’ deverá ser apreciada. Já tarda que tantas aleivosias passem impunes.
Mas o desditoso Secretário de Estado termina a sua peroração de um modo muito peculiar e para não destoar deste Governo decide afundar-se no embuste. Quando interrogado se a afirmação de ‘que os portugueses tinham de estar preparados para abdicar de determinadas coisas retorquiu peremptoriamente: ‘Eu nunca disse isso’. De facto, o que disse em 14 de Junho de 2012 foi: “O Serviço Nacional da Saúde (SNS) vai deixar de prestar os cuidados que ‘não sejam essenciais’…”link.
Ora, como o excelentíssimo governante nunca se deu ao trabalho de definir o que era para si o essencial (será viver contente e despreocupado apesar da austeridade cega?) ficamos pela repressão das bebidas açucaradas e a promoção dos sumos naturais (será que quis dizer Compal?). Fernando quer ser Leal para com Pires de Lima. Mas um dia vai dar à Costa. Como reza a canção sobre o São Macaio: “Toda a gente, toda a gente se salvou Ai se salvou, só o são macaio não…”
[*] – Do cancioneiro popular açoriano. Canção divulgada pelo Zeca Afonso no seu álbum “Contos Velhos Rumos Novos”, editado em 1969.

E-Pá!

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