quarta-feira, julho 2

RP 2014, síndroma da negação

Na dimensão financeira e segundo a “Síntese de Execução Orçamental” de Abril de 2014, da Direção Geral do Orçamento “O saldo do SNS no final de abril situou-se em -104 milhões de euros, representando um agravamento de 28,4 milhões de euros face a igual período do ano anterior”. Estes dados não se constituem como exceção, mas sim como regra. Ou seja, o ritmo de agravamento da dívida da saúde mantém-se, grosso modo, inalterado, malgrado as regularizações periódicas de dívidas conseguidas pelo MS.
Os Cuidados de Saúde Primários são sistematicamente referidos no discurso político como a área a privilegiar. Acresce a isso que a evidência disponível nos diz que os CSP podem assumir um papel determinante nos momentos de crise como a que atravessamos. No entanto, a prática política sugere-nos que os CSP não se têm constituído como prioridade. De facto e apesar de algumas evoluções positivas (e.g., a aprovação do perfil profissional do enfermeiro de família; abertura de vagas para o internato de medicina geral e familiar; a abertura de algumas USF novas), prevalecem dificuldades no dia-a-dia dos profissionais que dificultam muito a prestação de cuidados (e.g., sistema de Informação deficiente; falta de recursos humanos; fragilidade de algumas unidades funcionais).
Em suma, parece ser evidente e à semelhança do que afirmámos em anos anteriores, que estamos perante um conjunto de dados que indiciam o impacto negativo da crise sobre a saúde das pessoas. Ou seja, está a acontecer o que era expectável. Apesar disso, não se vislumbram sinais indiciadores de uma política intersetorial de saúde que tenha como objetivo monitorizar indicadores de impacte e acautelar ou minimizar os previsíveis efeitos da crise, nomeadamente nos grupos mais vulneráveis. Ao invés, parece ser evidente um manifesto esforço quer da UE, quer do governo português, de negar a evidência do impacte da crise sobre a saúde das pessoas e negando-o, evitar a discussão e consequentemente a adoção de medidas de prevenção e/ou de combate. Tal atitude poderia até ser apelidada de síndroma de negação.
O único senão é que do outro lado estão pessoas em sofrimento e com um desenvolvimento cada vez mais hipotecado tal como se percebe pelos dados apresentados. link

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