RP 2014, síndroma da negação
Na dimensão financeira e segundo a “Síntese de Execução
Orçamental” de Abril de 2014, da Direção Geral do Orçamento “O saldo do SNS no
final de abril situou-se em -104 milhões de euros, representando um agravamento
de 28,4 milhões de euros face a igual período do ano anterior”. Estes dados não
se constituem como exceção, mas sim como regra. Ou seja, o ritmo de agravamento
da dívida da saúde mantém-se, grosso modo, inalterado, malgrado as regularizações
periódicas de dívidas conseguidas pelo MS.
Os Cuidados de Saúde Primários são sistematicamente
referidos no discurso político como a área a privilegiar. Acresce a isso que a
evidência disponível nos diz que os CSP podem assumir um papel determinante nos
momentos de crise como a que atravessamos. No entanto, a prática política
sugere-nos que os CSP não se têm constituído como prioridade. De facto e apesar
de algumas evoluções positivas (e.g., a aprovação do perfil profissional do
enfermeiro de família; abertura de vagas para o internato de medicina geral e
familiar; a abertura de algumas USF novas), prevalecem dificuldades no dia-a-dia
dos profissionais que dificultam muito a prestação de cuidados (e.g.,
sistema de Informação deficiente; falta de recursos humanos; fragilidade de
algumas unidades funcionais).
Em suma, parece ser evidente e à semelhança do que afirmámos
em anos anteriores, que estamos perante um conjunto de dados que indiciam o
impacto negativo da crise sobre a saúde das pessoas. Ou seja, está a acontecer
o que era expectável. Apesar disso, não se vislumbram sinais indiciadores de
uma política intersetorial de saúde que tenha como objetivo monitorizar
indicadores de impacte e acautelar ou minimizar os previsíveis efeitos da
crise, nomeadamente nos grupos mais vulneráveis. Ao invés, parece ser evidente
um manifesto esforço quer da UE, quer do governo português, de negar a
evidência do impacte da crise sobre a saúde das pessoas e negando-o, evitar a
discussão e consequentemente a adoção de medidas de prevenção e/ou de combate.
Tal atitude poderia até ser apelidada de síndroma de negação.
O único senão é que do outro lado estão pessoas em sofrimento
e com um desenvolvimento cada vez mais hipotecado tal como se percebe pelos
dados apresentados. link
Etiquetas: OPSS
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