Retrocesso
A evolução das transferências do OGE para o SNS, de carácter
não excepcional, como se pode ver na figura 1, evidencia essa redução. A limitação dos recursos públicos afectos ao sector foi acompanhada pela centralização
nos órgãos de topo do Ministério da Saúde
(MS) e do Ministério das Finanças (MF) de decisões que deveriam ser tomadas ao
nível regional e local, por quem tem responsabilidades na gestão das
organizações e dos serviços públicos prestadores de serviços de saúde.
No recente relatório de abril da avaliação do programa de
assistência financeira a Portugal (IMF, 2014) é referido que as reformas levadas
a cabo no sector da saúde já conduziram a uma redução na despesa no SNS de 1.500
milhões de Euros, 15% menos do que em 2010, mas que as dívidas vencidas no sector
continuam a acumular-se, em particular as dos Hospitais EPE.
O referido relatório refere ainda que uma das medidas
tomadas pelo actual governo, com vista a controlar esta situação, consistiu na
criação de uma unidade central no MF para acompanhar a evolução das dívidas
acumulados e para coordenar acções com vista ao completo cumprimento da Lei dos
Compromissos, constringindo de forma directa as escolhas e as decisões ao nível
das organizações de saúde.
A crescente e indiscriminada redução dos graus de liberdade
de quem tem a responsabilidade na gestão dos recursos e na administração dos
serviços públicos de saúde, tem coexistido com decisões no sentido de uma desresponsabilização
do Estado neste domínio, como é o exemplo da transferência para as
Misericórdias da gestão de unidades de saúde públicas e da prestação de
cuidados de saúde.
Em resumo, centraliza-se porque o MS não confia na
capacidade de gestão de quem foi por si nomeado para administrar os hospitais,
as ULS, os ACES e os serviços de saúde públicos e descentraliza-se porque o MS
considera que passar para sector privado, ainda que não lucrativo, a
responsabilidade da gestão de unidades de saúde assegura menor despesa pública.
No entanto, não há evidência que a tais decisões correspondam benefícios
líquidos efectivos com ganhos de efectividade, de eficiência e de uma superior qualidade
na resposta às necessidades em saúde.
Etiquetas: OPSS
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