Suspensão da Colaboração dos Médicos com MS
Comunicado
Os médicos estão a ser coagidos pelo Ministério da Saúde a
optar entre a desqualificação do seu trabalho ou a emigração, ambas as
situações com prejuízo do SNS e dos doentes.
Na verdade, é crescente o número de médicos a emigrar e a
sair para o sector privado, pois cada vez é mais penoso trabalhar no SNS,
progressivamente despojado de meios e sobrecarregado de indicadores absurdos e
dificuldades crescentes, com as estatísticas manipuladas a substituírem os
doentes, e com os médicos, uma profissão de elevada exigência, complexidade e
alto risco, a serem remunerados abaixo de mecânicos, sem que o Ministério
denote qualquer preocupação com essa situação. Daí muitos concursos ficarem
desertos.
O Ministério dedica mais atenção a alimentar notícias na
comunicação social, como ilustra o caso dos “inadaptados” e da repescagem de
situações, do que a promover um diálogo efectivo e sério com os médicos e com
os doentes, particularmente importante no período prévio à publicação de erros
legislativos, que procure soluções positivas para ambas as partes, para os
doentes e para o SNS. A Ordem dos Médicos não assinará acordos vazios de
conteúdos concretos e devidamente datados, ao contrário de outros.
A greve convocada pela FNAM, em vez de ser considerada como
um sinal de alerta, foi completamente desvalorizada e, com base na
mistificação, reduzida a uma mera iniciativa de carácter político-partidário,
sendo ostensivamente ignoradas todas as importantes questões concretas
elencadas pela Ordem e pelos Sindicatos.
O que se passa na Saúde em Portugal é grave, como demonstram
as urgências sobrelotadas, os hospitais com pessoal insuficiente, os doentes
sem Médico de Família e a realidade (esperada e prevista) de cada vez mais
doentes oncológicos terem de ser operados no sector privado (as listas de
espera para cirurgia oncológica não podem ser manipuladas e os doentes não
podem esperar, pelo que são as primeiras a sofrer com o esvaziamento programado
de recursos do SNS...).
Desde o início do mandato do Ministro da Saúde que a Ordem
se mostrou disponível para apoiar todas as medidas de carácter técnico,
independentemente dos interesses eventualmente afectados, vontade essa
consubstanciada no acordo assinado com a DGS e que se traduziu na produção e
auditoria de múltiplas Normas de Orientação Clínica.
O Ministério lança recorrentemente acusações à Ordem dos
Médicos, mas foge ao debate honesto e frontal dos problemas da Saúde, porque
sabe que não tem razão nas suas afirmações. Quem acusa publicamente deveria
estar disponível para o debate público, olhos nos olhos. Mas o Ministro da
Saúde evita o contraditório directo, consciente da fragilidade e incompletude
dos seus argumentos e afirmações.
Assim, considerando que,
a) Por todas estas e pelas razões reunidas no memorando de
preocupações que Ordem e Sindicatos Médicos entregaram ao Ministério da Saúde,
b) Pela falta de respeito e consideração que o Ministério da
Saúde evidencia relativamente ao trabalho médico,
c) Pela postura do Ministério da Saúde, cuja política se
pode ilustrar pelas intenções subjacentes e pelo secretismo com que enviou para
publicação a “Lei da Rolha”, cuja última versão não deu a conhecer a ninguém e
que está na mesma linha censória do Despacho 9635/2013,
A Ordem dos Médicos, sem deixar de cumprir todas as suas
obrigações legais e convidando já o Ministério da Saúde para reatar o diálogo
(estando disponível para o fazer ainda em Julho ou mesmo em Agosto), tal como
tinha previamente anunciado vem apelar formalmente aos médicos, até indicação
em contrário, que:
1. Informem directamente os seus doentes da gravidade e
impacto negativo da actual política do Ministério da Saúde nos cuidados que
lhes são prestados.
2. Continuem a denunciar à OM (em cada Secção Regional)
todas as situações de deficiência, insuficiência ou pressão que possam pôr em
risco a saúde dos doentes e o seu tratamento de acordo com as boas práticas
médicas.
3. Recusem assinar todo e qualquer tipo de contratualização
imposta, ainda para 2014 ou para 2015.
4. Cessem a participação em Grupos de Trabalho e recusem
imediatamente toda e qualquer colaboração graciosa com o Ministério da Saúde,
ACSS, ARS, DGS, Infarmed, Hospitais e ACES, incluindo as comissões de NOCs e
Auditorias.
Só unidos, os Médicos poderão preservar um futuro com
Qualidade para medicina em Portugal.
Ordem dos Médicos, 18 de Julho de 2014
Etiquetas: OM
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