domingo, agosto 3

Garcia de Orta e Christian Anderson…

O ‘refrescamento’ dos investimentos, quer em tecnologias, quer em recursos humanos, quer em equipamentos de consumo corrente, a realizar nos Hospitais para os manter operacionais e capazes de obter resultados qualitativamente bons é – em tempos de crise (de ‘vacas magras’) – um problema de gestão complexo. É conhecido o total desfasamento entre as administrações centrais e os trabalhadores que actuam nas instituições hospitalares. Todos conhecemos as consequências desta falta de planeamento e de coordenação. Nasce deste empecilho grande e valioso número de desperdícios que, na prática, é sistematicamente endossado à produção e é resolvido com duas soluções tipo: redução de trabalhadores (despedimentos ou não recrutamento) e ‘compressão’ das tabelas salariais (ou a mistura aditiva e destrutiva das duas vertentes anteriores).
Até aqui consideramos os Hospitais lato sensu mas quando nos debruçamos sobre sistemas hospitalares integrantes de uma rede pública as consequências destes dislates sofrem crescimentos exponenciais e as perturbações disparam.
Nos hospitais públicos os planos estratégicos estão condicionados pela secundarização da componente negócio. A avaliação recai sobre os resultados e os custos para obtê-los. Por outro lado, a sustentabilidade do investimento assenta sobre a capacidade formativa (individual e proporcionada pela instituição) sob pena de a inovação não produzir resultados (para o sistema e para os utentes).
Há, todavia, uma coisa que sendo certa foi abundantemente iludida para não dizer torpedeada. Interregnos prolongados em medidas visando a promoção e integração de inovações e a desqualificação de profissionais – como se tem verificado em Portugal desde 2008 – só podem conduzir ao desastre. De concreto até aqui tudo o que de novo (e não de inovador) se fez foi gerir e colher informação sobre a análise de desempenhos tendo como exclusivo objectivo a contracção de custos (custe o que custar!). Na realidade, pouco, muito pouco e, ainda por de cima, enviesado. Sendo assim, os números tendem a acomodar-se e deixam-se manipular até chocarem com a realidade.
Qualidade em saúde pública não pode ser entendida como tentar responder, atabalhoadamente e fora de tempo útil, à procura, dando-lhe ‘respostas de mercado’. Passa, isso sim, pela obtenção de resultados desejáveis (programados) com o apoio de tecnologias, meios físicos e recursos humanos adequados, efectivos, acessíveis e com equidade.
A eficiência não depende exclusivamente, nem se circunscreve, aos aspectos tecnológicos nem à conjugação destes com adequados recursos humanos. E as ‘falhas’ começam, precisamente, por aí. O que se tornou notório e bem visível é que a via do ‘combate ao desperdício’ a par do ‘emagrecimento forçado’ (intempestivo e irracional) da organização interna das unidades de saúde pretendeu esconder gritantes carências de investimento (a todos os níveis) feitas à sombra de brutais contenções financeiras e cegos condicionamentos orçamentais (tudo gira à volta da ‘eficiência orçamental’!) tem permitido à actual equipa ministerial iludir os portugueses martelando o slogan que se move por uma transcendente missão ‘assegurar’ a sustentabilidade do sistema contra os demónios dos profissionais, sindicatos e gestores.
Não alimentemos dúvidas. O que se está a passar no Hospital Garcia de Orta link é a ponta do iceberg.
Cada dia que passa trará à tona a imagem que o oculto propósito desta equipa ministerial (até às próximas eleições legislativas) é tapar o sol com a peneira.
Porque, na verdade, já é impossível esconder a mistificação daquele enfático conto de fadas escrito por Christian Andersen, onde o ‘rei vai nu’.
É-Pá!

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