Garcia de Orta e Christian Anderson…
O ‘refrescamento’ dos investimentos, quer em tecnologias,
quer em recursos humanos, quer em equipamentos de consumo corrente, a realizar
nos Hospitais para os manter operacionais e capazes de obter resultados
qualitativamente bons é – em tempos de crise (de ‘vacas magras’) – um problema
de gestão complexo. É conhecido o total desfasamento entre as administrações
centrais e os trabalhadores que actuam nas instituições hospitalares. Todos
conhecemos as consequências desta falta de planeamento e de coordenação. Nasce
deste empecilho grande e valioso número de desperdícios que, na prática, é
sistematicamente endossado à produção e é resolvido com duas soluções tipo:
redução de trabalhadores (despedimentos ou não recrutamento) e ‘compressão’ das
tabelas salariais (ou a mistura aditiva e destrutiva das duas vertentes
anteriores).
Até aqui consideramos os Hospitais lato sensu mas quando nos
debruçamos sobre sistemas hospitalares integrantes de uma rede pública as
consequências destes dislates sofrem crescimentos exponenciais e as
perturbações disparam.
Nos hospitais públicos os planos estratégicos estão
condicionados pela secundarização da componente negócio. A avaliação recai
sobre os resultados e os custos para obtê-los. Por outro lado, a
sustentabilidade do investimento assenta sobre a capacidade formativa
(individual e proporcionada pela instituição) sob pena de a inovação não
produzir resultados (para o sistema e para os utentes).
Há, todavia, uma coisa que sendo certa foi abundantemente
iludida para não dizer torpedeada. Interregnos prolongados em medidas visando a
promoção e integração de inovações e a desqualificação de profissionais – como
se tem verificado em Portugal desde 2008 – só podem conduzir ao desastre. De
concreto até aqui tudo o que de novo (e não de inovador) se fez foi gerir e
colher informação sobre a análise de desempenhos tendo como exclusivo objectivo
a contracção de custos (custe o que custar!). Na realidade, pouco, muito pouco
e, ainda por de cima, enviesado. Sendo assim, os números tendem a acomodar-se e
deixam-se manipular até chocarem com a realidade.
Qualidade em saúde pública não pode ser entendida como
tentar responder, atabalhoadamente e fora de tempo útil, à procura, dando-lhe
‘respostas de mercado’. Passa, isso sim, pela obtenção de resultados desejáveis
(programados) com o apoio de tecnologias, meios físicos e recursos humanos
adequados, efectivos, acessíveis e com equidade.
A eficiência não depende exclusivamente, nem se
circunscreve, aos aspectos tecnológicos nem à conjugação destes com adequados
recursos humanos. E as ‘falhas’ começam, precisamente, por aí. O que se tornou
notório e bem visível é que a via do ‘combate ao desperdício’ a par do
‘emagrecimento forçado’ (intempestivo e irracional) da organização interna das
unidades de saúde pretendeu esconder gritantes carências de investimento (a
todos os níveis) feitas à sombra de brutais contenções financeiras e cegos
condicionamentos orçamentais (tudo gira à volta da ‘eficiência orçamental’!)
tem permitido à actual equipa ministerial iludir os portugueses martelando o
slogan que se move por uma transcendente missão ‘assegurar’ a sustentabilidade
do sistema contra os demónios dos profissionais, sindicatos e gestores.
Não alimentemos dúvidas. O que se está a passar no Hospital
Garcia de Orta link
é a ponta do iceberg.
Cada dia que passa trará à tona a imagem que o oculto
propósito desta equipa ministerial (até às próximas eleições legislativas) é
tapar o sol com a peneira.
Porque, na verdade, já é impossível esconder a mistificação
daquele enfático conto de fadas escrito por Christian Andersen, onde o ‘rei vai
nu’.
É-Pá!
Etiquetas: E-Pá
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