HH, Top 5
Urgências continuam a ser a «fonte primordial de
internamento»
Uma década depois do início da reforma dos cuidados de saúde
primários e da criação das unidades locais de saúde (ULS) a grande porta de
entrada nos hospitais continua a ser o Serviço de Urgência. Esta é uma das
conclusões da análise dos dados fornecidos pelos hospitais que resultou na
atribuição dos galardões às cinco unidades do País com melhores resultados
globais de desempenho em 2013.
Os vencedores do TOP5’ 14 – A Excelência dos Hospitais
promovido pela IASIST Portugal foram o Hospital Santa Maria Maior em Barcelos,
o Centro Hospitalar de Entre Douro e Vouga, o Hospital do Espírito Santo de
Évora e o Centro Hospitalar do Porto (por ordem crescente da complexidade das
unidades) e entre as Unidades Locais de Saúde (ULS) a vencedora foi a ULS do
Litoral Alentejano.
No início do texto fica assim resumida a entrega de prémios
que decorreu no passado dia 9 de Dezembro na Universidade Nova de Lisboa (ver
caixa). Mas o encontro foi mais que a entrega dos galardões. Proporcionou a
análise dos dados aglomerados e por grupos de complexidade hospitalar que
revelaram as fragilidades que ainda subsistem no Serviço Nacional de Saúde.
A começar pelo facto de o Serviço de Urgência continuar a
ser «fonte primordial de internamento» e a grande «fonte alimentadora» do trabalho
médico nos cuidados hospitalares o que para Manuel Delgado, responsável da
IASIST em Portugal, representa uma «perversão» do sistema de saúde e demonstra
a «fragilidade na rede de prestação em matéria de acesso e da continuidade de
cuidados».
A conclusão do antigo administrador hospitalar advém da
análise dos dados fornecidos pelos hospitais à Administração Central do Sistema
de Saúde, com os quais se pode demonstrar que os hospitais do grupo B, os de
menor complexidade, os episódios urgentes estiveram na base de 74% dos
internamentos, enquanto no grupo E, os hospitais centrais, a urgência foi a
porta de entrada de 60 % dos internamentos. As ULS «não conseguem separar-se
deste flagelo», referiu o especialista, e apresentaram «um valor mais elevado do
que seria expectável», a rondar os 75%, atendendo à interligação de níveis de
cuidados que este modelo pressupõe.
Quanto maior o hospital, maior a produtividade
No que diz respeito à eficiência económica os dados de 2013
demonstraram que quanto maior é o hospital maior é a produtividade tanto de
médicos, como de enfermeiros, demonstrando assim que «quanto maiores são os
hospitais melhor conseguem gerir os seus recursos», frisou o antigo
administrador hospitalar na apresentação e comentário dos resultados
aglomerados por grupos.
A mesma realidade foi encontrada no custo médio por doente
padrão, com os hospitais do grupo B a apresentarem um custo médio de 3100 euros
por doente e os hospitais do grupo E a tratarem o doente padrão com 2715 euros.
As contas são menos abonatórias para as ULS, muito embora o sistema de
financiamento seja diferente do dos hospitais, onde um doente padrão custa em
média nestas unidades 5544 euros.
Aliás, os resultados das ULS ficaram aquém do que era
esperado em algumas matérias. Tirando os resultados obtidos nas taxas de
readmissão dos doentes após a alta, onde «conseguem justificar» o benefício da
integração e cuidados, «os hospitais integrados em ULS não apresentaram
melhores resultados onde, em tese, isso seria previsível», sublinhou Manuel
Delgado, nomeando, por exemplo, a demora média da estadia dos doentes ou as
admissões no serviço de urgência.
15 nomeados, 5 vencedores e algumas queixas
Os 41 hospitais avaliados estavam divididos por quatro
níveis segundo o grau de complexidade – do grupo B relativo às unidades mais
periféricas ao grupo E dos grandes centros hospitalares e universitários - a
que se juntou o quinto grupo composto pelas unidades locais de saúde.
Foi precisamente por este último que se iniciou a entrega de
prémios pelo Ministro da Saúde.
Dos três nomeados finais – ULS Alto Minho, ULS de Matosinhos
e ULS do Litoral Alentejano – foi precisamente a unidade do Alentejo a levar o
galardão. Joaquina Matos, presidente do Conselho de Administração, aproveitou a
oportunidade e a presença de Paulo Macedo para lembrar que em 2012, quando foi
criada, a ULS tinha 82 médicos e eram necessários mais 50. Hoje, continua com
os mesmos 82, mas precisavam de 186. “As escalas dos três serviços de urgência
são feitas mês a mês. É um calvário e um quebra-cabeças”, reconheceu a
responsável.
No grupo B os nomeados foram Hospital Santa Maria Maior,
Hospital Distrital da Figueira da Foz e o Centro Hospitalar Póvoa de Varzim /
Vila do Conde tendo o primeiro levado o prémio para Barcelos.
No grupo C, o vencedor foi o Centro Hospitalar de Entre o
Douro e Vouga, tendo este levado a melhor sobre o Hospital Beatriz Ângelo e o
Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa.
No grupo C, o Hospital do Espírito Santo, em Évora, deixou para trás o
Hospital de Braga e o Hospital Garcia de Orta.
No grupo de hospitais de maior complexidade os três
finalistas foram o Centro Hospitalar de São João, o Centro Hospitalar de Lisboa
Central e o Centro Hospitalar do Porto que levou a melhor sobre os concorrentes.
Fernando Sollari Allegro também foi mais longe que os normais agradecimentos,
lembrando que com a criação do centro hospitalar recebeu hospitais
«tecnicamente falidos» e só com a ajuda dos profissionais foi possível
ultrapassar as «enormes dificuldades» sentidas nessa altura.
Registos clínicos continuam desvalorizados
«A qualidade e a exaustividade dos registos médicos
apresentam já uma solidez e uma consistência assinaláveis», reconheceu Manuel
Delgado na apresentação e comentário dos resultados aglomerados, dando nota da
evolução registada nos últimos anos nesta matéria. Ainda assim, o responsável
notou que há «uma insuficiência grande no registo das complicações» o que
eventualmente poderá explicar as taxas de mortalidade tão desiguais entre os
cinco grupos de hospitais avaliados. É que a comparação entre óbitos ocorridos
com óbitos justificados o grupo dos hospitais centrais apresenta uma mediana de
taxa de mortalidade «bastante boa» nas palavras de Manuel Delgado, com um
número de óbitos inferior ao que seria expectável atendendo à complexidade e
gravidade dos casos que tratam. Já os hospitais do grupo D «não só têm um
número de óbitos não justificados próximo dos 20%» como têm «um leque de
variações de muito grande» havendo mesmo uma unidade com «uma mortalidade não
justificada superior a 45%». O responsável fez questão de «desdramatizar» estes
valores, lembrando que o problema poderá estar na falta de registo da
justificação do óbito.
Taxa de cesarianas com um longo caminho a percorrer
Não contou para o apuramento do ranking final, mas a equipa
da IASIST também se debruçou sobre o número de cesarianas realizadas em cada
hospital. Segundo os dados a taxa bruta de cesarianas realizadas é muito
semelhante entre os cinco grupos de hospitais, a rondar os 30%. Todavia,
realçou o responsável, os hospitais do grupo E, apresentam uma maior
homogeneidade a justificar a realização do procedimento.
Do outro lado da tabela estão as ULS, umas com taxas mais
próximas da média e outras com números longe do expectável. Manuel Delgado
referiu mesmo que existe «uma variação brutal» entre estas unidades, com
algumas a terem mais 60 a 70% de partos por cesariana do que aquilo que seria
expectável.
Cirurgia do ambulatório ganha terreno
Precisamente no lado oposto do desempenho está a cirurgia de
ambulatório cujas taxas de realização andam «próximo do potencial esperado»,
frisou o antigo administrador hospitalar.
Também nesta matéria os hospitais do grupo E apresentam
melhores resultados na taxa bruta de actividade cirúrgica em ambulatório e na
taxa ajustada, com as diversas unidades a terem números muito semelhantes.
Já os hospitais mais pequenos realizam menos actos
cirúrgicos em ambulatório e têm também uma grande variabilidade de percentagem
entre eles, o mesmo acontecendo nas ULS. Para Manuel Delgado, estes dois grupos
ainda têm um «potencial significativo de melhoria» nesta componente.
Rita Vassal , Tempo Medicina
"Top five 14, a excelência dos hospitais" link
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