CC, pai das PPP da Saúde
«Desde
o início dos anos 90, ao abrigo da Lei de Bases da Saúde e do Estatuto do SNS,
foram tomadas várias iniciativas reformistas com incidência no sector
hospitalar, mas na viragem da década (e do século) cresceu o reconhecimento
geral de que as medidas até então equacionadas eram marcadas pelo excesso de
timidez e evidenciavam um alcance prático relativamente limitado. Com efeito,
no sector hospitalar as experiências inovadoras de gestão e de financiamento
não chegaram a ganhar suficiente expressão e «massa crítica» para conseguirem
gerar os necessários efeitos estruturantes e de difusão e, consequentemente,
operarem a mudança do panorama do sector. Neste contexto, perante o reconhecido
défice de implementação de medidas robustas de reforma, com a realização das
eleições legislativas de 2002, em matéria de política pública de saúde,
assistiu-se à convergência dos programas políticos dos três principais partidos
com representação parlamentar. As propostas políticas convergiam na necessidade
de introduzir um novo impulso reformista no sentido de revitalizar e modernizar
o SNS, conferindo-lhe maior eficiência e sustentabilidade financeira e
aumentando a sua produtividade, performance e eficácia, em termos de ganhos de
saúde. Para o sector hospitalar, com cambiantes diferenciadas, previa-se o
desenvolvimento gradativo de uma reforma estrutural que operasse a
transformação dos pilares burocrático- -administrativos e da matriz monolítica
em que assentava o modelo de gestão e financiamento da rede pública hospitalar.
Nesta linha, no âmbito da reforma estrutural do sector hospitalar, duas
importantes iniciativas eram especialmente preconizadas: a introdução da
abordagem das parcerias público-privadas, promovendo a participação do sector
privado na gestão e financiamento de unidades hospitalares do SNS e a
«empresarialização» da gestão hospitalar, designadamente com a alteração das
práticas públicas de gestão e financiamento, bem como com a mudança do estatuto
administrativo dos hospitais, introduzindo um estatuto de natureza empresarial,
embora sob controlo accionista público, num número significativo de hospitais.
Estas duas iniciativas tiveram a sua génese ainda no decorrer do mandato do XIV
Governo Constitucional, sendo protagonizadas pelo ministro da Saúde António
Correia de Campos1 . Na altura, a abrupta interrupção do mandato governativo
levou entretanto a eleições gerais e a uma viragem política. O novo governo de
coligação, de inspiração política de centro-direita, deu continuidade às
iniciativas anteriormente desenhadas e sob a liderança do ministro da Saúde,
Luís Filipe Pereira, iniciou-se a progressiva materialização do tríptico
relançamento-aprofundamento-acabamento.
O
programa governamental de parcerias público-privadas previa o lançamento
gradual de dez novas unidades hospitalares do SNS até ao final de 2006. *
Jorge
Abreu Simões, in “As parcerias público-privadas no sector da saúde em
Portugal”
Desta fornada privatizadora foram construídos e estão em funcionamento
quatro Hospitais PPP: Braga, Loures, Vila Franca de Xira e Cascais, lançados
durante o segundo governo de António Guterres, em 2001.
Importante conhecer a decisão de ACF relativamente à construção/gestão dos novos
hospitais Lisboa Oriental (Todos-os-Santos) e Seixal.
Será que a senda das PPP (privatização da Saúde) no nosso país vai continuar à descarada ?
CC esteve em todas. Do que pior se fez na Saúde. Como refere Constantino Sakellarides, "as PPP nasceram da pressão dos grupos privados e não de uma solução que mostrou ter grandes vantagens para o sector público, que cabe aos privados mostrarem e que nunca aconteceu.”.
Clara Gomes
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