quarta-feira, junho 29

Carta Aberta ao Prof. Correia de Campos


Apresento-lhe, meu caro Professor, dez conselhos para poder melhorar o seu desempenho no novo cargo que há quatro meses assumiu. Espero que os considere como uma prova de amizade.

1º Esqueça a missão. Concentre-se antes em definir com clareza os objectivos para estes quatro anos e a estratégia para os alcançar. Identifique bem as suas tropas, prepare-as e vá à luta. Não avance sozinho e muito menos não queira ganhar a guerra com os soldados do inimigo. Garanto-lhe que esta não é a guerra do Solnado. À primeira oportunidade cilindram-no. Não pense que pode com isso. Vai ver, quando ficar sozinho, como é mais frágil do que julgava. É importante que as tropas conheçam bem os objectivos e a estratégia. Não deixe que continue por mais tempo a incerteza, a desorientação e a confusão que deixou criar com tanto silêncio ruidoso;

2º Siga como linha de rumo o interesse público, a imparcialidade e a defesa dos que têm menos voz no que se refere aos destinatários da sua política. Quanto aos agentes que a vão levar a cabo, não conte em ser neutro nem conte com neutralidades. Decida como eles decidiram, faça como eles fizeram. Eles não têm medo de exercer o poder. Eles sabem quem abater, como abater, quando abater. Sempre o fizeram e voltarão a fazer à primeira oportunidade. O lirismo e os pruridos de esquerda nunca deram qualquer resultado;

3º Não se esqueça que a maioria absoluta do eleitorado votou no seu partido, que nessa maioria estará seguramente a maioria absoluta dos funcionários dos hospitais. Todos esperam por mudanças de políticas e de protagonistas. É um erro político crasso pensar que recauchutando as políticas e mantendo os velhos protagonistas motiva o seu eleitorado, motiva os trabalhadores da saúde. Aprenda a conhecer os seus trabalhadores, informe-se (tem muito boa gente no terreno capaz de o informar correctamente do que se passa cá em baixo) e vai ver como as pessoas estão desgostosas, muitas estão mesmo a ser vítimas de terrorismo psicológico no trabalho apenas pelo crime de serem funcionários públicos. Não deixe que continue a evoluir o sentimento anti-função pública (e sobretudo anti-administradores hospitalares. Peça um relatório através da APAH sobre o nº de AH que estão na prateleira) que se iniciou com os Hospitais SA. A maioria dos trabalhadores dos hospitais são ainda funcionários públicos e não se pode governar/gerir contra a maioria. O que está a acontecer ao ânimo das pessoas é criminoso;

4º Legisle o que tem de legislar. Mas não peça ao inimigo para o fazer por si. Há bons juristas de esquerda, capazes de perceber bem o que o senhor quer e de produzir um resultado muito melhor dos que os homens da Unidade de Missão. Os homens da Unidade de Missão não são indispensáveis. Quando começaram nem sequer sabiam o que era um hospital. Na legislação a publicar, não se esqueça da promessa já feita, de revalorizar a carreira de AH e de reposicionar os AH nos seus lugares. Não se trata de uma questão de dinheiro, mas de redignificar uma profissão que o Senhor ajudou a criar. Afinal trata-se da sua gente!

5º Não deixe crescer mais a Administração Central, sim. É correcto. Mas mande ver quantas admissões em regime de CIT se fizeram neste dois últimos anos e continuam a fazer-se, desnecessárias, por mero compadrio, por nepotismo, por clientelismo político, a maioria das quais sem respeito pelos princípios da publicidade e da transparência e com vencimentos iguais ou acima dos AH de carreira. Corte nas despesas, há muito por onde cortar sem qualquer prejuízo para o bom funcionamento dos serviços (p. ex., no nº de CA, criando ULS EPE em vez de HH EPE, no nº de membros dos CA, criando órgãos individuais de Administração nos Hospitais, Director-Geral do Hospital, nomeando para o efeito, por concurso, AH de carreira). Mande vender todos os carros topo de gama recentemente adquiridos. Não fazem falta nenhuma. Acabe com os vencimentos e as mordomias vergonhosas que se pagam nos HH SA. Mas não deixe cortar o fornecimento de água potável, nem deixe coartar o direito dos funcionários públicos à formação nem à progressão nas respectivas carreiras (já não se questiona a questão das progressões automáticas);

6º Não perca tempo com a casa dos outros. Há muito que fazer na nossa. Não dispare para todo o lado. Pense antes de falar, não fale antes de pensar. Já viu como a comunicação social gosta de si. É mau sinal. Estão sempre à espera de um deslize. Guie-se pela máxima do revolucionário que dizia que «a melhor maneira de dizer, é fazer!»;

7º Não se poupe a informar-se. Faça-o com método, com carácter sistemático, com carácter pró-activo e não reactivo, com intenção de corrigir e não de punir, com uma intenção positiva e não negativa, levando as pessoas à participação e não à delação. Mande efectuar inquéritos e sondagens junto dos trabalhadores dos serviços de saúde para sentir o pulsar frequente dos trabalhadores. Crie um sistema do tipo utilizado pelos hospitais franceses para avaliação do Clima Social (mas para uso do Ministério). Crie um sistema (através de um impresso com situações relevantes pré-tipificas) de Notificação de Comunicações de Situações verificadas nos hospitais (ou outros serviços de saúde) e mande criar uma base de dados, publicando-os e tomando as medidas que se impuserem. Dê voz aos «que têm menos voz»;

8º Visite mais os Serviços de Saúde. Mas não se deixe receber apenas pelos respectivos CA e por todos os penduras que sempre aparecem nessas ocasiões. Receba, por sua iniciativa, e em privado, em audiências curtas, figuras de relevo (no sentido de relevantes, não de importantes) dos respectivos serviços, com questões precisas e uma questão aberta, mandando avisar as pessoas com antecedência. O Senhor Prof. vai ver como há pessoas com muito para dizer, com uma visão das coisas muito diferente por vezes da do «aparachik»;

9º Confie na sua gente, mais do que na outra gente. Sua gente, antes de mais, são todos quantos foram seus alunos. A relação professor-aluno, como sabe, é muito forte e, com raras excepções, perduram, são de confiança;

10º Não se esqueça, que todos nós, os seus amigos, gostaríamos de o ver triunfar, para bem da Saúde dos Portugueses e do País. Os outros, esses, apenas estão à espera de o ver cair.

Senhor Professor, espante-nos.

Vivóporto

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16 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Isto é mesmo de bradar aos céus! Como socialista que sou não posso compreender que num texto que é público se fale dos ex-alunos do Ministro como sendo "a sua gente". Mas será que os AH que não são do meu partido também fazem parte "da sua gente" Sr. Ministro?!
Acho que devia haver decoro e que em associação com a revista da APAH (não sei se o texto vem publicado nela) fica muito mal aquilo que aqui se escreve. Ou será que o que se procura é exactamente o efeito contrário? Se calhar sou eu, que não fui aluno de Correia de Campos (graças a Deus) que estou a fazer uma leitura errada. Como permite, de qualquer modo, a Direcção da APAH uma coisa destas?
NA VERDADE, EM NENHUM SERVIÇO PÚBLICO SE CONHECE TAMANHA DESFAÇATEZ COMO ESTA DE SÓ OS DITOS AH (DA ENSP/CORREIA DE CAMPOS)SE AUTO JULGAREM OS ÚNICOS COM DIREITO (CAPACIDADE?) PARA SEREM DIRIGENTES DE ESTABELECIMENTOS DE SAÚDE).
E para terminar: como se explicaria que num texto sério e honesto (o que este certamente não é) se apelasse à nomeação de AH que estão(?) na prateleira e logo de seguida se apele à redução do número de lugares dos CA?

1:14 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

O comentário anterior parece feito por quem conhece bem os meandros da matéria. Concordo em absoluto com o que se diz. Há uma pergunta que claramente não pode deixar de colocar-se: nos gestores nomeados por LFP havia vários AH. Por exemplo: Silveira Ribeiro, Teresa Sustelo e Canas Mendes para falar só daqueles que neste blog têm sido citados. Eram do PSD?
Se eram, como se explica que Teresa Sustelo seja reconduzida? Como se explica que Silveira Ribeiro fosse já Administrador nomeado para hospitais (e não só) no tempo do governo PS?
E os gestores do IPO Porto e Coimbra, da ULSM, de Sta. Maria da Feira, e outros, eram do PSD? Todos sabemos que não.
Ao contrário do que hoje acontece LFP não fez discriminação entre AH e outros técnicos para as nomeações dos CA dos hospitais (SA's e SPA's)e não foi tão radical quanto está a ser o actual ministro em matéria de nomeação de boys. E por isso chegou, também ele, a ser contestado pelo aparelho do PSD!
Venham cá para fora os currículos dos nomeados, antes e agora, e assim poderemos fazer melhor juizo sobre os critérios de escolha.

8:23 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Relativamente ao primeirocomentário a senhora parece que acabou de ler um texto do demo.
A reacção diz tudo.
Quanto ao segundo comentário considerar que LFP não foi radical nas nomeações é amabilidade ao anterior ministro.
O que o CC tem feito é nomear AH já com anteriores provas dadas na administração hospitalar.
O caso do Silveira Ribeiro, como é do conhecimento geral, este AH é um "importante" militante do PSD e olheiro das questões da Saúde para aquele partido.
As reconduções de AH cuja opção é claramente do PSD demonstra que o critério do ,CC não é partidário mas sim de competência.(e todos sabemos como este julgamento é deveras subjectivo).

9:13 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Os dois primeiros comentários são a prova provada da confusão que vai em muitas cabeças. A propósito, verifico que Vivóporto faz um «remake»-é assim que se diz?-de uma carta aberta feita pelo Prof. Correia de Campos ao Minstro da Saúde (ele propório) quando foi nomeado. Esta carta foi publicada no público de 1 de Julho de 2001.
Pessoalmente, não contesto nenhuma nomeação de AH para os CA. Mas contesto a recondução de CAs claramente políticos. A recondução do CA do IPO do Porto como toda a gente sabe é um deles. Não tem um único AH e todos OS seus membros são pessoas externas ao hospital e agentes políticos do PSD:O DIRECTOR TODA A GENTE O CONHECE É UM ELEMENTO DESTACADO DO PSD DO PORTO, A VOGAL, É ESPOSA DO PRESIDENTE DA CONCELHIA DO PSD DO PORTO, O VOGAL É UM EX-SECRETÁRIO DE ESTADO DE CAVACO SILVA REFORMADO.
De facto, Vivóporto tem razão, é com tropas «DO INIMIGO» que CC fazer a sua «guerra»? Lirismo!

10:24 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Proponho que a carta aberta do Vivóporto seja enviada ou entregue directamente no gabinete do ministro, como já sugeriu o Xavier.

10:55 da manhã  
Blogger xavier said...

Sugiro ainda o envio da Carta Aberta do Vivóporto à revista APAH com o pedido de publicação.

10:57 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Meus e minhas senhoras. Enquanto as coisas sérias, como é a saúde, fôr pensada e tratada como o futebol, este país vai-se afundando. O texto postado é exemplo disso mesmo, e perde toda a razão quando assume o clubismo político e não o clubismo técnico. Um bom técnico é-o independentemente da sua tendência política. Um funcionário do estado é "do estado" e "não do partido". A segunda opção é razão para processo disciplinar com pena máxima. Já viram o que acontecia se só cumprissem a(s) lei(s) e a orientação governamental os filiados do partido que a publicou?
NÃO AFUNDEMOS MAIS ESTA PAÍS.

11:25 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Interessantes as reacções a esta carta aberta. O vivóporto parece ter tocado fundo na sensibilidade de alguns funcionários do partido.
Para um melhor esclarecimento do que tem sido o regabofe das lideranças partidárias relativamente aos servidores do estado o contributo do excelente artigo do João Cravinho:

Como caiu a função pública no caos organizativo em que hoje se encontra? Qual o motor da substituição desse caos por um mínimo de ordem e de racionalidade no recrutamento, estatuto e carreiras do funcionalismo público? Se atendermos apenas aos apelos fundados na presente crise orçamental, corremos o risco de vir a ter uma função pública aparentemente barata que sairá caríssima ao País, pela sua baixa qualidade e disfuncionalidade relativamente às exigências de uma administração pública moderna.

O caos organizativo da função pública vem de longe e tem causas bem determinadas. Uma comissão presidida por Sousa Franco fez um levantamento impressionante do emaranhado sem rei nem roque a que se tinha chegado no início dos anos 90.
Escreve o Expresso de sábado passado, baseado em fontes do Ministério das Finanças, que cerca de 250 mil funcionários verão a sua idade de reforma prolongada para os 65 anos devido a alteração dos regimes especiais de cerca de duas dezenas de entidades. Segundo a mesma fonte, os regimes especiais serão cerca de 70, integrando metade da função pública.
Impõe-se a actualização do relatório Sousa Franco. As reformas têm de partir do seguro conhecimento da boa ou má razão de todos os casos existentes.

MUITOS DOS PRIVILÉGIOS E REGALIAS AGORA EM CAUSA ACUMULARAM-SE AO LONGO DE DÉCADAS DE SUCESSIVAS CAPITULAÇÕES, DEMISSÕES E ABUSOS DE ALTOS DIRIGENTES POLÍTICOS E ADMINISTRATIVOS, ORIUNDOS DE TODOS OS PARTIDOS SEM EXCEPÇÃO, QUE NA GESTÃO DA FUNÇÃO PÚBLICA SOBREPUSERAM AS SUAS CONVENIÊNCIAS E COMODIDADES À DEFESA DE UMA VISÃO DE ESTADO, FOSSE ELA QUAL FOSSE.
A seguir ao 25 de Abril, a necessidade de mudar chefias e orientações dos serviços públicos em consonância com o novo regime democrático cedo foi ultrapassada PELO PURO E SIMPLES ASSALTO PARTIDÁRIO. Os partidos, de recente expressão organizativa na sociedade civil, precisavam desse recurso como pão para a boca para alargarem a sua influência. Se tivessem ficado por essa primeira vaga, tudo bem. O problema é que a partidarização da administração pública continuou até aos nossos dias em conflito com as tentativas, que também as há, da sua estruturação segundo moldes altamente profissionais. A partidarização levou à balcanização de numerosos serviços públicos e à proliferação de chefias superiores e intermédias frequentemente desprestigiadas pela sua falta de competência e parcialidade. Muitos funcionários deixaram de se sentir responsabilizados e dignificados em função do seu mérito e esforço. Em consequência, instalou-se o salve-se quem puder. E desenvolveu-se a procura oportunista de soluções particulares explorando ao máximo a necessidade em que os dirigentes estavam de se fazerem tolerados, ou até apreciados. Reforçadas por algum poder reivindicativo específico, as exigências chegavam assim facilmente aos ministros como absolutamente necessárias e inadiáveis. Na impossibilidade de alterar os regimes remuneratórios, a maneira mais cómoda de lhes dar solução era estatuir regalias e privilégios do tipo remunerações acessórias, subsídios, apoios complementares de segurança social, regimes mais favoráveis de aposentação, etc. Aberto o precedente, seguiam-se as concessões por arrastamento.
Não bastará eliminar mais ou menos a eito esses desvios. Será preciso respeitar o Estado de direito com disposições transitórias quando necessárias. Desenhar um novo estatuto da função pública e não apenas das suas chefias, bem como estabelecer uma nova orgânica dos quadros da função pública que permita a gestão justa e eficiente de recursos humanos a que o Estado deve recorrer. Não é possível gerir eficientemente esses recursos humanos armazenando-os em centenas de compartimentos estanques.
Por exemplo, no Ministério do Planeamento e Administração do Território em 1999 havia 51 quadros orgânicos diferentes. É preciso definir um número reduzido de quadros orgânicos por função de Estado ou, inicialmente, por ministério, de modo a facilitar a mobilidade, a formação contínua e a melhor gestão das carreiras de acordo com as necessidades efectivas. Existirão cerca de mil categorias profissionais diferentes. Muitas delas resultam do processo de balcanização anteriormente referido. A redefinição dos quadros obrigará também a rever as categorias profissionais. Tudo isto precisa de gestão profissionalizada e não partidarizada. A modernização da administração pública deve ter um dos seus maiores impulsos na gestão profissional dos seus recursos humanos. O que pressupõe saber primeiro as missões do Estado.

12:04 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Lembram-se da informação acerca de alguém que, apesar de não possuir formação específica, tem muita capacidade para proceder ao toque rectal?

1:04 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Tenho um compadre lá nas berças que está sempre a repetir: há para aí uns fulanos que estão sempre a falar daquilo que gostam mais.

2:08 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

«Aprende a conhecer a Administração e respeita-a. Ela é em geral, muito mais competente, confiável, leal e efectiva, do que tenderás a julgar. Pode ser lenta, mas está lá sempre.»-palavras do Prof. Correia de Campos, na sua carta aberta ao (futuro, ele próprio)Ministro da Saúde, publicada no Público de 1 de Julho de 2001.

3:58 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

E já temos o CC a seguir os conselhos do Vivóporto com uma visita ao H.Santa Maria para ver como para a greve

5:38 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Em França, as intenções do Ministro da Saúde, são estas, relativamente à Gestão dos Hospitais (peço desculpas a quem não sabe francês, embora com um conselho, estão em boa altura de aprender):

Gouvernance des hôpitaux publics
Les propositions de Jean-François Mattei
27-06-2003 - Réunissant hier l’ensemble des acteurs du monde hospitalier et les partenaires sociaux, le ministre de la Santé a présenté ses nouvelles propositions pour moderniser la gouvernance des hôpitaux. Une réforme est attendue pour la fin de l’année.

« L’hôpital de demain ne se fera pas sans les hospitaliers. J’ai exposé mes propositions, et je vais maintenant rencontrer individuellement chacun des acteurs. J’attache une grande importance à la concertation et à la négociation », a assuré Jean-François Mattei. Le ministre a cependant précisé qu’il souhaitait inscrire cette réforme dans le tempo parlementaire de fin d’année. « Il ne s’agit pas de forcer outre mesure l’allure mais de soutenir un rythme d’évolution qui permettre aux hôpitaux de bénéficier dés l’année 2004 de nouveaux dispositifs de pilotage », a-t-il ajouté. Pour le ministre de la Santé, la réforme de la gouvernance doit obéir à quatre grands principes : clarification des responsabilités, incitation à la contractualisation, réconciliation entre l’administration et les médecins et organisation des centres de responsabilité médicale.
Comité de direction et Conseil d’administration
Le ministre souhaite mettre en place un nouveau Comité de direction qui associerait l’administration et le corps médical. Sa vocation serait d’assurer la gestion de l’établissement sous l’égide du directeur : mise en œuvre des orientations validées par le Conseil d’administration, gestion des ressources et des dépenses, pilotage de l’activité, proposition des nominations des médecins au ministre… Seraient membres de droit de ce comité le directeur de l’établissement, président du Comité de direction, le président de la CME et le doyen dans le cadre d’un CHU. Ces membres de droit devraient choisir au sein de l’équipe de direction et des chefs de « pôle » des membres complémentaires.
Le Conseil d’administration (CA) serait, quant à lui, recentré sur « des fonctions stratégiques, d’évaluation et de contrôle ». Sa composition serait resserrée, autour de 12 à 18 membres, organisées en trois collèges de même importance : un collège d’élus dont le maire de la ville, un collège de personnalités qualifiées nommées par l’ARH et un collège de représentants des personnels de l’établissement. S’agissant de la présidence du Conseil d’administration, le ministre souhaite ouvrir la discussion avec les partenaires. « Je me pose la question de savoir s’il est souhaitable que le maire reste le président du CA. J’ai soumis à la concertation la question de confier la présidence au collège des élus », a précisé le ministre.
Dispositif de sécurité en cas de dérive de gestion
Si l’établissement ne parvenait pas dans son nouveau cadre de responsabilité à prendre les mesures de gestion nécessaires à son équilibre, l’ARH pourrait alors disposer d’un double pouvoir : un pouvoir d’injonction et un pouvoir de suspension. Dans le cadre de son pouvoir d’injonction, le directeur de l’ARH aurait la possibilité de demander au CA d’obtenir du Comité de direction la mise en œuvre d’un plan de redressement. Le directeur de l’ARH pourrait également suspendre les pouvoirs du CA et du Comité de direction en mettant l’établissement sous le régime d’une « administration temporaire ». Cette administration temporaire serait assurée par une sorte de « comité des pairs » regroupant des directeurs et des médecins préalablement nommés dans le statut de « conseillers généraux des hôpitaux ».
Contractualisation interne
L’hôpital sera également encouragé à développer la contractualisation interne entre le « pôle » et le Comité de direction. Sous la terminologie de pôle serait regroupé l’ensemble des organisations actuelles (services, départements ou fédérations). Le contrat conclu entre le pôle et le comité de direction pourrait comprendre une véritable délégation de gestion au responsable du pôle en tant qu’ordonnateur secondaire, ce qui signifie que ce responsable pourrait engager certaines dépenses et recettes. Le responsable du pôle serait un médecin désigné par le Comité de direction après avis de la CME. Il serait assisté dans ses fonctions par un cadre infirmier et un personnel de l’administration. « Si la contractualisation interne est généralisée, on pourra alors envisager l’intéressement individuel et collectif du personnel soignant et non soignant », a souligné le ministre.
Nomination des PH et des directeurs
Le ministre souhaite également simplifier la nomination et la gestion des praticiens hospitaliers (PH) comme celle des directeurs d’établissements. S’agissant des PH, les postes ne seraient plus soumis à l’autorisation de l’ARH mais seraient créés par l’établissement lui-même en fonction de ses besoins et moyens. L’accès à la liste nationale d’aptitude devrait être simplifié. Une fois inscrit sur la liste d’aptitude, tout praticien pourrait répondre à une publication de poste. Un centre national de gestion serait placé auprès du ministre, dont la vocation serait de tenir à jour la liste d’aptitude. Le ministre demeurerait enfin l’autorité de nomination.
Quant aux directeurs adjoints, cadres de direction, ils seraient recrutés directement par le directeur de l’établissement après publication du profil de poste. Pour les chefs d’établissements, les candidatures seraient examinées par le CA après publication de la vacance de poste par le centre national de gestion. L’avis serait transmis par le CA au ministre, qui demeurerait là aussi l’autorité de nomination. Le centre national de gestion assumerait les tâches de gestion opérationnelle : publication des postes, suivi des carrières, évaluation des directeurs d’hôpitaux… La création d’un groupe ad hoc de 200 à 300 personnes serait destinée à alimenter obligatoirement les postes de chefs d’établissement des 200 plus gros hôpitaux de France. Ce groupe serait alimenté par des profils de nature diverse (corps des directeurs d’hôpitaux et candidats externes).
Pouvoir d’alerte des comités internes
Jean-François Mattei propose par ailleurs de conforter les rôles stratégiques des différents comités internes et consultatifs. La CME serait ainsi dotée d’un pouvoir d’alerte en direction du CA, tout comme le Comité technique d’établissement (CTE) La composition de la CME évoluerait vers une représentation fonctionnelle de l’organisation médicale, et l’ensemble des responsables médicaux de pôles en seraient membres de droit. Le rôle et la composition du CTE demeureraient inchangés. Selon le ministre, il serait également souhaitable de limiter le nombre des autres comités internes (CLUD pour la douleur, CLIC pour les personnes âgées, le CLIN pour les infections nosocomiales, le comité des risques, d’hémovigilance, de matériovigilance…). L’organisation et la mission de ces comités devraient être revues afin de simplifier leur fonctionnement.
Joëlle Maraschin


A reter:
1º O sistema de saúde francês é considerado o melhor do mundo (são rankings, é certo, mas quando feitos por entidades credíveis, mais vale estar a ganhar do que a perder. É como as sondagens!)
2º O Conselho de Administração equivale, nas nossas EPEs à Assembleia Geral, com outra composição, embora com poderes similares;
3º O órgão de gestão é singular: o Director do Hospital, que é obrigatoriamente um profissional da carreira de Administração hospitalar formado na Escola Nacional de Saúde Pública de Rennes (a mesma onde o Prof. CC tirou o seu Curso de AH: «os meninos de Rennes», lembram-se?)
4º Vê-se a importância dos «pôles d’activité» que vem de encontro à nossa filosofia dos CRI’s e quejandos. Lá está também (nos CRI's e até nos serviços médicos) o AH (directeur-adjoint, que é um profissional da carreira de AH);
5º Vejam a proposta para a designação dos directeurs-adjoint: «ils seraient recrutés directement par le directeur de l’établissement après publication du profil de poste» (mediante concurso, dentre AH de carreira) ;
6º O lugar de Director do Hospital : por concurso, dentre AH de carreira ; «les candidatures seraient examinées par le CA après publication de la vacance de poste par le centre national de gestion» e posterormente nomeados pelo Misnistro da Saúde.

7º Esta proposta vem inserida no chamado Hospital 2007 conjunto de medidas que visam melhorar a performance dos Hospitais em França. A preocupação é melhorar um sistema com provas dadas, que tem cerca de 50 anos. Os franceses são adeptos do Pedroto (grande treinador do FCPorto): em que equipa que ganha não se mexe.

É assim, nos países civilizados.

10:49 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

«Mas a dois meses das eleições legislativas começam a soar campainhas de alarme, vindas do Largo do Rato, dando-nos a entender que o discurso que ainda há pouco era de alternativa começa a resvalar para o discurso da alternância. Refiro-me concretamente à entrevista que Correia de Campos deu ao suplemento Negócios do Diário de Notícias de 20 de Dezembro, em que faz uma circunstanciada digressão pelos negócios da Administração Pública mas em que não deixa de fazer algumas referências relevantes à política de Saúde. É público, e o próprio não o esconde, que, no mínimo, é um simpatizante da actual política para o sector, o que só vem dar razão àqueles que defendem que para haver Bloco Central não é necessário que PS e PSD formem uma coligação para que esse ente político tenha vida, cresce, se desenvolva e ganhe raízes. Basta que o sistema de estafetas se mantenha a funcionar. Em ambos os partidos há uma reserva de dirigentes pronta a dar continuidade há herança que o outro lhe deixou.»- Cipriano Justo, ex-sub-director geral de saúde, de Maria de Belém, dois meses antes das eleições. Percebe-se melhor a política actual de CC?

11:55 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Acho este artigo muitissimo interessante e deve, sem sombra de dúvidas, ser publicado e enviado ao Sr. Ministro. Nomeadamente no que diz respeito ao ponto 3 e 5. Falo como funcionário de um Hospital SA, o desânimo é muito, muito grande.
Sr Ministro deixe-se de siatemas de avaliação que só incentivam a "Graxa", promova a formação , melhore as condições físicas dos hospitais, não corte as progressões das carreiras.... dê algum incentivo moral às suas tropas. Porque quer o Sr. Ministro queira quer não queira, quem faz de si um bom ministro e quem produz são os funcionários das instituições, não são os senhores da Administração. Nestes anos com os SA, o que se assistiu é a casa funciona melhor sem eles. PENSE NISSO.

10:56 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Este documento é excelente.
Serve não só para o CC para todos nós como tábua de atitudes e valores
Bem-haja vivó porto
Os seus sinceros parabéns

8:53 da tarde  

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