Portugal, trabalhador e feliz
Afinal ainda há um Portugal que trabalha e se sente feliz!
Este fim de semana fui à minha aldeia. Do Porto a Vila Real pelo A24, Régua, marginal do Douro. Antes de chegar às Bateiras virei à direita, subi a Valença do Douro e fui subindo até chegar à minha terra. Para quem não conhece, posso dizer-vos que este percurso é das paisagens mais soberbas de Portugal. É o Douro em todo o seu esplendor. Visto de cima, muito de cima. E para longe, muito longe. Alguém nascido por aquelas bandas, meu conterrâneo, dizia, que quem ali nascesse não podia ter vistas curtas. Ele por exemplo não tinha. O Pinhão a um lado, o Rio Douro para um lado e para o outro, a Quinta das Carvalhas, lá adiante, vinhas e serra por todo o lado, os sucalcos característicos. Passo por ali muitas vezes. Contudo nunca me canso de admirar aquela paisagem. Não só deslumbra como leva ao mais puro devaneio.Porém, desta vez, distraí-me também com outras coisas, reparei no autêntico frenesim das vindimas por todo o lado. Gente aos magotes pelas vinhas, carrinhas às dezenas pela estrada, Douro acima, Douro abaixo, com recipientes cheios de uvas, cestas, baldes, alfaias de trabalho por todo o lado. Vida a mexer,com uma alegria inusitada. Surpreendente mesmo para gente que vai da cidade morumbática, tristonha, deprimida, dolente, apática, em suma à deriva. Quase não dá para acreditar, sobretudo para quem trabalha nos hospitais que em Portugal há quem trabalhe duro, há quem tenha objectivos, não queira ver Portugal ir ao fundo, há quem se sinta feliz, apesar dos governantes que nos desgovernam, que se governam e mal baratam a riqueza que alguns, estes do Douro e aqueles lá mais acima, já da Beira, vão criando com alegria. Cheguei à minha aldeia já eram cerca das 20 horas. Descarregavam-se tractores de uvas num lagar numa viela ao lado da casa dos meus pais. Por volta das nove, o lagar estava cheio de homens a pisar as uvas. Começaram a cantar, acompanhando as cantorias com bonbos e concertinas. Horas a fio, sem parar, com alegria e energia contagiante. A malta estava animada. Já na cama eram cerca de 2 horas da manhã e ainda os ouvia, com a mesma enorme alegria e vigor, a cantar, sempre a cantar.Adormeci, embalado, profundamente.Esta prosa toda, para dizer o quê? Não é que tenha muito jeito para estas coisas, mas depois de tudo o que aqui temos andado a dizer, dando nota de um Portugal doente, sem rumo, deprimido, às volta com o seu umbigo, é bom saber que ainda há um Portugal que trabalha e se sente feliz. Talvez não fizesse mal a CC aproveitar o SNS Tour para antes de se deprimir com o estado de (des)ânimo que vai encontrar nos hospitais ir dar uma volta pelo Douro vinhateiro. Suba lá adiante de Valença do Douro,para os lados da Espinhosa ou de Trevões. Encontrará por lá certamente um amigo que não o deixará vir sem lhe oferecer um copo de Solar do Prado.É pura felicidade e trabalho engarrado. Boa colheita para oferecer aos futuros Gestores EPEs (todos Administradores Hospitalares, de preferência, não vá V. Exª deitar pérolas a porcos!)
Vivóporto
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