Antes, pelo contrário...
«O debate para discutir o documento de proposta da transformação dos hospitais SA em Entidades Públicas Empresariais (EPE) (link)
está frouxo e lânguido. De facto, não temos dado pela discussão à volta do documento. Talvez reflexo do contexto de poder absoluto do actual governo ou da perspectiva cautelosa dos potenciais intervenientes na discussão que vislumbram uma longa ausência de oportunidades de nomeações para cargos diversos, terminada que está a fase de instalação do partido na administração pública. Todavia, a proposta contém medidas que, surpreendemente, contradizem as intenções anunciadas pelo ministério e assinaladas em a). Ou seja, promovem o estado de dependência da tutela e reduzem a autonomia da gestão hospitalar para além do razoável numa economia de mercado integrada no contexto da UE. É uma medida que contém um princípio polémico: passa um atestado de “menor idade” aos administradores hospitalares e assume que estes são incapazes de realizar projectos de investimento. Por outro lado, o documento aumenta o risco de um “upgrade” do caciquismo através da medida que propõe a nomeação dos directores clínicos e de enfermagem de todos os hospitais do país a partir dos gabinetes ministeriais quiçá após proposta do presidente da “distrital” do partido? Não estão clarificadas as vantagens deste modelo de gestão hospitalar centralizada que contraria as tendências de praticamente todos os sistemas de saúde na UE. Ou será apenas uma questão académica?»
Paulo Kuteev Moreira, DE, 24.11.05.
O debate aqui na SaudeSA sobre o projecto de decreto lei dos novos Hospitais EPE está firme e hirto. Aqui não há lugar a debates frouxos e lânguidos.
Atestado "de menor idade" aos Administradores hospitalares, incapacidade de executar projectos de investimento, risco de "up grade" do caciquismo, modelo centralizado, fora de moda.
O Dr. Moreira lembra-se de cada coisa. Este naco parece fazer parte de algum manifesto surrealista !
Gostei, especialmente, do "up grade" do caciquismo. Expressão gira à brava.
3 Comments:
Concordo e já me pronunciei nesse sentido, que os poderes de gestão das EPE ficarão, no modelo proposto, centralizados exageradamente no Ministro da Saúde.
E que diabo, CC não terá confiança nos gestores que vai nomear? Não serão dos melhores quadros da nossa sociedade? E não vão assinar as tais Cartas de Compromisso ou de Missão, assumindo compromissos que a não serem cumpridos darão lugar a demissão?!
Sinceramente isto parece-me a repetição do célebre discurso de Jorge Sampaio, Senhor Presidente da República, na posse do Governo de Santana Lopes. Nomeio-o, mas não confio em si...(mais ou menos isto, dito por outras palavras).
Repito que a ser assim me parece que a modernização gestionária da Saúde dará passos atrás.
Sim mas os resultados da mudança estão à vista. Leia-se o artigo de Santana Lopes no Expresso, não pelo seu cariz de crítica ao actual governo mas pelos dados que nos recorda sobre a evolução económica e social do país! Mas sobretudo, e independentemente do que os políticos possam dizer e prometer, veja-se o que se passa à nossa volta neste final do Ano da Graça de 2005. E veremos como tudo não passou de um embuste.
Não será tempo do Dr. Jorge Sampaio voltar a lembrar ao Governo que "há vida para além do défice"?!
De o Dr. Jorge Sampaio dizer ao Governo, dos trabalhadores do Estado em geral, o que disse dos magistrados (por serem uma elite)?
Quando o candidato à PR Dr. Mário Soares vem dizer que o neoliberalismo é o darwinismo social onde os mais ricos , mais fortes e com maiores conhecimentos progridem, os outros é a lei da selva e a natureza encarrega-se de os eliminar, concluindo que "nós não vivemos numa selva" (J.Neg. de 25/11/05), talvez se possa perguntar: em qual dos grupos se integra o próprio candidato?
Qual o estado social que lhe concedeu as mordomias de que é titular? Um estado social onde impera a justiça social e igualdade? Onde impera a solidariedade? Onde imperam os princípios éticos e os bons costumes? Ou antes um estado social onde se pode dizer que "o Mundo é dos mais espertos"?
O que os portugueses votaram em 2005 foi a esperança na mudança para melhor e há razões para estarmos pessimistas.
Lições de economia, recebi-as há já bastantes anos numa das melhores faculdades do país. E sei muito bem do que falo. O problema que coloquei não é aquele que o Avelino aborda. Com o que diz até estarei de acordo, pelo menos parcialmente. O problema são as "bocas". É a mentira dos nossos políticos. É a demagogia de quem diz estar sempre ao lado dos pobrezinhos, dos mais desfavorecidos, mas entretanto não abdica das benesses que um país do salve-se quem puder lhe concedeu.
Esses moralistas que todos os dias pregam como Frei Tomás! É fácil, é mesmo a coisa mais fácil deste Mundo, encher a boca com palavras bonitas, quando se tem tudo e mais alguma coisa, e quantas vezes sem contrapartidas prestadas ao País. Reformas chorudas em meia dúzia de anos de trabalho, ao fim de breve passagem por cargos políticos, etc..
E o que é verdade, Avelino, é que há mais de duas décadas são pedidos sacrifícios aos Portugueses exactamente para que o futuro possa ser melhor. E aquilo a que assistimos é que o que hoje é mentira, amanhã é verdade conforme estamos (eles estão) no governo ou na oposição. Foi assim quando Mário Soares, então primeiro ministro mandou pagar pagou o subsídio de Natal em títulos da dívida pública, foi assim mais recentemente no governo de D. Barroso. E o que é verdade é que continuamos hoje a assistir ao mesmo discurso dos anos 80 do século passado. E o que há um ano era uma má política do governo, hoje parece ser um "oásis" na governação.
Permita-me só que cite um exemplo, pelas semelhanças que pode ter com o que se passa actualmente:
Quando em 1993 o governo (C.Silva) aumentou gradualmente a idade da reforma das mulheres de 60 para 65 anos (algo semelhante ao adiamento da idade da reforma actualmente aplicável aos funcioários públicos) para melhorar a sustentabilidade financeiora da segurança social (?), o PS então na oposição discordou, criticou a medida e "fez trinta por uma linha".
Em 1996, com Guterres como Primeiro Ministro, o PCP propôs a revogação dessa medida. E o que fez o PS na AR? Votou pura e simplesmente contra e inviabilizou a reposição da situação.
Avelino, tudo é feito em nome do futuro, mas basta haver mais umas eleições para as políticas restritivas que eram necessáris em nome do tal futuro deixarem de o ser.
Avelino, percebeu? Obviamente que sim. É a isto que eu pretendo referir-me no meu comentário anterior. O défice na verdade não é bom. Mas não pode deixar de ser mau só porque o partido político no Governo mudou.
Ainda hoje, no discurso do Senhor primeiro Ministro, na inuguração de um troço da A11 foi exaltada a política do alcatrão, por quem não há muitos anos tanto criticou a realização das principais infra-estruturas rodoviárias do país onde hoje, a maioria de nós, viaja com muito mais rapidez, comodidade e segurança.
E há ou não vida para além do défice?
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