Economistas da Saúde no Poder
A GH de Novembro traz uma entrevista com Michael Drummond um dos oradores da I Conferência Nacional de Farmacoeconomia.
Dessa entrevista decidimos postar o seguinte passo interessante:
GH – Acha que a farmacoeconomia devia ser uma especialização dos Administradores Hospitalares ?
Michael Drummond (MD) – Sim, acho que é uma matéria que deviam aprender. É uma maneira de se relacionarem melhor com os médicos. Agora, não existem dúvidas: os médicos olham pelos doentes e os gestores pelo orçamento. Esta é uma maneira de haver um debate sobre custos; sobre se os custos-extra implicam benefícios-extra. É um pouco o que tem acontecido no Reino Unido. Quando o NICE apresenta uma orientação há um debate a nível local sobre se é uma boa ou má orientação, o que devemos fazer no nosso hospital.
GH – No contexto europeu, quem é que lidera na aplicação desta avaliação económica do medicamento ?
MD – O Reino Unido será o mais avançado. Provavelmente em segundo lugar, o que pode surpreender alguns, estão a Holanda e a Suécia. Mas alguns dos maiores países como a Akemanha, estão muito atrasados. Não é uma questão de tamanho do país. Portugal não está assim tão mal.
A questão de Portugal é que a maioria dos vossos economistas da saúde estudaram outros aspectos da economia da saúde em vez da avaliação económica do medicamento. João Pereira (ENSP) trabalhou em qualidade e António Correia de Campos desenvolveu uma carreira como político. Francisco Ramos também é um economista da Saúde. De certa maneira, os vossos economistas estão mais próximos do poder do que nós em Inglaterra.
Michael Drummond (MD) – Sim, acho que é uma matéria que deviam aprender. É uma maneira de se relacionarem melhor com os médicos. Agora, não existem dúvidas: os médicos olham pelos doentes e os gestores pelo orçamento. Esta é uma maneira de haver um debate sobre custos; sobre se os custos-extra implicam benefícios-extra. É um pouco o que tem acontecido no Reino Unido. Quando o NICE apresenta uma orientação há um debate a nível local sobre se é uma boa ou má orientação, o que devemos fazer no nosso hospital.
GH – No contexto europeu, quem é que lidera na aplicação desta avaliação económica do medicamento ?
MD – O Reino Unido será o mais avançado. Provavelmente em segundo lugar, o que pode surpreender alguns, estão a Holanda e a Suécia. Mas alguns dos maiores países como a Akemanha, estão muito atrasados. Não é uma questão de tamanho do país. Portugal não está assim tão mal.
A questão de Portugal é que a maioria dos vossos economistas da saúde estudaram outros aspectos da economia da saúde em vez da avaliação económica do medicamento. João Pereira (ENSP) trabalhou em qualidade e António Correia de Campos desenvolveu uma carreira como político. Francisco Ramos também é um economista da Saúde. De certa maneira, os vossos economistas estão mais próximos do poder do que nós em Inglaterra.
GH - E isso é uma desvantagem ?
MD - Não ! Por que seria ? Há até certas vantagens num país mais pequeno. Vivendo em Portugal e sendo eu um cientista muito conhecido, poderia aproximar-me mais dos políticos do que alguma vez conseguiria no Reino Unido. Lisboa é uma pequena aldeia comparada com Londres. Em Inglaterra, por exemplo, eu nunca conseguiria conhecer o ministro ou o secretário de estado.
Como cientista, penso que a única razão para se ser um cientista é o poder que isso pode ter em influenciar decisões. Por isso, se tiver de me aproximar do poder para ter essa capacidade, para mim, é um risco a correr.
Não vale a pena estar num gabinete da Universidade de Coimbra, a fazer estudos bonitos a que ninguém liga, é melhor estar envolvido no processo decisório.
Em Inglaterra, trabalhar com o NICE não é exactamente trabalhar para o Governo mas é muito próximo do processo de tomada de decisão.
3 Comments:
Em Portugal qualquer bicho careta pode fazer parte do Governo.
Não nos podemos esqueçer que Pedro Santana Lopes já foi primeiro ministro.
No caso da equipa do Ministério da Saúde é a excepção. Trata-se de gente muito bem preparada.
Nos HH a introdução de novas substâncias é determinada pela forte influência da Indústria.
Não nos podemos esquecer que Portugal é dos países da UE em que há mais delegados de informação médica.
Internamente o processo de autorização é feito através do preenchimento de um impresso normalizado pelo médico proponente.
Este pedido aborda invariavelmente de forma ligeira as seguintes questões:
- Justificação genérica para a introdução do novo produto- ganhos de saúde esperados.
- Custos anuais previstos para a utilização da nova substância.
- Se a introdução da nova substância se destina à substituição de outras substâncias utilizadas no hospital, quais, e os custos anuais registados com esta utilização.
É esta a avaliação económica que temos.
Mais recentemente o Infarmed elaborou e fez aprovar o formulário hospitalar nacional a ser seguido por todos os hospitais.
As alterações a este formulário são analisadas por uma comissão.
Do que conheço, a introdução de novos medicamentos nos hospitais (pelo menos num) é apreciada por uma comissão para o efeito designada. E sei que não é uma decisão tomada de ânimo leve, sendo deliberada pelo CA, com base em proposta que lhe é apresentada.
Sobre esta matéria, eu que até julgo ter alguma sensibilidade para os problemas económicos, acho que o que se deve privilegiar são os ganhos em saúde. E os benefícios indirectos de melhoria de cuidados nunca devem ser menosprezados, ainda que se saiba serem de difícil (quase impossível) quantificação.
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