sábado, novembro 26

Economistas da Saúde no Poder


A GH de Novembro traz uma entrevista com Michael Drummond um dos oradores da I Conferência Nacional de Farmacoeconomia.
Dessa entrevista decidimos postar o seguinte passo interessante:
GHAcha que a farmacoeconomia devia ser uma especialização dos Administradores Hospitalares ?
Michael Drummond (MD) – Sim, acho que é uma matéria que deviam aprender. É uma maneira de se relacionarem melhor com os médicos. Agora, não existem dúvidas: os médicos olham pelos doentes e os gestores pelo orçamento. Esta é uma maneira de haver um debate sobre custos; sobre se os custos-extra implicam benefícios-extra. É um pouco o que tem acontecido no Reino Unido. Quando o NICE apresenta uma orientação há um debate a nível local sobre se é uma boa ou má orientação, o que devemos fazer no nosso hospital.
GHNo contexto europeu, quem é que lidera na aplicação desta avaliação económica do medicamento ?
MD – O Reino Unido será o mais avançado. Provavelmente em segundo lugar, o que pode surpreender alguns, estão a Holanda e a Suécia. Mas alguns dos maiores países como a Akemanha, estão muito atrasados. Não é uma questão de tamanho do país. Portugal não está assim tão mal.
A questão de Portugal é que a maioria dos vossos economistas da saúde estudaram outros aspectos da economia da saúde em vez da avaliação económica do medicamento. João Pereira (ENSP) trabalhou em qualidade e António Correia de Campos desenvolveu uma carreira como político. Francisco Ramos também é um economista da Saúde. De certa maneira, os vossos economistas estão mais próximos do poder do que nós em Inglaterra.
GH - E isso é uma desvantagem ?
MD - Não ! Por que seria ? Há até certas vantagens num país mais pequeno. Vivendo em Portugal e sendo eu um cientista muito conhecido, poderia aproximar-me mais dos políticos do que alguma vez conseguiria no Reino Unido. Lisboa é uma pequena aldeia comparada com Londres. Em Inglaterra, por exemplo, eu nunca conseguiria conhecer o ministro ou o secretário de estado.
Como cientista, penso que a única razão para se ser um cientista é o poder que isso pode ter em influenciar decisões. Por isso, se tiver de me aproximar do poder para ter essa capacidade, para mim, é um risco a correr.
Não vale a pena estar num gabinete da Universidade de Coimbra, a fazer estudos bonitos a que ninguém liga, é melhor estar envolvido no processo decisório.
Em Inglaterra, trabalhar com o NICE não é exactamente trabalhar para o Governo mas é muito próximo do processo de tomada de decisão.

3 Comments:

Blogger saudepe said...

Em Portugal qualquer bicho careta pode fazer parte do Governo.
Não nos podemos esqueçer que Pedro Santana Lopes já foi primeiro ministro.

No caso da equipa do Ministério da Saúde é a excepção. Trata-se de gente muito bem preparada.

12:17 da tarde  
Blogger ricardo said...

Nos HH a introdução de novas substâncias é determinada pela forte influência da Indústria.
Não nos podemos esquecer que Portugal é dos países da UE em que há mais delegados de informação médica.
Internamente o processo de autorização é feito através do preenchimento de um impresso normalizado pelo médico proponente.
Este pedido aborda invariavelmente de forma ligeira as seguintes questões:
- Justificação genérica para a introdução do novo produto- ganhos de saúde esperados.
- Custos anuais previstos para a utilização da nova substância.
- Se a introdução da nova substância se destina à substituição de outras substâncias utilizadas no hospital, quais, e os custos anuais registados com esta utilização.

É esta a avaliação económica que temos.

Mais recentemente o Infarmed elaborou e fez aprovar o formulário hospitalar nacional a ser seguido por todos os hospitais.
As alterações a este formulário são analisadas por uma comissão.

12:35 da tarde  
Blogger tonitosa said...

Do que conheço, a introdução de novos medicamentos nos hospitais (pelo menos num) é apreciada por uma comissão para o efeito designada. E sei que não é uma decisão tomada de ânimo leve, sendo deliberada pelo CA, com base em proposta que lhe é apresentada.
Sobre esta matéria, eu que até julgo ter alguma sensibilidade para os problemas económicos, acho que o que se deve privilegiar são os ganhos em saúde. E os benefícios indirectos de melhoria de cuidados nunca devem ser menosprezados, ainda que se saiba serem de difícil (quase impossível) quantificação.

10:46 da tarde  

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