quarta-feira, novembro 2

Revista Gestão Hospitalar


O Editorial de Manuel Delgado da revista gestão hospitalar (n.º10 de outubro 2005) aborda o tema do medicamento nos hospitais:
” O peso do medicamento nos hospitais assumiu uma importância económica sem precedentes, passando de cerca de oito por cento das despesas correntes para, nalguns casos, cerca de vinte por cento, em poucos anos.
O esforço que se tem desenvolvido na reestruturação da farmácia hospitalar, dotando-a de meios de distribuição unitária e personalizada, e de um controlo informatizado das aquisições, dos stocks e dos consumos, é um contributo precioso e que tem dado resultados significativos.
Há que conseguir, no entanto, ao nivel da prescrição, desenvolver protocolos terapêuticos de natureza imperativa, fomentar formas automatizadas de prescrição e adoptar critérios de custo/efectividade na introdução de novos fármacos.
Há já hospitais que têm em operação sistemas de prescrição online altamente eficientes com uma qualidade superior e plena satisfação de médicos e farmacêuticos".

Sem deixar de concordar com a análise de fundo, não podemos deixar de discordar do optimismo de MD, relativamente à modernização da Farmácia Hospitalar.
A maioria das farmácias dos nossos hospitais continuam a funcionar em condições precárias com falta de instalações adequadas, equipamentos e pessoal. A distribuição de produtos farmacêuticos continua a fazer-se com muitos desperdícios e falta de qualidade. O registo de informação de gestão de stocks, nalguns hospitais, faz-se com atrasos significativos e falta de fiabilidade. A prescrição on line está implementada em poucos hospitais, cobrindo apenas alguns (poucos) serviços. A maioria dos sistema faz a imputação dos consumos ao internamento /urgência/ambulatório não permitindo conhecer o consumo por doente tratado.
As farmácias hospitalares, com algumas raras excepções, continuam muito longe da desejada modernização referida por MD.

4 Comments:

Blogger tonitosa said...

A prescrição clínica electrónica (online) surge, sem dúvidas, como um importante "instrumento de trabalho" para os profissionais e, ao mesmo tempo, constitui-se com um excelente instrumento de gestão na medida em que permite a imputação directa de custos (ainda que parciais) ao doente. O tratamento imediato e automático da informação introduzida no sistema permite ganhos claros de eficácia e eficiência. Por outro lado permite conhecer em cada momento a ocupação de camas por serviço e a tomada de medidas adequadas à melhor gestão de recursos. Não sendo um processo fácil, a sua introdução requer desde logo a adesão dos profissionais o que começa quase sempre por algumas dúvidas que, rapidamente se desfazem.
Do conhecimento directo que temos julgamos que a sua introdução se torna mesmo uma inadiável.
O sistema tem importantes efeitos positivos também na área da farmácia hospitalar com destaque para a gestão de stocks. Quando acompanhada pela implementação de protocolos terapêuticos os seus resultados positivos são ainda mais notórios, no entanto é a falta destes que muitas vezes se apresenta como um obstáculo ao desenvolvimeto dos processos.
O desafio, posso afirmá-lo, é estimulante e somos por vezes surpreendidos quando passamos a dispor de infomação fiável e também ela online.
A dsiponibilização de informação que o sistema permite pode ser olhada por alguns (felizmente poucos) como um sistema de controlo não desejado e por isso é importante começar por "vender" o produto aos directamente responsáveis, designadamente médicos e enfermeiros. Que diga-se, cedo se apercebem dos benefícios e começam então a exigir maiores desenvolvimentos.

11:51 da tarde  
Blogger xavier said...

É indispensável criar um sistema de codificação dos Produtos Farmacêuticos nacional comum a todos os HH do SNS.
A entidade responsável pelo sistema de codificação de Produtos Farmacêuticos é naturalmente o Infarmed a quem competirá definir o sistema de codificação a implementar em todos os HH do SNS.
Com o anterior ministro a aplicação a funcionar no HUC foi considerada como modelo a implementar em todos os HH. Haveria um período de experimentação da codificação que decorreria até final do corrente ano.
Desconheço se este projecto se mantém activo.
Existem dois sistemas informáticos de gestão de stocks dos Serviços de Farmácia: o do HUC (CPCIS) e o do SAMS bem desenvolvidos e a funcionar em vários HH do SNS.

Sobre os protocolos terapêuticos imperativos (com previsão de sanções para os protocolos estatuídos) penso ser dispensável a sua criação.
Os protocolos terapêuticos estabelecem procedimentos terapêuticos normalizados para determinados quadros clínicos.
Os planos terapêuticos acordados são inseridos na aplicação informática. Quando o médico pretende prescrever para determinada situação clínica protocolada o sistema informático dá-lhe automaticamente a lista de substâncias a utilizar e não lhe permite utilizar outras substâncias não previstas no protocolo.
Este sistema não infringe a liberdade de prescrição do pessoal médico uma vez que se trata de procedimento previamente discutidos e aprovados pelos médicos do serviço e o Director Clínico do Hospital.

No estudo dos circuitos de distribuição, negociação de protocolos terapêuticos, implementação das aplicações informáticas on line e do sistema de distribuição de medicamentos por dose unitária é importantíssima a intervenção do gestor hospitalar fazendo o interface entre a gestão clínica e a gestão dos recursos disponíveis. Esta intervenção requer uma preparação específica alicerçada em conhecimentos profundos da área dos cuidados e dos instrumentos de gestão susceptíveis de aplicação para a melhoria das condições de funcionamento dos serviços e a obtenção de ganhos de eficiência. A intervenção com eficácia nesta área de actuação não está ao alcance de qualquer gestor sem uma preparação específica prévia aprofundada e testada.

Foi este o meu trabalho, cerzir o tecido da organização dos serviços prestadores de cuidados, durante longos e felizes anos de operacional do SNS.

9:54 da manhã  
Blogger xavier said...

Agradeço ao tonitosa e ao xico o prazer quetive na leitura dos seus excelentes comentários.

10:04 da manhã  
Blogger tonitosa said...

Caro xavier,
Concordo com o que diz. A matéria é complexa. O meu conhecimento é de quem felizmente, acompanhou de perto o arranque da prescrição clínica electrónica num hopsital, tendo por padrão o sitema dos HUC. Os resultados estão no terreno e com sucesso.
A existência de protocolos, a codificação a par de outras pequenas grandes coisas, é fundamental para que se obtenham ganhos em saúde mas é também importante e fundamental que urgentemente se avance com a informatização da Gestão de Doentes (onde o Sonho é uma dificuldade) e ao contrário do que alguns têm procurado "vender" há sistemas que não custam "milhões"!
Os desafios são enormes e seria bom que de uma vez por todas se iniciasse uma verdadeira reforma da Saúde, imune a questões político-partidárias e conjunturais.

12:17 da tarde  

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