domingo, dezembro 4

Estudo da AdC

O que faz mais impressão no estudo da Autoridade da Concorrência é a circunstância de terem feito o benchmark com 6 países e não terem recomendado o modelo de nenhum desses países e, em contrapartida, terem recomendado as medidas que foram recomendadas na Noruega – e não terem feito o benchmark com esse país. Num estudo, a comparação com cenários conhecidos não deve ficar pelas recomendações – deve incluir, também, as consequências. E infelizmente para os portugueses foi isso que a Autoridade da Concorrência não fez. Por exemplo, talvez com o objectivo de “queimar” os farmacêuticos, o estudo salienta que as 2.700 farmácias portuguesas tiveram lucros superiores aos dos principais grupos portugueses de distribuição (se excluirmos os “off-shores” e o planeamento fiscal que os grandes grupos económicos conseguem organizar e as pequenas empresas, como as farmácias, não conseguem). Mas, o que o estudo não faz é comparar a evolução verificada nos países que estudou. Baixaram os lucros das farmácias? Os medicamentos passaram a ser vendidos mais baratos? Os grandes grupos económicos, coitados, passaram a lucrar mais? Invocando o conhecimento disperso que todos nós podemos ter acerca deste assunto, a realidade é que, nos países “liberalizados”, as farmácias da Boots, da LLoyds, da Alliance Unichem e da Gehe lucram mais, em média, do que as farmácias independentes. Porque é que a Autoridade da Concorrência não incluiu este dado no seu estudo? E, já agora, estou esperançado de que o futuro próximo nos trará a notícia de que o estudo não foi feito no âmbito da Universidade Católica Portuguesa, mas por uma entidade apócrifa que aceitou passar ao papel as intenções que o presidente da Autoridade da Concorrência tinha anunciado há coisa de um ano.
Luís Oriente