Reorganização das Urgências
Hoje, ao princípio da tarde, quando vi na TV a secretária de estado, Carmen Pignatelli, de vermelho rutilante, pensei na vitória do Benfica. Mas não. O assunto era bem mais grave. Foi o meu súbito regresso à triste realidade, neste feriado de ressaca, após a quarta feira gloriosa.
Segundo CP, o MS, com base num trabalho encomendado aos melhores especialistas, decidiu fechar alguns serviços de urgência num "contexto de escassez de recursos" e forma de "evitar duplicação de serviços".
A reorganização dos SU programada vai implicar a criação de uma nova rede de cuidados, com três níveis de serviços (link):
a) - urgências polivalentes- para os casos mais graves e complexos;
b) – urgências médico-cirúrgicas- de nível intermédio;
c) - urgências básicas- a funcionar nos centros de saúde onde existam MCDTS.
Os critérios que presidirão ao encerramento de SU são os seguintes:
a) - urgências dos centros de saúde, que não atendam, em média, mais de dez pessoas por noite.
b) - unidades hospitalares, menos de 25 atendimentos.
A triagem e distribuição de doentes pelos três níveis de cuidados será efectuada através do novo call center, serviço central de aconselhamento e encaminhamento de doentes, que entrará em funcionamento a partir de Junho do próximo ano.
Todos os transportes de doentes em situação de urgência - encaminhados pela linha telefónica - serão efectuados pelas ambulâncias do INEM.
Para o presidente APAH, MD, o encerramento das urgências hospitalares com poucos utentes constitui um «acto de racionalização correcto», mas apenas se os centros de saúde melhorarem a sua capacidade de atendimento. Ou seja, a solução, segundo MD, constitui um clássico caso de pescadinha de rabo na boca.
8 Comments:
A ideia que transparece é a de que uma parte significativa dos hospitais, pelo menos a nível de concelho, deverão encerrar os serviços de urgência. E como já aí não há centros de saúde com SU, terão que recorrer a outros hospitais, eventualmente a algumas dezenas (pelo menos) ou centenas de quilómetros. Mas para ir à urgência terão que recorrer ao INEM, que por acaso, só por acaso (!) também não existe nesse concelho. Para recolher o doente deeverá a viatura do INEM percorrer mais umas dezenas ou centenas de quilómetros.
Ora cá está uma boa medida de contenção das despesas de saúde: por um lado, encerram SU e reduzem-se as despesas; por outro lado, os doentes com problemas complicados (do tipo acidente vascular cerebral, ataque cardíco, etc.,) não chegarão a dar entrada no Hopital e voltam a poupar-se uma centenas ou milhares de euros. Mas esta medida tem ainda uma vantagem: reduzem-se necessariamente as baixas por doença (porque o doente faleceu) e se forem idosos (pensionistas) reduzem-se os custos para a Segurança Social.
Mas nem tudo é mau, afinal.
As nossas aldeias vão voltar a animar-se porque também as maternidades vão fechar e voltaremos a ter as "parteiras/habilidosas" (como foi a minha avòzinha a quem nunca faleceu nhenhum bébé durante o parto) e não faltarão as(os) curiosas(os) a procurar saber se "fulana de tal" já "pariu".
Mas tudo leva a crer que a taxa de mortalidade infantil tenderá a aumentar e assim se vai poupar nos custos de obstetrícia e pediatria.
Quem poderia fazer melhor?
o ministério garante que, qualquer utente, de qualquer ponto do país, terá um serviço de urgência disponível a menos de 60 minutos. Um limite que não agrada completamente ao bastonário da Ordem dos Médicos, Pedro Nunes - "não sei se uma hora de deslocação será razoável. O objectivo deveria ser mais ambicioso". Esta preocupação é partilhada pelo presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares, Manuel Delgado. Em declarações ao DN disse que "60 minutos não é um tempo de espera suportável para um doente com um AVC ou um enfarte". Ambos defendem que para tal ser conseguido é necessário um reforço das estruturas de apoio, nomeadamente, "as viaturas de transporte de doentes, com mecanismos adequados de suporte de vida" que assegurem o tratamento correcto dos doentes mais graves.
DN, 09.12.05
Francisco Louçã rejeita o encerramento de serviços de urgência em centros de saúde e unidades hospitalares, advertindo que "o grande problema é o de, em geral, não termos serviços de urgência qualificados" naqueles centros. Além disso, sublinha, "falta um bom sistema de medicina familiar, pre-parado para responder às pes- soas antes de chegarem às urgências", algumas das quais seriam, deste modo, "evitáveis" - muitas não são urgências, no sentido médico, mas as pessoas são obrigadas a recorrer a elas por falta de alternativas.
Embora desconheça ainda o projecto do Governo de reformulação do sistema de urgências, prevendo o encerramento de serviços com procura inferior a determinados índices, o candidato à Presidência da República, que falava em Coimbra, insurge-se contra "qualquer ideia economicista que enfraqueça" esta rede do sistema nacional de saúde, em relação ao qual, aliás, parece ter-se "instalado uma espécie de consenso", segundo o qual "só o privado pode gerir" a saúde.
DN, 09.12.05
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
É como diz, os cuidados de Saúde nos nosssos vizinhos espanhóis são muito mais eficientes.
As urgências Pediátricas são em Portugal uma rede especial de atendimento , devendo, à partida, funcionar de forma mais eficiente.
Ainda não tivemos acesso ao plano de reeestruturação dos Serviços de Urgência agora anunciado pela senhora secretária de estado.
Tememos, à partida, que o objectivo prioritário deste reforma seja o encerramento de unidades para conseguir a redução dos gastos da Saúde.
Todos sabemos que o problema principal das Urgências, são as falsas urgências, o seja, o recurso a estes serviços por cidadãos que não conseguem consulta nos centros de saúde.
A resolução do problema passa então, essencialmente, pela resolução do atendimento nos cuidados primários.
Seria por aqui que se deveria começar.
Aumentar a capacidade e qualidade do atendimento dos cuidados primários.
E não começar logo a encerrar postos de atendimento.
Quanto à anunciada melhoria da capacidade de atendimento das Urgências é de salientar que há actualmente um número significativo de portugueses que estão a mais de 60 minutos de qualquer ponto de atendimento de urgência do SNS, não vemos como o encerramento de dezenas de postos de atendimento vá contribuir para o melhoramento dos tempos de atendimento.
Só se vão adquirir uma frota de ambulâncias turbo para o INEM.
Ou então estarão a contar já com o TGV.
Mas aguardemos.
Poderá ser que venhamos a ter uma agradável surpresa, como a vitória do Benfica esta quarta feira.
Esta dos 60 minutos só tem paralelo nesse excelente programa da SIC, exactamente com o mesmo nome.
Sessenta minutos serão trinta para cada lado? O INEM sai do hospital ou centro da saude X, demora 30 minutos a chegar e outros 30 até ao SU?
E se equipa do INEM estiver a fazer outra emergência? Alguém acredita que é com viaturas do INEM, devidamente equipadas e com equipas competentes a "bordo" (?) que se melhora a prestação de cuidados.
Bolas, é demais! É pura demagogia.
Como já disse tenho pouca informação sobre este projecto.
Sobre esta matéria a CP é clara:
«O MS decidiu fechar alguns serviços de urgência num "contexto de escassez de recursos" e forma de "evitar duplicação de serviços».
E não vejo nenhum mal nisso se como diz ao Avelino a intenção for reestruturar.
Neste ponto o Avelino leva-me vantagem porque está mais bem informado do que eu.
Mas de que reestruturação estamos a falar?
Só poderá ser a dos Cuidados de Saúde Primários de forma a conseguir uma melhor triagem da procura.
Redimensionando então os Serviços de Urgência face a esta nova procura com poupança de recursos.
Mais consultas, melhor atendimento, mais médicos de família, melhor aproximação das populações, visitas domiciliárias por parte dos médicos, cuidados continuados, etc, etc.
Feche-se o que se tiver de fechar.
Mas o que os utentes querem (e esperam ?)é a melhoria do atendimento da rede de cuidados.
Digam-lhes que estão a reorganizar serviços para obter melhorias no atendimento das consultas e das urgências.
Expliquem-lhes com clareza o que vai melhorar. Com transparência. E as dificuldades que, entretanto, vão sentir.
Sobre esta matéria vou tentar ler qualquer coisa do projecto anunciado para poder argumentar melhor com o Avelino, sempre crente na capacidade dos portugueses (do MS/PS).
Se actualmente há 450 mil pessoas a mais de uma hora de distância, a solução deverá passar por melhorar a situação dessas pessoas sem prejudicar a situação de outras. E com o encerramento de SU's tal como foi referido, muitas mais pessoas que as tais 450 mil verão a sua situação piorar. (isto faz-me lembrar o Óptimo de Pareto - em que não nos encontramos).
Mas afinal quando se fala de Saúde, estamos ou não perante um bem a que todos devem ter acesso, em condições úteis. Agora os critérios economicistas já são válidos? Vejam-se as críticas feitas a LFP quando admitiu a hipótese de encerrar Maternidades. E veja-se quem as fez de forma veemente!
Eu que sou economista, também conheço a delicadeza destas opções mas parece-me que, das duas uma: ou isto não passa de ensaio do Governo para auscultar o pulsar das populações (técnicos incluídos) ou será uma medida que não será implementada porque criará riscos acrescidos para as populaç~es por falta de adequada assitência. Só quem vive na cidade (e desconhece o interior profundo do País) pode pensar que o encerramento de SU's não é uma decisão de alto risco.
Mas voltando aos critérios economicistas, qualquer dia, segundo este raciocínio, deixaremos de ter transportes públicos fora das horas de ponta, deixaremos de ter distribuição de correio onde não haja pelo menos X cartas por dia para entrega, as ligações telefónicas serão interrompidas entre a meia-noite e as 8 horas da manhã, as auto-estradas encerrarão em determinados períodos de menor tráfego, e até os doentes passarão a passar os fins de semana em casa, regressando ao hospital à segunda feira.
Mas, o que no meio de tudo isto não pode deixar de pensar-se é que "a saúde não tem preço".
E meus amigos, eu sou natural de um Concelho onde vos garanto que se encerrar a urgência do Hospital não há hipótese alguma de cumpri os tais sessenta minutos até porque isso implicaria criar urgências em mais do que um Centro de Saúde (e até abertura de novos Centros) com inevitável acréscimo de meios e correspondentes custos.
Não se prepara o Governo para colocar a batata quente nas mãos dos autarcas?
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