quinta-feira, janeiro 5

Outsiders


Gestão Hospitalar (GH): Disse recentemente que os gestores públicos têm muito a aprender com os privados. Qual é a sua crítica principal ?
Carmen Pignatelli (CP): Não fiz nenhuma crítica aos dirigentes públicos. O que eu considero e volto a assumir isso, é que seria muito vantajoso para os nossos dirigentes públicos terem programas de formação mistos onde se sentassem na mesma sala com empresários. Era bom, porque viviam as preocupações do empresário e quando um gestor toma uma decisão que pode ter influência na vida de uma empresa provavelmente poderia avaliar de outra forma essa decisão.
Em segundo lugar, porque os privados preocupam-se com questões que por vezes estão afastadas do quotidiano dos nossos dirigentes. Assim, poderiam partilhar boas práticas.
Mas também porque há, na nossa sociedade, um pouco a ideia de que o dirigente público é igual a funcionário público incompetente e isso não é verdade. Nós temos dirigentes de excepcional competência. Ser director-geral na Administração Pública é, para muitos, uma prova de obstáculos diária. Porque o enquadramento jurídico não agiliza, não facilita a gestão.
GH: Depois de tantos elogios só falta a profissionalização da carreira de administrador hospitalar.
CP
: Isso é um assunto ao qual ainda não cheguei. Para ser gestor seria vantajoso que tivessem formação adequada. Mas já tenho encontrado maus gestores qualificados como gestores e tenho encontrado pessoas, por exemplo médicos, bons gestores.
Eu vejo... Já passou o tempo das carreiras.
GH: Mas seria vantajoso que os administradores hospitalares tivessem obrigatoriamente formação em saúde.
CP: Seria bom que as equipas que gerem os hospitais tivessem elementos que conhecessem muito bem a Saúde e a instituição que estão a gerir. Não me parece que seja obrigatório que todos tenham formação na área da Saúde.
Já não vejo o mundo de hoje em termos de profissões, o tempo das carreiras passou. Estamos a viver o tempo da formação e da preparação contínua. Eu pergunto porque é que as pessoas acabam uma licenciatura em Direito, Biologia, História e depois se candidatam a um curso de Administração Hospitalar que dura dois anos. Dali tanto pode sair um bom administrador hospitalar como um péssimo administrador. Não é por essa pessoa ter estado 24 meses a tirar um curso de Administrador Hospitalar que dali sai um bom administrador.
Mas, nas equipas, convinha que parte da administração conhecesse o negócio.
GH: Mesmo que o gestor tenha vindo directamente das celuloses ?
CP: E qual é o problema se o conselho de administração tiver gente que sabe muito do assunto de Saúde ?
Eu entrei no ministério há nove anos e sou uma “outsider” – não sou médica nem sou Administradora Hospitalar. Sempre que preciso de tratar algum assunto eu chamo quem sabe dessas coisas.
gestão hospitalar, dezembro 2005.
A quadra natalícia é propícia à paz e à concórdia. Aproveitemos a oportunidade para reflectirmos sobre o futuro. Tentemos preservar a defesa dos nossos interesses: pessoais ou profissionais. Mas sem atropelar ou pôr em causa o interesse geral.
Manuel Delgado, editorial, idem.

9 Comments:

Blogger tambemquero said...

Segundo consta Carmen Pignatelli ambicionava ser Administradora Hospitalar e não conseguiu.

11:23 da tarde  
Blogger tonitosa said...

O Xavier dizia que eu iria gostar da entrevista de CP. Pois bem, creio que fui dos primeiros a "criticar" CP aqui no Saúde SA e se bem me lembro a propósito da Senhora ter dito o que vem repetido na primeira pergunta transcrita. Nessa altura disse, de certo modo, o que o Tambemquero diz no seu comentário ao post "Fim de Tarde Perfeito" e particularmente no que foi o seu desempenho no Saúde XXI.
Na verdade acho que, mesmo que CP tenha pouca "habilidade política" como parece, não pode, ou não devia, colocar-se a si própria num pedestal. Ela, como sabemos, veio para a Saúde há nove anos e por cá ficou! Será que aprendeu muito com os privados?
Se aprendeu não utilizou esses conhecimentos enquanto gestora do Saúde XXI, onde a burocracia era a marca dominante e os tempos de resposta ultrapassavam o mínimo aceitável. E nem o facto de ser membro do governo lhe dá especial autoridade: todos sabemos que alguns governantes nunca o deviam ter sido. Ainda que não tenha até ao momento razões para considerar CP como membro desse grupo!
De resto CP parece que pretendeu nesta entrevista emendar a mão a propósitos das críticas aos gestores públicos.
Quanto às considerações que faz sobre a carreira dos AH's e os "gestores dos hospitais" não me merecem comentários. As minhas posições são por demais conhecidas.
Direi apenas que é meu entendimento que uma licenciatura nas áreas de Economia, Gestão, Administração Pública, etc. com uma vertente de especialização em Gestão da Saúde, faz todo o sentido. Direi ainda que uma pós-graduação, mestrado ou mesmo doutoramento em Gestão da Saúde, devem ser valorizados enquanto curso de especialização ou grau académico. Discordo que se defenda, corporativamente, que os lugares de direcção (de topo ou intermédia) sejam um exclusivo dos AH's (sejam eles da ENSP ou outros equiparados).
Recordo que aqui, neste nosso blog, há muito tempo apontei a vantagem de termos equipas mistas (polivalentes) na gestão dos HH.
PS: Será que depois desta entrevista aquela minha medida no post "VAI, VAI, VAI" já tem muitos aderentes (ou serão adesores????)

1:12 da manhã  
Blogger saudepe said...

Por baixo do manto diáfano da verdade há uma série de mentiras.

CP teve o cuidado de tirar um pós graduação em "gestão de unidades de saúde" da Universidade Católica.
A formação em saúde, na sua perpectiva é portanto importante.

Há AH bons e maus.
O elevado número de assessores AH que CP tem no MS ao seu serviço, faz-nos supor que há mais bons do que maus.

O fim da carreira dos AH põe termo ao pipeline que fez de alguns gestores hospitalares deste país figuras de relevo nacional, como CC, FR, Sakellarides, Margarida Bentes, Jorge Simões, MD.

A mentira fundamental que se esconde debaixo da aparente bondade da política de saúde de CC é que tudo passou a ser determinado em função do objectivo fundamental de entregar a SAúde às empresas privadas.
Se a ordem é privatizar, logicamente as carreiras têm de acabar.

E para acabar com os AH, nada melhor do que um ministro da saúde AH.
CC vai ser o executor privilegiado da Traição.
Não de liquidar a carreira dos seus alunos e companheiros. Mas de liquidar o Serviço Nacional de Saúde, dando-o de mão beijada em PPP e concessões ao sector privado.
Tudo a bem da economia, do défice e dos Mellos & companhia.

10:13 da manhã  
Blogger tonitosa said...

Serão os assessores de CP os melhores, ou de entre os melhores, segundo a avaliação dos seus próprios colegas também AH's?
Quantos assessores vindos da "gestão privada" tem CP?
Obviamente que ter formação em saúde é um factor de ponderação na apreciação de eventuais responsáveis. Mas não deve ser condição necessária nem será condição suficiente.
O problema da "carreira" dos AH's prende-se não só com a concorrência de outroas cursos ou especializações, como também com a evolução de um conceito de Administração da Saúde para o de Gestão da Saúde. Acho que os AH's (cuja designação ela própria tenderá a ser alterada; quem tira uma pós-graduação em gestão de unidades de saúde não passa a ser designado Gestor de Saúde nem ingressa numa carreira paralela) devem sempre ser tidos como potenciais gestores de unidades de saúde com a adequada avaliação dos seus currículos.

10:54 da manhã  
Blogger tonitosa said...

De acordo com a nota do Xavier, iniciei a minha análise do texto do SemMisericordia, no respectivo post

12:17 da tarde  
Blogger xavier said...

Vou tentar por "on line", ainda hoje, a entrevista da CP dada à GH na íntegra.

Farei também uma análise ao conjunto da entrevista.

No geral pareceu-nos que nesta entrevista, contra o que é habitual, CP proferiu algumas declarações menos cuidadas.

12:49 da tarde  
Blogger xavier said...

Santa Maria

Desculpe não concordar com o seu comentário.

Após a saída da ENSP, ao longo do tempo, é nosso dever actualizar e melhorar os nossos conhecimentos.

Penso que uma grande maioria dos nossos colegas AH tiraram pós graduações, mestrados, doutoramentos em diversas áreas: Logistica, avaliação económica do medicamento, recursos humanos, sistemas de informação e informática.

Conheço AH com mestrados noutras áreas: História de arte, cinema, jazz, jornalismo, literatura.

Poder-lhe-ia indicar mesmo alguns AH, colaboradores da SaudeSA, que tomara a José de Mello Saúde, a ESS, o BPN, a Sonae, tê-los entre os seus quadros.

Já apurou quantos AH estão a trabalhar actualmente em lugares de destaque em empresas privadas?

2:16 da tarde  
Blogger xavier said...

O xico faz um comentário certeiro.

Se o treinador fosse outro com estes jogadores eramos campeões europeus.

10:42 da tarde  
Blogger tonitosa said...

O Xico faz observações que me parecem pertinentes.
Sou dos que considero que para se ser competentes na gestão dos HH não é necessário ser-se AH. Nem necessároio nem suficiente. É apenas um factor (certamente importante) a ter em consideração para o "recrutamento" dos gestores a par de outros factores.
Como diz o Vivóporto, não se pode ser Médico sem tirar o curso de Medicina, nem Economista sem tirar o curso de Economia, mas há muitos médicos que se ficam pela medicina geral e há muitos economistas que nunca chegam a Gestores, Chefes ou Dirigentes. E nem por isso se pode dizer que não desempenham cabalmente as suas funções.
Concordo que deve ser exigida "formação adequada a quem assume lugares de gestão intermédia e de topo nos HH. E estou de acordo com o Xico de que a ENSP não tem que ter o exclusivo de formação de AH, mas perfiro falar em "formação de especialistas em gestão de estabelecimentos de saúde". Digamos que o meu conceito de formação adequada será mais lato do que o do Xico. A formação adequada, não é para mim apenas a formação em AH.
PS: fica-me a dúvida em saber se alguns colegas não estão a "evoluir" no sentido de reconhecer a necessária perda de exclusividade dos AH's.

12:24 da manhã  

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