Prática da Medicina

Nos arquivos das nossas chancelarias régias, de D. Manuel I a D. Filipe III, há curiosos documentos sobre a prática da arte de curar por parte de mulheres: por exemplo, Reis (1996) identificou uma dúzia de mulheres que exerciam, para todos os efeitos, a medicina, embora sem a competente autorização legal nem as necessárias qualificações.
A terapêutica usada (e autorizada) não passava em muitos casos de simples placebos, indo:
• Desde as benzeduras para o mal da raiva;
• Até à água destilada "para abrandar peitos e dores", unguento "para sarar chagas e postemas" e óleos "para frialdades e inchações do estômago";
• Passando por "alguns remédios" para certas enfermidades não especificadas;
• E ainda por pílulas (ou "bolinhos") que serviam para tudo ("mal boubático, encolhimento de nervos, frialdades e chagas incuráveis", em geral "enfermidades incuráveis ou mui perigosas") .

Catarina Afonso, de alcunha, a castelhana, viúva e moradora na vila de Barcelos, é presa e condenada a uma pena de três anos de degredo em África, "com baraço e pregão pela dita vila" por, não sendo "mestra" (sic) e "não tendo provisão para isso", curar "muitas enfermidades, principalmente destes males de boubas" (sífilis), uma doença então muito em voga; das beberagens que dava aos pobres dos doentes resultou a morte de dois homens da região.

luís graça

Não é necessário ir a Vilar das Perdizes para verificar que muitas destas práticas, desde então, pouco mudaram no nosso Portugal.