domingo, maio 28

Retribuição de Profissionais (situação actual) (III)

mondrian
IV) … porque tem muitos profissionais? (menor produtividade)

Verificou-se um aumento constante no número total de profissionais de saúde link 1, quadro 1.2, tendo aumentado 41,1% de 1985/2003 – registe-se o crescimento mais acentuado de 1985/90 (+14,8%) e depois de 1995/00 (10,1%). O maior número de profissionais foi acompanhado do aumento de gastos em horas extra, de regimes especiais (42 horas, tempo acrescido) e recurso crescente a “outsourcing” e contratação de empresas. Aumentou substancial o nº de profissionais de saúde de 1980/00: médicos +62%; enfermeiros +64%; dentistas +291%.

Apenas a comparação externa nos dará indicação sobre a suficiência/insuficiência de pessoal. É o que iremos fazer apesar da dificuldade da tarefa, devido a:
i. Não existirem dados compreensivos para diferentes países. Gostaríamos de efectuar a análise baseada em custo/hora trabalhada pelo que haveria que considerar as diferenças em: tempo total de trabalho (seja nº anos até à aposentação); assiduidade; horas semanais médias/pessoa (ETC); peso dos subcontratos em ETC;
ii. Diferente âmbito do SNS, quanto à população abrangida e à produção realizada face a outros países: diversa gama e volume de serviços prestados (HH; CP; CC);
iii. Diferenças na envolvente e na organização do trabalho: grau de simplificação/burocracia (ex. pedidos e controlo de stocks – SA, SF, esterilização, alimentação, roupa); grau de uso de tecnologias e automatização (link 6: Portugal com menor % de MF com processo clínico electrónico e com computador);
iv. Diferente âmbito/divisão de trabalho dos grupos profissionais: ex1. diferenças de papel: AAM e enfermeiros auxiliares; TDT versus enfermeiros e médicos; nº enfermeiros em funções de recepção na CE ou na esterilização; ex2: grau de flexibilidade do sistema – % “part-timers” no total (fazendo 1,2 =2 ETC).
Obs: em 2000 e em “saúde e serviços sociais” havia: i) mais de 40% part-timers em: Bélgica, Holanda, Suécia, Dinamarca, GB; ii) menos de 10% PT em: Portugal, Espanha, Itália e Grécia.
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O quadro acima mostra que o nº de profissionais no SNS Português é superior ao da Espanha – 18 mil a mais se tivesse o mesmo âmbito populacional e igual gama de produção (em Espanha são maiores). Nota-se em particular a muito elevada % de médicos hospitalares em Portugal (ver link 5).
Os quadros do link 5 detalham os profissionais acreditados havendo que considerar: i) existência de desemprego nalguns países (ex. Espanha e Itália); ii) âmbito da produção fora do sector público é diferente; iii) existem outros profissionais de saúde fora do SNS em Portugal (ex. ADSE, Militares). Sem esses considerandos verifica-se que: i) médicos: densidade idêntica à EU e superior à da GB e Espanha; ii) enfermeiros: densidade só inferior à da Grécia; iii) dentistas e farmacêuticos: densidade superior à da Espanha.

Concluímos: i)- a remuneração está longe de ser baixa; ii)- não parece haver falta de profissionais no SNS à excepção, porventura, da enfermagem sobretudo para cuidados não agudos; iii)- a produtividade é, em geral, baixa.
“Knowing is not enough, we must apply.
Willing is not enough, we must do.”

Goethe

semmisericórdia

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1 Comments:

Blogger Xico do Canto said...

SemMisericordia
Meu caro colega

Parabéns pela farta abordagem factual dos RH no SNS. Nem este calor dos diabos te desmotivou, carago!

Gostaria de salientar alguns aspectos, entre tantos outros não menos relevantes:

1 - O trabalho extraordinário médico, 32,9% sobre o salário base, é o resultado duma das bandeiras de glória da luta dos sindicatos médicos sobre o MS. A estratégia de ganhos a médio e longo prazo tem frutificado perante incautos, ou incompetentes, negociadores do MS, em regra políticos cegos com a necessidade de resultados a curto prazo. Os sindicatos dão-lhes hoje (ex. paz social, notícias eleitoralmente amigas, etc.) e cobram, com juros elevados, no futuro. Decide-se hoje e os próximos executivos pagam a factura. (Ex. DL de Manuela Arcanjo, pagamento de horas extra no SU, com efeitos 3 anos depois). E é nesta matéria que CC nada tem feito. Porquê? A resposta está na velha estratégia sindical que continua a ser engolida.
A análise do trabalho extraordinário médico deve ser enquadrada com outras vertentes que lhe estão associadas, nomeadamente a impossibilidade legal da organização do trabalho por turnos e a prática assumida de não alinhamento de horários com outros profissionais que fazem, com os médicos, equipa.

2 – A jornada contínua é, hoje, uma autêntica fraude cometida por muitos profissionais que a praticam, e que não é tacitamente combatida pelas administrações. Não me vou debruçar sobre este assunto com a profundidade que merece. Compete ao MS, enquanto entidade patronal máxima, estabelecer regras de trabalho idênticas para todos os profissionais dos estabelecimentos de saúde e acabar com o enquadramento legal da FP manifestamente inadequado no SNS.

3 – (In)suficiência de profissionais. As conclusões do trabalho são inquestionáveis. O número de profissionais per capita são um bom indicador e de fácil comparação internacional. Tenho algumas reservas quanto às conclusões do pessoal de enfermagem. Se lhe adicionarmos o n.º de AAM, na dimensão em que desenvolvem actividade de enfermagem, as conclusões são outras. A Ordem e os respectivos Sindicatos não gostam desta abordagem.
A utilização de indicadores de produtividade – n.º profissionais/produção -, mesmo sem as reservas que as condições de trabalho nos diversos países nos merecem, dar-nos-iam certamente que pensar.
Xico do Canto

4:59 da tarde  

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