Central de Compras

Passo à frente a classificação dos AH e de um médico que o camusnortada (link) fez e não vou também comentar afirmações insultuosas sobre os Administradores. Cingir-me-ei aos aspectos técnicos que o seu post integra, embora se trate de posições pouco claras, que revelam desconhecimento de conceitos básicos e que incluem vários saltos no escuro (metodologia).

I.- Confunde “reduções de custo” com redução de preço
Quando compramos em grupo (qualquer extensão) o que esperamos?
1º- Quanto ao preço?

Passar de compra anual de 10 mil para 1 milhão de euros (dimensão) traz maior poder negocial ao comprador sendo esperada baixa de preço – o fornecedor também ganha pois tem economia de custo com o processo (procurement);
2º- Quanto ao custo?

Menor gasto por escudo comprado (em pessoal, comunicações, noutras despesas - pressuposto o pessoal liberto em cada SA é utilizado produtivamente noutras funções);
Outras consequências:

3º- Quanto ao serviço?

podem resultar problemas seja de tempo de resposta (ex.com preço menor não há disponibilidade para entregas mais frequentes), de adequação do produto (ex. embalagens maiores e menos ajustadas ás necessidades de cada hospital; menor adequação ás necessidades de cada utilizador) e de outros aspectos (ex. formação dos utilizadores, indisponibilidade para ter stock de segurança “in-house”);

4º- Quanto á concorrência?

Aumenta a concorrência (ex. para alguns fornecedores ser escolhido pode ser ter o “ano ganho”) e diminui-a (ex. alguns fornecedores locais deixam de ter capacidade para concorrer.

II. Economias de escala
Usa mal o conceito em: “traria grandes reduções de custo, por via das economias de escala” – já aqui tínhamos visto que economias de escala acontecem quando por aumento de produção se verifica redução do custo unitário total (ex. produção passa de 1000 para 2000 e o CUT de 8 para 7). Deve querer referir-se á dimensão da compra e aos benefícios que a central de negociação tem e um simples hospital não (ex. mais e melhor informação sobre produtos e fornecedores).

III. Uma Central de Negociação ou mais?
Podia ter recolhido informação sobre as vantagens da dimensão junto de colegas mais sabedores e experientes ou procurar na literatura publicada. Concluiria então que:
– Vários países têm uma ou mais centrais mas funcionam em moldes de gestão e não como “central administrativa de compras” (cito peritos);
– Num determinado país há uma central que compra produtos e serviços de valor superior a cinco vezes a despesa anual do SNS em materiais, serviços, equipamentos.
A questão não é haver 1 ou 2 centrais para contemplar o Norte (o país é pequeno e o mercado pouco significativo..:), mas tratarmos os assuntos com o rigor e a profundidade que eles merecem – o que os AH normalmente fazem.

IV. O “enorme engano”
Diz: “a afirmação de que a extensão da aquisição para o todo nacional traria reduções de custo (quer dizer de preço) ... não passa de enorme engano.”
Baseia-se em quê? Não cita estudos científicos ou constatações insofismáveis antes compara com a central de compras do IGIF depois de a criticar veementemente (”...falta de coragem política para extinguir o IGIF”). Ora se esse exemplo não serve porque o usa como padrão de comparação para (pretender) tirar conclusão geral? (penso que é mera distracção e que não se trata de manipulação)

V. Ganhos SA Vs SPA
Afirma que o estudo não comprovou os ganhos dos SA devido a não ter considerado o rappel. Mas os SPA não tiveram direito também a rappel (maior ou menor)? Como pode determinar o efeito que teve num e noutro grupo de hospitais? Depois reconhece que afinal “alguns hospitais SA (os dos Boys) não fizeram nada”. Como pode saber se o seu SA foi o único ou dos poucos que “brilhou”? Como soube que todos os SA com Boys “não fizeram nada”?

VI. Central de negociação, de aquisição ou agrupamento?
Analisa a afirmação de que o “SNS ... e os hospitais pequenos nada beneficiam” por “um hospital grande comprar muito abaixo do preço de mercado”. Contesta o argumento com base em quê? Porque afinal os “hospitais pequenos têm sido muito beneficiados pelos preços baixos alcançados pela central de Aquisições do Norte”. Ora bem, passando á frebte a auto-publicidade, se há central é porque nem os hospitais grandes nem os pequenos negoceiam, é essa entidade que o faz. Caso um hospital grande compre para todos (ou tenha acordo com o fornecedor para entrega ao mesmo preço) isso não é nenhuma central mas acordo ou agrupamento de hospitais para compra.

VII. Preços sempre a baixar ?
A sua noção de que os preços baixarão continuamente “...o que obriga a indústria a emagrecer” não é muito realista e revela pouca reflexão ou dificuldade com a área quantitativa. Repare que nenhuma empresa está disposta a vender com prejuízo e que se o preço caír 15% ao ano, mesmo em valores nominais em poucos anos será quase zero.
Semmisericordia