domingo, julho 30

USF - Mais Valias




E o que ganham os cidadãos com a implementação das USF? link
Uma síntese de vários estudos de satisfação do utente em Portugal2 diz que os cuidados de saúde são avaliados de modo positivo, mas que existe insatisfação sobre aspectos da gestão e organização dos serviços, como disponibilidade, acessibilidade, tempo de espera, etc., Por outro lado existe um número significativo de portugueses sem médico de família (MF) e muitos CS sem condições mínimas de conforto e dignidade nem tecnologia que facilite a sua utilização.
A candidatura de uma USF obedece a uma série de parâmetros definidos pela Unidade de Missão que irão dar resposta a estes problemas, proporcionando condições para uma melhoria da satisfação dos utentes. Assim, as USF devem ter um sistema de informação, contratualizar uma carteira de serviços e assumir um acordo de intersubstituição que garanta o atendimento aos utentes de qualquer das listas dos MF.
Um projecto de USF deve incluir o modelo de acessibilidade, plano de actividades, horário, regulamento interno e carta de qualidade da USF (a carta da qualidade é um documento em que a equipa de profissionais dá a conhecer de forma clara aos utilizadores os serviços prestados, para que possam avaliar os resultados, comparando o que esperam com o que recebem).
A carteira básica de serviços define a actividade assistencial que qualquer USF tem de garantir aos utilizadores ao longo do ciclo de vida, incluindo cuidados domiciliários a doentes dependentes em prejuízo da articulação com a rede de cuidados continuados e paliativos, sempre que a USF não tenha recursos humanos com formação e disponibilidade horária para os garantir.
Estão assim criadas condições para melhorar a acessibilidade, a organização dos serviços, o contacto com os profissionais, o atendimento com respeito pelo horário de marcação, a facilidade e conforto na utilização do CS. Aumentará ainda o número de cidadãos com MF, havendo uma estimativa de ganho de 15% nas actuais candidaturas. Há a possibilidade do envolvimento dos cidadãos na actividade da USF, e a sua autonomia e responsabilização na manutenção da saúde e gestão da doença, em parceria com os profissionais de saúde.
Em Março de 2006 teve início o processo de formalização das candidaturas, e até Julho deram entrada 109 candidaturas envolvendo 2137 profissionais .
Parece claro que para os profissionais as mais valias existem e que há muito esperavam a oportunidade de utilizar a sua experiência para melhorar o desempenho. Não receiam as avaliações de qualidade que o sistema prevê e querem ter condições para aplicar de forma plena o conhecimento que foram adquirindo ao longo dos anos, especializando-se na tarefa de cuidar de pessoas no seu contexto familiar e social.
O que move um profissional de saúde a aderir a este processo de reforma voluntariamente?
As organizações de saúde funcionam como sistemas abertos, que se caracterizam pelo fluxo de informação que os atravessa. Por serem constituídas por seres vivos (os seus profissionais), são sistemas complexos, em que se convive com a diversidade e a incerteza . Se virmos uma organização como uma máquina fechada aos fluxos de informação esquecendo a sua diversidade, perdemos a oportunidade de integrar a criatividade dos seus elementos e teremos dificuldade em lidar com a incerteza e aleatoriedade que caracteriza os seres vivos .
Trabalhar numa organização baseada numa visão complexa e sustentada, dando prioridade à competência em relação à competitividade, tendo como valores a solidariedade, o bem estar e qualidade de vida dos profissionais, é um aliciante para a maioria de nós. Poder escolher a equipa de trabalho, com o objectivo de partilhar o conhecimento para criar coisas novas, é um estímulo!
A possibilidade de ver o reconhecimento do trabalho através da remuneração associada ao desempenho é também uma mais valia, mas não foi até à data a mais importante, pois a maioria das USF candidataram-se ao mesmo regime remuneratório que hoje usufruem. Parece claro que a expectativa de participação numa USF está principalmente relacionada com a melhoria do desempenho, o crescimento profissional através da interacção com os outros e o prazer de trabalhar com mais autonomia, melhorando a prática, a satisfação profissional e a qualidade de vida.
Ana Maria Ferrão, Revista Prémio 28.07.06