quarta-feira, agosto 16

Avaliar a Política de CC


Concordo com a Ana Dias: CC é de facto um político exímio e a batalha da prescrição deveria ser a principal preocupação de qualquer MS. Tenho, porém, as maiores dúvidas relativamente ao caminho adoptado por CC:
- No ambulatório a ANF poderia ser um parceiro precioso, quer em termos técnicos, quer em termos tecnológicos (nas ferramentas de gestão da informação disponível). Contudo, CC optou por hostilizá-la apenas em nome de disputas pessoais e sem nenhum proveito para o SNS;
- No hospital há muito que se conhecem os principais problemas existentes. A ideia de racionalizar a entrada de novos fármacos é positiva e merce ser aplaudida. No entanto, a sua aplicação só pode ser feita sob rigoroso controlo técnico, sob pena de se poderem cometer erros potencialmente muito graves - é por isso que aplaudir cegamente a política de CC sem se conhecer as tais guidelines secretas é um cheque em branco que o MS ainda não provou merecer. Além disso, há instrumentos institucionais (leia-se infarmed) que poderiam desempenhar adequadamente esta função e que dispensariam o folclore entretanto instalado;
- A instrumentalização dos media é infelizmente uma arma política que hoje em dia já nenhum político pode dispensar. Nesse aspecto, CC é um mestre na forma como manipula alguma imprensa (que antes nem sequer ligava muito ao sector da saúde). No entanto, CC utiliza os media para dar uma imagem de reformismo que na realidade não existe. Ou seja, não é criticável o facto dos políticos utilizarem e manipularem os media como forma de promoção das suas medidas. O que não é correcto é quando se governa para a imagem que os media produzem da governação e não para o efeito real das medidas adoptadas.

Temos, porém, que ser justos num aspecto: ainda não houve tempo para verificar o impacto a médio prazo das medidas de CC. Embora os efeitos das subidas do preço dos MNSRM e das progressivas descomparticipações sejam relativamente fáceis de aferir no imediato, a verdade é que ainda não se sabe se as dificuldades introduzidas pelo governo serão capazes de induzir melhores hábitos de prescrição. Aí, só o futuro o dirá.
Por outro lado, em relação aos resultados que vão aparecendo, é importante que seja possível a realização de análises justas e independentes. Até agora, a única ocasião em que isso aconteceu foi com a divulgação do Relatório da Primavera do OPSS. E aí foi o que se viu: CC completamente desorientado, resvalando para a via do insulto fácil, ainda por cima perante dados que nem sequer mereciam grande discussão...
vladimiro jorge silva

5 Comments:

Blogger tambemquero said...

Excelente análise.
Todos convivem mal com as críticas.
CC, especialmente.

1:54 da manhã  
Blogger Clara said...

Estou de acordo com o vladimiro.
A única análise independente e rigorosa à Governação de CC foi efectuada pelo OPSS.

A reacção de CC foi proporcional ao trabalho certeiro doOPSS.

3:26 da tarde  
Blogger helena said...

Excelente post.
Pergunto a vladimiro: CC não terá feito nada de positivo e que, na sua opinião, venha a ser um êxito da sua acção governativa ?

7:33 da tarde  
Blogger ricardo said...

CC deve estar grato ao vladimiro por esta crítica.
Um abraço.

12:54 da manhã  
Blogger Vladimiro Jorge Silva said...

Aceito o desafio da Helena e do LPires52 (a quem aproveito para esclarecer que infelizmente não sou administrador de nenhuma farmácia...:)), sentindo-me honrado pela deferência (afinal não é a qualquer comentador que se pedem sugestões para medidas de Estado) e registando com gosto os sempre agradáveis níveis de bílis que o LPires52 não consegue deixar de fora das suas reacções ao que por aqui se escreve.
Primeiro as senhoras e portanto as medidas positivas de CC:
- A aposta estratégica (pelo menos no papel) nos CSP e nos Cuidados Continuados é correcta;
- A fixação de tectos de crescimento da despesa hospitalar com medicamentos é também uma boa ideia - embora fosse preferível uma fundamentação cientificamente mais rigorosa, parece aceitável acreditar que variações na procura e produção hospitalares não serão suficientes para justificar aumentos superiores aos que é possível absorver com ganhos de eficiência na prescrição;
- A ideia de racionalizar a oferta hospitalar (através, entre outras medidas, do fecho de algumas unidades) é também positiva, embora devesse ter em conta aspectos de interesse estratégico (por exemplo, dever-se-ia evitar o recurso a maternidades espanholas);
- A tentativa de racionalizar a generalização da utilização de novos fármacos é também correcta (resta saber se será bem executada);
- A criação de um orçamento realista para o SNS é provavelmente a melhor das medidas de CC, pois evita o folclore dos rectificativos e induz responsabilidade sobre quem tem que o cumprir.
Quanto a ideias para o futuro, deixo algumas pequenas achegas para o sector do medicamento:
- Promover uma revisão global a todo o sistema de comparticipação de medicamentos pelo SNS: estabelecer protocolos de prescrição por DCI (reduzindo drasticamente o número de princípios activos comparticipados e atribuindo às farmácias a responsabilidade pela dispensa em cada caso), criar mecanismos de efectivo acompanhamento e fiscalização (que também permitiriam salvaguardar a validade das excepções) e adoptar a receita médica electrónica e electronicamente renovável;
- Fazer com que as farmácias sejam pagas por acto farmacêutico e não a partir da margem comercial (CC até já falou nisto);
- Apoiar a implementação dos programas de Cuidados Farmacêuticos;
- Criar mecanismos que assegurem a independência da formação médica relativamente à IF;

(este post continuará quando eu tiver mais tempo... talvez amanhã)

4:28 da tarde  

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