Suspeições, Anátemas e Confusões
1. Levantaram-se recentemente uma série de suspeições sobre os gestores dos hospitais públicos: gastos fúteis e/ou sumptuosos, falta de rigor na gestão da coisa pública, benefícios pessoais exorbitantes, utilização de cargos públicos para distribuição de benesses a amigos e familiares, foram algumas das suspeitas que rapidamente percorreram a opinião pública.
Admito a existência de um ou outro caso em que este tipo de comportamentos possa ter ocorrido. Mas, confesso, não conheço nenhum. E, sobretudo, não é legítimo nem é correcto, generalizar para todos, com as consequências naturalmente previsíveis, tais comportamentos.
Admito a existência de um ou outro caso em que este tipo de comportamentos possa ter ocorrido. Mas, confesso, não conheço nenhum. E, sobretudo, não é legítimo nem é correcto, generalizar para todos, com as consequências naturalmente previsíveis, tais comportamentos.
Tenho para mim que os actuais Conselhos de Administração têm feito um significativo e comprovado esforço para travar o crescimento da despesa, não vislumbrando atitudes ou comportamentos despesistas, ostentatórios ou nepotistas.
A facilidade com que a comunicação social dá voz à mais soez demagogia nesta matéria asfixia a verdade e contribui para a criação de bodes expiatórios.
2. Já agora, refira-se que associar o déficit dos hospitais, designadamente dos que apresentam situações mais complexas, com aqueles comportamentos, é, não só, uma rematada falsidade como provocará concerteza um profundo sentimento de injustiça e de revolta nos que se sentem directamente atingidos. Todos sabemos que a transição dos S.A. para os E.P.E., se deu em circunstâncias muito diferentes de Hospital para Hospital. A ideia, peregrina, de que os Hospitais S.A. constituíam uma vanguarda consistente e uniforme de hospitais eficientes, organizados, de qualidade e modernos, nunca teve qualquer evidência. Pelo contrário, foi sempre minha convicção de que o lastro que ditava melhores desempenhos no passado se manteve e que, por outro lado, profundas transformações registadas nalguns estabelecimentos, determinaram novos cenários, em matéria de oferta e de procura, com consequências não suficientemente acauteladas quanto aos custos e respectivo modelo de financiamento.
Lançar anátemas sobre os hospitais com base no déficit, não se preocupando com a sua história recente, com as heranças do passado e, já agora, com a sua actividade assistencial (afinal a essência da sua existência) está nos antípodas da seriedade intelectual e do mais elementar bom senso.
3. Os resultados da inspecção realizada pela IGS (Inspecção-Geral da Saúde) quanto às remunerações dos Conselhos de Administração dos Hospitais Públicos, salvo erro incluindo os anos de 2003 e 2004, mostraram não só divergências interpretativas sobre questões menores, mas também, e sobretudo, ostensivas formas de abuso de confiança quanto ao uso de regalias e de remunerações.
4. Não podemos confundir estas situações do passado com o estrito uso de benefícios remuneratórios que a lei confere aos titulares de cargos de gestão nos hospitais. Estes direitos não podem, ou pelo menos, não devem ser questionados. Fazer, por exemplo, um juízo ético ou moral sobre o uso de viaturas quando tal prerrogativa faz parte das condições remuneratórias definidas por lei e recentemente reafirmadas com a criação dos E.P.E., abrirá um precedente imparável na análise da gestão de todas as empresas e serviços públicos. Seriam sempre objecto de censura todos os gestores que, perante a situação difícil das suas empresas ou serviços, não abdicassem voluntariamente da remuneração ou regalias que lhes fossem legalmente devidas.
2. Já agora, refira-se que associar o déficit dos hospitais, designadamente dos que apresentam situações mais complexas, com aqueles comportamentos, é, não só, uma rematada falsidade como provocará concerteza um profundo sentimento de injustiça e de revolta nos que se sentem directamente atingidos. Todos sabemos que a transição dos S.A. para os E.P.E., se deu em circunstâncias muito diferentes de Hospital para Hospital. A ideia, peregrina, de que os Hospitais S.A. constituíam uma vanguarda consistente e uniforme de hospitais eficientes, organizados, de qualidade e modernos, nunca teve qualquer evidência. Pelo contrário, foi sempre minha convicção de que o lastro que ditava melhores desempenhos no passado se manteve e que, por outro lado, profundas transformações registadas nalguns estabelecimentos, determinaram novos cenários, em matéria de oferta e de procura, com consequências não suficientemente acauteladas quanto aos custos e respectivo modelo de financiamento.
Lançar anátemas sobre os hospitais com base no déficit, não se preocupando com a sua história recente, com as heranças do passado e, já agora, com a sua actividade assistencial (afinal a essência da sua existência) está nos antípodas da seriedade intelectual e do mais elementar bom senso.
3. Os resultados da inspecção realizada pela IGS (Inspecção-Geral da Saúde) quanto às remunerações dos Conselhos de Administração dos Hospitais Públicos, salvo erro incluindo os anos de 2003 e 2004, mostraram não só divergências interpretativas sobre questões menores, mas também, e sobretudo, ostensivas formas de abuso de confiança quanto ao uso de regalias e de remunerações.
4. Não podemos confundir estas situações do passado com o estrito uso de benefícios remuneratórios que a lei confere aos titulares de cargos de gestão nos hospitais. Estes direitos não podem, ou pelo menos, não devem ser questionados. Fazer, por exemplo, um juízo ético ou moral sobre o uso de viaturas quando tal prerrogativa faz parte das condições remuneratórias definidas por lei e recentemente reafirmadas com a criação dos E.P.E., abrirá um precedente imparável na análise da gestão de todas as empresas e serviços públicos. Seriam sempre objecto de censura todos os gestores que, perante a situação difícil das suas empresas ou serviços, não abdicassem voluntariamente da remuneração ou regalias que lhes fossem legalmente devidas.
Se o decisor político, legislativo ou executivo, considera que certas molduras remuneratórias são manifestamente exagerados ou “imorais” tem apenas um caminho a seguir: corrigi-las. Transferir o risco do julgamento público para os gestores que ele próprio contrata é uma maldade inqualificável.
MD,GH n.º 20 set 06
8 Comments:
Estou de acordo com esta intervenção do MD.
Eu não acredito em bruxas, mas... lá que as há....
Com a não abertura de concursos para os lugares de topo da carreira administrativa (eu disse administrativa) e entrada de algumas mãos cheias de "doutores" para ocuparem as funções de 1 ou 2 chefes de repartição e outros que tais, os HH:
- melhoraram nos vários padrões de análise que se queira fazer?
- diminuiram a despesa com vencimentos?
- não vão induzir um indirecto despedimento de vários funcionários de mais baixo ordenado para manter os déficites e/ou despesa dos FP?
- quem vai exercer as actividades que estes desempenhavam?
... grão a grão enche a galinha o papo, e não é só nos pópós, nas aquisições feitas em farmácia de oficina porque o laboratório fornecedor já não fia, é também no aproveitamento do knowhow BARATO que está a ser desbaratinado e, em tantas outras pequeninas coisinhas que se encontram nos manuais do TIO PATINHAS
O melhor Editorial de MD, que eu me lembre.
MD não é o Presidente do CA do HPV?
Quem se lembra do que ele dizia dos "pópos" dos Gestores (recuso o uso da palavra Administrador para ests cargos) dos SA's?
Não era ele um dos que mais atacava as ditas "mordomias"? E que disseram alguns dos comentadores deste blog a esse propósito?
Para quem tenha a memória curta, relemvro o seguinte post:
"TACHOS SA 23 de Abril de 2004
Neste Portugal florescente de novelas da vida real, apitos dourados e crise económica persistente, os administradores dos hospitais SA são excepção. Prazenteiros e felizes, cirandam por entre Porto, Coimbra e Lisboa, cheios de motivação e entusiasmo.
E o caso não é para menos.
OS ADMINISTRADORES DOS 31 HOSPITAIS SA, GANHAM, MENSALMENTE, ENTRE 6415 E 5021 EUROS (ENTRE 1290 CONTOS E 1042 CONTOS), ACRESCIDOS DE 30% PARA DESPESAS DE REPRESENTAÇÂO, OU SEJA, AUFEREM DUAS VEZES OU TRÊS VEZES O QUE GANHAM OS GESTORES PÚBLICOS.
CARROS DE LUXO PARA GESTORES SA:
Depois do aumento dos salários dos gestores SA para perto do triplo, o governo decidiu alargar as benesses concedidas aos responsáveis pelos Hospitais SA, aumentando para mais do dobro o valor-limite para compra de viaturas, que passou de 20 mil (quatro mil contos) para 45 mil euros (nove mil contos).
A juntar a tudo isto, as restantes regalias : gasolina, telemóvel, etc.
Posted by Xavier at 4:29 PM"
E o Xavier pode relembrar-nos outros textos de teor idêntico.
Serão precisas mais palavras?
Um abraço, Xavier.
Xavier,
Deixe-me dizer-lhe, já agora, que aqueles 1042 contos e 1290 contos não correspondiam à verdade. Não era o salário da maioria dos gestores, com excepção dos vindos de outras empresas públicas.
Recordar é viver!
Mais um abraço, Xavier.
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Mais uma vez o Tonitosa não percebeu nada.
O texto do MD é corajoso porque ataca o procedimento de CC que autoriza as regalias (mordomias, benesses, o que lhe queira chamar) e depois vem para o terreno ameaçar os CAs com despedimentos, caso tenham comprado os carros que o ministro autorizou.
Se CC entende que as regalias são muitas, o ministro o que tem a fazer é mudar a lei.
No caso dos SAs houve abusos. Atribuiram-se (a si próprios) regalias que não estavam previstas na lei.
Os tribunais condenaram uma série de SAs a devolverem elevadas quantias ao Estado.
Alguns SAs ainda andam por aí a arrastar-se pelos tribunal por causa do enriquecimento sem causa.
Meu caro Saudepe,
Olhe que percebi! Olhe que percebi!
Não lhe parece que MD visou também desviar atenções da má gestão dos HH EPE e do seu próprio hospital?
E meu caro, porque razão aquilo que agora não são mais do que direitos (refiro-me às regalias legalmente atribuídas aos gestores dos EPE's) eram mordomias no tempo dos SA's?
Não queira confundir as coisas.
E já agora deixo-lhe um desafio: cite lá quais os casos em que os gestores SA's se auto-atribuiram regalias não previstas na lei. Cite casos concretos (não precisa de identificar os prevaricadores).
Deixo-lhe uma dica: um médico que faz SU num hospital e recebe habitualmante uma remuneração mensal de mais de 2 mil contos, acha que aceita ser gestor (não exercendo medicina) para passar a ganhar pouco mais do que 4000 euros? E se ainda por cima o seu Hospital lutar com absoluta falta de médicos para assegurar o SU?
Mas olhe que CC não terá criticado a compra de carros em geral. Mas o caso do HSO não podia passar sem uma crítica. Feitam também aqui no Saúde SA.
Um abraço.
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