segunda-feira, outubro 23

Humanização & Pantomina


A distribuição de refeições gratuitas aos familiares justifica-se em função do acompanhamento que é necessário assegurar às crianças internadas. Sob o ponto de vista da humanização dos cuidados é uma medida que é necessário manter.

O problema está na dificuldade de controlar esta distribuição.
Como sabemos no nosso país há muita pobreza (mais do que imaginamos) e, frequentemente, os familiares aproveitam a oportunidade do internamento de um familiar para matar a fome. É o país que temos.

Quantos profissionais perante certos quadros de miséria não se sentem compelidos a prestar o melhor auxílio, cedendo mais do que uma senha de refeição aos acompanhantes da criança internada. Os nossos hospitais, desde sempre, além de cuidados de saúde, prestam também cuidados assistenciais às populações mais pobres.
Estas situações nada têm a ver com o controlo do desperdício. Não devemos alinhar no economicismo cego de CC.

Era útil que este blog não se ficasse pela discussão das questões teóricas e focasse também muitos dos problemas reais com que se debatem as nossas instituições de saúde. A começar pela acessibilidade dos portugueses aos cuidados primários e hospitalares e as condições de funcionamento de muitos centros de saúde e hospitais.
Como refere o Guidobaldo no seu excelente post o nosso SNS, a funcionar num país pobre (pobreza, muitas vezes, envergonhada), é a entidade que mais contribui para a inclusão e para a solidariedade entre os cidadãos portugueses.
No lugar de apoiar consistentemente o SNS temos o nosso primeiro ministro, José Sócrates, a pantominar, como vimos hoje na TV em mais uma operação de marketing político, na apresentação do Plano Nacional de Acção para a Inclusão (PNAI).
Tanta pantomina já cansa.
Clara Gomes

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3 Comments:

Blogger xavier said...

Depois de uma semana horripilis: apresentação do OE/2007 (co-pagamentos), aumento das tarifas da electricidade, com o ministro da economia a fazer de sonso, anúncio do pagamento de portagens para três scuts.

Era inevitável.

As sondagens a darem a primeira preocupante descida do PS.
E mais uma descarada operação de marketing do primeiro ministro.

Hoje foi a vez da apresentação do Plano Nacional de Acção para a Inclusão (PNAI).
O PNAI não é mais do que um conjunto de medidas avulsas (+ um remendo)a desenvolver/ou em desenvolvimento por vários ministérios, como o Inglês das escolas, complemento de reforma, o rendimento social de inserção.

Depois de aprovado pela primeira vez em Março, hoje aconteceu "show off" habitual com meia dúzia de saloios a assistir.
O primeiro ministro socialista nem conseguiu lembrar-se do nome do projecto de rendimento social de inserção.
Triste figura!

Agora que já não há Herman José tem de aparecer alguém a desmanchar estas palhaçadas ridículas.

12:59 da manhã  
Blogger tonitosa said...

Vamos lá a ver se nos entendemos.
Tudo pode ser explicado com base na humanização dos cuidados.
E sobretudo o acompanhamento das crianças internadas pelos seus familiares. Daí até termos que fornecer refeições gratuitas a esses familiares vai uma certa distância. É evidente que há quadros de miséria que devem ser tratados como casos sociais. Por isso nos hospitais existem os serviços sociais e são eles que devem ser chamados a avaliar tais situações e a propor as soluções julgadas adequadas. E não devem ser considerados tais custos como custos de saúde mas sim de outra natureza (independentemente de quem os suporta). Aliás, uma discussão sobre esta matéria levar-nos-ia, nomeadamente, a saber qual o destino dos abonos de família recebidos durante o internamento.
E também há muito oportunismo, sendo certo que muitas vezes os seus protagonistas são os ditos "socialmente excluídos" e não necessariamnete pobres.
Mas se falamos de humanização, e recordando outros debate neste espaço, porque razão esse humanismo não existe na generalidade das clínicas particulares; e porque razão os "pobres" não têm acesso a consultórios particulares porque os preços de uma consulta são demasiado elevados?
Finalmente, o meu acordo ao comentário do Xico do Canto sobre esta matéria tem muito mais a ver com as medidas de "saque" desencadeadas pelo MS aos bolsos dos doentes e com as dificuldades de acesso criadas pelo encerramento de serviços (meternidades, SU's, especialidades, etc.), do que ser contra o fornecimento de refeições a acompanhantes que demonstrem tal necessidade.
Os cuidados "assistenciais" do meu ponto de vista devem ser assegurados pela Segurança e Solidariedade Social e não pela Saúde.
Aliás, e falo com conhecimento de causa, frequentemente os subsídios sociais concedidos a famílias carenciadas são pagos mesmo quando elementos dessas famílias beneficiam das tais refeições nos hospitais (e até se aceita que assim possa ser para casos de necessidade comprovada).
Não deixo de considerar que os temas propostos pela Clara Gomes são pertinentes e concordo com o interesse do debate em torno dos mesmos.
E sobre a "inclusão social", ainda há bem pouco tempo dei notícia no blog duma situação onde a falta de apoio em cuidados continuados é flagrante, a um casal que vive em sua casa e cuja total dependência, justificava internamento, mas que há muito que aguarda o subsídio complementar para apoio de terceira pessoa, solicitado à Segurança Social.

1:11 da manhã  
Blogger tonitosa said...

Já escrevi a propósito de outras "cerimónias" do género que quando a esmola é grande o pobre desconfia.
De acordo com o DE on line de hoje
Vieira da Silva definiu agora as metas a atingir.... "Destacam-se como objectivos até 2008: o aumento de 50% da capacidade instalada em creche; a criação de 19 mil novas vagas na rede de equipamentos sociais destinados a idosos, com o apoio do Estado; a criação de 8 mil lugares na rede nacional de cuidados continuados, através de articulação com o Ministério da Saúde (1/3 do que a Saúde tem previsto para os próximos 10 anos); ou a redução do abandono escolar precoce em 25% (esta até 2009) entre os 18 e os 24 anos."
Digamos que há desde logo aqui uma certa "trapalhada".
O Primeiro Ministro na apresentação do PNAI apresentou números que geram, a um leitor atento, alguma confusão. Vejamos: "a aprovação de 75 candidaturas para a criação de novas creches com lotação para mais de 3500 crianças e "nos próximos 15 dias" de 200 novos equipamentos sociais - entre lares de terceira idade, centros de dia e creches - para 9500 utentes que irão gerar 3200 empregos foram as decisões anunciadas, ontem, pelo chefe de Governo como "o emblema mais importante" do Plano Nacional de Acção para a Inclusão (PNAI) 2006-08...".

O primeiro-ministro sublinhou que, no próximo ano, será alargada a 100% a rede pré-escolar para a faixa etária dos três e quatro anos, referindo que que a instrução desde essa idade é fundamental para a promoção da igualdade de oportunidades na via de ensino e no mundo profissional.

Digamos que JS apresentou números para o imediato e VS para os dois anos.
Mas alguém conhecedor destas matérias acha possível aumentar em tão curto espaço de tempo (seja um ou dois anos) a capacidade instalada em creches e lares de idosos de acordo com os números apresentados?! E reduzir o insucesso escolar em 25%?!
Quem tiver boa memória talvez se lembre de que o Eng. Guterres fez promessa idêntica no início do seu primeiro governo. E como sabemos as metas propostas ficaram longe, muito longe de ser atingidas. Como JS e a equipa do MTS já fizeram parte do governo de Guterres, não estão a fazer mais do que repetir a "patranha".
Acredite quem quiser. Eu não acredito porque sei, por experiência própria, quanto tempo demoram tais processos.
Um nota ainda para este pequeno(?) pormenor: Sócrates lembrou "que apesar "da contenção orçamental arranjou-se o dinheiro" para o PNAI, num total de 4,7 mil milhões de euros.
Mas afinal em que ficamos? Há ou não preocupações com o défice? Há ou não crise financeira na Segurança Social?
Como uma coisa e outra são verdades, a conclusão só pode ser uma: os 4,7 mil milhões não são para gastar e o Governo sabe disso.
E uma nota final ainda: sabemos que há equipamentos sociais com vagas por preencher por não conseguirem incluir tais vagas nos acordos com a SS; é que não basta construir equipamentos, é preciso assegurar os recursos para o seu funcionamento! O que demora anos a verificar-se.

11:34 da manhã  

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