segunda-feira, outubro 30

Medicamentos Hospitalares


É na prática clínica hospitalar que se situa o epicentro do desperdício...

O decreto lei n.º 195/2006 de 03 Outubro link veio estabelecer as regras de avaliação prévia de novos medicamentos hospitalares «com o objectivo de demonstrar o seu valor terapêutico acrescido por comparação com outras terapêuticas já disponíveis e frequentemente menos onerosas.»

Mas quem for levado a pensar que este processo de avaliação é decisivo para o controlo dos custos, desiluda-se.
«A contenção de custos com medicamentos nos hospitais não passa por limitar ou racionar a utilização, mas, sim, por uma utilização mais criteriosa, com preocupações de gestão eficiente dos recursos disponíveis »
Vasco Maria - GH

Efectivamente, enquanto quem prescreve com a ponta da caneta não for sujeito a regras de responsabilização - a famosa "accountability" - não iremos muito longe:
- Definição de objectivos clínicos;
- Estabelecimento de orçamentos por nível de serviço clínico;
- Acompanhamento/supervisão da praxis clínica pelos "primus inter pares";
- Análise mensal dos desvios face aos orçamentos estabelecidos por nível de serviço clínico;
- Apuramento de desvios Real versus Orçamentado;
- Identificação de não conformidades geradoras de desperdício;
- Correcção dos erros detectados e minimização dos desvios.
Com reduções por decreto não vamos longe (comentário-saudesa).

4 Comments:

Blogger ricardo said...

E tudo o resto é andar a encanar a perna à rã.
Mas como os médicos prescritores são uns papões e representam muitos votos, não vamos além de rodeios ao problema.
Um abraço ao Xavier

11:32 da tarde  
Blogger tambemquero said...

A propósito da gestão do medicamento hospitalar o secretário de estado da saúde desenvolveu um ciclo de conferências (norte, centro e sul) onde foram apresentados trabalhos muito interessantes, disponíveis no Portal da Saúde.

12:24 da manhã  
Blogger tonitosa said...

A questão não é orçamental. o acesso dos cidadãos a cuidados de saúde não pode ser limitado por um orçamento. Tem que haver vida para além do orçamento.
Então como se pode caminhar no sentido de evitar o desperdício?
Penso que importaria clarificar ou distinguir o desperdício tal como é geralmente entendido, deste outro conceito que tem estado subjacente à prescrição médica.
Desperdício, tal como geralmente o entendemos, será o que resulta de uma utilização indevida, tecnicamente incorrecta e de forma não justificada de determinado produto. Por exemplo, por negligência deixar deteriorar determinado produto, é certamente desperdício. Mas não será desperdício se numa colheita de sangue se tiver que recorrer a mais do que uma seringa porque se trata de um doente cujas veias são de difícil acesso (passe a linguagem menos técnica). Desperdício será manter ligados equipamentos que consomem energia quando nada o justifica.
Digamos que desperdício existe em relação a todos os produtos. Já prescrição médica, não sendo isenta de erros, pode ser a que o clínico em consciência julga mais adequada, e no entanto pode não produizir os resiultados esperados. Aqui trata-se mais de reduzir a probabildade de erro. O que não significa que não há lugar a desperdícios. É que muitas vezes parece que o médico prescreve indevidamente - desperdício - por vontade própria ou movido por interesses menos claros.
Dito isto, parece-me que o caminho passa sobretudo por avaliação de resultados - tendo por base o custo por doente tratado - por referência ao que seria de esperar face ao "estado da arte" e procura des melhores soluções para evitar repetição de erros.
Na verdade concordo com a posição de Vasco Maria: limitar ou racionar a utilização de medicamentos nos hospitais não é a solução. Do que se trata é de melhor utilizar os medicamentos e muitas vezes, como a vida nos ensina, o barato sai caro.

1:19 da manhã  
Blogger Clara said...

Quando falamos de gestão do medicamento hospitalar o aspecto mais importante que interessa abordar é a racionalização da prescrição.

Trata-se do processo de adequação permanente da melhor medicação ao estado de doença dos utentes.
Os principais elementos de racionalização deste processo são efectivamente os protocolos de utilização, os guidelines, e o formulário hospitalar.

A existência destes instrumentos não é suficiente para assegurar um processo de gestão eficiente. Há que adoptar um método de trabalho e procedimentos de gestão adequados(discussão da prática clínica, análise dos indicadores de produção e qualidade, benchmarketing).

É pois ilusório pensar que pôr trancas às portas em relação à inovação tecnológica vai resolver o problema dos gastos com medicamentos.

Concordo inteiramente com as premissas de análise dste post.
Só através de uma prática clínica correcta nos nossos hospitais conseguiremos não só tratar melhor os nossos doentes mas também o controlo dos gastos com medicamentos.

2:07 da tarde  

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