terça-feira, novembro 14

Contabilidade Criativa


I - Era uma vez, um professor de estratégia decidido a fazer "big bang" da Saúde e a empresarializar, duma assentada, 34 hospitais da rede do SNS (dezembro 2002).
Como era de esperar, no final de 2003, o estratega tinha toda a gente à perna por causa dos excelentes resultados do exercício, pouco fiáveis, segundo uns, maquilhados ou mesmo aldrabados, segundo outros.
O ministro defendeu-se como pôde: "Os dados publicados são fiáveis porque foram aprovados pelos revisores oficiais de contas."
E, confessando-se amargurado com as criticas ao seu trabalho, mas motivado, prometeu continuar à frente do Ministério da Saúde até ao fim da legislatura, de acordo com a sua vocação de servidor público e lealdade ao 1.º ministro.

Belas intenções leva-as o vento e o que se seguiu deu oportunidade a outro professor de assumir a pasta do MS, à segunda, num Governo de maioria.

II - Recentemente, o Tribunal de Contas (TC) publicou um relatório “Modelo de financiamento e a situação económico-financeira global dos hospitais do sector empresarial do estado”, onde refere que a partir da empresarialização, o IGIF deixou de relevar nas Contas Globais do SNS a informação económico-financeira dos Hospitais SA.link
Foi esta transferência para fora das contas consolidadas do SNS que permitiu a apresentação de resultados financeiros “positivos”, mostrando uma aparente melhoria no tradicional défice do financiamento do SNS.
O TC concluiu, assim, que as contas consolidadas do SNS de 2003 e 2004 apresentadas pelo IGIF não dão uma imagem verdadeira e apropriada da situação financeira e dos resultados do conjunto das entidades que integram o SNS por não incluírem as contas dos Hospitais SA.

III - Ah, Luís Filipe que grande malandro tu me saíste! Afinal, sempre se confirmaram as contas aldrabadas (aldrabadas não se diz. Métodos de contabilidade criativa). E, depois deste tempo todo, o que eu tive de aturar ao Tonitosa.

Segundo o TC, os Hospitais empresarializados estão como sempre estiveram, cheios de dívidas, acumulando défices elevados, ano após ano (o que poderá implicar um agravamento do défice da Administração Pública), e, a maioria deles, já utilizou o capital social para financiar despesas correntes.
Realmente, hospitais insolventes o sector privado chama-lhes um figo.
Ah, grande Sampaio do que nos livraste.

2 Comments:

Blogger saudepe said...

Relembro com certa nostalgia esses tempos da dupla barroso/lopes.

Era outra coisa.

Que agitação.
Que dinâmica.
A Mello Saúde sempre a apimentar a intriga.

Dava gosto ver o MD e CC permanentemente exaltados com tudo o que acontecia.

Foi a época dos verdadeiros gestores SA. Os autênticos. Hoje só há imitações. Das lojas dos trezentos. Chinesas.
Lembram-se das mordomias, dos carros de alta cilindrada, das acções de formação em Barcelona para ver o benchmarketing.

E a Unidade de Missão! Que centralização castradora (CC, dixit)
Que saudades!

E o Ranking dos Hospitais SA, com o hospital de Barcelos a alternar no primeiro lugar com o hospital de Vila da Feira.
Dizem as más línguas que é por causa desta ousadia que o Hospital de Barcelos vai ficar (já ficou) sem maternidade e Serviço de Urgência.

Agora, o CC não deixa brilhar ninguém.
É o tempo de "one man show". Entrevistas, discursos, intervenções, artigos, aberturas, encerramentos, Brasil, Finlândia, directos, directas, o ministro vai a todas, monopoliza, não deixa nada para ninguém.
Coitados dos assessores. Quando CC lhe faz uma pergunda, dá logo em seguida a resposta. Com os dados estatísticos intermináveis. Com excepção quando se trata de medicamentos onde não arrisca antes de consultar a intranet que mandou instalar na 05 de outubro.
Se o LFP pudesse ver tamanha maravilha ficaria convencido para sempre de quem é MAIOR!

E embora CC às vezes tenha graça, a coisa assim tornou-se chata.

Até os défices ameaçam acabar.
Felizmente há o Santana que parece estar de volta.

1:33 da manhã  
Blogger Clara said...

A causa SA continua a ser a grande inspiradora deste blogg.

2:10 da manhã  

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