Salvar o SNS
RV - Ou seja, não terminará o seu mandato, como chegou a ser afirmado na Assembleia da República, como o «coveiro do SNS»?
CC - Termino este mandato, daqui a três anos, provavelmente, como a pessoa que recuperou o SNS. É esse o meu objectivo. A pessoa que inverteu a queda para o abismo do SNS. O meu compromisso com os portugueses é salvar o Serviço Nacional de Saúde. E é isso que estou a fazer.
Francisco Galope e Isabel Nery / VISÃO nº 717 30 Nov. 2006
Não partilho da ideia que o SNS necessite de salvação. Certamente que com outras políticas poderia estar em melhor situação. O SNS não fracassou nem está à beira do abismo. Penso, aliás, que o SNS é indiscutivelmente o melhor serviço público de que os portugueses dispõem. E para que assim continue, há duas condições básicas: garantir o seu financiamento de acordo com as necessidades reais, recusando a ditadura dos cortes orçamentais, e gerir com rigor todos os meios colocados à disposição do SNS, não apenas os financeiros mas, igualmente, os recursos humanos e técnicos.
Mais que uma reforma o SNS precisa é de ser orientado no respeito por alguns princípios básicos e que até recolhem um largo consenso. E necessita também de vontade e determinação políticas na aplicação dessas linhas orientadoras, às quais devemos atribuir toda a prioridade na distribuição dos recursos. Estou a referir-me, entre outros aspectos, à valorização da informação para a saúde, à promoção de modos e práticas de vida saudável, ao reforço da prevenção da doença (e dos sinistros rodoviários e do trabalho, por exemplo), ao desenvolvimento da área da saúde pública e da comunidade, à expansão da rede de cuidados primários e à mudança do seu paradigma, à mudança no modelo organizativo e funcional dos hospitais públicos, a uma maior atenção no capítulo da formação dos profissionais (em número e em competências) e às condições que lhes assegurem continuidade e estabilidade no exercício das suas actividades e, por último, a uma gestão do SNS mais autónoma da estrutura ministerial, mais descentralizada e com mais capacidade de articulação entre os diferentes níveis e agentes envolvidos na prestação de cuidados, que aproxime o planeamento e a decisão das regiões e dos cidadãos.
Correia de Campos tomou em ano e meio muitas decisões, sempre muito embrulhadas em pareceres e estudos dos chamados peritos. E prometeu diversas mudanças - algumas em marcha, mas sempre determinado por uma única razão que nada tem a ver com a modernização ou aperfeiçoamento do SNS: poupar, poupar, poupar. Não vejo como é que a actual política de redução a qualquer custo da oferta de serviços públicos de saúde, no âmbito do SNS, pode contribuir para que os portugueses usufruam dos cuidados de saúde de que necessitam. Parte da poupança é ainda obtida sobrecarregando o bolso dos portugueses, hoje obrigados a pagar mais pelos serviços de saúde a que recorrem (novas taxas - agora para o internamento também para as cirurgias, e velhas taxas mais caras) e a despender mais dinheiro pelos medicamentos que adquirem.
Correia de Campos não só está a comprometer a natureza geral e universal do SNS como está a transformar o tendencialmente gratuito em tendencialmente pago. Correia de Campos tem em mira a introdução de pagamentos directos na saúde, o que significa uma profunda rotura no compromisso social em que se alicerça a Constituição e a nossa democracia e que, a concretizarem-se, rasgam a essência do estado social em que temos vivido.
CC - Termino este mandato, daqui a três anos, provavelmente, como a pessoa que recuperou o SNS. É esse o meu objectivo. A pessoa que inverteu a queda para o abismo do SNS. O meu compromisso com os portugueses é salvar o Serviço Nacional de Saúde. E é isso que estou a fazer.
Francisco Galope e Isabel Nery / VISÃO nº 717 30 Nov. 2006
Não partilho da ideia que o SNS necessite de salvação. Certamente que com outras políticas poderia estar em melhor situação. O SNS não fracassou nem está à beira do abismo. Penso, aliás, que o SNS é indiscutivelmente o melhor serviço público de que os portugueses dispõem. E para que assim continue, há duas condições básicas: garantir o seu financiamento de acordo com as necessidades reais, recusando a ditadura dos cortes orçamentais, e gerir com rigor todos os meios colocados à disposição do SNS, não apenas os financeiros mas, igualmente, os recursos humanos e técnicos.
Mais que uma reforma o SNS precisa é de ser orientado no respeito por alguns princípios básicos e que até recolhem um largo consenso. E necessita também de vontade e determinação políticas na aplicação dessas linhas orientadoras, às quais devemos atribuir toda a prioridade na distribuição dos recursos. Estou a referir-me, entre outros aspectos, à valorização da informação para a saúde, à promoção de modos e práticas de vida saudável, ao reforço da prevenção da doença (e dos sinistros rodoviários e do trabalho, por exemplo), ao desenvolvimento da área da saúde pública e da comunidade, à expansão da rede de cuidados primários e à mudança do seu paradigma, à mudança no modelo organizativo e funcional dos hospitais públicos, a uma maior atenção no capítulo da formação dos profissionais (em número e em competências) e às condições que lhes assegurem continuidade e estabilidade no exercício das suas actividades e, por último, a uma gestão do SNS mais autónoma da estrutura ministerial, mais descentralizada e com mais capacidade de articulação entre os diferentes níveis e agentes envolvidos na prestação de cuidados, que aproxime o planeamento e a decisão das regiões e dos cidadãos.
Correia de Campos tomou em ano e meio muitas decisões, sempre muito embrulhadas em pareceres e estudos dos chamados peritos. E prometeu diversas mudanças - algumas em marcha, mas sempre determinado por uma única razão que nada tem a ver com a modernização ou aperfeiçoamento do SNS: poupar, poupar, poupar. Não vejo como é que a actual política de redução a qualquer custo da oferta de serviços públicos de saúde, no âmbito do SNS, pode contribuir para que os portugueses usufruam dos cuidados de saúde de que necessitam. Parte da poupança é ainda obtida sobrecarregando o bolso dos portugueses, hoje obrigados a pagar mais pelos serviços de saúde a que recorrem (novas taxas - agora para o internamento também para as cirurgias, e velhas taxas mais caras) e a despender mais dinheiro pelos medicamentos que adquirem.
Correia de Campos não só está a comprometer a natureza geral e universal do SNS como está a transformar o tendencialmente gratuito em tendencialmente pago. Correia de Campos tem em mira a introdução de pagamentos directos na saúde, o que significa uma profunda rotura no compromisso social em que se alicerça a Constituição e a nossa democracia e que, a concretizarem-se, rasgam a essência do estado social em que temos vivido.
João Semedo
4 Comments:
CC sente-se bem no papel de Salvador.
Trata-se apenas de uma mistificação romântica do seu verdadeiro papel de negociador mor da capitulação do SNS às empresas privadas.
Proponho que este Natal os colaboradores da SaudeSA enviem um cartão de Boas Festas ao Salvador do SNS.
João Semedo é um homem do SNS.
Quero dizer um homem do meio campo, do miolo, dos hospitais onde caldeou o seu amor pelo SNS.
CC nunca trabalhou nos hospitais. Só de visita. Sempre a pensar em vir a ser ministro mais tarde.
Os hospitais e os Centros de Saúde para CC são dados estatísticos, défices e um caos de desorganização e ineficiência.
Os profissionais são activos mal distribuídos a merecer o quadro de excedentários ou a contratação dos hospitais privados para melhorarem a concorrência e reduzirem os gastos da saúde.
O SNS é para Salvar (muito parecido com Saldar) por alguém único, preparado, capaz, que a história (o destino) quis que fosse o professor CC.
Sem ele o SNS estava destinado ao abismo.
E os utentes?
Os utentes servem para co financiaros cuidados. Isto para já. Depois de 2008 logo se verá.
Será o que CC quiser.
Esta análise é de um deputado, de um director hospitalar, de um profissional da saúde, de um cidadão, de um homem, que independentemente do cargo, da situação ou do tempo em que se encontre tem e teve sempre a mesma postura.
Com a sua participação activa no trabalho na edificação do SNS como ideologicamente foi e está definido na Constituição.
Com a sua intransigente luta pela manutenção dum SNS como dos "melhores serviços de saúde para os portugueses".
Com a sua atitude de defesa dos profissionais que nele trabalham,
Com uma oposição clara às medidas economicistas do poder que pôem em risco os cuidados assistenciais e de prevenção da doença.
Propõe rigor na administração dos recursos (financeiros, tecnicos e humanos) não numa base centralizadora, presa a objectivos de poupança estandartizados, alheada dos problemas locais e sociais (dos cidadãos e dos profissionais), adaptada de modelos estrangeiros, mas fundamentada nos problemas específicos das regiões e das populações, virada para o cidadão, na defesa dele e em função das suas possibilidades e necessidades reais.
Homens, profissionais e políticos como estes, fazem muita falta.
Aproxima-se rapidamente o final de 2006. Altura para cmeçar a fazer os primeiros balanços.
A intervenção do Dr. João Semedo terá constituído um dos pontos mais altos da SaudeSA deste ano.
Ao Dr. João Semedo quero agradecer uma vez mais e desejar um Santo Natal.
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