domingo, dezembro 3

Vêm aí os privados

Revista Visão (RV) - Mas com o número de unidades que têm surgido e as que estão por abrir, não se corre o risco de se ter um sector privado dependente do público? Onde é que vão eles buscar os clientes? Ao público? link
Correia de Campos (CC) - Não vão ter clientes em regime convencionado com o sector público. Não estão previstas convenções gerais com essas novas unidades privadas. Terão cidadãos que lá vão livremente e pagam do seu bolso ou, através de seguros. Poderão surgir convenções pontuais, em áreas onde o SNS apresente insuficiências. Ou seja: não vamos transformar o SNS, que tem uma maioria de hospitalização pública (cerca 80% das camas) num modelo francês, belga ou suíço, em que há um sector privado forte que é também pago pelo Estado. Isso não está na nossa agenda política.

RV - E porque não? Se os privados oferecerem um serviço melhor?
CC - Porque não temos dinheiro nem mecanismos para os avaliar e porque já temos imensas dificuldades e problemas no único hospital público que é gerido por privados – o Amadora-Sintra. Portanto, não vamos arranjar mais problemas, vamos mas é valorizar o sector público. Eu fui designado ministro da Saúde para gerir o SNS.

RV - Mas, no caso das listas de espera cirúrgicas, recorre-se ao privado e fica mais barato...
CC - Sabe quanto é que isso representa? Qual a intervenção dos privados nas listas de espera? Menos de 10 por cento! Também nós estávamos convencidos que haveria um boom privado nessa área, mas isso nunca se verificou. A verdade é que a abertura foi total para com o sector privado e este não manifestou mais do que um interesse marginal. E não está a dar mais do que um contributo marginal para a resolução dos problemas das listas de espera.

RV - Estas movimentações no privado podem ser interpretadas como sendo os grupos a posicionarem-se para a corrida às parcerias público-privadas, demonstrando assim que têm capacidade técnica e de gestão. Não se estará aqui a abrir uma caixa de pandora?
CC - Isso tem de lhes perguntar a eles. Suponha que eles fazem propostas de convenções magníficas de preços mais baixos que no SNS, incluindo as diferenças para as servidões públicas de urgências, de formação profissional etc. Nessa altura, serão propostas interessantes. Neste momento, não há propostas em cima da mesa. Deixe-os desenvolver-se, deixe-os aparecer. E, com certeza, faremos algumas convenções em áreas pontuais onde estejamos em insuficiência. Como em radioterapia, por exemplo.
Francisco Galope e Isabel Nery / VISÃO nº 717 30 Nov. 2006

Encorajar os investimentos privados, apostar na construção de um sector da saúde privado forte, constitui o núcleo forte da política deste ministro e deste Governo, fortemente apoiado pelas instituições financeiras da nossa praça. As mesmas que constituem a frente de assalto do sector público da Saúde. Por isso, senhor ministo, seja qual for a sua política de saúde, apenas lhe pedimos um favor: Não minta mais aos portugueses.
margarida

2 Comments:

Blogger saudepe said...

Desde o tempo do LFP, o discurso político dos responsáveis máximos da Saúde, como evoluiu.

CC está a abrir o sector público da Saúde a uma frente ampla de empresas privadas (e não só à Mello Saúde).

O que CC está a fazer é salvar o sector privado da Saúde.

O SNS morreu no ano de 2007, com a aplicação das novas taxas de utilização do internamento e cirurgia do ambulatório.

1:59 da manhã  
Blogger tambemquero said...

Os privados já estão na saúde de há muito.

Como CC refere, os privados já detêm 20% das camas hospitalares.
Se lhe juntarmos a gestão dos HHs públicos (Amadora Sintra e os novos PPP) podemos fazer uma ideia da importância que está reservada ao sector privado da saúde.
A desresponsabilização do Estado em relação às prestações de saúde prossegue perante a passividade dos portugueses.

Tal como aconteceu no RU, só um ministro da saúde do PS poderia levar por diante o que está a ser feito.

2:34 da tarde  

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