SNS - Agir ou encher balões
Caro Tonitosa: não tenho qualquer dúvida de que o seu comentário (no Post GWR, de 21.01.2007) é uma “colherada” de produto de excelente qualidade. Pode mandar-me à cobrança a quantidade que tiver disponível, que não só pago como creio que tenho mercado assegurado para a colocação do produto!
Agora ninguém mais pode dizer que não entende por que razão é imprescindível “clarificar as águas” e acabar com a promiscuidade que existe e que – sem pretender generalizar, porque há muitos profissionais honestos – não é exclusivo dos médicos. Isto é, não são todos e não são só eles. Mas eles são incontornáveis porque são os verdadeiros decisores ou os condicionadores das decisões de outros níveis e, ensinaram-me em direito: ubi comoda ibi incomoda (quem come a carne tem de roer os ossos).
E também deixou claro que não basta actuar sobre titulares de cargos de direcção ou chefia, porque as condições em que, no contexto actual, se desenvolve o exercício de funções no âmbito do SNS são tais que constituem um convite constante às “distorções” (chamemos-lhe assim, embora haja outras designações) a que nos referimos.
Sem qualquer dúvida, o Estado (MS) tem obrigação de criar um pano de fundo diferente do actual, que não seja tão poderosamente indutor de comportamentos desviantes. Porque não é possível servir a dois senhores. Diz o povo: “não se pode sacrificar a São Miguel e à peanha!” e eu acredito que o povo sabe muito.
Agir é preciso, mas só paga se a acção se desenvolver num contexto de total coerência, porque os problemas são como as moedas: há sempre a outra face, (mais frequentemente haverá várias outras faces …). No SNS há também as razões do outro lado. A propósito: como reagiriam os licenciados em direito se a Constituição da República tivesse imposto um SAJ (Serviço de Assistência Jurídica) universal, geral e tendencialmente gratuito? E, em idêntica situação, os restantes profissionais liberais (economistas, engenheiros, arquitectos, etc.) como reagiriam?
Por estas razões, defendi aqui no Saudesa que por SNS se entendesse não o conjunto de prestadores, mas sim o conjunto das prestações de saúde garantidas aos cidadãos e que, na efectivação destas, pudessem participar não só serviços públicos mas também prestadores privados, naturalmente com regulamentação que garantisse a qualidade exigível e verdadeira concorrência entre prestadores. Estou convencido de que agir nesse sentido será necessário para salvaguardar o SNS com melhoria da qualidade, ganhar o comprometimento dos profissionais nas políticas a adoptar (v.g., combate ao desperdício em qualquer das formas que este possa assumir) sem que tenham de lutar contra os seus próprios interesses, viabilizar a opção entre o exercício no sector público ou no privado e até para eliminar a incongruência de termos um PIB de 70% da C.E. e a medicina privada mais cara, ou entre as mais caras da mesma C.E.. Claro que ir neste sentido exigiria mudar muita coisa. Mas não são mudanças o que se exige?
Escolher o tempo e o modo é responsabilidade dos políticos e não duvido que ser MS não será pêra doce num campo tão armadilhado. Mas, como dizia o outro, é a vida! Agir ou encher balões que vão rebentando uns depois dos outros, enquanto permanecem as causas dos males de que nos queixamos.
AIDENÓS
Agora ninguém mais pode dizer que não entende por que razão é imprescindível “clarificar as águas” e acabar com a promiscuidade que existe e que – sem pretender generalizar, porque há muitos profissionais honestos – não é exclusivo dos médicos. Isto é, não são todos e não são só eles. Mas eles são incontornáveis porque são os verdadeiros decisores ou os condicionadores das decisões de outros níveis e, ensinaram-me em direito: ubi comoda ibi incomoda (quem come a carne tem de roer os ossos).
E também deixou claro que não basta actuar sobre titulares de cargos de direcção ou chefia, porque as condições em que, no contexto actual, se desenvolve o exercício de funções no âmbito do SNS são tais que constituem um convite constante às “distorções” (chamemos-lhe assim, embora haja outras designações) a que nos referimos.
Sem qualquer dúvida, o Estado (MS) tem obrigação de criar um pano de fundo diferente do actual, que não seja tão poderosamente indutor de comportamentos desviantes. Porque não é possível servir a dois senhores. Diz o povo: “não se pode sacrificar a São Miguel e à peanha!” e eu acredito que o povo sabe muito.
Agir é preciso, mas só paga se a acção se desenvolver num contexto de total coerência, porque os problemas são como as moedas: há sempre a outra face, (mais frequentemente haverá várias outras faces …). No SNS há também as razões do outro lado. A propósito: como reagiriam os licenciados em direito se a Constituição da República tivesse imposto um SAJ (Serviço de Assistência Jurídica) universal, geral e tendencialmente gratuito? E, em idêntica situação, os restantes profissionais liberais (economistas, engenheiros, arquitectos, etc.) como reagiriam?
Por estas razões, defendi aqui no Saudesa que por SNS se entendesse não o conjunto de prestadores, mas sim o conjunto das prestações de saúde garantidas aos cidadãos e que, na efectivação destas, pudessem participar não só serviços públicos mas também prestadores privados, naturalmente com regulamentação que garantisse a qualidade exigível e verdadeira concorrência entre prestadores. Estou convencido de que agir nesse sentido será necessário para salvaguardar o SNS com melhoria da qualidade, ganhar o comprometimento dos profissionais nas políticas a adoptar (v.g., combate ao desperdício em qualquer das formas que este possa assumir) sem que tenham de lutar contra os seus próprios interesses, viabilizar a opção entre o exercício no sector público ou no privado e até para eliminar a incongruência de termos um PIB de 70% da C.E. e a medicina privada mais cara, ou entre as mais caras da mesma C.E.. Claro que ir neste sentido exigiria mudar muita coisa. Mas não são mudanças o que se exige?
Escolher o tempo e o modo é responsabilidade dos políticos e não duvido que ser MS não será pêra doce num campo tão armadilhado. Mas, como dizia o outro, é a vida! Agir ou encher balões que vão rebentando uns depois dos outros, enquanto permanecem as causas dos males de que nos queixamos.
AIDENÓS
5 Comments:
Amigo AIDENÓS,
No meu comentário a que se refere (e tomando boa nota das suas palavras), digo a dado passo:... "Precisando o meu raciocínio, de resto com conhecimento concreto".
Ontem estive presente num acto público onde um dos intervenientes, o Prof. Hernâni Lopes, disse a certa altura: "quem sabe faz...quem não sabe ensina".
Referia-se ao ensino e dava o exemplo de alguém ser professor de gestão sem nunca ter "gerido" uma empresa ou organização!
Permito-me, sem falsa modéstia, fazer a ligação com o meu comentário. Na verdade trata-se de matéria que conheço bem, por com ela ter lidado directamente e sobre a qual (muito) tenho reflectido.
Um abraço
Os médicos vão continuar o pressing sobre Correia de Campos.
Quanto mais o ministro recuar, mais a OM pressionará.
A OM está interessada em demonstrar ao primeiro ministro que com CC já não vamos lá. Que não há entendimento possível.
Isto favorece a estratégia dos privados que aparecem como a única salvação para pôr ordem na Saúde.
Vai dar pena ver o ministro da saúde acabar de rastos.
«A Ordem dos Médicos acusou hoje o ministro da Saúde, Correia de Campos, de deslealdade ao propor aos médicos que recebam salários menores.
A posição foi manifestada esta sexta-feira à TSF depois de o ministro ter anunciado que os médicos afinal podem conciliar funções no sector privado se cumprirem 20 horas semanais no público.
Mas, para a Ordem dos Médicos, todo este caso foi uma estratégia negocial do Ministério da Saúde e acusa Correia de Campos de deslealdade para com os médicos.
«Esta proposta do governo é uma matéria de estrita natureza sindical, mas demonstra a intenção com que a questão das incompatibilidades foi colocada, ou seja, a incompatibilidade dos médicos deixa de existir desde que ganhem menos», disse o bastonário Pedro Nunes, em declarações à TSF.»
DD, 20.01.07
Sei que há um médico graduado em AH que é presidente de um CA e sócio de clínica particular que, por acaso, desenvolve uma actividade específica que é especialidade no hospital que dirige.
De CC, nada sei.
Tonitosa:
"Sei que há um médico graduado em AH..."
É preciso ser mais dissimulado...
Já alguma vez escreveu: "sei que há um licenciado em Direito graduado em AH..."?
É que a continuar neste caminho torna-se evidente, ineludível, visível, uma matriz persecutória em relação aos médicos.
é-pá,
Houve um lapso meu.
O que quis dizer era "pós-graduado" em AH. Ou seja, um médico que fez o "curso"(?) de AH na ENSP.
Não é nada de persecutório. Pelo menos da minha parte.
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