quarta-feira, março 21

24.º Encontro de Clínica Geral


(...) Há um ano, prometíamos terçar armas pelo modelo retributivo que desejávamos “generoso e incentivador”. Hoje ele aí está, aprovado em Conselho de Ministros, à espera de negociações já agendadas com os parceiros sociais. Não foram poucos os que descreram de podermos chegar até aqui. Com gáudio dos profetas da desgraça, sempre desejosos de festejar o falhanço. Enganaram-se. link
Há um ano, comprometíamo-nos a facultar a cada USF instalações novas ou remodeladas, equipamentos, material clínico, sistemas de informação e respectivo apoio, bem como facilidades na mobilidade dos integrantes. Hoje, registamos que cada nova USF nasce acoplada a um sistema de informação, a um sistema de contratualização, a um compromisso com a população que serve, a um compromisso com a sua auto-estima, simbolicamente confirmado em fardamento próprio, logótipo, modelo organizativo específico e orgulho no serviço prestado aos cidadãos. Assistimos em cada nova USF criada a uma pequena festa, os eleitos locais presentes, as forças sociais curiosas, interessadas e colaborantes, os arrebiques e atavios de última hora realizados pelo próprio pessoal com o carinho de quem cuida da casa e de causa própria. Onde pára o anterior modelo burocrático? Onde ficou a sensação de cumprir um mero fardo legal? Como se esqueceram as guerrilhas institucionais ou as meras quezílias pessoais? O movimento tudo ultrapassou, sem decretos, despachos, circulares, ordens de serviço. Maré tranquila e silenciosa que rodeou obstáculos e permitiu navegar sem escolhos.
De há um ano para cá tanta coisa mudou e para melhor. Daqui a um ano tudo será diferente, de novo. Teremos mais USF, talvez duas a três vezes o número actual. Ou mesmo mais. Teremos USF onde elas mais mais falta fazem, nas zonas periurbanas carecidas de médicos para uma população a descoberto.(...)
António Correia de Campos, Vila Moura, 21.03.07

10 Comments:

Blogger e-pá! said...

Para quem falhou nos objectivos de implantação de USF's em 2006, este discurso de CC é, para usar as suas próprias palavras, um autêntico "arrebique".

10:27 da manhã  
Blogger tonitosa said...

Independentemente dos resultados e do que penso sobre as USF e outras medidas tomadas por CC, não posso deixar de dizer que considero este um "brilhante discurso" num contexto de mobilização (apelo) dos recursos humanos envolvidos.

11:53 da manhã  
Blogger e-pá! said...

Tonitosa:

Não acha este tipo de discurso semelhante aos "paleios" de balneário dos treinadores de futebol ?

2:54 da tarde  
Blogger xavier said...

Aqui temos o exemplo de um comentário bárbaro.

Sem fazer qualquer análise, o é-pá limita-se a atirar a metáfora grotesca. Não será de estranhar se nos lembrarmos como defendeu aquele inqualificável texto do JMS.

Não desafie assim o Tonitosa que é uma pessoa respeitável.

4:17 da tarde  
Blogger e-pá! said...

Xavier:

Perguntar ofende?

5:10 da tarde  
Blogger xavier said...

Não ofende.
Fica mal num profissional do seu nível.

8:21 da tarde  
Blogger e-pá! said...

O COMENTÁRIO BÁRBARO …

Uma apreciação subjectiva e alegórica, colocada na interrogativa, sobre o teor e as circunstâncias decorrentes da minha leitura acerca da intervenção do Ministro da Saúde, na cerimónia de abertura do 24.º Encontro de Clínica Geral, em 21 de Março de 2007, suscitou-me uma corriqueira imagem futebolística, referindo o local (balneário) onde, habitualmente, se estabelecem as últimas afinações estratégicas e se incitam os jogadores para a “luta” a travar.
Devo confessar que foi a própria intervenção do Sr. Ministro que me sugeriu a correlação quando afirmou: “Há um ano, prometíamos terçar armas pelo modelo retributivo que desejávamos generoso e incentivador”. O “terçar armas” sugeriu-me o incitamento à luta, o “modelo retributivo que desejávamos generoso e incentivador” lembrou-me os prémios de jogos. Finalmente, a referência ao “gáudio dos profetas da desgraça, sempre desejosos de festejar o falhanço”, suscitou-me a useira incitação dos treindores perante os jogadores “não-crentes” na vitória, ou porque julgam que a equipa é fraca e falhará (os tais “profetas da desgraça”), ou porque julgam o adversário demasiado forte e no final festejará a “cabazada” (o “gaúdio”).

Tudo isto a propósito de um comentário anterior (Tonitosa) onde classificava a intervenção do Sr. Ministro de “brilhante discurso”, opinião que respeito, mas na qual não me revejo.

A intervenção do Sr. Ministro no 24.º Encontro de Clínica Geral foi exaltante, mostrou entusiasmo e regozijo pelo trabalho feito, mas permitiu alguns percalços, absolutamente evitáveis.
Não é frequente, nem esperado, este Ministro mostrar-se satisfeito com o trabalho dos médicos. Quando a esmola é grande o pobre desconfia…
Mas, nesta reunião, transparecia grande harmonia e solidariedade institucional. Algum motivo haverá. Um era evidente e visível – necessita da “chama acesa”, do entusiasmo dos médicos de MGF, para alargar e consolidar a implementação das UFS’s, aposta prioritário do MS. Outro, era “oculto” - precisava de exorcizar o longo tempo de espera pela aprovação pelo Conselho de Ministros do Projecto de Decreto-Lei das USF enviado, nas vésperas, para discussão pública e negociação colectiva, pelos parceiros sociais.
Mas o seu entusiasmo foi mais além. Entrou na agenda da reunião e não se coibiu de mandar alvitres. O alargamento do tempo de internato era um dos pontos de discussão deste Encontro de Clínica Geral. Mostrou preocupação o debate a efectuar no âmbito da formação do Internato Complementar sublinhando que um alargamento se traduzia eventual “um ano de oclusão nas saídas profissionais”. Transfigura-se num “homem da casa”, perde o recato e, publicamente, adiantando não ter ideias preconcebidas, propõe soluções: “realizar o alongamento de um ano em dois semestres ou três quadrimestres, em dois anos diferentes”. Bem, a competência para a definição do programa curricular de formação é do Colégio da Especialidade que a propõe ao Conselho Nacional Executivo da Ordem dos Médicos. Mas o “ambiente” propiciava-se a tudo…até ao aconselhamento curricular, de maneira aos médicos poderem entrar no mercado de trabalho mais cedo (integrarem as USF’s?) e, completarem a formação, por semestres ou quadrimestres, nos dois anos seguintes…
Manifesta falta de tacto ou entusiasmo excessivo… à escolha.

Não me vou alongar mais. A visão que tenho da intervenção do Sr. Ministro no 24º. Encontro de Clínica Geral deixa-me no espirito diversas interrogações. Inflexão estratégica, hipocrisia do Poder, ou outra motivação? Não gostei porque não estou, neste momento, a ver o final do filme. Gato escaldado tem medo de água fria...

No entanto, queria deixar expresso que a apreciação feita não foi orientada por nenhum instinto bárbaro. Foi a minha "leitura". Julgo que terei direito a ela.
Pelo que, no meu entender, o comentário feito dificilmente será um exemplo de barbaridade.

12:18 da manhã  
Blogger coscuvilheiro said...

O projecto das USF é um êxito.
O facto de em 2006 não terem sido criadas as 100 unidades não desvaloriza em nada o projecto.
Dificil foi criar o modelo, testá-lo no terreno. Agora trata-se de replicar as experiências bem sucedidas.

1:45 da manhã  
Blogger e-pá! said...

Caro Hospitalepe:

"O projecto das USF é um êxito."
- O projecto tem condições de sucesso, na medida que conseguir cobrir e melhorar as necessidades assistenciais nos CSP. Nesse sentido, é um extraordinário passo na consolidação do SNS.

"O facto de em 2006 não terem sido criadas as 100 unidades não desvaloriza em nada o projecto."
- Os objectivos têm, entre outros parâmetros, componentes quantificáveis. O seu parcial incumprimento,não desvaloriza o projecto em si mesmo mas, não vale a pena iludir, o proposto não foi atingido.

"Dificil foi criar o modelo, testá-lo no terreno."
- A criação do modelo terá sido difícil dadas inusitadas resistências e algum clima de desmotivação que grassava nos CS.
Mas sejamos rigorosos. Mas o modelo, com todas as suas virtudes e potencialidades, não está (ainda) testado. Falta-lhe recuo histórico.

"Agora trata-se de replicar as experiências bem sucedidas."
- Completamente de acordo, se for acompanhado de um contínuo processo de validadação pela praxis. Como disse o Sr. Ministro no 24º. Econtro de Clinica Geral é imperioso:
"Cuidar das USF é necessário, elas não navegam sozinhas. Carecem de acompanhamento e até de apoio.".
Assim seja.

9:51 da manhã  
Blogger tonitosa said...

Tenho aqui, no Saúde SA, expresso, por várias vezes, as minhas reservas quanto ao "futuro"(?) das USF. Estamos perante uma solução que de algum modo pretende ser uma alternativa ao actual modelo dos SAP's e sabemos também que estes (SAP) não são já a solução para os novos desafios na cobertura de cuidados de saúde. Há por isso espaço para novos modelos. Mas a solução das USF, em minha opinião, não deixará de exigir maior esforço financeiro do SNS (como outra qq em que se aposte) e como já referi, não tardarão as "reivindicações" de carácter mais ou menos corporativo.
Mas neste proceso de mudança é fundamental a iniciativa (interesse) dos próprios profissionais de saúde (médicos, enfermeiros, técnicos, etc.).
Por isso, e em minha opinião, a intervenção de CC no encontro dos Clínicos Gerais foi um importante (brilhante) discurso sob o ponto de vista da mobilização dos RH para a instalação de novas USF.
E é estrictamente a essa intervenção que o meu comentário anterior, tal como este, se pretende referir.

10:51 da tarde  

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