segunda-feira, março 5

SU & SAPs







A propósito de «urgências» e «SAPs» muito e variado se tem escrito aqui no blogue. Pena é, porém, que muitos não tenham perdido algum tempo em leitura e reflexão sobre o que está em causa, mínimo que se esperava de quem está «dentro» do SNS, antes aproveitando para demonstrar a sua ignorância e pressa de «ficar na fotografia». Porque alguns pediram «que lhe explicassem» aqui vão alguns esclarecimentos e notas éticas.

Um SNS com a eficácia dos outros

Um SNS caracteriza-se, também, por assentar em cuidados primários e no seu papel: «atendimento imediato ou quase, da população – presencial, programado e não programado, telefónico e domiciliário» (VidaNova). O que tem acontecido em Portugal, diferente doutros SNS?

1) Planearam-se os CS e dotaram-se com os meios necessários, numa orgânica de administração pública e função pública (carreira, remuneração independente dos resultados, etc.). A experiência de muitos anos evidenciou problemas de oferta, para além de reduzidas produtividade e qualidade: nº consultas insuficiente e muitos dias (meses) à espera; alguns cuidados ou não existem (atendimento médicos telefónicos) ou são de volume muito reduzido (consultas domiciliárias).

2) Se as pessoas não têm resposta «imediata, ou quase» o que fazem? Recorrem ao atendimento não programado no SNS (SU, SAP) e ao sector privado. Quais os problemas desse comportamento, de dimensão sem paralelo noutros SNS?
a) Cria círculo vicioso nos CS: MF estão nos SAP (ou nos SU) a atenderem doentes doutros colegas, daí redução de oferta em consultas programadas, mais doentes sem MF e tempo de resposta cada vez maior. Daí resulta: despersonalização dos cuidados e justificação para doentes recorrem aos SAP e SU, e, como a produtividade nos SAP é menor, o nº de consultas possíveis não realizadas é muito elevado. Nada disto se passa noutros SNS

b) Alimenta círculo vicioso nos SU: na tentativa de responderem à procura inapropriada os HH aumentam a oferta e geram ainda mais procura, doentes têm atendimento mais rápido que nos CS e com MCDT. Gera-se aumento do desperdício, seja por duplicação de actos, de meios de diagnóstico e prescrição de medicamentos, seja por deslocar médicos do atendimento programado para SU – menos consultas e operações são realizadas (aumenta a lista de espera nos HH). Nada disto se passa noutros SNS

c) Incentiva MF ao que não deve: MF ao invés de se concentrarem em actividades no CS – promoção da saúde e actos curativos – dividem-se por SAP, SU e «na privada» (medicina do trabalho, consultas em regime liberal). Esta divisão/pluriemprego gera desresponsabilização pela resposta eficaz ás famílias a seu cargo, avilta a qualidade do atendimento, faz perder a confiança dos doentes e prejudica a continuidade de cuidados (MF já esteve…). Nada disto se passa noutros SNS

d) Actos excessivos no sector privado: os problemas referidos anteriormente (tempo de resposta elevado nos CS e falta de confiança, espera elevada, etc.) geram excessivo recurso ao sector privado, visto que: i) Algum é indesejado pelos doentes: têm que pagar e «não podem», gera despesas de deslocação, etc.; ii) Muito actos são duplicados e provocam prescrições desnecessárias (meios diagnóstico, medicamentos). Nada disto se passa noutros SNS

3) SU eficazes? Muitos SUs têm evoluído ao arrepio das normas técnicas instituídas (RRH) e por pressões ilegítimas (autarcas, gestores, profissionais), daí resultando gastos e inapropriação elevadas e um consumo exagerado de horas de médicos. A oferta de SU é excessiva e não está adequada às necessidades ditadas pelo planeamento, em função da população e do papel a desempenhar – hierarquia e complementaridade técnica. Esta tendência contribui MESMO para «afundar o SNS»: falta de sustentabilidade (financeira); falta de capacidade de resposta em atendimento programado nos HH; oferta tardia e de má qualidade nos CS; insuficiência de procura
da medicina familiar – muitos médicos preferem continuar como tarefeiros de SU, etc. Nada disto se passa noutros SNS

Perante isto, que fazer?
Continuar a alimentar os círculos viciosos e a gerar insuficiência artificial de médicos ou rapidamente inverter a tendência e alinhar com a organização dos restantes SNS?

Diferença entre SAP e consultas não programadas em USF
Numa USF verificam-se as seguintes diferenças face ao CS «habitual»: maior nº de doentes a cargo, muito maior oferta programada (consulta, visita domiciliária), atendimento não programado em horário adequado e conhecido, dos próprios doentes e doutros (apenas em substituição de MF). Consequências destas alterações?
1.ª Diminui o nº pessoas sem MF, contribuindo para reduzir a procura de SU e SAP;
2.ª Melhora a acessibilidade da população ao seu MF, mesmos efeitos que ponto anterior;
3.ª Como os doentes se sentem confiantes com o seu MF não têm tanta tendência a duplicar consultas, nos SU ou na actividade privada;
4.ª MF têm retribuição em função do nº de doentes e do nº de actos que fazem, daí incentivos para melhorarem a produtividade, a qualidade de resposta e para se concentrarem na actividade do CS;
5.ª O efeito negativo do atendimento não programado é reduzido – dado o menor nº de horas e porque MF aproveitam para fazer outras actividades, quando não estão a atender doentes (ex. renovar receitas).

Nos SAP temos MF e enfermeiros a atender qualquer doente e num período longo (ex. 24 horas). Assim o efeito é triplamente pior:
Nos custos, pelo maior nº de horas, pela qualidade das horas e por prescrição menos adequada – nos USF são essencialmente os seus doentes, daí menos duplicações e erros de prescrição;
Nos efeitos no SNS, pois mais horas com baixa produtividade no SAP, representa menor disponibilidade para dar resposta à actividade programada – menos consultas e maior tempo de resposta levam a maior procura do SAP e SU, com consequências negativas para o SNS;
Muitos médicos actuam como tarefeiros nos SAP e SU, e enquanto forem bem pagos resistem a aderir a MF, o que atrasa o ajustamento necessário nos MF e dificulta o aumento do nº de USF a funcionar.

Por isso concordo com a afirmação aqui feita por link VidaNova: «… USF são a verdadeira solução … os CS deveriam ser rapidamente convidados a adoptarem a mesma organização e resposta» (meu sublinhado).

O é-pá brindou-nos com muitos provérbios e opiniões, mas infelizmente ainda não foi desta que foi à «causa das coisas», daí estas breves notas (breves visto que há poucas ideias/substância no seu comentário).

1ª Refere-se à «pressa do MS» na reforma dos SAP e SU, pretendendo que se visam apenas «ganhos orçamentais». O que se passa é que depois de tantos anos sem nada se fazer o que devemos afirmar é que a reforma é mais lenta do que devia ser: mais USF deviam estar a funcionar, o call-center devia estar a funcionar, SU e SAP sem sentido já deviam estar fechados (e não estão). Depois os «ganhos orçamentais», se forem redução do desperdício, são bem vindos quanto mais cedo melhor. Mas o aumento de oferta no SNS (primeiro nos CS e depois em consultas e operações nos HH) provocará aumento de despesa.
2ª Registo a sua preocupação com o tempo de espera no SU no período das 24 às 8 horas, e com a recusa em admitir que, «como nos automóveis em que nos deslocávamos... cabia sempre mais um». Ora o nº de atendimentos por médico nesse período é muito pequeno (tipo: «100 médicos para 35 doentes em Coimbra») pelo que não só cabe mais um como cabem muitos mais e por essa via satisfazemos os médicos (ninguém gosta de sentir que não está a ser útil e de estar muito tempo sem nada para fazer) e os doentes que precisam mesmo de atendimento urgente. O que deve perceber é que ter tempo de espera em SU elevado para atendimento inapropriado é não só normal como desejável: dado que é quase gratuito é das poucas estratégias que se pode usar para o desencorajar agora (e deve sê-lo) e para evitar a indução de procura futura (que o aumento de oferta no SU geraria).
COSME ÉTHICO

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13 Comments:

Blogger naoseiquenome usar said...

Este comentário foi removido pelo autor.

11:44 da tarde  
Blogger naoseiquenome usar said...

(sorry. podemos ter muitas opiniões sobre o assunto. Mas é impossível, cometar ou sequer ler o ininteligível. Que se passa?)

11:45 da tarde  
Blogger saudepe said...

Já tinha notado as suas dificuldades.

Que tal umas aulinhas de alfabetização?

Nunca é tarde para aprender

12:08 da manhã  
Blogger naoseiquenome usar said...

Como nunca será tarde par ser humilde.
Obrigada pelas aulas disponibilizadas.
Deixe o seu contacto s.f.f.

No meu computador, talvez por ser info-naba, não se lê o que está escrito.


Boa noite.

12:18 da manhã  
Blogger saudepe said...

Mete-se ao barulho...
Depois amua.

9:09 da manhã  
Blogger laginha said...

Uma longa 'apologia' da política de CC do 'cosme ethico'.
Podia também ter referido que essas intenções muito nobres de CC já haviam sido tentadas por outros ministros da Saúde (Luís Filipe Pereira, Maria de Belém). A ideia de que o tempo de espera é uma estratégia dissuadora (tipo moderadora) é, no mínimo, terceiro mundista e criminosa. Não admira que seja melhor manter-se anónimo.

Relativamente às intenções 'economicistas' de CC. É impossível não o acusarmos de tal agora, uma vez que este blogue acusou Luís Filipe Pereira do mesmo quando este tentou implementar exactamente as mesmas medidas. Mas a verdadeira poupança estará na capacidade de acabar com o abuso das horas extraordinárias da malta nos SU e SAP.
Se assim não for, caro CC: mais vale estar quieto pois a emenda vai ser, para a população, muito pior que o actual soneto que, conforme 'cosme ethico' descreveu bem, é vergonhoso para um país e uma geração de médicos, enfermeiros e administradores hospitalares que estava nos seus 20 anos de idade por volta de 1980. Ninguém que frequente este blogue, claro.

9:47 da manhã  
Blogger saudepe said...

A ideia de que o tempo de espera é uma estratégia dissuadora (tipo moderadora) é, no mínimo, terceiro mundista e criminosa.

Afirmações deste calibre não merecem qualquer perda de tempo.
Os aprioristicos campeiam inebriados pelo SaudeSA.
Não há pachorra.

1:22 da tarde  
Blogger COSME ETHICO said...

O comentário do laginha insere-se na corrente de intervenientes que fazem da maledicência, da tentativa de colagem a terceiros e das acusações gratuitas e infundadas o seu modo de estar no blogue, pretendo assim combater as ideias que lhes não agradam e desvalorizar o blogue minimizando o seu impacto.

Friso vários aspectos de como, capciosamente, defende o status quo e desvaloriza o relatório da Comissão:

a) Escondendo as consequências negativas para o SNS

- Os "bancos" são terceiro-mundistas, nos países civilizados a urgência/emergência está organizada e há, consequentemente, resposta á altura na CE, no BO e nos meios de diagnóstico. Não se condenam os doentes não urgentes a:
i) Atendimento de "banco" (confuso, despersonalizado, sem qualidade e tempo de resposta) e organiza-se resposta eficaz aos casos verdadeiramente urgentes;

ii) A recurso indesejado ao sector privado por lista de espera elevada na CE eoperações (também pagamentos excessivos do SNS por insuficiência de produção programada);

- Nos "bancos" faz-se má medicina (vide tarefeiros e empresas de "aluguer de médicos") em circunstâncias que propiciam o erro, não permitem segurança no trabalho nem o desenvolvimento profissional e pessoal a que os médicos têm direito;

- Os "bancos" são soluções caras e más que geram escassez artificial de profissionais de saúde e facilitam a indisciplina e consumismos de alguns doentes.

b) Associando outros MS à implementação das USF. LFP nada fez pelos CP (apenas bloqueou as reformas iniciadas por M. Belém) - Manuela Arcanjo zero fez também pleos cuidados primários.

O laginha limita-se á peçonha lançando acusações e rótulos (economicista, terceiro mundista, criminoso, vergonhoso) o que denota ausência de nível intelectual, que o poderia levar, por exemplo, a apresentar uma ideia ou a fundamentar uma crítica que fosse.

Este tipo de comentário merece não a devolução dos epítetos (seria colocarmo-nos ao seu nível) mas o desprezo por quem só sabe dizer mal, rotular e acusar gratuitamente. Poluição e ruído, apenas.

1:26 da tarde  
Blogger laginha said...

Blguer, cosme ethico,
A seguinte afirmação é sua: "...O que deve perceber é que ter tempo de espera em SU elevado para atendimento inapropriado é não só normal como desejável: dado que é quase gratuito é das poucas estratégias que se pode usar para o desencorajar..." o meu comentário está fundamentado nas suas próprias palavras.

Maldicência, neste blogue, ultimamente, temos visto alguma, sobretudo, a do saudepe (da clara e do hospitalepe). Mas eu não disse mal de ninguém. Não é o meu estilo. No resto estou de acordo com o cosme ethico. Ele é que deve ter lido mal o meu comentário.

Aprioristico, parece ser o saudepe que teima, todos os dias, em nos tentar convencer que CC está a ter sucesso nas reformas a que se propôs. É evdente para todo o país que não. E estão a tornar-se evidentes os sintomas do insucesso da reforma dos CSP (a sua 1ª prioridade de apenas três). è evidente para todos nós que andamos no terreno, menos para alguns bloguers deste blogue.

LFP nada fez pelos CsP porque o Sr. Presidente deste espaço Republicano, o dr Jorge Sampaio, (aconselhado pelo medíocre Jorge Simões, que mais tarde teria os prémios de agradecimento de CC), não deixou!!! Não deixou.

Ou seja, Sampaio boicotou a reforma dos CSP com a exigência de uma Entidade Reguladora da Saúde e atrasou, propositadamente, o processo por mais de um ano. Afinal, agora já não é preciso ERS para acompanhar a reforma dos CSP???
Lembro também que o Regime Remunerátorio Experimental sobreviveu até hoje graças à postura construtiva de apoio de LFP. Escuso dizer que, se LFP tivesse alterado ou parado o RRE, CC não teria, quando chegou pela 2ª vez, a base essencial e a experiência de sucesso da verdadeira reforma dos CSP que está a 'vender' á malta. Sim, porque o RRE é que é a reforma dos CSP! As USF são apenas uma diversão que ainda vai dar muito ruído.

A Dr.a Maria de Belém, porventura a melhor ministra da Saúde de sempre, viu algumas das suas boas ideias aodptadas por LFP e por CC. Mas também viu muitas boas ideias abandonadas e boicotadas pelos dois. Vejam lá e discutam a subversão que está a acontecer aos conceitos de Unidade Local de Saúde (ULS) e de Sistema de Local de Saúde (SLS). Leiam atentamente a lógica com que está a ser criada a Unidade Local de Saúde do Alto Alentejo.
um Abraço!

3:42 da tarde  
Blogger saudepe said...

A Senhora Laginha, diz que não diz mal de ninguém
»Mas eu não disse mal de ninguém. Não é o meu estilo.»

«Para que é que o PKM perde tempo a dar pérolas a... porquinhas...»

Ele é lá agora ...

«LFP nada fez pelos CsP porque o Sr. Presidente deste espaço Republicano, o dr Jorge Sampaio, (aconselhado pelo medíocre Jorge Simões, que mais tarde teria os prémios de agradecimento de CC), não deixou!!! Não deixou»

Minha senhora, poupe-nos a análises deste tipo...
Histórias da carochinha.

4:55 da tarde  
Blogger laginha said...

Saudepe, ok todos temos pequenos exageros. Peço desculpa.
Retiro os pequenos comentários às pessoas. Mas não retiro a minha análise.

5:13 da tarde  
Blogger Coleguinha said...

laginha e saudepe, façam lá as pazes, vá. No fundo ,o interesse do blogue é a diversidade de ideias. E a verdade é que todos gostavamos que isto estivesse a correr bem uma vez que, julgo eu, somo todos profissionais do sector. Com os atrasos e boicotes ninguém ganha nada. Só os politicos. Mas esses não me parece que participem neste site.

O texto do cosme ethico tem ideias muito interessantes que, infelizmente, CC não tem conseguido apresentar ao país.
Mas, já agora, a questão da laginha também faz sentido: "Afinal, agora já não é preciso ERS para acompanhar a reforma dos CSP?" Ou é uma pergunta que vai ficar sem resposta. Xavier? Semmisericórdia? e-pá? saudepe?

5:23 da tarde  
Blogger Folclore said...

pREFIRO NEM ACREDITAR!

12:43 da manhã  

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