Até que enfim!
Alguma coisa de bom teria de haver na política social deste Governo.
Uma boa articulação (parceria) entre Min. da Saúde e o Min. do Trabalho e Solidariedade Social permitiu começar a enfrentar, com êxito, a “questão social” das pessoas idosas, numa sociedade, neste momento, em acelerado processo de mudança.
De facto, significativas alterações demográficas verificadas – 16.45% dos portugueses têm mais de 65 anos (Censo de 2001) – condicionam desde há mais de uam dezena de anos, em termos sociais e de actualidade, a sociedade portuguesa.
Nasceu daí a imperiosa necessidade de cuidar – diria, “bem cuidar” - deste grupo etário (> 65 anos) que, socialmente, se apresentava, cada vez mais “desprotegido” e fragilizado, por:
- alterações na estrutura familiar,
- modificações da dinâmica económica;
- um mercado de trabalho cada vez mais exigente (para a população activa).
A "questão social" é complementada, por outras circunstâncias:
- degradação das relações sociais (dificuldades na inserção comunitária);
- alta incidência de doenças crónicas (incapacitantes);
- elevadas necessidades de cuidados por terceiros (dependência);
- baixos rendimentos;
- deficientes condições domiciliárias;
- isolamento & solidão;
- etc.
Necessidades que, em boa hora, foram entendidas pelo Governo que criou a “Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados”.
Este primeiro ano de actividade, embora em fase de experiência piloto, mostrou uma boa capacidade de organização, uma estrutura descentralizada funcional, uma boa coordenação e uma efectiva liderança.
Neste importante sector da política social, o Governo, através do MS, do MT e SS, e a Dr.ª Mª. Inês Guerreiro (Coordenadora da Unidade de Missão), estão de parabéns!
É, acima de tudo, reconfortante, para um trabalhador da saúde, ver políticas sociais serem bem implementadas no terreno.
Penso que, devendo elogiar o que de bom se faz, tal atitude não nos isenta de dar, no melhor espírito construtivo, 3 curtas achegas.
1. Como todos sabemos a rede denomina-se, e bem, “Rede Nacional de Cuidados Continuados de Saúde a Idosos e Dependentes”. Se olharmos para os resultados do 1º ano de implementação das experiências piloto, verificamos que a amostragem dos “dependentes” é proporcionalmente muito discreta em relação ao grupo dos “idosos”;
2. Por outro lado, se considerarmos os cuidados prestados até aos 50 anos (serão os dependentes “não-idosos”) verificamos que a Rede só integrou 8.2% (15-30 A - 2,5% + 30-50 A – 5,7%). Este será um vector a desenvolver – a cuidar - no trabalho futuro da Rede. Desconheço se está feito o “levantamento” da vastidão das “outras dependências” - para além dos idosos – cuja resposta passe pela implementação de cuidados preventivos, curativos, de reabilitação, em instituições e/ou no domicílio;
3. Finalmente, as condições futuras do modelo português ao entrar em “velocidade de cruzeiro”. Actualmente, o modelo português, no que diz respeito a instituições, assenta essencialmente nos cuidados prestados por serviços públicos e pelo sector “não-lucrativo” (IPSS’s). No futuro, o Governo, decorrente do natural desenvolvimento e expansão desta Rede (…a procura deverá disparar), vai ser confrontado, a exemplo de outros Países europeus, com a necessidade (ou não) de ponderar outros envolvimentos e o seu peso relativo na Rede Nacional de Cuidados, nomeadamente, o sector privado (lucrativo). O MS e o MTeSS deverão, desde já, preparar previsões e respostas para novos cenários do desenvolvimento e questões de sustentabilidade da Rede (estão previstos para 2016 cerca de: 40 a 50 mil utilizadores!).
A criança nasceu sã e escorreita. É nosso dever ajudá-la a crescer.
É-Pá
5 Comments:
No "Mais Saúde" a propósito do doente em estado de coma há dez anos no hospital do Barreiro, ouvi a dr.ªInês Guerreiro dizer que o mesmo havia sido transfrido para o hospital do Mar na zona da expo.
É o mesmo que transferir os moradores de um prédio acabado de ruir para o hotel Ritz.
Não será demasiado cedo para embandeirarmos em arco?
Quem não sabe é como quem não vê!!!
Uma leitura atenta do despacho 17.516/2006 permitiria perceber que já em 2006 e para a vigência das experiências piloto se contrataram camas privadas, Hospital do Mar, 60 camas de convalescença e 5 camas de cuidados paliativos.
A Rede não discrimina os parceiros a contratar, privados ou privados sociais, estabelece é regras claras, explicitadas, públicas, acessiveis (estão na net), no que se refere a condições físicas, recursos humanos, indicadores de processo, actividade e de qualidade, estabelece preços (Portaria n.º 994/2006, de 19 de Setembro) e quem quiser apresenta a sua disponibilidade para contratar.
Parece que no Barreiro o "pessoal" andava distraído, se calhar até nunca tinham ouvido falar em cuidados continuados, enfim a "malta dos hospitais" não liga a essas coisas.
Tem razão o Avicena.
A arrogância hospitalocentrista tem destas coisas.
Isto dos cuidados continuados existe mesmo, foi criado algo de novo, ou existe só para os jornais?
Alguém me dá dados concretos, lugares concretos?
Jorge
A rede existe mesmo, leia o despacho 17.516/2006 acessível nalgumas das páginas das ARS ou da Unidade de Missão para os Cuidados Continuados Integrados, diário da república, 2.ª série, n.166 de 26 de Agosto 2006.
Enviar um comentário
<< Home