Ensino Médico
(...) Começam a ser conhecidos, dia a dia, mais e mais casos de médicos que abandonam o sector público para se dedicarem exclusivamente ao sector privado. Muitos deles são os melhores professores de outros médicos. Primam pela excelência e partilham o seu saber de forma gratuita.
Dou o meu caso pessoal: entrei muito recentemente para o internato de especialidade e o meu orientador fala-me diariamente da séria possibilidade de se demitir do serviço, de pedir licença sem vencimento ou de se reformar antecipadamente. Se ele abandonar a minha formação, terei de arranjar um novo orientador. Se a esse novo suceder o mesmo, terei de arranjar outro, e assim sucessivamente. (Abstenho-me de explorar aqui um previsível decréscimo da capacidade científica e pedagógica de orientador para orientador, uma vez que normalmente são os melhores os escolhidos para orientar estágios.) Que qualidade tem um ensino médico desta natureza? Um ensino descontinuado, fracturado, avulso, como a própria política que está na sua causa. Que médicos serão o subproduto desta política?
Há umas semanas, o prof. António Caeiro, e como foi reiterado há dias por Eduardo do Prado Coelho, anunciava o "fim da Filosofia", que podemos agradecer à sra. ministra da Educação. Será que hoje se pode anunciar o "fim da Medicina", agradecendo ao sr. ministro da Saúde? Serão estas bandeiras dramáticas os legados do Governo actual?
Alexandre Camões, correio do leitor, JP 30.04.07
Dou o meu caso pessoal: entrei muito recentemente para o internato de especialidade e o meu orientador fala-me diariamente da séria possibilidade de se demitir do serviço, de pedir licença sem vencimento ou de se reformar antecipadamente. Se ele abandonar a minha formação, terei de arranjar um novo orientador. Se a esse novo suceder o mesmo, terei de arranjar outro, e assim sucessivamente. (Abstenho-me de explorar aqui um previsível decréscimo da capacidade científica e pedagógica de orientador para orientador, uma vez que normalmente são os melhores os escolhidos para orientar estágios.) Que qualidade tem um ensino médico desta natureza? Um ensino descontinuado, fracturado, avulso, como a própria política que está na sua causa. Que médicos serão o subproduto desta política?
Há umas semanas, o prof. António Caeiro, e como foi reiterado há dias por Eduardo do Prado Coelho, anunciava o "fim da Filosofia", que podemos agradecer à sra. ministra da Educação. Será que hoje se pode anunciar o "fim da Medicina", agradecendo ao sr. ministro da Saúde? Serão estas bandeiras dramáticas os legados do Governo actual?
Alexandre Camões, correio do leitor, JP 30.04.07
2 Comments:
Se não fossem concedidas licenças sem vencimento de 10 anos - 10! - haveriam tantos médicos a abandonar o sector público?
A formação pós-graduada, ou concretizando, o internato complementar das diferentes especialidades médicas, é um dos problemas que se entroncam na transição dos HH'S SPA em EPE's.
Ou melhor, começaram com os HH's SA.
Portanto, excedem (ou precedem) as recentes "movimentações" de médicos do sector público para o privado. Têm uma origem mais remota.
A formação no interior de empresas interfere ("perturba") um princípio fundamental da gestão dessas unidades: a produtividade assistencial.
O adestramento dos formandos às especificidades técnico-científicas da valência, "lentifica" o desempenho assistencial do formador.
A preparação ao nível do conhecimento "consome", também, tempo ao formando e ao formador.
Isto significa que se estas circunstâncias não forem devidamente pesadas e consideradas interferem com os níveis produtividade dos profissionais envolvidos na formação.
Daí a não apetência dos "HH's empresa" por esta área. Preferem recrutar especialistas "prêt à porter".
Há contudo o reverso desta medalha, nomeadamente, no que se refere à utilização dos formandos na prestação de urgências, permanência interna, etc. Trata-se, como se diz no mercado, da utilização de mão de obra barata...muitas vezes desviando-os do programa de formação.
Finalmente, a inevitável preversão de todo o sistema , decorrente do contexto anterior: a diminuição da qualidade e a sobre-utilização dos formandos para tarefas fora do programa curricular.
Estes são aspectos práticos que considero "não resolvidos" na actual situação e no actual contexto dos HH's. A abertura de grandes HH's privados, não está no cerne do problema, todavia, agudiza esta situação, como se refere (e bem), no post.
Há contudo uma outra vertente, mais importante, que tem a ver com a "regulação" da formação. Esta, diz respeito à OM, nomeadamente, aos Colégios das Especialidades e, como é obvio, à CNIM.
Mas isto é outro assunto, mais vasto, mais complexo. Indissociável do futuro da Medicina, no nosso País, num aspecto fulcral - da qualidade dos cuidados e da competência profissional.
Como podemos ver "mexe" com muitas coisas... e abre um amplo campo de reflexão.
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