Liberalização das Farmácias (4)
Além da Recomendação da Autoridade da Concorrência, o Governo analisou as recentes tomadas de posição da Comissão Europeia sobre o sector das farmácias em Itália, Áustria e Espanha, com fundamento na incompatibilidade das normas de direito farmacêutico nacional com as regras da liberdade de estabelecimento e de livre circulação de capitais.
A Comissão Europeia pretende que os países alterem as suas regras nacionais, designadamente a legislação que só permite que sejam proprietários de farmácias de oficina licenciados em farmácia e sociedades compostas exclusivamente por farmacêuticos e até as disposições legislativas que impedem que as empresas de distribuição de produtos farmacêuticos adquiram participações nas sociedades que gerem farmácias comunitárias. Aliás, a Comissão Europeia já intentou uma acção com este objecto contra a República Italiana.
Portugal, enquanto Estado-Membro da União Europeia, está obrigado a respeitar as normas do Tratado que instituiu a Comunidade Europeia.
Não ignoramos o direito de estabelecimento, nem a livre circulação de capitais entre Estados-Membros e entre Estados-Membros e países terceiros, e compreendemos a posição da Comissão Europeia, pelo que pretendemos, na medida do possível, alterar a legislação nacional de modo a respeitar os ditames comunitários, antes de por eles sermos penalizados.
A limitação da propriedade da farmácia a farmacêuticos não podia manter-se. Não só porque à qualidade da farmácia é indiferente a qualificação profissional do seu proprietário, mas também porque as instituições europeias, cedo ou tarde, a tal nos obrigariam.
Sabemos ser esta uma matéria não consensual, e reconhecemos o esforço feito pela ANF para subscrever a posição do Governo, expressa aliás, no “Compromisso com a Saúde”, assinado em Maio do ano passado. É um compromisso equilibrado como todos os compromissos e virado para a saúde dos cidadãos. Pela nossa parte, estamos a cumpri-lo ponto por ponto.
O novo regime jurídico das farmácias de oficina está a um passo de ser aprovado. Após um processo de produção legislativa altamente participado, em que, tanto a Ordem como a ANF tiveram ocasião de exprimir os seus pontos de vista, do que resultou um aperfeiçoamento da proposta, foi esta submetida ao Parlamento, como pedido de autorização legislativa. A Assembleia da República já votou favoravelmente a Proposta de Lei de Autorização Legislativa ao Governo a qual permitirá alterar as actuais regras de propriedade, fixar o limite máximo de quatro farmácias por proprietário, estabelecer o regime de incompatibilidades, fixar o mínimo de cinco anos, após a abertura, para a farmácia ser cedida, revogar dois diplomas legais, eliminar ilícitos criminais e fixar os montantes máximos das coimas correspondentes aos ilícitos de mera ordenação social. E a votação final, na semana passada, teve apenas os votos contra de um único partido, curiosamente num dos extremos do arco parlamentar.
Discurso de João Cordeiro
(…) A pergunta que faço é se não deveria o próprio Estado ter orgulho por ver um pequeno sector desenvolver-se desta forma, após uma revolução traumática para o País e quando, ao fim de trinta anos, depois do consumo de recursos financeiros quase inesgotáveis, internos e externos, se vê a braços com dificuldades incomensuráveis de ordem económica e social. LINK
A pergunta que faço é se não deveria o Ministério da Saúde tentar preservar, a todo custo, aquilo que de positivo ainda existe, no caso das farmácias um sector ainda na mão de cidadãos portugueses, o que é hoje uma coisa rara em Portugal.
O diálogo não existe.
Assinámos, é certo, o Compromisso com a Saúde, mas lembro que a sua negociação foi promovida e assumida directamente pelo Sr. Primeiro-Ministro, sem empenhamento aparente do Sr. Ministro da Saúde.
Desculpar-me-á, Sr. Ministro, se estou a ser injusto neste particular aspecto, mas é esta a minha profunda convicção. (...)
Discurso de encerramento de JC, 8.ª Conferência Nacional das Farmácias, 19.10.06
5 Comments:
(Desculpe: ainda não chega de "farmácis/Lutas/ ANF/MS"?)
O certo é que a liberalização da propriedade das farmácias vai mesmo para a frente.
Não vemos que esta medida possa ter repercussões na redução do preço dos medicamentos.
Vamos ver se não vamos ter redução da qualidade dos serviços prestados.
Vingou o parecer da AdC.
a mim, parece-me que mal começou...
É extremamente significativo, na nossa gíria política e social, o uso (e abuso) da palavra (e do conceito) "liberalização".
O caso vertante das farmácias é, essencialmente, uma questão de Direito e, como todos vemos, a regularização do acesso à propriedade, comparativamente com outros bens patrimoniais.
Trata-se de acabar com um regime de excepção, carregado de condicionantes, em nome de uma mistificação da eficácia, ligando-a, primordialmente, à posse patrimonial.
Estabeleceu-se um "feudo" que privilegia uma área comercial, enfatizando-se o interesse público, e explorando-se as particularidades do campo social da Saúde. Isto é, estabeleceu-se uma estreita relação de dependência entre direitos, seus titulares e a
apropriação das coisas. Uma "apropriação perfeita", no entender da ANF, porque estrategicamente condicionada.
Aos farmacêuticos responsáveis pelas farmácias caberá, como o projecto de Lei consagra, o "direito de gerir" e deverá ser por esse caminho que se deve assegurar a eficiência da sua prestação social e o decorrente interesse público.
O "direito ao rendimento", não é correlacionável com a prestação social e, por justiça, deixará de ser condicionado. Ele não pode ser ligado à eficiência, fora de um âmbito mercantilista.
Quando se fala repetidamente e acintosamente em "liberalização das farmácias" pretende-se assim inquinar a polémica (não o escamoteemos) que se levantou sobre a propriedade das farmácias.
Todos conhecemos as devastadoras consequências das "liberalizações" no sector social.
Foi por isso que JC e a ANF deslocaram o problema para essa área. Pretendem contaminar a questão. Falsamente, porque todos nos recordamos da posição de JC quando Ferro Rodrigues anunciou as "farmácias sociais". Nessa altura, JC evocou as leis do mercado e da concorrência.
Agora, tem-nas à perna. Não tem de se queixar.
Mais, foi (vai continuar a ser) beneficiado com o reclamado "compromisso com a saúde". Sejamos perspicazes, com a participação de CC e/ou a benção de Sócrates, o "compromisso" é uma prebenda para as farmácias.
Toda esta polémica não tem razão de ser.
A liberalização que poderia marcar e fazer doer era a da instalação.
Tudo o resto é cantiga.
Se o regime fosse como o de Espanha abriam 2.000 farmacias !!!
Porque não abrem???
Enviar um comentário
<< Home