SNS, que futuro? (3)
DN, PR,inauguração Hospital da Luz.
Não tenho qualquer dúvida de que a data da abertura do Hospital da Luz (HL) foi um tiro certeiro: na proximidade do 25 de Abril – a saúde é uma das traves mestras e um desafio de qualquer democracia e, dizem eles, o HL é para todos! –, “just in time” para acolher o Eusébio – ao qual seguramente não será apresentada conta para pagar, o que pergunto é se lhe oferecem um cartão de livre acesso! –, e até em vésperas do derby que mobiliza todas as atenções para aquela banda. Além disso, o HL também concitou o interesse dos comentadores do Saudesa, mesmo quando afirmam que importante não é o HL mas o que indicia, em termos de ameaça para o SNS.
1. Tivemos assim a oportunidade de aceder às considerações do É-Pá (LINK), (LINK) “fáceis de entender” para a Nãoseiquenomeusar mas difíceis para mim, no que à sua conexão e consistência global diz respeito – que ambos me desculpem! –, registámos as informações do Avicena, num Post magnífico, Saúde, Mercado Privado, evidenciando o peso dos Privados no Mercado da Saúde e sobre o posicionamento específico assumido pelas Seguradoras, claramente se concluindo que o seguro alternativo não é solução, a menos que se verifique uma profunda inflexão no seu posicionamento. Ouvi também o lamento do João Pedro: “a abertura do Hospital da Luz em relação à prestação de cuidados de saúde no nosso país é efectivamente um marco, pois daqui em diante nada será como dantes”.
2. É, fora de dúvida, oportuna a reflexão proposta pelo É-Pá sobre o futuro do SNS. Já o era antes do HL. Mas, a meu ver, só valerá a pena retomá-la se, sem subterfúgios e sem corporativismos, ela incidir sobre as verdadeiras causas que têm afectado negativamente a performance do SNS, deixando subsistir, a seu lado, a medicina privada mais cara da EU, apesar de essa performance ser notável no contexto em que se desenvolveu. Para isso, é fundamental afastar alguns equívocos.
3. Os primeiros equívocos andam à volta do problema da sustentabilidade económica e financeira do SNS. São dois, embora interligados:
- um é tão elementar que me falta à vontade para o referir. E, no entanto, transparece de quando em quando, mesmo no Saudesa. Consiste em considerar que, assim se queira, será sempre possível aumentar os recursos que o O.E. afecta à saúde. Dito de outro modo, é a tendência de ignorar que: i) há limites para a carga fiscal a suportar pelos contribuintes e ii) que outras áreas concorrem com a saúde pela afectação dos recursos existentes;
- o outro corresponde a não distinguir o curto/médio prazo e o longo prazo. A sustentabilidade no curto prazo – parece que o equilíbrio orçamental foi conseguido em 2006 – não significa que esteja garantida para o longo prazo, se as despesas com a saúde mantiverem, como é de prever, a tendência de crescer mais aceleradamente do que o PIB. Uma e outra exigem, naturalmente, medidas diferentes.
4. Outro equívoco está em considerar que o deficit de qualidade do SNS, nos casos em que ele existe, só é superável através de mais recursos. O HL – cuja qualidade, fartamente reclamada, só pode presumir-se, porque não exige apenas, nem principalmente, instalações e equipamentos e porque lhe falta demonstrá-la – terá preços concorrenciais com o SNS, se é verdade o que foi afirmado, e, obviamente, destina-se a remunerar o capital investido e a dar lucro. Se o exemplo não chega, nos HH a construir em regime de PPP, que, para os concorrentes, também visam o lucro, os preços a pagar pelo Estado ao adjudicatário são limitados pelo preço público comparável (para quem não saiba: o custo total que o Estado suportaria se construísse, equipasse e assumisse o funcionamento do Hospital) e os concorrentes não só se conformaram com esse limite como ofereceram preços significativamente mais baixos (p. ex., no caso do H de Braga, com preço inferior àquele limite em mais de 25%, tal como foi divulgado). Com sacrifício da qualidade exigível? Só o diria quem, como depreendo ser o caso dos que rejeitam liminarmente o recurso a HH públicos em PPP, não tivesse lido as mais de 1.800 páginas do caderno de encargos, carregadas de exigências, de condicionamentos para os concorrentes, de inspecções e de vigilância e auditoria permanente ao funcionamento dos HH.
5. Verdadeiro equívoco é também a convicção, que muitos ainda partilham, de que o SNS e os HH vivem com falta de recursos, chegando mesmo a ser invocada como justificação de pedidos de demissão. O referido no ponto precedente e, sobretudo, o confronto com a situação nos restantes países, designadamente da EU (o nosso PIB anda próximo dos 70% da média da EU, não do seu pelotão da frente, mas afectamos à saúde 10,1 % do PIB, o que, para este efeito, nos coloca no pelotão da frente), demonstram que o que existe é esbanjamento de recursos e o que nos falta, nos vários níveis, é capacidade para extrair deles os resultados esperáveis. São precisos exemplos? Vejamos apenas dois, ambos na importante área do medicamento:
- A margem atribuída às Farmácias (actualmente, 18,5% do preço de venda ao público) é largamente suportada pelo SNS e permitiu-lhes, em 2003 e em média, um resultado líquido de 85 mil euros, o que representou uma taxa de rentabilidade de 6,8% contra 1,2% das pequenas e médias empresas de distribuição. A desproporção será actualmente só um pouco menor. Não obstante, o MS mostra-se satisfeito (ou só resignado?) com este patamar (Ver Post Liberalização das Farmácias (4) , de 26.04.2007);
- Por outro lado, o investimento em marketing da IF em Portugal é proporcionalmente muito mais elevado do que nos USA. Todos se recordam ainda de um congresso realizado na Índia que quase deixou o país sem oftalmologistas durante uma semana ou de outro, nas Caraíbas, este para clínicos gerais portugueses, ambos patrocinados pela IF que, naturalmente, repercute os seus custos até aos impostos que pagamos. Não sei nem tenho informação para avaliar as margens da IF nos preços que propõe ao M.S. para os medicamentos a introduzir no mercado. O que o Relatório para a AdC sobre as Farmácias nos diz é que, entre os países estudados, o nosso é o que mais gasta em medicamentos. Não será descabido admitir que parte é responsabilidade da IF.
6. Em conexão com o ponto precedente, somos pobres em planeamento, ziguezagueantes na definição estratégica, quando alguma existe, e verdadeiramente incipientes na fixação de objectivos e na avaliação dos resultados e das performances, tudo à boa maneira da função pública cujos pontos fracos sempre fizemos questão de transportar, e de generalizar a todos os grupos profissionais na área da saúde, mesmo aos que não tinham essa tradição; tudo ao invés do que a escassez de recursos recomendaria, pois deve gastar-se melhor quando os recursos escasseiam e se, até agora, não é da escassez de recursos que mais podemos queixar-nos, essa perspectiva é real quando equacionamos o longo prazo.
7. Neste ponto, a questão que se põe é a de que fazer para retardar ou vencer a ameaça à sustentabilidade do SNS ou, se preferirmos, como evitar que o SNS se descaracterize e deixe de ser universal, geral e tendencialmente gratuito. Na minha convicção há uma outra pergunta que faz parte da resposta à primeira:
8. Em vez de considerarmos o HL uma ameaça, por que não haveremos de considerá-lo um desafio? Digo o HL porque não há ainda os HH públicos PPP. Sabemos que a sua aposta passa pela afirmação da qualidade, pela diversificação e pela rentabilização dos recursos, entre os quais os recursos humanos são inquestionavelmente os mais importantes, a começar pelos médicos. Quem sabe se dessa análise não retiramos força e convicção para reformas que podem ser drásticas mas que são verdadeiramente condicionantes de um futuro melhor para o SNS?
Etiquetas: Aidenós
25 Comments:
Meu Caro,
Se continua a comparar a margem bruta das Farmácias com a das pequenas empresas de distribuição porque o faz num blogue de saúde? Faça-o num blogue de merceeiros!
Caro aidenós:
Em comentário anterior "acopulei" duas perguntas, que considerei ser importante equacioná-las conjuntamente.
Uma vez que não consigo por um Link, volto a transcrevê-las:
"Como será possível, neste contexto, defender o SNS, enquanto um dos pilares sociais do Estado?.
- Bastará bradar pela boa gestão de recursos (técnicos e humanos), pelo aumento da produtividade, pelo combate ao desperdício, racionalização dos custos, eficiência da resposta,…
- Ou, será necessário também (mais e melhor) investimento, apostar em modernas tecnologias (modernizar), avaliar continuamente a qualidade, educar (para a saúde) e informar os utentes, aplicar-se na prevenção, criar incentivos, responsabilizar os profissionais de saúde (tratá-los como actores e parceiros na consolidação do SNS),?
O actual post, em minha opinião, enfatiza uma visão retricta da questão (futuro do SNS) centrando-se sobre a primeira questão.
Todavia, quando se abre o dito "mercado da saúde" - o HL é uma parte da expressão visível que funcionou como pretexto - o SNS não pode ser uma caixa de Pandora, donde libertamos e exorcisamos todos os males das gestões, das estratégias e dos desempenhos e, no fundo da caixa, a almejada esperança, desapareceu.
Essa esperança, é a força motora e traduz a capacidade dos serviços públicos manterem-se vivos e actuantes, passando - na minha leitura - por um indispensável (maior e melhor) investimento. Porque, quando entramos em domínios de "mercado", se não investirmos, ficamos debilitados,...doentes.
Em minha opinião não basta gerir bem o que há.
Embora haja em Portugal elevados e inadequados consumos de antibióticos não se pode propôr tratar uma pneumonia com antipiréticos.
Caríssimo, o seu texto, como as cerejeiras em bom ano, está carregado de cerejas que são pitéus para exercícios mentais sobre saúde. Felicit-o por isso. Porém, deixe que lhe diga: não se impressione com os cadernos de encargos, deveres e obrigações, inspecções e auditorias a esses tais hospitais. É mais para tecnocrata ver. É como aquelas expressões jornalísticas de que a polícia, os inspectores ou os cientistas vão passar a coisa a pente fino. É tudo a fingir, garanto-lhe.
No que respeita ao medicamento, há muito a fazer para conseguir uma correcta utilização do ponto de vista terapêutico e consequente redução de gastos.
No campo da prescrição de medicamentos continua-se a praticar as maiores barbaridades.
Longe de «propôr tratar pneumonias com antipiréticos», pede-se apenas que a prescrição se faça segundo critérios clínicos cientificamente adequados (guidelines, protocolos terapêuticos), sob pena de continuarmos a aparecer nas revistas científicas da especialidade como um país de parolos que prescreve antibióticos de primeira linha no lugar de penicilinas.
«In all but one country (Portugal) we recorded noseasonal variation of ciprofloxacin use (data not shown), suggesting that this drug was used mainly for treatment of urinary tract infections. Fluctuations in prescriptions for ciprofloxacin in Portugal are consistent with it being given as a treatment for adults with winter seasonal infections, especially those of the respiratory tract. Ciprofloxacin has little activity against streptococci, and the general belief is that this drug should not be used for treatment of patients with respiratory tract infections. We suggest that a low seasonal fluctuation of the early fluoroquinolones, such as ciprofloxacin, is a good marker of restrained use. Levofloxacin and moxifloxacin have better activities against pneumococci than do the early agents,17 and their introduction in Europe was generally very successful in countries with high antibiotic use and resistance rates. When sounding the alarm about the problem of rising antibiotic resistance, we could be inadvertently promoting inappropriate use of these new quinolones. This inappropriate use will inevitably lead to emergence of not only resistant pneumococci, but also of a host of resistant gramnegative organisms.»
Outpatient antibiotic use in Europe and association with
resistance: a cross-national database study
Herman Goossens, Matus Ferech, Robert Vander Stichele, Monique Elseviers, for the ESAC Project Group*
Thelancet.com Vol 365 February 12, 2005
Resta ao SNS aceitar o dasafio lançado pelas novas iniciaticas (HdL e PPP) e tentar fazer melhor.
Obtenção de ganhos de eficiência e inovação. É essencial inovar a gestão.
Nada será como dantes.
O SNS público, ineficiente, estático tem os dias contados.
Ou se inova e ganha em eficiência ou perderá em definitivo a favor dos privados.
Caro Xavier:
A sua observação sobre a necessidade de instituir protocolos terapêuticos é absolutamente pertinente, embora possam existir dificuldades e, como em tudo na vida, resistências. Há, contudo,neste âmbito, especificidades a salvaguardar. O problema é complexo, não cabendo aqui...
As reservas que coloca em relação ao medicamento (utilização e gastos) estavam implícitas no meu comentário sob a designação de "elevados e inadequados consumos...".
Todavia, o alcance pretendido com a expressão «propôr tratar pneumonias com antipiréticos», era outro: não ficarmos a meio do caminho e continuar a "esticar" uma corda já em elevada tensão: os já habituais constrangimentos orçamentais e todo o seu circunstancial envolvimento (tipos de gestão e de organização, combate ao desperdício, etc.).
Quando ouvimos que os HH's públicos apresentaram, na generalidade, boas performances em termos de cumprimento dos objectivos contratualizados, não podemos continuar a "bater no ceguinho", sem daí sair...
Se não equacionarmos e não desenvolvermos uma boa e atempada estratégia de investimento no SNS, ficaremos para trás.
Cito, um texto de Eugénio Rosa:
"Entre 2004 e 2007, as transferências do Orçamento do Estado para o Serviço Nacional de Saúde aumentaram apenas 2,2%, enquanto o PIB, a preços correntes, cresceu 10,7%, o que determinou que a percentagem que essas despesas representam em relação ao PIB tenha diminuído de uma forma continua de 5,2% para apenas 4,8% do PIB. Durante esse período, como os preços aumentaram 8%, portanto o valor da transferência da transferência de 2007 é inferior, em termos reais, em cerca de 5,4% a de 2004."
A acreditar na análise deste economista a evolução dos custos do SNS (2004-2007) sugere significativas poupanças e parece abrir, na minha interpretação, espaço para indispensáveis (inadiáveis) investimentos, re-estruturações, re-organizações, etc. Emprestar dinâmica ao SNS, já há longo tempo, paralisado por severas contenções.
É nesse ponto que insisto: se não houver modernizações no SNS (métodos de gestão,tecnológica, nas redes de comunicação e informação) as alterações resultantes da subtil emergência de um "mercado de saúde", e entre elas, a concorrência, poderão abanar o sistema e enclausurá-lo numa confrangedora ineficiência.
A partir daí tudo pode acontecer...
Mas quem é este Peliteiro?
Algum merceeiro confundido com as contas de mercearia (sem querer despretígiar os merceeiros).
Caro Esculápio, grande sábio!:
Tenhais calma! Não generalizeis.
Se umas dessas "coisas" são a fingir, outras, não! Depende de quem as faz, infelizmente, pois a génese do problema reside nas políticas de actuação e, há quem as siga cegamente e há ou subsistem, os profissionais! ... Adiante... (olhe que se sabem disso.... :)))) ... )
Gestão.
Hospitais.
Instituições do mais complexo para gerir.
Função pública = vícios vários dificilmente ultrapassáveis.
Novos modelos de Gestão (SA's/EPE's): atendendo ao enunciado anteriormente, um factor de desmotivação em vez de de motivação;
Carreiras médicas= exigência para qualidade na Função Pública, coisa de que se prescinde na Privada :)
Avaliação= mérito efectivo para uns poucos que o merecem, mas passam as passas do "AlLgarve" para o demonstrar; mais = a muita graxa para os demais;
Prémios = veja-se ponto anterior.
Agora algumas receitas:
Necessidade absoluta no público e privado, a traduzir-se no "efeito Pigmaleão", o transformar doa (boa) expectativa em (boa) realidade.
Independentemente de fazermos as coisas bem feitas, sabendo-o, gostamos do elogio.
Reagir contra a frustração, racionalizando.
Pessoas mal dirigidas desperdiçam muita energia.
Pessoas sem formação não produzem resultados de excelência.
Tudo que merece ser feito, merece ser bem feito, para além de que não há nada que fique fazer mais barato duas vezes do que fazer bem logo à primeira.
(... pode continuar no próximo comentário :) )
Em jeito de conclusão (com suspensão do processo:) ):
Uma coisa é certa: dinheiro, equipamento, pessoas e projectos... sem linha orientadora, sem, "liderança, que não chefia", fazem muito pouco. Um exemplo claro disto, em relação ao equipamento é o que pode constatar-se diariamente nos nossos HH's que adquiriram equipamentos beeeeeeeeeeemmm caros, sem antes terem técnicos preparados para lidar com eles, nem feito as necessárias convenções. E... entretanto... tornaram-se obsoletos....
Aqui há grandes especialistas de medicamentos.
Vejam que até há um que sabe o que é a ciprofloxaxina, utilizada pelos médicos de família só para duas coisas: para tudo e para nada.
Sejam consequentes: arreiem em quem a presvreve. Também é um problema hospitalar ?
Excelente post. Se bem que partilho das apreensões do comentador Esculápio...
Caro É-Pá
E lá caímos nós na pescadinha de rabo na boca.
Este governo fez bem em começar por tentar reduzir a ineficiência do SNS. Cortar nas gorduras, nos usos e abusos do sistema.
Continuar a aumentar o investimento do SNS seria como deitar dinheiro num saco roto. No lugar de melhoria dos "out put" serviria apenas para beneficio de uns tantos (horas extraordinárias, acesso indevido às comparticipações de medicamentos, sobre utilização de MCDTS, etc, etc)
As poupanças obtidas nestes dois anos são assinaláveis mas pontuais. A estabilidade do sistema continua comprometida.
Chegou o hora de decidir medidas estruturantes.
A título de exemplo.
Na área do medicamento a poupança de 70 milhões foi basicamente obtido através da diminuição do preço, procedimento que se deve considerar esgotado. CC terá de avançar para a intervenção ao nível da prescrição e do controlo do crescimento dos consumos.
O investimento em nova tecnologia deve obedecer a critérios rigorosos (avaliação prévia por peritos).
Investimentos estruturantes estão a ser efectuados ao nível da rede de cuidados de saúde primários.
Fazer acompanhar este processo de melhoria da eficiência com investimento na inovação, será o caminho certo, para assegurar a competitividade do SNS, imprescindível para fazer frente ao sector privado da saúde emergente.
Em resumo: Prioridades para a sobrevivência/desenvolvimento do SNS:Melhoria da eficiência, investimento na inovação, o que, normalmente, é indissociável da primeira.
Tentar manter, preservar o sistema tal qual como está, será a morte do artista, trucidado pela concorrência dos privados.
Será que ainda vamos a tempo?
É esta, presentemente, a minha angústia.
Caro Xavier:
Nos meus comentários tive a pretensão (conseguida ou não?) de qualificar o que designo, grosso modo, como investimentos.
Vou-lhe dar um exemplo. A aposta na Cirurgia de Ambulatório como uma das respostas (não a resposta taxativa!) às inefáveis "listas de espera cirúrgicas". Tudo bem. Essa aposta´, em meu entender, só será produtiva e qualificada (como temos o dirieto de desejar) se houver investimento quer na formação do pessoal adstricto (há nuances em relação à cirurgia convencional) quer no equipamento, nomeadamente, nos espaços físicos (não bastará re-baptisar blocos operatórios periféricos, muitas vezes anacrónicos, como novas unidades de cirurgia de ambulatório). Tudo isto está estudado, protocolarizado, desde as características das unidades de cirurgia de ambulatório dedicadas às qualificações dos recursos humanos (não só médicos) a afectar. Não é isso que vemos e se entende quando se fala, insistentemente, em cirurgia de ambulatório.
Perpassa por vezes no ar uma sensação de leviandade quando, p. exº, se ouve falar em cirurgia de ambulatório como alternativa (ou como bónus) ao encerramento dos SAP's. No estado actual das instituições públicas não haverá unidades de cirurgia de ambulatóorio, viáveis, funcionais e produtivas, sem um investimento (que nem é dificil quantificar e qualificar). Fechar, no papel uma unidade (por inoperante ou supérfula)e transformá-la (também no papel) como unidade de CA, não é gestão de recursos, é puro ilusionismo, para uma "plateia" menos avisada.
O medicamento é um enorme problema, que repetidamente chama á colação, mas que tem de ser cuidadosamente discutido.
Existem múltiplas variantes (nomeadamente qualitativas) nas prescrições e nos respectivos custos no neio hospitalar e no emergente "mercado da saúde".
Para já, ao nível hospitalar dispomos de sistemas de gestão do circuito do medicamento, altamente fiáveis e qualificadíssimos que, inclusivé, estamos a exportar para o estrangeiro. Tendo nascido, sido desenvolvidos e aferidos nos Hospitais poderão, neste momento, estar nas mãos do sector privado.
Porque não se investiu na gestão inovadora. Porque não se considerou o trabalho de inovação uma mais valia na eficiência do sistema.
Mas o assunto dos medicamentos leva-nos longe e merece um tratamento à parte. Como compreende não dá para o "toca e foge".
Quando falo em investimentos, não estou a referir-me a retoques de fachada ou ao suporte de privilégios que derivam das perversões do sistema.
Agora, a ascética "cura de emagrecimento" aplicada ao SNS, tem dado resultados e começamos a ganhar cintura, a moldar o corpo e a ter agilidade de movimentos. Mas sabemos se não ingerirmos alimentos qualificados (investimentos) que dêm suporte aos sistemas orgânicos, acabaremos, em vez de elegantes, vítimas de uma grave anorexia. Muitos claudicam nessa situação.
Em resumo, o que defendo é manter o sistema na suas bases, nos seus fundamentos de serviço público, reformulando a sua gestão e as práticas assistenciais.
E as mudanças são como os almoços - não são de borla.
Concluindo, para sobreviver, será necessário investir o que se pode, onde se deve.
O que não podemos é, mesmo em tempo de crise orçamental, desproteger, despresar ou adiar o investimemto. Se o fizermos entramos no domínio das medidas paliativas.... o tal antipirético para a pneumonia.
Ao "Cavalinho da Chuva": sabe? ...isso é resultado da "Medicina DEfensiva".
Não é um erro médico, mas antes um erro em medicina(ou em saúde).
"A medicina defensiva é também má prática médica - nova forma de erro médico" - Rui NUnes.
Não existe um risco zero real. O risco é probabilístico.
A prepósito de seguros de saúde:
""Entre os principais problemas apontados, e que já se repetem há 10 anos, a DECO/PRO TESTE destaca a extensa lista de exclusões, a duração anual dos contratos e os períodos de carência, entre outros.""
Valerá assim apena ter um seguro de saúde ?
Caro Mário Sá Peliteiro:
Se o que pretende dizer é que há diferenças entre uma farmácia e uma pequena empresa de distribuição, tem muita razão, mas, no que me diz respeito, perdeu o seu tempo. Não me importo de repetir o que deixei no texto postado em 08.04.2007:
“considero que as actuais imposições de serviço público que impendem sobre as farmácias devem ter um preço e que daí derive a justificação de uma taxa de rentabilidade mais elevada do que a das pequenas e médias empresas retalhistas; mas deverá haver uma medida para tudo.” O que significa que sei que há uma diferença e que entendo que ela deve ser remunerada.
Certamente o Mário Sá Peliteiro não ficaria mais agradado se a comparação, (que, como sabe, não é minha, só a transcrevi) fosse feita num blogue de merceeiros. Estes talvez, mas também poderiam optar por estranhar que no seu blogue se falasse de medicamentos e de farmácias.
Transcrevi-a porque a margem me parece ser excessiva e porque na sua grande maioria é suportada pelo SNS, ou seja pelos impostos, incluindo os que eu pago. Mas tudo isto já foi dito.
Por que não prefere optar por defender e mostrar que a margem é adequada?
Caro É-Pá:
Acopulei não é nada; a copulei já pode ser alguma coisa; na sua frase é acoplei que faz sentido!
Agora a sério:
Sobre a estratégia que defende, de privilegiar o investimento, já não preciso de dizer muito depois do que foi dito de forma lapidar pelo Xavier. Investir, no contexto actual, só no âmbito de uma estratégia muito selectiva, com rentabilidade assegurada e, sempre que possível, utilizando recursos obtidos com a redução de custos ou facilmente amortizáveis através da sua previsão. Tudo o mais terá resultados negativos e servirá para alimentar os vícios do sistema e piorar as perspectivas: seria parecido com o salto do trapezista no escuro.
No 2.º Comentário, transcreve parcialmente um texto de Eugénio Rosa. Este não contraria nada do que afirmei e não vou contraditá-lo, mas apenas referir que precisa de ser lido com cuidado para prevenir equívocos. De facto, analisa apenas as transferências do OE para o SNS e, incluindo no período o ano de 2007, apenas iniciado, só pode dizer respeito às inscrições iniciais do OE. Ignora os desequilíbrios orçamentais dos anos precedentes (assumidos como dívida pública) e, pela limitação que se impôs, tinha de excluir as dotações aos restantes subsistemas (ADSE, Forças Armadas, etc.) e não faria qualquer sentido que contasse com receitas de outras proveniências como taxas moderadoras ou com a parte dos custos directamente suportados pelos utentes, quer em medicamentos quer na opção por hospitalização ou por clínica privada. Os 10,1% do PIB que afectamos à saúde totalizam tudo isto. Além disso, o equilíbrio em 2006 foi conseguido, do lado da despesa, também com medidas que dificilmente podem repetir-se nos anos seguintes (redução da margem das Farmácias, congelamento de remunerações ou actualização abaixo da taxa da inflacção, suspensão de progressão horizontal e vertical). Estas são apenas algumas das razões pelas quais a ameaça de não sustentabilidade do SNS é real e exige novas medidas.
Caro aidenóis:
Tive o cuidado de colocar o "acopulei" entre aspas. A corruptela pretendia forçar a ideia que as "enrolava" (as duas perguntas) no mesmo barco, no mesmo leito, como dois amantes que zarpam ...
Agora, algumas precisões do "meu posicionamento":
Tenho insistido no investimento por acreditar que a afectacção de recursos trará retornos futuros ( crescimento da capacidade produtiva e melhores performances) Nunca, nestas novas circunstâncias de abertura de um "mercado", para prolongar uma vida vegetativa ao SNS.
Estou de acordo com a asserção de que:
"2006 foi conseguido, do lado da despesa, também com medidas que dificilmente podem repetir-se nos anos seguintes (redução da margem das Farmácias, congelamento de remunerações ou actualização abaixo da taxa da inflacção, suspensão de progressão horizontal e vertical)". Acrescentaria, e aí diferimos, importantes medidas (saliente-se), como o combate ao desperdício, também se "esgotam" - não são um "poço sem fundo". Entendo o combate ao desperdício como um instrumento, não para "poupar", mas para adquirir ganhos de eficiência. Esses ganhos não são um fim, mas devem ser "comprometidos" no sentido de proporcionarem capacidades para efectuar o necessário "investimento para a inovação" (mantendo, em simultâneo, uma estrutura de custos, controlada, com rigor).
Num emergente "mercado", que vai submeter-se às leis da concorrência, não entendo como podemos adiar (ou, na pior das hipóteses, prescindir) uma estratégia de investimento que considero uma indispensável alavanca para o fortalecimento do SNS.
Quanto a análise da sustentabilidade do SNS, todos sabemos, e temos referido, a sua importância. Temos clamado pela necessidade (urgência) da apresentação pública do relatório da Comissão que tem estado a equacionar, estudar e, naturalmente, indiciará caminhos. A urgência deste relatório tornou-se crítica, com a já verificada inflexão estratégica do sector privado da Saúde.
Caro aidenós,
Ainda bem que encontra diferenças entre pequenas empresas de distribuição e farmácias. Não foi isso que entendi da leitura do seu texto, pareceu-me que considerava alta a rentabilidade das farmácias por comparação com a rentabilidade desses comércios. Estamos então esclarecidos.
Bem podemos falar em investimento necessário para o arranque do estado vegetativo em que o SNS se encontra mergulhado!
Acontece que o ministro da saúde não tem cheta.
Umas quantas ambulâncias, dois helicópteros, remodelação de um ou outro centro de saúde, é tudo o que CC pode almejar.
E foi isto que os privados já perceberam. O SNS está refém das suas limitações orçamentais. Incapaz de investir, incapaz de inovar, incapaz de atingir razoáveis níveis de eficiência, resta-lhe uma agonia mais ou menos duradoura.
A política de CC é a única possível. Não tem alternativa. É uma etapa necessária para acalmar as consciências dos pouco conscientes do processo em curso.
Para os que ainda acreditam que o sector público da saúde vai continuar a exercer a sua hegenomia, como explicar que os melhores técnicos estão em debandada para a privada.
Caro É-Pá:
Eu bem tinha dito (logo a abrir o texto inicial) que julgava as considerações do É-Pá (LINK), (LINK) “fáceis de entender” para a Nãoseiquenome usar – só porque ela o disse – mas difíceis para mim! Agradeço a sua explicação, verdadeiramente Freudiana, que não precisava de ter dado pois que só a brincar podia ter sido provocada. Humildemente confesso que nunca lá chegaria.
Quanto ao mais, com base nas amostras precedentes, desisto. Acho que as posições estão claras e suficientemente documentadas. E mais, mal iriam as coisas se pretendêssemos convencer toda a gente.
Caro Mário de Sá Peliteiro:
Lá esclarecidos estamos, de acordo é que parece não estarmos. Se leu o texto inicial e o comentário que lhe dirigi só podia entender que considero alta a rentabilidade das farmácias, até que alguém demonstre o contrário.
Cara Cotovia:
Os privados e toda a gente entendeu as limitações orçamentais do SNS a partir do Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC) e, mais visivelmente, a partir do lançamento dos concursos para HH em PPP. Todos entendemos que estes são um processo de investir agora e pagar mais tarde, obviamente, com juros. Globalmente, o processo parece-me bem concebido. O Estado defende-se através do limite do custo público comparável (CPC). Isto é, os privados não podem concorrer com preços que se traduzam em despesa maior do que aquela que o Estado suportaria se ele próprio construísse, equipasse e explorasse os HH. Além disso:
- relembro que os concorrentes apresentaram preços globais – incluindo também juros e margem de lucro pretendida – significativamente inferiores ao CPC: mais de 25% no caso de Braga; o que permite avaliar o desperdício no SNS em, pelo menos 30%!
- a concessão da exploração será apenas por 10 anos, sem prejuízo de o SNS a poder remir, a todo o tempo, por deficiente cumprimento do privado adjudicatário;
- os HH são entregues ao adjudicatário em regime de gestão privada, embora com salvaguarda de direitos adquiridos do pessoal que transita dos HH a substituir; o que significa que será o adjudicatário a suportar o odioso ou os custos de todas as medidas (instalações, equipamentos, reorganização, criação de dinâmica …) que considere necessárias para garantir a rentabilidade imprescindível para o êxito do projecto. Tarefa esta que, temos de o reconhecer, o Estado se revelou incapaz de levar a cabo durante mais de 30 anos. Por exemplo, não estou a ver que continue a ser permitida aos profissionais a acumulação de actividade dentro e fora do Hospital, em concorrência com a entidade a que estão vinculados, pelo menos nos termos e com a generalidade que o é hoje. E este é um ponto que considero fundamental porque condiciona tudo o resto.
Claro que, como referem o Esculápio e a Sofia Loureiro dos Santos as garantias e as cláusulas contratuais de nada valerão se não for exigido o seu correcto cumprimento, mas, se o Estado nem essa responsabilidade souber tomar, de quem havemos de queixar-nos? Do fado?
A Cotovia parece-me excessivamente pessimista quando afirma que ao SNS… resta-lhe uma agonia mais ou menos duradoura. Houve um médico (Prof. Doutor Miller Guerra) que escreveu (cito de cor): As Universidades não se reformam por dentro. Quem me diz que não acontece o mesmo com o SNS e que só arrastado pelo PEC e com o impulso da concorrência é que lá vai? Ainda há uma possibilidade e temos de as explorar todas.
A capitulação floresce nesta Primavera!
Os Requiens, também.
Já não nos bastava o quotidiano soçobrar do SNS nas suas múltiplas insustentabilidades, a sua debilidade perante a voracidade dos grupos privados, da imensidão da ANF que tudo concentra e absorve, dos crónicos - e ao que parece insolúveis - problemas da produtividade, da incapcidade em reformar e em inovar, da perda de competividade, da entrega em "fatias" ao poder autárquico, ...
Agora, acresce a total desmotivação dos trabalhadores do SNS que, em debandada, fogem para o "mercado" ou, os que, paulatinamente, no seu interior, se tornaram incrédulos da sua viabilidade (orgânica e financeira). E, o negacionismo, dos inventores da regulação.
Já parece não fazer sentido discutir sobre perspectivas ou futuros caminhos do SNS.
Crescem os adeptos do fim dos pilares sociais do Estado. Disparam, por todo o lado, os incondicionais do liberalismo. Os paladinos do "chacun se governe"...
O que faz falta... é criar, urgentemente, a comissão liquidatária do SNS.
E, não esquecer, inventariá-lo, pormenorizadamente, porque, mesmo anémico, fustigado e descontrolado como está, o SNS, ainda vale muito.
Tanto, que valeria a pena salvá-lo!
Adenda: depois de tanto "malhar" sabe bem desabafar!
A dificuldade da metamorfose :(
Nas nossas vidas como na das instituições, sejam públicas ou privadas, tudo muda e tudo se transforma, mesmo sendo difícil aceitar a mudança. Geralmente resistimos de forma egoísta às propostas de alteração de hábitos, quer sejam de ordem física, intelectual e emocional.
Caro e-pá,
Gostava de saber a sua opinião sobre as licenças sem vencimento atribuídas a profissionais de saúde.
Não lhe parece que licenças sem vencimento de 10 anos são completamente desajustadas?
Não lhe parece que se a entidade empregadora Estado ao consentir que seus colaboradores - cuja formação teve custos elevadíssimos - sejam beneficiados por licenças prolongadas pactua - fomenta até - a "debandada e a fuga para o mercado"?
Obrigado.
Cumprimentos.
caro aidenós,
Se reparou nunca contestei o facto de considerar a rentabilidade das farmácias alta; apenas contestei a comparação entre o que é - na minha opinião - incomparável: farmácias e mercearias.
Mas já agora, sobre a rentabilidade das farmácias, se quisermos saber se é ou não elevada, julgo que o mais lógico seria fazer um estudo comparativo com as Farmácias de outros sistemas farmacêuticos qualitativamente similares - os melhores do mundo -, como por exemplo Espanha, França ou Alemanha.
Não conheço os números, mas presumo que o aidenós facilmente os consiga obter. Depois diga-nos...
Caro Mário Sá Peliteiro:
Não acha que circunscrever a questão das licenças sem vencimento de longa duração aos profissionais de saúde - quando ela abrange toda a função pública - tem um sabor persecutório?
No sector público, ao menos, o Estado obriga à prestação de 5 anos de serviço efectivo. E a sua concessão implica abertura de vaga, determinando a suspensão do vínculo com a Administração.
Se olhar com atenção, e sem preconceitos, para situação no sector privado verá que o comportamento é mais iniquo, sob o eufemisticos nomes: "transferências" ,"mobilidades"...
E, muitas vezes, saiem com chorudas indemnizações.
A "debandada" não se processa por existir esta figura jurídica. Existe pelas solicitações mais aliciantes e pelo "cansaço" da vida de funcionário público. Ou então - e esta encaixa-se nos profissionais de saúde -pela "analogia marítima":
- os ratos abandonam o navio (que julgam) prestes a afundar-se.
De qualquer modo, eu não me preocuparia muito com isso. Como sabe as licenças sem vencimento são concedidas a funcionários com provimento definitivo. Uma miragem nos dias que correm. Os contratados não gozam desses ajustes pelo que o desajustamento, que tanto o incomoda, está em vias de extinção...
Cumprimentos,
Caro é-pá,
Obrigado pelo esclarecimento e pela sua opinião.
Para mim, nada justifica uma licença, mesmo sem vencimento, tão prolongada. Seja no público, seja no privado (no privado isso não existe, é inconcebível, nem imagino Belmiro, Ulrich, Amorim a conceder licenças de 10 anos).
Cumprimentos
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