MUS
A Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos recebeu uma carta formal de um médico, director de um serviço de cirurgia de um hospital da Região Centro, em que este dá conta que o Conselho de Administração da unidade hospitalar "não está a deixar utilizar todos os recursos técnicos e humanos disponíveis no serviço", ao mesmo tempo que "alguns doentes daquela área estão a ser enviados para outros hospitais", através do programa SIGIC (Sistema Integrado de Gestão de Inscritos para Cirurgia). link
Segundo José Manuel Silva, presidente da Secção Regional do Centro, "as limitações estão a ser feitas para fazer cumprir o contrato-programa do hospital, que impõe limites à produtividade do serviço, inferiores à sua capacidade". "Esta situação, e outros casos conhecidos, mostram que não existe uma verdadeira contratualização nos hospitais, que está a ser feita sem dados fiáveis", afirma o dirigente da Ordem, sublinhando que demonstra também que "os resultados no sistema de saúde estão a ser conseguidos artificialmente e comprometendo a qualidade dos cuidados de saúde".
"Quando temos medicamentos que acabam nos hospitais porque as encomendas não são pagas a tempo, quando os doentes são internados e voltam a sair porque a intervenção cirúrgica não se realizou por falta dos materiais necessários, tal significa que estão a ser conseguidos resultados artificialmente e com prejuízo evidente para a qualidade dos cuidados de saúde prestados", considera o médico.
Ao mesmo tempo, critica José Manuel Silva, esta "estratégia de desinvestimento nos serviços públicos de saúde, que os impede de terem a máxima rendibilidade, vai no sentido do esvaziamento do Serviço Nacional de Saúde, abrindo espaço aos grandes grupos económicos, que por seu turno estão a investir milhões de euros no sector da saúde".
in MUS, Dora Loureiro, in As Beiras, 31.05.2007
Segundo José Manuel Silva, presidente da Secção Regional do Centro, "as limitações estão a ser feitas para fazer cumprir o contrato-programa do hospital, que impõe limites à produtividade do serviço, inferiores à sua capacidade". "Esta situação, e outros casos conhecidos, mostram que não existe uma verdadeira contratualização nos hospitais, que está a ser feita sem dados fiáveis", afirma o dirigente da Ordem, sublinhando que demonstra também que "os resultados no sistema de saúde estão a ser conseguidos artificialmente e comprometendo a qualidade dos cuidados de saúde".
"Quando temos medicamentos que acabam nos hospitais porque as encomendas não são pagas a tempo, quando os doentes são internados e voltam a sair porque a intervenção cirúrgica não se realizou por falta dos materiais necessários, tal significa que estão a ser conseguidos resultados artificialmente e com prejuízo evidente para a qualidade dos cuidados de saúde prestados", considera o médico.
Ao mesmo tempo, critica José Manuel Silva, esta "estratégia de desinvestimento nos serviços públicos de saúde, que os impede de terem a máxima rendibilidade, vai no sentido do esvaziamento do Serviço Nacional de Saúde, abrindo espaço aos grandes grupos económicos, que por seu turno estão a investir milhões de euros no sector da saúde".
in MUS, Dora Loureiro, in As Beiras, 31.05.2007
nota saudesa: o hospital da região centro em questão devia ter sido identificado por JMS (assim ficam todos os HHs desta região sob suspeita). Os casos referidos por JMS sempre aconteceram no SNS. Serão estes mais graves? Lançar acusações vagas, pouco claras, pouco fundamentadas não ajuda nada a esclarecer as situações. Antes pelo contrário.
Grave é sem dúvida a notícia sobre os centros privados de nascimento:
Dos 24 centros privados de nascimento a funcionar em 2005, só dois fizeram mais de 1500 partos por ano, conclui Entidade Reguladora da Saúde. Num houve apenas sete nascimentos A percentagem de partos por cesariana nas unidades de saúde privadas foi de quase 66 por cento em 2005, mais do dobro da registada nas maternidades públicas. No ano passado, a proporção de partos por cesariana nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde foi de 32 por cento, taxa esta só por si já considerada excessiva pelos especialistas. A Entidade Reguladora da Saúde (ERS), que decidiu avaliar as condições dos centros de nascimentos privados, concluiu que a taxa de cesarianas nestes locais atingiu os 65,9 por cento em 2005 (perto de 7 mil dos 10.500 partos efectuadosnas 24 unidades avaliadas). Mas em alguns estabelecimentos foi mesmo superior a 90 por cento. Há o caso de uma unidade onde, de um total de 272 nascimentos, só 19 foram partos normais, lê-se no relatório preliminar a que o PÚBLICO teve acesso. "A taxa é absolutamente exagerada até porque estes estabelecimentos não vêem grávidas com patologias", comenta Jorge Branco, presidente da Comissão de Saúde Materna e Neonatal, que recomendou o encerramento das maternidades públicas com uma casuística inferior a 1500 partos por ano. "Isto é uma loucura total", complementa Octávio Cunha, também membro desta comissão, lembrando que estes locais não recebem grávidas de risco, como acontece com os hospitais públicos. Na maior parte destas unidades, "trabalha-se à peça", caricaturiza. E resume: "Eles fazem cesarianas porque é mais rápido e não correm tantos riscos." Menos afirmativa, a ERS considera que esta realidade merecerá a realização de estudos de outro âmbito. Mas não deixa de se interrogar sobre as razões que explicam uma "assimetria regional tão marcada, com os centros da região Norte a apresentarem percentagens de partos por cesariana muito mais elevadas do que os das regiões Centro e Sul". Aliás, é no Norte e no Litoral que se situa o grosso destes estabelecimentos (a região de Lisboa tem quatro, enquanto na do Porto se concentram nove). Outro dos problemas que ressaltam deste relatório é o baixo número de partos efectuados na maior parte destes centros. Dos 24 estabelecimentos analisados (um outro apenas começou a actividade em 2006), apenas dois fizeram mais de 1500 nascimentos, o mínimo exigido às maternidades públicas para se manterem abertas. E apenas seis efectuavam mais de um parto por dia. A média de partos é tão baixa que em três das unidades avaliadas pela ERS não ultrapassa, sequer, os dois nascimentos por mês. Para Nuno Montenegro, director do serviço de obstetrícia do Hospital de S. João (Porto), a grande mensagem a retirar deste relatório é a de que há centros que "deveriam de imediato fechar as portas". Sublinhando que não está em causa a competência dos médicos, Montenegro nota que o problema passa por não existir "uma logística mínima para garantir as condições de segurança". No relatório, a ERS recomenda, de uma forma mais subtil, "a reorganização da rede com eventual fusão entre centros de nascimento". A entidade refere ainda que detectou "problemas graves não passíveis de resolução em tempo útil" em duas instituições, não especificadas. Seja como for, considerou que, de uma forma geral e face à informação recolhida, os cuidados de assistência ao parto nos estabelecimentos privados são de "qualidade satisfatória". Porque foi isso que se verificou nas instituições com o grosso dos partos (13 são responsáveis por 84,1 por cento do total). Mas detectou outros problemas, que se prendem com a falta de recursos humanos (12 dos centros não dispunham de profissionais habilitados durante as 24 horas), a ausência de manuais de procedimentos, de protocolos de actuação e de uma cadeia hierárquica clara em caso de emergência.
Dos 24 centros privados de nascimento a funcionar em 2005, só dois fizeram mais de 1500 partos por ano, conclui Entidade Reguladora da Saúde. Num houve apenas sete nascimentos A percentagem de partos por cesariana nas unidades de saúde privadas foi de quase 66 por cento em 2005, mais do dobro da registada nas maternidades públicas. No ano passado, a proporção de partos por cesariana nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde foi de 32 por cento, taxa esta só por si já considerada excessiva pelos especialistas. A Entidade Reguladora da Saúde (ERS), que decidiu avaliar as condições dos centros de nascimentos privados, concluiu que a taxa de cesarianas nestes locais atingiu os 65,9 por cento em 2005 (perto de 7 mil dos 10.500 partos efectuadosnas 24 unidades avaliadas). Mas em alguns estabelecimentos foi mesmo superior a 90 por cento. Há o caso de uma unidade onde, de um total de 272 nascimentos, só 19 foram partos normais, lê-se no relatório preliminar a que o PÚBLICO teve acesso. "A taxa é absolutamente exagerada até porque estes estabelecimentos não vêem grávidas com patologias", comenta Jorge Branco, presidente da Comissão de Saúde Materna e Neonatal, que recomendou o encerramento das maternidades públicas com uma casuística inferior a 1500 partos por ano. "Isto é uma loucura total", complementa Octávio Cunha, também membro desta comissão, lembrando que estes locais não recebem grávidas de risco, como acontece com os hospitais públicos. Na maior parte destas unidades, "trabalha-se à peça", caricaturiza. E resume: "Eles fazem cesarianas porque é mais rápido e não correm tantos riscos." Menos afirmativa, a ERS considera que esta realidade merecerá a realização de estudos de outro âmbito. Mas não deixa de se interrogar sobre as razões que explicam uma "assimetria regional tão marcada, com os centros da região Norte a apresentarem percentagens de partos por cesariana muito mais elevadas do que os das regiões Centro e Sul". Aliás, é no Norte e no Litoral que se situa o grosso destes estabelecimentos (a região de Lisboa tem quatro, enquanto na do Porto se concentram nove). Outro dos problemas que ressaltam deste relatório é o baixo número de partos efectuados na maior parte destes centros. Dos 24 estabelecimentos analisados (um outro apenas começou a actividade em 2006), apenas dois fizeram mais de 1500 nascimentos, o mínimo exigido às maternidades públicas para se manterem abertas. E apenas seis efectuavam mais de um parto por dia. A média de partos é tão baixa que em três das unidades avaliadas pela ERS não ultrapassa, sequer, os dois nascimentos por mês. Para Nuno Montenegro, director do serviço de obstetrícia do Hospital de S. João (Porto), a grande mensagem a retirar deste relatório é a de que há centros que "deveriam de imediato fechar as portas". Sublinhando que não está em causa a competência dos médicos, Montenegro nota que o problema passa por não existir "uma logística mínima para garantir as condições de segurança". No relatório, a ERS recomenda, de uma forma mais subtil, "a reorganização da rede com eventual fusão entre centros de nascimento". A entidade refere ainda que detectou "problemas graves não passíveis de resolução em tempo útil" em duas instituições, não especificadas. Seja como for, considerou que, de uma forma geral e face à informação recolhida, os cuidados de assistência ao parto nos estabelecimentos privados são de "qualidade satisfatória". Porque foi isso que se verificou nas instituições com o grosso dos partos (13 são responsáveis por 84,1 por cento do total). Mas detectou outros problemas, que se prendem com a falta de recursos humanos (12 dos centros não dispunham de profissionais habilitados durante as 24 horas), a ausência de manuais de procedimentos, de protocolos de actuação e de uma cadeia hierárquica clara em caso de emergência.
in MUS, Alexandra Campos, in Público – 11.05.2007
1 Comments:
A situação das maternidades é um problema relevante a nível nacional, ou melhor, uma daquelas questões que ficam pelas "meias tintas".
No sector privado, a situação é próxima da calamidade. Todos (ou quase todos) os argumentos que fundamentaram, no serviço público, a concentração dos blocos de partos, servem para alimentar os ditos "centros privados de nascimento". Desde a casuística anual por unidade até a aberrante percentagem de partos por cesariana (2/3!), levantam uma questão muito sensível na área médica. Esta é o emergente conflito entre altas produtividades e boas práticas médicas. As cesarianas são um meio expedito de resolver (melhor diria, abreviar) um parto, nem sempre com respeito da saúde da mãe e do neófito. Mas permite, como se diz no texto, "trabalhar à peça", ultrapassar o, por vezes, longo periodo expulsivo de um parto eutócito, liberta o obstetra para outros actos e reduz o tempo de utilização da sala de partos. Tudo ganhos de produtividade sem equivalentes na qualidade.
A ERS detectou o problema. Vamos esperar pelas consequências.
Outra questão diz respeito às maternidades públicas. Octávio Cunha, membro da Comissão Nacional de Saúde Materna e Neonatal, citado no post, diz que no Norte o processo "não está a correr bem".
Trata-se de um credenciado médico neonatologista, insuspeito, já que publicamente apoiou a decisão do MS no encerramento de salas de parto que não reuniam requisitos míninos de segurança. Segundo se depreende o encerramento foi processado à pressa, sem acautelar os recursos humanos e os equipamentos das maternidades que - uma vez depuradas as situações inadequadas em termos de segurança e qualidade - integram a actual rede em funcionamento. A atitude apressada, subsidiária de razões político-económicas, acabou por se revelar, em algumas situações, inadequada.
Problemas na referenciação da rede subsistem, p. exº., em Trás-os-Montes. As gravidas da área de Mirandela deveriam ser referenciadas para Bragança. Não se verifica isso na prática porque, as grávidas a termo, "sabem" que o H de Bragança não está (ainda) devidamente preparado, e optam por dirigir-se a Vila Real. Octávio Cunha conclui, com alguma sagacidade, que
"quando estão grávidas as mulheres ficam ainda mais inteligentes"...
As reorganizações, as reestruturações tão necessárias ao SNS, não podem desguarnecer os flancos.
Nada do que se faz apressadamente em Saúde, é bom e muito menos seguro.
A questão das maternidades é um processo em vias de sedimentação, todavia, ainda com muitos buracos que urge colmatar.
O processo da reestruturação das urgências está em marcha, mas devia colher ensinamentos da questão das maternidades.
Mesmo para aqueles que apoiam os princípios dessa reforma, tem sido notória a pressa em fechar SAP's, sem que as alternativas aos mesmos estejam consolidadas e testadas, nomeadamente, no que diz respeito à rede de urgência pré-hospitalar.
À rapidez em encerrar deverá corresponder a prontidão em estruturar, viabilizar, adequar e operacionalizar as soluções alternativas (da nova rede). Os hiatos são fatais em Saúde.
Dizia Gregório Marañon, insigne médico e cientista espanhol:
"A rapidez, que é uma virtude, gera um vício, que é a pressa".
Enviar um comentário
<< Home