segunda-feira, junho 11

As Ameaças ao SNS

Dediquei parte do dia de quarta-feira à leitura de um excelente trabalho, de Keith Palmer, Senior Associate do King´s Fund, sobre a “NHS REFORM -Getting back on track”, divulgado em Outubro de 2006 . Link
Como do próprio título do trabalho se depreende, trata-se de uma análise fortemente crítica, não dos objectivos maiores prosseguidos pela reforma já que não põe em causa a sua bondade e a legitimidade do governo para definir as prioridades e as políticas para os atingir, mas sim da aptidão das medidas e instrumentos, tais como foram desenhados e postos no terreno, para atingir os objectivos definidos, porque nessas medidas e instrumentos consiste a reforma em curso do NHS, concebida para a melhoria da sua performance.

Não me proponho trazer aqui o resumo da análise de Keith Palmer, até porque está feita num estilo compacto, que exclui observações dispensáveis, e, por isso, tudo quanto refere é importante e já não suprimível sem mutilação. Apenas direi que não sugere, afirma com terminologia previamente explicitada, não permitindo que ninguém fique equivocado com o que está em causa; não insinua, porque cada afirmação apresenta fundamentação consistente, quer se trate de evidenciar as consequências produzidas ou esperáveis das medidas já no terreno, quer de fazer idêntica análise das correcções sustentadas como necessárias para que os objectivos das políticas sejam atingidos tais como foram formulados e sem efeitos perversos. Também numa situação de equilíbrio económico-financeiro porque este no UK é considerado como pressuposto indiscutível e não discutido – perdoem-me os que entendem que ele se situa fora do conceito que acolhem de política “pura e dura”! –. No UK que, nos últimos 5 anos, atravessou o período de crescimento mais sustentado do orçamento da Saúde: mais de 7% por ano e em média, e, apesar disso, mais de 60 PCTs (Primary Care Trusts, como é sabido, a entidade responsável pelo Commissionig dos doentes e pelo pagamento correspondente às entidades prestadoras, HH ou outras) mais de 60 PCTs, estava a dizer, encontravam-se em situação de desequilíbrio orçamental em Outubro de 2006, sendo improvável que, sem mais, fossem capazes de retornar a situação de equilíbrio. No entanto, este não foi o único ponto de contacto que encontrei entre os problemas com os quais o NHS se debate e aqueles que se apresentam no nosso SNS. Pelo contrário, muitos dos problemas inventariados e muitas das orientações de política estratégica no UK estão também aqui em agenda.

E no Saudesa, o que encontramos? Creio que atingimos o clímax com o Post do É-Pá, de 06.06.2007, (“SNS - A luta pelas causas sociais, porque a morte saiu à rua”). link Mantenho as referências elogiosas que, mais que uma vez, lhe fiz, assim como me lamento, de novo, por ter dificuldade em entender a coerência e a consistência das suas mensagens quando confrontadas com os seus proclamados propósitos e objectivos de defesa do SNS. Lamento mesmo, sobretudo quando nada diz sobre as que são referidas como causas básicas das maleitas do SNS ou prontamente delas se afasta para outras temáticas. Porque maleitas é o que não falta ao SNS: as básicas e outras delas derivadas. Será que assim não fica tudo na mesma?
É mesmo como diz o É-Pá: “Quem viveu e conviveu, durante largos anos, com o SNS, hoje, sente-se enredado numa teia de afectividades (talvez não só de afectividades e também de acomodação e de interesses) e cada vez menos vinculado às realidades.” Será por isso, porque elas se mostram hoje bem diferentes, que “as soluções técnicas, as apetências renovadoras, as motivações sociais, a realização profissional, são quiméricas abstracções. Ou despudoradas abstenções do ser (médico, AH, economista...)”? Será por isso que “o desalento cresce, floresce, frutifica”?

Mas é também como, do outro lado da barricada, diz o Avicena: “para aqueles que se interessam pelas causas sociais e pelo primado da política é indispensável entender de uma forma clara a complexidade da luta social dos nossos dias, perceber as prioridades estratégicas e não se perder a lutar contra moinhos de vento”. link Muitas coisas estão a ser feitas, aqui e noutras latitudes, para adaptar os serviços de saúde às realidades que se nos impõem, mas isso não significará que todas estejam a ser conduzidas da melhor maneira.

Na multiplicidade, diversidade e complexidade das realidades em que vivemos e dos desafios que enfrentamos, o SNS não pode ficar imutável e tem nos que, contra ventos e marés, defendem a sua imutabilidade os seus piores adversários.

E se, sem que cada um tenha de abdicar das suas teses, descêssemos do rocinante e enfrentássemos, não os moinhos de vento, mas os problemas tais como eles se nos apresentam?
AIDENÓS

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12 Comments:

Blogger Pedro said...

Os adeptos da política «pura e dura» não podem aceitar que em nome do equilíbrio orçamental se pratique uma política de terra queimada: encerramento de dezenas urgências, encerramento de maternidades, alargamento e aumento das taxas moderadoras, dificuldade de acesso a determinados tratamentos e cirurgias, castigos e admoestações por se tratarem mais doentes, doentes que precisam ser tratados, uma completa mediocridade reinante em todo o Ministério da Saúde, fundamentalmente ao nível do IGIF e das Agências de Contratualização, destruição e estagnação de estruturas e instrumentos válidos criados no tempo de Luís Filipe Pereira (tableaux de bords sabem o que era isso, Acordo Colectivo de Trabalho, sabem o que era isso?, coerência entre o que seja um Plano Estratégico, um Plano de Desempenho e Orçamentos-Programa, sabem o que é isso?, Planos e Relatórios de Actividade, o que é isso, qual o seu sentido?), falta de sentido de Estado, falta de responsabilidade e de ética, falta de estartégia, políticas inconsistentes, arrogância, prepotência e autoritarismo balofo. Correia de Campos terá atenuado a sua vertente de «outspoken» (como ele próprio se definiu), mas tem vindo a aperfeiçoar uma nova especialidade: «a luta livre francesa» (frantsuskaya borba, dizia-se no tempo de Estaline).
Vejam o que dizem os especialistas em políticas de saúde:
Paulo Kuteev Moreira: «a estratégia do ministro não é clara» (vejam lá, ao fim de dois anos de governo e tanta cagança, o homem nem uma estratégia tem...!); «a partidarização dos cargos de gestão na Saúde dificulta os caminhos da sustentabilidade» (vejam lá, quem tanta coragem mostra na praça pública e não é capaz de obstar aos comissários da política e à nomeação de comissários, que raio de político é este?);
Constantino Sakellarides: «Pergunta (P):Diz que a política de saúde do governo é incompreensível, porquê? Resposta (R) «quando um governo afirma que vai racionalizar, reformar, isso cala nas pessoas. Mas, num segundo plano, há a sensação muito forte de retracção, de perda. Seja o encerramento de maternidades e urgências, seja o pagamento de cirurgias e internamentos ou notícias de que muitos profissionais estão a deixar o sector público. Há um contraste entre um sector público que fecha e um sector privado que se expande. E há um terceiro nível, menos tangível, de reformas como a dos centros de saúde, que são positivas mas demoram a dar resultados. Estes planos interagem entre si, às vezes de forma um pouco perversa, e há o risco de ser a imagem mais negativa que prevalece. Hoje, as pessoas têm uma percepção de recuo dos seus direitos e do Serviço Nacional de Saúde».
Mais palavras para quê? Correia de Campos, é claramente um Ministro à deriva desde o início («o ministro tem uma estratégia na cabeça» (terá?) «mas não está escrita e não se consegue segui-la. O principal documento que temos é o Plano Nacional de Saúde, da autoria do anterior ministro» (mais esta!)«E ficamos na dúvida: a estratégia é o PS ou há outra ainda não é publicada? Não aceito que a estratégia , seja o programa eleitoral do PS. (...) Somos talvez o único país da Europa que não tem uma estratégia para a Saúde publicada e claramente definida, a fim de que todos saibam para onde o sistema está a caminhar».
Não será esta ausência de uma estratégia uma defesa de Correia de Campos? Agarrando-se ao programa do PS, responsabiliza todo o PS e o primeiro-ministro, tendo uma estratégia, sua, responsabilizava-se a ele. Mas qual o quê!? Cartas de Compromisso é para os outros, quanto a nós, praticamos a covardia política.
Decididamente, Correia de Campos não é um Ministro que não vai fazer história, quando muito apenas, a história da arrogância política. Como dizia Séneca, «toda a ferocidade procede da fraqueza». Correia de Campos é um Ministro fraco, muito fraco!

10:26 da manhã  
Blogger tambemquero said...

Um comentário tão feroz só pode ser de alguém muito fraco recentemente "despedido" por CC.

12:23 da tarde  
Blogger saudepe said...

One in eight NHS hospital patients still has to wait more than a year for treatment, the government acknowledged yesterday in its first attempt to tell the full truth about health service queues in England.
A Department of Health analysis of 208,000 people admitted to hospital in March showed 48% were wheeled into the operating theatre within 18 weeks of a GP sending them for hospital diagnosis. But 30% waited more than 30 weeks and 12.4% more than a year.
Norman Lamb, the Liberal Democrat health spokesman, said: "Behind the statistics, thousands of sick people are still waiting more than a year for hospital treatment. This is a daily tragedy."
Niall Dickson, chief executive of the King's Fund health thinktank, said: "It is a credit to the health service that waiting times have continued to fall steadily at a time of financial pressure."
guardian, 09.06.07

3:22 da tarde  
Blogger tonitosa said...

Se alguém critica o Governo é porque foi despedido!
Mas se apoia o Governo é apenas porque é muito bom e nem sequer aspira a ocupar qualquer lugar!
Vá lá "a gente" entender isto.

7:07 da tarde  
Blogger e-pá! said...

Lá vou tentar descer do Rocinante e aproximar-me da Dulcinea – (o SNS) …

Comecemos, pelo contexto ideológico, básico, mas nesta situação é inevitável ser redundante para não ser omisso, nem equívoco.

Penso que a Esquerda bate-se ferozmente pela intransigente defesa do Estado Social, mas não sabe como defendê-lo.
O papel social do Estado, não apenas na Saúde, encontra-se consagrado na Constituição da República (art. 63º e seguintes). Todos conhecemos (ou devemos conhecer) os termos genéricos dos direitos sociais aí definidos que incluíam a educação, a assistência médica e medicamentosa, o subsídio de desemprego, o salário mínimo, os abonos de família, etc.
O que temos de debater, sem quaisquer complexos de vivermos em contextos ideológicos que nos separam politicamente, são os pressupostos que informam a legislação portuguesa na área da Saúde, desde 1979, ano da criação do SNS. Aí, define-se que o Estado deve assegurar o direito à saúde (promoção, prevenção e vigilância) a todos os cidadãos.

A partir desta preposição, ou independentemente destes pressupostos, acreditamos ou não no Estado Social. Pessoalmente, quer por formação política ou por deformação profissional, acredito na necessidade da existência de um Estado que defenda, promova e assegure os direitos sociais de todos os cidadãos. Esta não é uma posição estritamente marxista acerca do papel do Estado, sendo compartilhada por amplos sectores ideológicos e, até, pela da Igreja, explicitada na encíclica “Rerum Novarum” de Leão XIII, que nos finais do século XIX, sistematizou a chamada “doutrina social da Igreja”. Na verdade, quem no século XX, conseguiu levantar do chão este Estado Social, não foram nem os regimes comunistas do Leste da Europa, nem os sistemas democratas-cristãos do Ocidente. Foram, uma espécie de “bissectriz” deste amplo espectro político, i.e., as sociais-democracias do Norte da Europa.

Cedo se verificou que este Estado Social era um sorvedouro dos dinheiros públicos e seria necessário encontrar fontes de financiamento que o garantissem. Mas, apesar deste enorme condicionalismo, poucos ou raros quadrantes políticos o punham em causa. Continuou a alimentar-se do OGE e a consumir uma progressiva percentagem do PIB.
Na verdade, a Lei de Bases da Saúde portuguesa (1990) será o primeiro documento político do regime democrático, que equaciona – sem o resolver - o problema da sustentabilidade do SNS.

É nesta década de 90 que, decorrente do fim da bipolarização do Mundo, com o desmoronar dos regimes de Leste, surge no ambiente político forças neo-liberais que, desabridamente, questionam o papel social do Estado. Em toda a “velha” Europa levanta-se o espantalho da destruição do Estado Social. A sua defesa torna-se uma bandeira da Esquerda unindo comunistas, socialistas, sociais-democratas, radicais e, naturalmente, o movimento sindical.
A Direita levanta o espantalho dos custos económicos das políticas sociais e temendo as consequências de propor a extinção dos direitos sociais, que informam o património político e cultural europeu, envereda por defender sistemas mistos, quer na Saúde, quer na Educação, quer na Segurança Social. Ou seja, insidiosos percursos de transição no sentido da privatização (leoninas parcerias são o melhor instrumento), que resultam na apropriação pelo capital do pilar social. E assim, sucumbem os meios públicos para assegurar as políticas sociais.

O desenvolvimento do SNS no sentido que garantir equidade, acessibilidade e qualidade aos cidadãos-utentes, trouxe um permanente deslizamento orçamental e constantes dores de cabeça aos sucessivos governos, sendo o objecto de constantes “chicanas políticas” entre o Poder e as Oposições e vice-versa. Deste modo, o Estado Social começou a ser atormentado por terríveis espectros de sobrevivência. Os partidos políticos (quaisquer que sejam), quando na oposição, defendem-no acerrimamente e uma vez no poder não sabem como pagá-lo. Não há a coragem política de o afrontar directamente. Todos sabem (Esquerda, Centro e Direita) que os custos políticos, resultantes da sua extinção ou amputação, são incomportáveis. Tentam “passar a bola” de uns para os outros a ver quem “escorrega”.

O Estado Social, e por consequência a subsistência do SNS, que é uma emanação directa da tributação sobre os rendimentos dos portugueses conhece, então, diversas perversões. A primeira, terá sido a infeliz subtileza e a pérfida indefinição do “tendencialmente gratuito”. Depois, aparecem as “taxas moderadoras” e todos os artifícios – só iludíveis por um discurso bacoco que apela ao não discernimento - para encobrir uma programada caminhada para esquemas de co-pagamento e de auto-financiamento.
Nada, nenhum destes malabarismos, consegue tapar o deficit crónico que se acumula de ano para ano. Porque, a Saúde, enquanto bem social é isso mesmo. Porque, os gastos na Saúde em Portugal são sempre referenciados a um PIB pobre - não tenhamos vergonha de o admitir - e tal situação, coloca-nos, artificialmente, na média europeia. Mas quando consideramos os gastos “per capita” com a saúde, Portugal “produz” - fundamentalmente através do SNS - uma importante prestação social barata e qualificada. E uma prestação global à frente de Países ditos “ricos” ou economicamente desenvolvidos.
Esta é a falácia constantemente omitida pelos coveiros dos direitos sociais.

Claro que é sempre possível obter ganhos em eficiência, nomeadamente, através da introdução de novos métodos de gestão, da qualificação e motivação dos profissionais, da melhoria dos sistemas de informação, da acuidade e fiabilidade das análises financeiras e contabilísticas, da racionalização (não racionamento!) do consumo de medicamentos e de meios complementares de diagnóstico, da aposta em medidas de prevenção e, finalmente, da promoção da educação sanitária da população. Isto é verdade para qualquer sistema, em qualquer parte do Mundo. E, é, também, isso que o SNS tem de fazer.

O SNS está, no caso do nosso País, condicionado por questões orçamentais subsidiárias do PEC. È justo que assim seja num quadro de solidariedade nacional. É normal que se procurem novas soluções. As PPP’s, por exemplo. Estas, aparentemente, capazes de aliviar o peso orçamental da Saúde, não abrem caminhos para grandes voos. Elas, politicamente, introduzem o mercado na área social o que, na ausência de um poder fiscalizador eficaz, ágil e pronto, podem introduzir novas perversões. Uma delas será, ao contrário do que se deseja, o disparar dos custos. Todos conhecemos a (in)capacidade fiscalizadora do aparelho de Estado. Outra, mais perversa, será – no momento político azado - apropriar-se do “P” de público e alijar pela borda o “P” de parceria.

As dificuldades orçamentais do Estado não são independentes, nem estranhas, aos portugueses. Isto é, quando o Estado está com dificuldades orçamentais, a maioria dos portugueses tem problemas. Quando não crescemos economicamente ou quando o Estado não consegue controlar a despesa, é sobre a sociedade que isso se reflecte. Isto é, para a grande maioria dos portugueses os direitos sociais são, nessas alturas, determinantes e essenciais. Por isso, nas situações de crise, julgo que a dotação orçamental da Saúde não pode sofrer cortes. O Estado tem o dever de salvaguardar a capacidade de manter as prestações sociais. De ser o “guarda-chuva” do implacável rebate social, advindo das más condições económicas ou financeiras. Nesta situação, contenções orçamentais no sector social, ditadas por condições financeiras adversas, podem ser sinónimo de rupturas sociais. Entre 2004 e 2007, as despesas totais do Estado aumentaram 9,6%, enquanto que as despesas com a Educação e Saúde dos portugueses cresceram apenas 2,2%. O SNS, apesar de todos os esforços de racionalização das despesas e das reformas para o aumento da eficiência é, apesar disso, uma das vítimas desta contenção “cega”. Mesmo assim, “aguentou-se”, tornando-se, é notório, mais frágil. Não pode é ser permanentemente exaurido. Porque a sobrevivência do SNS, joga-se, exactamente, aqui. Uma persistente “sub-orçamentação” do SNS, abre espaços que serão (estão a ser), num lógica neoliberal, rapidamente preenchidos pelo sector privado. A lógica neoliberal pode ser, tão somente, uma oportunista proposta de redução de impostos. A primeira vítima será o Estado Social.

O Estado não pode ficar “prisioneiro” de opções políticas, aparentemente, estratégicas, mas, na prática, “esvaziadoras” do Estado Social. Não pode permitir que as estratégias de desenvolvimento sejam ensombradas por um dilacerante e falso dilema: “para salvar o sistema, é necessário abdicar de direitos sociais”. Ou chamemos-lhes, antes, “regalias” porque, depreciando-os, será mais fácil abocanhá-los. O Estado não pode “deslocalizar” para o mercado, a resolução dos problemas sociais. O mercado por mais virtuosidades que lhe atribuíam, não tem essa capacidade!
É aqui que entra a política “pura e dura”. Incompatível com estilos de governação híbridos, politicamente indefinidos (centristas), teoricamente abrangentes, ditos, “pragmáticos”. O pragmatismo é o vazio político sistematizado. É a política feita por contabilistas.

Vivemos na “velha” Europa subsidiária dos direitos sociais. Mas, também, observamos uma Europa que, paulatinamente, desde o fim da II Guerra, começou a “demolir” o Pacto Social, fundamental para a sua reconstrução. Uma Europa organizada num modelo supranacional que, hoje, é o principal canal e um expedito veículo para a introdução dos conceitos e políticas neoliberais, nas nações agregadas.
È preciso remover as condições objectivas que facilitam a instalação (restauração), no espaço europeu, dessas políticas neoliberais travestidas de imensas e aliciantes racionalidades económicas, visionárias de sucessos imediatos, mas totalmente vazias de solidariedade e equidade social. Porque a sua progressiva instalação vai acabar por “matar” o SNS.

Há uma maneira de, politicamente, resolver estas questões:
um Governo socialista que execute políticas socialistas. Poderá ser dificil no actual contexto, mas não é exigir muito!

7:20 da tarde  
Blogger J.F said...

Excelente análise política esta que o É-Pá aqui nos apresenta (e com a qual me revejo) na qual ele apresenta as concepções neo-liberais que teimam em se afirmar como “salvadoras” dum Estado Social que elas próprias desejam ver extinto.

Relegando para o caixote do lixo os princípios da solidariedade e da equidade (que dum Estado Sopcial são apanágio) conduzem estas políticas a um dito “Serviço Nacional de Saúde” ainda mais pobre, menos eficiente e mais selectivo (pela negativa), com e através do qual (mesmo dele não fazendo uso), quem tem mais posses, melhor e mais saúde poderá vir a ter.

2:49 da tarde  
Blogger cotovia said...

O é-pá termina o seu longo comentário da seguinte forma:
Há uma maneira de, politicamente, resolver estas questões:
um Governo socialista que execute políticas socialistas.

Depois de longa deambulação parece que estamos no ponto de partida: O que são, hoje em dia, políticas sociais socialistas?
O New labour de Tony Blair?
O nosso vizinho Zapatero?

Segundo o é-pá, o nosso SNS consegue levar a cabo uma prestação social barata e qualificada.
Serão os nossos indicadores de saúde assim tão famosos?
HIV/Sida, tuberculose, AVCs, oncologia?

Uma coisa é certa. O SNS precisa de reformas.
A nossa análise imediatista leva-nos a confundir as árvores com a floresta.
As grandes orientações são correctas. Há alguns resultados que já começam a aparecer: USF, CS, cuidados continuados. Melhoria dos sistemas de informação. Controlo do orçamento da saúde.

A guerra está longe de estar ganha. Aliás o percurso é longo, sinuoso, pejado de incidências.
Se atentarmos na reforma do NHS do reino unido , veremos a mesma desconfiança, reacções semelhantes à mudança.

10:25 da tarde  
Blogger e-pá! said...

"O que são, hoje em dia, políticas sociais socialistas?"

Podemos começar pelo que não são...

Assim:
1. Deixamos de ter utentes e passamos todos a “consumidores”, “clientes”, etc.
2. A Saúde deixa de ser um bem social e transforma-se num produto de consumo no mercado. Preferentemente de retalho.
3. O consumidor deverá estar melhor informado. Na gíria, deve vender-se que terá mais poderes…
4. Vai ser convidado a investir mais e melhor nas suas condições sanitárias. Em letra miudinha (nos contratos de seguros) deverá advertir-se que deve planear os seus gastos de forma racional.
5. Depois um sistema de “bónus” para quem fizer exercícios, quem comer adequadamente, quem não fumar, quem fizer “check ups”, etc.
6. A mesma seguradora venderá serviços extras de spa’s, ginásios, lojas de produtos cosméticos e nutricionais (cadeias de restaurantes “saudáveis”), senhas de check-ups” semestrais em clínicas da rede, etc.
7. O consumidor terá á sua disposição um amplo leque de escolha de planos de seguro, de acordo com a suas previsíveis necessidades (estará melhor informado) e o seu “perfil”. É conveniente não enfatizar que haverá diferentes custos.
8. O adequado é apresentar ofertas desde o “low cost” (que não cobrem nada) a planos majestáticos (que cobrem algumas situações previsíveis no “perfil”).
9. Haverá sempre a oportunidade (o mercado é isso) de optar por um serviço público. Para os portadores de doenças crónicas ou degenerativas, os idosos, os carenciados e de baixo poder de compra.
10. O binómio prestador/consumidor ou segurador/pagador deverá o núcleo deste sistema. O novel mercado não deverá ter quaisquer constrangimentos, nomeadamente, regulações. O consumidor mantêm o direito de, em qualquer altura, mudar de seguradora e, esta, reserva o direito de rescindir, unilateralmente, o contrato.
11. Não serão necessários planos, estudos, relatórios. O mercado atento às necessidades, ao perfil económico e à distribuição demográfica, criará a sua rede de negócios, preferencialmente, referenciadas às catedrais de consumo (os centros comerciais, como o HdL).
12. Os clientes que (voluntariamente!) optaram pelo sistema público serão, em caso de doença, evacuados, por associações beneméritas, para hospícios ou lares, segundo critérios de proximidade.
E, por aí, adiante…

Um sistema “misto”, de contenção das despesas públicas, óptimo para o Estado que, em nenhuma circunstância, abdicará de cobrar impostos...

11:15 da tarde  
Blogger ""#$ said...

Desculpe lá, dado que raramente comento aqui, mas esse King´s Fund" é o mesmo que tem uma placa ridicula na entrada das consultas externas do Amadora Sintra, um péssimo hospital.

Esse King´s Fund que serve de selo de credibilidade para uma porcaria tão elaborada como o Amadora - Sintra é mesmo credível?

Não se mancha ao ser usado como propaganda aquela porcaria?


Quanto às criticas ao ministro são todas justas e só pecam por escassas.
Vocês estão muito moles.

10:38 da tarde  
Blogger naoseiquenome usar said...

O King´s Fund, serve apenas para definir circuitos burocráticos e foi abandonado como processo de certificação há largos anos na UK...

11:27 da tarde  
Blogger naoseiquenome usar said...

acrescento: para a definição de circuitos de índole burocrático-administrativa, a partir dos quais se querem aferir índices de qualidade e que, amiúde, para não dizer sistemáticamente, são abandonados após a obtenção da "certificação", ou pelo menos, "incumpridos".

Diz-se: "è o que temos" :(

11:32 da tarde  
Blogger ""#$ said...

não sei que nome usar:

pois!
Já desconfiava...
Nota-se claramente pelo péssimo funcionamento do amadora Sintra....

Obrigado pela informação/confirmação...

12:02 da manhã  

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