A Oncologia
sob o fogo da recessão no Serviço Nacional de Saúde
Se têm sido prodigiosas as mudanças na prestação de cuidados oncológicos no mundo, é necessário reconhecer que o nosso país, perde a olhos vistos a corrida da prevenção e dos rastreios, onde as estatísticas de mortalidade dos grandes flagelos, cancro do cólon, mama e colo do útero, em concreto, nos empurram para a cauda da Europa. Neste domínio, é muito preocupante o ambiente apesar dos esforços dos profissionais e das sociedades científicas. link
Mas perde também Portugal a corrida à tecnologia e no domínio organizativo. Essa perda de velocidade não se restringe às comparações com a Europa. É necessário reconhecer que a oncologia do SNS, perde velocidade para os concorrentes privados, os quais mostram muito maior capacidade na área dos equipamentos pesados, de radiologia e radioterapia. E perde também para a grande indústria privada os seus melhores profissionais, desiludidos com o envelhecimento dos equipamentos e sobretudo com o imobilismo de carreiras e de regras remuneratórias do público. A fuga de profissionais qualificados, é sobretudo explicada pela ostensiva recusa do poder em encarar reformas que contemplem incentivos à produção, que liguem a remuneração ao valor da produção e reconheçam o mérito e a dedicação. Que rompam enfim com o assalariamento obsoleto da função pública convencional. A recusa dos governos em abrir este debate é especialmente frustrante quando, em épocas eleitorais, foi expressamente prometido que a suposta reforma traria necessariamente uma mudança nas relações laborais.
E não podemos ignorar que continuamos sem adequado sistema de informação sobre a epidemiologia das doenças. O nosso sistema de registo oncológico continua inaceitavelmente incipiente. Não temos igualmente conhecimento da adequação das práticas e dos resultados desagregados por grupos nosológicos, salvo séries seleccionadas. Não sabemos assim qual é o verdadeiro desperdício, em resultado de estarmos com alta probabilidade a pagar tratamentos incompletos, gestos redundantes e fúteis. É necessário compreender para o bom cidadão contribuinte que o maior desperdício, o mais inaceitável, é pagar algo que, por ser incompleto, fruto da desorganização ou falta de meios, apenas permite resultados medíocres na cura ou na redução de mortes prematuras. É pagar sem ter a contrapartida dos resultados excelentes a que a ciência nos dá direito.
O presente responsável pela pasta da saúde não consegue mais esconder, pelo menos para os mais informados, que a sua missão se reduz a encolher o SNS. Uma orientação que entronca no dogma, hegemónico mas altamente discutível, de que a recessão pública levaria providencialmente o país ao desenvolvimento. Fruto de uma transcendente capacidade da iniciativa privada, assim libertada da omnipresença das prestações públicas. As ideias recessionistas foram sendo apresentadas como mero ordenamento técnico, um argumento que se percebe agora, apenas disfarça o down sizing. A verdade é que as poupanças porventura alcançadas em nada serviram para reorientar investimentos a favor de novas apostas. Foi fechar sem nada em troca.
Paulo Fidalgo, revista prémio, 16.02.2007
Mas perde também Portugal a corrida à tecnologia e no domínio organizativo. Essa perda de velocidade não se restringe às comparações com a Europa. É necessário reconhecer que a oncologia do SNS, perde velocidade para os concorrentes privados, os quais mostram muito maior capacidade na área dos equipamentos pesados, de radiologia e radioterapia. E perde também para a grande indústria privada os seus melhores profissionais, desiludidos com o envelhecimento dos equipamentos e sobretudo com o imobilismo de carreiras e de regras remuneratórias do público. A fuga de profissionais qualificados, é sobretudo explicada pela ostensiva recusa do poder em encarar reformas que contemplem incentivos à produção, que liguem a remuneração ao valor da produção e reconheçam o mérito e a dedicação. Que rompam enfim com o assalariamento obsoleto da função pública convencional. A recusa dos governos em abrir este debate é especialmente frustrante quando, em épocas eleitorais, foi expressamente prometido que a suposta reforma traria necessariamente uma mudança nas relações laborais.
E não podemos ignorar que continuamos sem adequado sistema de informação sobre a epidemiologia das doenças. O nosso sistema de registo oncológico continua inaceitavelmente incipiente. Não temos igualmente conhecimento da adequação das práticas e dos resultados desagregados por grupos nosológicos, salvo séries seleccionadas. Não sabemos assim qual é o verdadeiro desperdício, em resultado de estarmos com alta probabilidade a pagar tratamentos incompletos, gestos redundantes e fúteis. É necessário compreender para o bom cidadão contribuinte que o maior desperdício, o mais inaceitável, é pagar algo que, por ser incompleto, fruto da desorganização ou falta de meios, apenas permite resultados medíocres na cura ou na redução de mortes prematuras. É pagar sem ter a contrapartida dos resultados excelentes a que a ciência nos dá direito.
O presente responsável pela pasta da saúde não consegue mais esconder, pelo menos para os mais informados, que a sua missão se reduz a encolher o SNS. Uma orientação que entronca no dogma, hegemónico mas altamente discutível, de que a recessão pública levaria providencialmente o país ao desenvolvimento. Fruto de uma transcendente capacidade da iniciativa privada, assim libertada da omnipresença das prestações públicas. As ideias recessionistas foram sendo apresentadas como mero ordenamento técnico, um argumento que se percebe agora, apenas disfarça o down sizing. A verdade é que as poupanças porventura alcançadas em nada serviram para reorientar investimentos a favor de novas apostas. Foi fechar sem nada em troca.
Paulo Fidalgo, revista prémio, 16.02.2007
1 Comments:
Trata-se de encolher o SNS. Trata-se de destruir uma das conquistas do 25 de Abril. Tudo na Saúde vem sendo comandado pelos cifrões.
O Povo anda assustado e cada vez mais se vai acomodando face "às constantes ameaças" de falência do Estado Social, que uma bem orquestrada campanha vai anunciando, com avanços e recuos, mas sempre com o mesmo objectivo.
E o que mais espanta é que seja um Governo dito de esquerda aquele que maiores ataques desfere contra os direitos sociais:direito à saúde, à educação, à segurança social, etc..
E até já parece não haver vida para além do défice!
Repito o meu comentário inserido neste blogue, que se ajusta a este tema:
"Este fim de semana fui visitar um familiar a um hospital "lá para cima".
Vim de lá sinceramente incomodado com o que vi.
Seguramente 70/80 por cento dos doentes são idosos a maioria deles vítimas de acidentes domésticos.
E ali estão aqueles homens e mulheres no seu sofrimento, muitos deles incapazes de utilizar sequer o comando, com uma parafernália de botões (as novas tecnologias em acção)para chamar os enfermeiros.
Mas pior que isso, uma família, em desespero, procurava solução para familiar operado há dois dias e a quem iria(?) ser dada alta na segunda feira.
Espantoso! Via-se, claramente, que a pessoa doente não tinha condições para regressar a casa.
E era latente a tensão entre os enfermeiros que, concordando com a família, se limitavam a dizer que nada podiam fazer já que "os senhores doutores é que mandam".
De repente dei comigo a pensar: aqui está um bom motivo para um comentário no Saúde SA.
Será que o Senhor Ministro da Saúde conhece (ou quer conhecer) esta realidade?
Serão estes os princípios pelos quais se regem os tão falados, e apregoados, Cuidados Continuados a Idosos?
Estará este médico a par da situação? Não será isto a obediência a critérios cegos de economia? Será isto a "qualidade em saúde"?
Por mim, fiquei ilucidado."
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