sexta-feira, janeiro 18

Reforma da Rede de Cuidados - abordagem sistémica



Um excelente Post convocou Comentadores de fina água que enriqueceram a discussão sobre um aspecto crucial do SNS. link

Duas breves reflexões, a propósito da interessante polémica:
A primeira tem a ver com o trilema da saúde. Quando, em comentário a um comentário, citei o Prof. Daniel Serrão foi, tão só, porque, tratando-se dum Médico, ademais especialista em Ética, ser insuspeito de “economicismo”.
Quer queiramos, quer não, o trilema existe e muitas das divergências, nas discussões sobre a saúde, têm a ver com a dificuldade das pessoas, muito especialmente os profissionais de saúde, interiorizarem o “princípio da realidade que governa toda a actividade humana: o reconhecimento dos limites e dos constrangimentos dum universo finito”(Michel Crozier).
É um assunto que merece voltar a ser discutido.

A segunda reflexão parte da afirmação do Hermes: “O sistema é mais importante que a parte”. Esta afirmação – também poderíamos dizer que o sistema é mais que a soma das partes – remete-nos para a abordagem sistémica, em contraponto com a abordagem analítica.
A abordagem analítica concentra-se nos elementos, apoia-se na precisão dos pormenores e modifica uma variável da cada vez. É uma abordagem eficaz quando as interacções são lineares e fracas e conduz a uma acção programada no seu pormenor.

A abordagem sistémica apoia-se na percepção global, concentra-se na interacção dos elementos, é indispensável quando as interacções entre os elementos do sistema são importantes e não lineares e conduz a uma acção por objectivos.
Caricaturando, podemos dizer que a abordagem analítica se caracteriza pela ênfase nos pormenores e objectivos mal definidos, enquanto a abordagem sistémica se concentra nos objectivos, em detrimento dos pormenores.

Sendo as duas abordagens irredutíveis entre si, são todavia mais complementares que opostas As propostas técnicas sobre os Cuidados Primários e as Urgências Hospitalares são excelentes mas é necessário enquadrá-las numa visão holística do sistema, de modo a que a sua implementação favoreça o cumprimento de objectivos globais, susceptíveis de ajudar a resolver o trilema tão bem enunciado no Post.
Brites

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13 Comments:

Blogger e-pá! said...

Caro Brites:

A "visão holísitca do sitema" é o relacionamento das visões parciais abrangendo suas estratégias, atividades, informações, recursos e organização cultura organizacional, qualificação do pessoal.
Também é uma componente da nossa identidade mediterrânica. Nasceu na Grécia Antiga e integra a cultura helenística. Foi repescada para o mercado global.
É fundamentalmente um conceito de empresa. Mas quase sempre é priviléggio de génios.
É difícil, muito dificil, abarcar o todo.
Um exemplo classico deste tipo de visões é Einstein. Este gênio da ciência moderna possuía para além de uma clareza de visão, uma aguda percepção e um raciocínio lógico.
Estava muito à frente dos seus pares investigadores ou inovadores da ciência. Via e sentia a dinâmica global dos fenómenos. Einstein afirmava: "meu dedo mindinho diz-me que a teoria da mecânica quântica está incompleta".

O SNS, é um terreno mais propício para comportamentos ontológicos do que um alfobre de visões holísticas.

Basta ler o recente comunicado do SEP sobre as USF's.

9:52 da manhã  
Blogger tonitosa said...

Também eu aqui deixo UMA...só uma BREVE REFLEXÃO.
As propostas técnicas sobre a s Urgências são excelentes mas...PORRA...

"Anadia: Bebé morre à porta do Hospital, assistido na ambulância
18 de Janeiro de 2008, 13:14

Aveiro, 18 Jan (Lusa) - Uma bebé de três meses morreu hoje no acesso ao Hospital de Anadia, dentro da ambulância do INEM, levando o movimento de utentes local a falar em desencontro das viaturas de socorro, o que foi refutado pelo INEM.

Segundo José Paixão, do movimento "Utentes para a Saúde", que tem promovido os protestos contra o encerramento da urgência em Anadia, "a ambulância do INEM não tinha pessoal especializado e teve de esperar pela viatura de emergência médica, havendo um desencontro entre as viaturas".

Contactado pela Lusa, Pedro Santos, do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), negou que tenha havido qualquer desencontro entre a ambulância do INEM colocada em Anadia e a viatura de emergência médica e esclareceu que "foram os pais que se dirigiram para o Hospital de Anadia, onde a criança não foi assistida porque não tem urgência".

"Quando os pais ligaram para o 112 já estavam a caminho. De acordo com o que descreveram, depararam com o bebé, de dois meses, roxo e sem respirar, quando o foram buscar à cama e no decurso da chamada telefónica foram accionadas a ambulância do INEM e a viatura de emergência médica", esclarece Pedro Santos.

De acordo com o porta-voz do INEM, a ambulância regressava de Coimbra, para onde havia transportado um doente, e estava a três minutos do local, pelo que se encontrou com o carro dos pais do bebé no parque de estacionamento do Hospital de Anadia, sendo a criança passada para a ambulância e iniciadas imediatamente as manobras de reanimação, sendo assistida por uma equipa de quatro elementos.

Quanto à viatura de emergência médica, partiu do Hospital dos Covões naquela direcção e, passados 15 minutos, estava no local, acrescentou Pedro Santos.

"Estiveram cerca de 40 minutos em manobras de reanimação, com suporte avançado de vida e ainda assim transportaram o bebé para o Hospital Pediátrico de Coimbra, mas infelizmente já não foi possível salvá-lo", disse.

O porta-voz do INEM lamenta o sucedido, mas considera que "a emergência médica funcionou com os meios adequados e no momento certo".

Fernando Pina, presidente da Junta de Freguesia de Anadia, disse à Lusa que estava no local, por volta das 09:00, e presenciou os acontecimentos.

"O que vi foi a ambulância do INEM parada no acesso ao Hospital e um carro da emergência médica que veio de Coimbra para prestar assistência".

Segundo Fernando Pina, as viaturas juntaram-se nas imediações do Hospital de Anadia, "que teria outras condições, mas não deixaram a criança entrar e esteve quase meia hora a ser assistida na ambulância".

"Vi os médicos e enfermeiros do Hospital de Anadia a assistirem das janelas, impotentes, ao que se passava, e na ambulância os profissionais fizeram o que puderam no meio da estrada, mas não conseguiram resolver a situação", descreveu à Lusa Fernando Pina.

Este é o segundo caso em menos de 24 horas de um bebé que morre numa ambulância, a caminho do hospital.

Na quinta-feira, uma menina com cerca de três meses de idade chegou cadáver ao Hospital de S. Teotónio, em Viseu, após ter sido transportada do Centro de Saúde de Carregal do Sal, numa ambulância dos Bombeiros de Cabanas de Viriato, ao colo da mãe.
MSO."

Se estas crianças fôssem da família dos reponsáveis pelo encerramento das Urgências; se muitos dos "escribas" deste blogue, defensores dos encerramentos dos SU, fôssem os pais destas crianças...que diriam?!
Para quando uma acção crime contra os verdadeiros responsáveis por estas mortes?

2:41 da tarde  
Blogger tambemquero said...

Concorrência ao Alert.

O Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE (CHLC) está a instalar no Bloco Operatório Central, na Urgência, Consultas Externas e Gabinete de Coordenação de Colheita de Órgãos e Transplantes do Hospital de S. José e no Bloco Operatório Pediátrico do Hospital Dona Estefânia o sistema ConnexAll®.

Este sistema de comunicações, que direcciona, localiza e diferencia prioridades para os profissionais de saúde, fornecendo comunicações instantâneas, poupando tempo e melhorando os cuidados a prestar aos doentes, já se encontra a funcionar no Bloco de Cirurgia Cardiotorácica do Hospital de Santa Marta e resulta da assinatura de um protocolo de colaboração entre o CHLC e a empresa Globestar.

A interface ConnexAll®, que já deu provas de eficiência em serviços de saúde no Canadá e nos Estados Unidos, permite:

Coordenação centralizada de pedidos, com confirmação da sua recepção;
Eliminação de barreiras nas comunicações, por acesso directo e simultâneo a todos os destinatários de um mesmo pedido;
Agilização dos processos de coordenação entre equipas;
Maior eficácia laboral e fluxo de trabalho optimizado;
Visualização simples dos processos em curso, com utilização de símbolos gráficos simples;
Registo de todos os eventos e solicitações, para análise posterior de relatórios e consequente optimização de recursos existentes.

4:18 da tarde  
Blogger tambemquero said...

A Degradação do SNS

Indiferente às matrizes político-partidárias, porque nas questões da Saúde não nos podemos mover nas águas turvas das estratégias dos partidos, tenho que me colocar ao lado de António Arnaut, fundador do Serviço Nacional de Saúde (SNS).

Vou citá-lo muitas vezes. O seu depoimento ao jornal «Expresso» e a frontalidade com que assume uma posição crítica contra Correia de Campos, ministro da Saúde do actual Governo, pela política de degradação do Serviço Nacional de Saúde que tem vindo a impor desde os tempos de António Guterres, são importantes como tema de reflexão porque, António Arnaut, para além de militante do Partido Socialista, é o primeiro subscritor de uma petição que o Bloco de Esquerda lançou.

«Poucas vozes se levantam na defesa da maior conquista social do século XX português», reconhece, referindo-se ao Serviço Nacional de Saúde, que deve prevalecer nos termos constitucionais de ser geral, universal e gratuito.

O Presidente da República já tinha chamado a atenção para o que se passa na Saúde, questionando o Governo para que se explique, porque ninguém entende quais as directrizes que Correia de Campos quer lançar na Saúde em Portugal.

A petição do Bloco do Esquerda, no texto que a sustenta, aponta para o facto da «actual política de Saúde, em especial o encerramento de serviços e o corte de despesas necessárias ao seu bom funcionamento, tem degradado o SNS: o acesso é mais difícil e a qualidade de assistência está ameaçada».

As palavras que Correia de Campos emprega não nos convencem, nem tão pouco as populações que se manifestam ou os corredores das urgências cheios de macas são exemplos para desculpar o ministro da Saúde.

As ambulâncias do INEM não substituem as urgências, muito menos quando funcionam em função de ordens do CODU, que faz a interpretação das queixas recebidas de acordo com uma triagem quantas vezes duvidosa.

Na visão do ministro ou de uma comissão de avaliação, ter as urgências em proximidade é muito pior do que fazer 30 ou 40 quilómetros para ir a um hospital. São coisas que não cabem no normal pensamento de um mortal.

Quando as coisas dão para o torto, como é costume, não há responsáveis. Se houve mortos, ou partos na ambulância, tudo isso é fado, tudo isso é a vida de um país do terceiro mundo.

No Hospital de Faro, assistimos ao pedido de demissão de 19 médicos com funções de chefia, que a administração não aceitou, mas o que prevalece é que os médicos mantêm a sua posição e ninguém os pode obrigar a ocupar lugares de chefia, muitos deles feitos por convite pessoal.

O que se procura fazer, relativamente ao Hospital de Faro, é branquear uma situação que está há muito tempo preta. Utilizam-se os termos e a língua portuguesa (tão traiçoeira que ela é) para baralhar e confundir.

A realidade teve mostra em imagens televisivas. A realidade está presente no dia a dia.
«Foi ele [Correia de Campos] quem iniciou o processo de degradação do SNS, ainda no Governo de Guterres. Leva a cabo uma política de terra queimada: estamos perante um ultraliberalismo sem regras e à solta!», afirma António Arnaut.

Era importante, já que há tanta certeza do ministro na reforma do sistema de Saúde, que fosse aprovada uma directiva parlamentar que obrigasse Correia de Campos, no final do mandato e depois de aprovadas as contas do seu ministério, caso se verificasse o agravamento das despesas, relativamente ao que tinha recebido do Governo anterior, a repor as verbas gastas a mais.Há que responsabilizar os ministros pela política que praticam, penalizando-os.

Assiste-se, hoje, dito por muitos profissionais da Saúde, a uma política de mercenarismo no sector. Seria bom que os Hospitais do Barlavento e de Faro publicassem mensalmente as suas despesas com as contratações casuísticas que efectuam.

Podem responder, se houver coragem política: quantos médicos, ao fim-de-semana, vão trabalhar para o Hospital de Faro, pertencendo aos quadros do Hospital do Barlavento e vice-versa e quanto é que isto custa ao erário público?

Será que todas as consultas que estes hospitais possuem estão a ser rentabilizadas? Só para citar um exemplo de forma aleatória, a marcação de uma consulta foi feita para três meses depois, e no dia em que ela se realizou, na hora em que teve lugar, não havia mais nenhum doente para ser visto.

Não havia lista de espera, porquê tanto tempo e tão pouca rentabilidade das potencialidades de uma vertente inserida no Serviço Nacional de Saúde? Será que, num país pobre, de desempregados, é honesto andar a fomentar a procura dos serviços de saúde privados?

Como é possível, perante a oferta de uma máquina para efectuar determinado diagnóstico, que a associação que a pretendia doar tenha sido informada que o hospital não tinha doentes que justificassem a aquisição de tal máquina?

Seria porque o médico que deu o parecer é membro de uma clínica privada e nessa unidade existe uma máquina para fazer aquele tipo de diagnóstico?

Os hospitais-empresa, ficou provado, têm um desempenho, principalmente a nível de despesas, muito pior que os hospitais-públicos. Teimosamente, continuam a enveredar por este modelo.

Cito António Arnaut, que não quer falar do seu partido, o PS. A sua assinatura na petição do Bloco de Esquerda é feita na qualidade de cidadão e também por «puro humanismo: não podemos consentir que se retirem os cuidados de saúde a uma população já sacrificada pelo desemprego».

Manuel Alegre, um histórico do Partido Socialista e vice-presidente da Assembleia da República, Pedro Nunes, bastonário da Ordem dos Médicos, João Semedo, também, assinam a petição do Bloco de Esquerda, que pretende angariar 100 mil assinaturas para defender o Serviço Nacional de Saúde no Parlamento.

17 de Janeiro de 2008 | 17:37
helder nunes

5:32 da tarde  
Blogger e-pá! said...

Caro Tonitosa:

A sua revolta impressionou-me e o seu grito de indignação parece rasgar, de alto a baixo, pesadas armaduras, atrás das quais se podem acoitar intoleráveis indiferenças e insuportáveis insensibilidades.

Não é o momento de fazer avaliações técnicas, científicas, legais, ou outras, sobre este nefasto caso.

Mas, apesar disso, senti-me compelido pela minha consciência a percorrer um inquieto e escabroso caminho de especulação para onde - acontecimentos tão tristes e dolorosos - me empurraram.

Não sei porquê, fui, abruptamente, colocado perante a filosófica questão de definir o que é:
O VINAGRE.
E, segundo uma arcaica lenda, 3 sábios, foram convocados para tal efeito.
Alvitraram:
o primeiro disse que era "azedo";
um outro: é "amargo"
e o terceiro, um oriental, classificou-o de: "fresco"!
Subsídio para a compreeensão da parábola:
No Império do Meio (Oriente, China) o vinagre é conhecido como a "água da vida"...

A eventual relação de subsidiariedade entre o estado de prontidão da rede de urgência pré-hospitalar, a inexorável decisão do momento de encerramento das urgências (programadas para extinguir) e as axiomáticas certezas da ARSCentro sobre a "não-casualidade" dos factos, fizeram-me lembrar - em relação a este lamentável "caso" da morte da criança em Anadia - a parábola do vinagre.

Na Antiguidade Clássica, Aristoteles, dizia, na sua Poética:

"Não é ofício do poeta narrar o que aconteceu;
é, sim, o de representar o que poderia acontecer;
quer dizer: o que é possível segundo a verosimilhança e a necessidade".

Bem podiam, hoje, amanhã e no futuro, os meios de comunicação social, dizer o mesmo.
Só, que a população, em Anadia, não entenderia, nem adoptaria esta filosofia de vida.

A revolta que nunca é inocente aparece, muitas vezes, à luz do dia, como nostálgica.
E a nostalgia não dissipa fantasmas...

10:29 da tarde  
Blogger tonitosa said...

Os acontecimantos recentes "à porta" das urgências ou das ex-urgências dos hospitais poderiam não ter sido evitados se as Urgências não tivessem sido encerradas! Mas que não são nada de bom pra Correia de Campos, lá isso não são.
E ao ver hoje as suas reacções nas TV's, concluique o MS não conseguiu disfarçar o seu incómodo.
A um dos entrevistadores disse que "já sabia muito mas não podia saber tudo" e remeteu a pergunta para o presidente da ARS. A outro jornalista repondeu mesmo, em minha opinião de forma pouco digna para um governante, ao dizer-lhe que "se as suas avozinhas não tivesem morrido ainda hoje eram vivas"!
Tal atitude não dignificou o Ministro da Saúde e mostrou a sua arrogância habitual, não respeitando, desta vez, quem estava no exercício da sua profissão.
Por estas e por outras é que enviei há dias um comentário discordando da forma como o Xavier
tratou a SIC a propósito do post "Encerramentos".
É que dizia o Xavier:
"A reportagem, conduzida com a habitual ligeireza, embora de forma correcta, tentou recolher os argumentos dos principais protagonistas do conflito. Não faltando o indispensável momento de dramatismo com o relato do caso de uma paciente que a SIC encontrou na sala de observações do centro de saúde que confessou estar doente há três dias, mas com medo de ser transferida para Vila Real, ter recusado a assistência médica até ao limite.
Uma coisa está garantida. Seja qual for a qualidade do trabalho a Saúde vende sempre."

Aquele meu comentário nem chegou a ser publicado mas ainda assim repito aqui apenas uma breve ideia, que nele expressara:

"Xavier, na defesa que faz de CC e na forma como por vezes a faz pode estar a desperdiçar o capital de credibilidade que acumulou ao longo destes anos no Saúde SA, enquanto seu proprietário e editor."

12:53 da manhã  
Blogger xavier said...

Um forte ataque de gripe impediu-me de manter o saudesa em funcionamento por 12 horas.
As minhas desculpas por esta falha.

2:40 da tarde  
Blogger Clara said...

O ex-candidato presidencial independente e deputado socialista, Manuel Alegre, teceu hoje duras críticas à reforma dos serviços de saúde, considerando que se trata de um "erro colossal" e de uma política "estapafúrdia" do actual Governo.

"As pessoas vão passar a nascer em casa ou a morrer em casa, para além daqueles que já andam a nascer pelo caminho", ironizou, ao abordar numa entrevista à jornalista Flor Pedroso, da Antena 1 - que vai para o ar ao 12h00 - a desertificação dos serviços públicos no interior.

Manuel Alegre confirmou que vai assinar uma petição em defesa do Serviço Nacional de Saúde (SNS), liderada pelo histórico do PS, António Arnaut, e que junta, entre outros, elementos do Bloco de Esquerda e do PCP. "A esquerda moderna deve reforçar o Estado social e não desmantelar o Estado social", declarou, sublinhando que, no poder, esta deveria garantir o reforço e viabilidade do SNS. "Estaria a mentir se dissesse que me reconheço (no actual Governo). Não, não me reconheço", afirmou.

"Parece que é isto que se está a fazer (desmantelar)", disse, acrescentando "não compreender esta política, não só das taxas moderadoras para tratamentos e cirurgias (uma dupla tributação), como a extinção de urgências e de Serviços de Atendimento Permanente e o encerramento de maternidades em zonas do interior, seja qual for a fundamentação técnica". "Isso é um erro colossal, porque as pessoas se sentem desprotegidas e abandonadas pelo Estado, sobretudo em regiões do país onde não há mais nada", declarou.

"Se tiram os serviços públicos do interior, as pessoas sentem-se abandonadas e desprotegidas, não foram criadas alternativas, as coisas não foram explicadas e é tudo feito por atacado", afirmou.

Alegre defendeu que estas medidas estão a "criar uma revolta muito grande" na população, porque os portugueses precisam de um "bom Serviço nacional de Saúde". "Eu já avisei que isto é perigoso", salientou, lembrando que até Jerónimo de Sousa foi "levado em ombros" na Anadia. "Se aparece uma Maria da Fonte, de saias ou de calças, arranja uma fronda popular, e isso pode pôr em causa um certo consenso nacional sobre a própria democracia", sublinhou.
JP 19.01.08

Manuel Alegre vive destas tiradas demagógicas.
Se MA fosse minimamente coerente há muito tempo deveria ter saído. Se não precisasse do partido para sobreviver.

3:44 da tarde  
Blogger tonitosa said...

Xavier,
Os meus votos de melhoras e de que não chegue a ter necessidade de recorrer às Urgências de qualquer hospital. Particularmente se estiver por Bragança, Aveiro ou Faro.
Um abraço

3:47 da tarde  
Blogger tambemquero said...

Desfechos previsíveis

Não se ouve o Governo debater qual o novo modelo de financiamento da Saúde

Nem demorou muito tempo a acontecer. Esta semana foi noticiado que um grupo de empresários, que já possui unidades de saúde, vai abrir, em Chaves, um hospital privado com serviço de maternidade. Precisamente na cidade onde o Governo decidiu fechar a maternidade pública, que funcionava no hospital estatal. Para quem tivesse dúvidas, passou a ser transparente o desfecho da chamada "reforma da saúde" em Portugal, que se tem traduzido, na prática, na aposentação de serviços de saúde pública.
A reportagem apresentada pela SIC sobre o assunto era cristalina. A população de Chaves dizia aquilo que é central neste assunto: o serviço prestado pela futura maternidade será pago, ou seja, aquilo que até hoje tinha sido, em Chaves, um direito passa agora a ser um negócio.
É certo que existem alternativas públicas. É certo que quem vive em Chaves e quiser ter filhos através do sistema público pode ir a hospital estatal de Vila Real. E há até a alternativa de ir a Espanha, que nem fica longe. Mas não é preciso ser especialista ou estudar muito o assunto para se perceber que, para muitas pessoas será preferível pagar, mesmo até recorrendo a crédito bancário, e ter os filhos na terra onde vivem do que deslocarem-se de carro ou de ambulância a uma cidade próxima. É, aliás, sabendo isso que um serviço que foi fechado pelo Estado, porque não justificava o investimento público a que obrigava, é visto como aliciante e potencialmente lucrativo por um grupo de empresários do sector da saúde, que decidiram investir na abertura de um hospital em Chaves.
O desfecho era previsível. É lógico que o objectivo da dita "reforma da saúde" não passa senão por poupar dinheiro no Orçamento do Estado, desinvestindo no sector público, retirando direitos sociais aos cidadãos e, por contraposição, beneficiando o lucro privado, transformando direitos em negócios. A questão e o objectivo é tão-só esse, quanto não se ouve o Governo, nem o PS, partido de cujo apoio parlamentar o Governo teoricamente depende, debaterem quais as novas formas de financiamento, ou qual o novo modelo de financiamento da Saúde que deve ser adoptado. Apenas e só se assiste ao protesto das populações perante o fecho de serviços.
A situação tem sido generalizada. E, depois das maternidades, é agora a vez das urgências. Perante o protesto das populações que se sentem desamparadas, abandonadas pelo Estado democrático. Estado que teoricamente existe para os servir e para garantir o tratamento em igualdade de circunstâncias e também a redistribuição da riqueza através da cobrança de impostos que deveriam alimentar os serviços de apoio aos cidadãos. Como resposta aos seus protestos, as populações têm tido a explicação - ingénua ou cínica? - do ministro de que passará a haver uma ambulância para tratar de levar os casos realmente urgentes ao hospital com serviço de urgência mais próximo.
Perante solução tão cândida como a de substituir uma urgência por uma ambulância do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), pergunta-se: e se na mesma noite, sensivelmente à mesma hora, houver um acidente de viação (coisa que em Portugal é mato como os números mostram) e um enfarte agudo do miocárdio ou um acidente vascular cerebral, para que vítima se vira o INEM? Qual é a prioridade para transporte urgente? Qual o critério para escolher a quem o INEM tenta salvar a vida e quem pode morrer?
JP 19.01.2008, São José Almeida

Excelente artigo

4:06 da tarde  
Blogger tonitosa said...

Felizmente cada vez há mais "Manuéis Alegres" que vão levantando a voz contra o caminho que o SNS segue. Basta estarmos atentos.
E os protestos só pecam por tardios. Mas mais vale tarde que nunca.
O SNS orecisa de ser reformado, é verdade, mas não desmantelado.
Aliás num dos seus livros assim escreveu CC a propósito do Estado Social Europeu. Mas, ao que parece e se constata, podemos repetir: bem prega Frei Tomás.
Esta de Manuel Alegre precisar do partido para sobreviver não deixa de ser surreal. Então o homem não é já reformado? Ou se não é, não pode sê-lo quando quiser? E a sua reforma não lhe permite sobreviver? Se fôsse essa a sua postura teria dificuldade em arranjar um bom lugar, colando-se ao Governo?
Não, MA é, como sempre foi, um Homem que pensa pela sua cabeça. Um verdadeiro socialista e defensor das liberdades e dos direitos fundamentais. Esse, e outros méritos, ninguém conseguirá retirar-lhe.

5:45 da tarde  
Blogger e-pá! said...

O que se está a passar no Norte e que nos últimos dias se tornou visível com o anúncio do novo Hospital Privado de Chaves é uma situação envolvente em toda aquela região.
Quer o HP de Viana, o HP Trofa, O HP Braga; o HP Matosinhos, a Casa de sáude Guimarães SA, empresas da área da construção civil e a provável (escondida?) batuta da UMP (?) associada (?) ao BES, prenunciam a formação de um grande e diversificado "sindicato de interesses" para atacar em força a área dos cuidados privados de saúde. Não só para fazer negócio para para forçar, políticamente, uma mudança de paradigma do SNS.

A Direita começou a mostrar as garras. Depois das ingenuidades e os despaupérios de LF Menezes que originaram sorrisos de complacência, apareceu, finalmente, um peso-pesado a teorizar sobre o "esquartejamento" do SNS pelos grupos privados. Todos a conhecemos: Manuela Ferreira Leite!

Portanto, daqui para a frente, não colhe argumentar que o SNS está inscrito em códigos genéticos, portanto, seria agradável deformação congénita, de hereditariedade (dominante) no nosso sistema político.

A defesa e a consolidação do SNS, com as actuais características constitucionais, deverá estar inscrita na prática política deste Governo, sustentado políticamente por uma maioria socialista e, neste campo, por todo o espectro político à sua Esquerda.

O Poder tem de dar ouvidos, tem de reflectir sobre as declarações de A. Arnault, M. Alegre e de muitos outros modestos mas empenhados socialistas, sem viíbilidade mediática.

O outro campo começou a manobrar com tanques e artilharia pesada. Vamos ficar deste lado a conversar, ou pior, a desconversar?

Este é uma importantíssimo facto político que não se confina a CC. Atinge José Sócrates enquanto SG do PS e PM do XVII GC.
Qualquer "desaire" no SNS ser-lhe-á directamente imputado.

8:16 da tarde  
Blogger PhysiaTriste said...

Caro E-pá :

Diz o E-pá que a análise sistémica está reservada a alguns génios. Com todo o respeito não posso concordar consigo.

A gestão é, como se sabe, uma ciência e uma arte. Como ciência desenvolveu-se como tantas outras.
Foi evoluindo através do aparecimento sucessivo de novas correntes de pensamento que começavam como reacção à corrente antecedente e acabavam por integrar parte do adquirido anterior.

Bruno Lussato, por exemplo, distingue seis correntes de pensamento de inspirações diferentes e complementares:

- A Escola Clássica saída das pesquisas de Taylor e Fayol.
- O movimento das “relações humanas” influenciado pela psicologia e dinâmica de grupos.
- Uma corrente quantitativa, apoiada na investigação operacional.
- O movimento psicosociológico inspirado na sociologia.
- Uma escola neoclássica, que sentiu a necessidade de se reaproximar dos problemas concretos das empresas e cujo grande expoente foi Peter Drucker-
- O movimento nascido da cibernética e conhecido sob o nome de Teoria Geral dos Sistemas.

Poderíamos sistematizar esta evolução de modo diferente e até acrescentar outras correntes de pensamento como, por exemplo, a burocracia, importante na gestão de serviços públicos.

Os gestores têm necessidade de estudar os fundamentos destas teorias, para modelar o seu próprio quadro conceptual e saberem dispor dum “mix” de ferramentas, necessário à resolução dos problemas da gestão.

Todo o dirigente eficaz age através de sistemas de gestão: é através deles que planeia, que estrutura, que delega, que coordena, que controla. Até pode acontecer que alguns desses gestores desconheçam os princípios sistémicos. Mas então diria que lhes acontece o mesmo que a Monsieur Jourdain,; o tal que fazia prosa sem o saber.

6:13 da tarde  

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