Diga-nos, senhor presidente
Os problemas verificados no sector da saúde foram um dos aspectos privilegiados pelo Senhor Presidente da República na comunicação ao País pelo Ano Novo. Naquela sua intervenção como que antecipava a revolta social que se instalou e que levou à queda do Dr. Correia de Campos.
O Professor Cavaco Silva esteve recentemente no Porto para participar na inauguração do Instituto CUF do grupo José de Mello Saúde, projecto que se integra na criação de um grande Hospital Privado nas cidades do Porto/Matosinhos. Que me lembre, a última vez que concedeu a honra da sua visita a uma unidade de saúde foi há cerca de um ano quando, na companhia do ex ministro Correia de Campos, integrou a comitiva de honra que inaugurou o Hospital da Luz, grande investimento do grupo Espírito Santo em Lisboa. Neste entretanto e ao longo de todo o mandato presidencial, desconheço que tenha tido a preocupação de visitar um qualquer hospital da rede do Serviço Nacional da Saúde para dar ânimo aos profissionais que, sete dias por semana, tratam e dão apoio aos concidadãos com problemas de saúde mais graves e de menores recursos financeiros.
Recentemente a SEDES referia sentir-se "um mal-estar difuso" que "alastra e mina a confiança essencial à coesão nacional", alertando para o risco de uma grave crise social motivada pela descrença dos portugueses nos seus representantes políticos. Confrontado com estas declarações, o Senhor Presidente da República aconselhava-nos a não resignar e a trabalhar para vencer as dificuldades. Convém lembrar que há meio milhão de desempregados que querem mas não conseguem encontrar trabalho, ao qual se juntam milhares com vínculos precários. Muitos destes profissionais pertencem à área da saúde onde, aqueles com emprego, partilham com os demais trabalhadores do Sector Público o congelamento das carreiras profissionais, a ausência de políticas que premeiem o desempenho e aumentos salariais sempre aquém dos valores da inflação.
Com tanta parcialidade no tratamento dos agentes no terreno e pela descrença demonstrada nas capacidades dos trabalhadores do Sector Público, diga-nos Senhor Presidente: Trabalhar para quem, para quê e em nome de que interesses?
Jorge Almeida , médico cardiologista, Hospital São João, 29.02.08
Com tanta parcialidade no tratamento dos agentes no terreno e pela descrença demonstrada nas capacidades dos trabalhadores do Sector Público, diga-nos Senhor Presidente: Trabalhar para quem, para quê e em nome de que interesses?
Jorge Almeida , médico cardiologista, Hospital São João, 29.02.08
Com excepção de VPV, são raros os cronistas do nosso burgo que ousam criticar a actuação calculista do PR, Aníbal Cavaco Silva.
O mesmo sucede aqui na SaudeSA. Sempre que é postado algo sobre o PR, quase toda a gente evita fazer comentários. Parece que escalda. Basta dizer que é a única matéria, em relação à qual, o É-Pá não se aventura link
Certeiro e oportuno este texto do Jorge de Almeida.
Certeiro e oportuno este texto do Jorge de Almeida.
Etiquetas: Politica
12 Comments:
Conclusões do Think Tank Saúde-em-Rede
Peritos querem «exigência» na escolha de gestores
Os profissionais de saúde elegem a escolha dos administradores dos cuidados saúde primários (CSP) como uma das principais preocupações relativas à prossecução da reforma neste sector. Uma das conclusões dos especialistas que formam o Think Tank Saúde-em-Rede, apresentadas a 21 de Fevereiro, na Escola Superior de Tecnologias da Saúde, em Lisboa, é que na criação de agrupamentos de centros de saúde (Aces), e também na implementação das unidades de saúde familiar (USF) de modelo B, é necessário «grande exigência na escolha dos novos dirigentes» (sobre este assunto ver também pág. 2).
Um dos porta-vozes desses peritos, José Luís Biscaia, que faz também parte da Associação Portuguesa de Médicos de Clínica Geral (APMCG), salientou, na sessão pública de apresentação das conclusões, a importância dos Aces, pelo facto de permitirem que, «pela primeira vez», exista uma entidade nos CSP com «autonomia administrativa».
Mas, aprofundando algumas das considerações do grupo de peritos, alertou, por outro lado, para o facto de haver «poucas capacidades técnicas instaladas». O médico questionou, então, como se pode criar «este nível intermédio de administração» sem que existam, por exemplo, «competências na área da contratualização, gestão e liderança de recursos humanos».
Neste sentido, uma das dificuldades apontadas no documento divulgado pelos especialistas prende-se com a «não renovação ou aquisição de competências» dos elementos que administram os CSP. Na opinião dos profissionais, expressa por José Luís Biscaia, assegurar que isso aconteça passa «claramente» pela «escolha adequada e formação dos quadros que têm de assegurar este nível de gestão».
Além disso, no texto das conclusões ainda indicado que a reforma pode ficar comprometida, caso se verifique o «regresso da velha burocracia dirigente, eventualmente caldeada com algumas caras novas», embora sejam «escolhidas como de costume».
Evitar a «burocratização da contratualização»
Tal como a institucionalização dos Aces, a contratualização surge aos olhos do grupo de peritos como uma peça fundamental na reforma dos CSP. Mas esta também não está livre perigos. Conforme indicou José Luís Biscaia, existe a «ameaça» de se caminhar para a «burocratização da contratualização». Isto porque, por um lado, os departamentos de contratualização podem assumir uma função de «meros técnicos de contas» e, por outro lado, quem faz a contratualização pode «começar a trabalhar para os indicadores». Assim, o membro da APMCG referiu que os peritos sublinharam que é preciso não perder de vista a «função de acompanhamento e regulação» da contratualização.
No que respeita a este aspecto, José Luís Biscaia lançou ainda outro alerta. É que existe uma «desigualdade regional», uma vez que os departamentos das várias administrações regionais de Saúde que tratam do assunto «têm níveis ou patamares diferentes», consoante a região. O médico afirmou ser importante salvaguardar essas diferenças, mas indicou que o grupo de que é porta-voz defende que deve existir alguma «normalização», de forma a evitar-se «discrepâncias que ponham em causa a bondade da reforma».
A desigualdade poderá verificar-se também a um nível mais local se a contratualização não for disseminada pelos centros de saúde. Nas palavras do médico, isto pode mesmo levar a uma «discriminação negativa». E esta é uma situação que parece estar já a verificar-se quando se fala de acesso aos CSP. Vítor Ramos, médico da USF Marginal e que é o outro porta-voz das conclusões do grupo de peritos, frisou que um inquérito de satisfação feito às pessoas que passaram a aceder aos CSP através de uma USF permitiu verificar que «mais de 80%» são de opinião que, em relação à facilidade de acesso, o «movimento foi para melhor». No documento com as conclusões é, então, frisado que há uma «desigualdade na acessibilidade entre utentes de USF e os outros», pelo que os especialistas questionam se não será «urgente» aumentar o número de USF.
TM 03.03.08
Caro Xavier
Não sei se o PR escalda ou é apenas desinspirador. A critica implicita ao PR poderá ser algo injusta ou justa.
Será injusta se ao longo deste tempo nenhuma unidade tiver pedido ao PR que a visite, em evento próprio ou a propósito de algum acontecimento na unidade de saúde.
Será justa se tiverem existido esses convites em termos e interesse semelhantes aos que o Hospital da Luz e o grupo JMSaúde fizeram, e o PR tenha evitado a sua presença.
(e este comentário contribui para desmentir o que parecia implicito no post!)
Meu Caro Xavier:
Cavaco pouco importa no sector da Saúde.
Mas a verdade que desde a mensagem de Ano Novo onde explicitamente se questionava o Governo sobre Saúde, não passei - como insinua - ao lado desse assunto.
O PR não é uma "vaca sagrada", daquelas que circulam na India, e em nenhuma matéria política, muito menos na área da saúde, onde não parece possuir competências especificas relevantes, pode eximir-se ao julgamento dos portugueses.
Os médicos conhecem Cavaco desde há muitos anos. Conhecem-no desde a dupla Leonor Beleza /Costa Freire.
Mais, sabem que o grande lobby da Saúde - A ANF - nasceu debaixo do seu alfobre.
Portanto, Cavaco e Silva não é um ilustre desconhecido para os médicos.
Mas essa circunstância - per si - pouco importa.
O importante é o seu posicionamento político em relação ao SNS, ou se quisermos à política de Saúde, em geral.
Tem sido parco em declarações e quando fez perguntas, sabia quais as respostas. Sabia que respsotas queria.
Várias vezes escrevi neste blogue que CC não respondesse aos questionamentos do PR. Que deixasse esse assunto para as reuniões das 5ªs feiras com Socrates. Pelo menos duas ou três vezes CC não resistiu à tentação...
Portanto, não é verdade que tengha algum "parti pri" em relação ao Homem.
Aliás a inauguração do H. da Luz e a rocambolesca acção de marketing à volta de Eusébio, e indirectamente, envolveu o PR, mereceu os mais jocosos comentários.
Agora, a filia que apresenta pelas Unidades Hospitalares privadas a par de uma nefasta fobia pelos HH's públicos, pode significar muita coisa.
1º) o seu entendimento para o "caminho" para os HH's do SNS será outro?
2º) As PPP's (não esteve em Cascais!) serão outra vertente cujo pensamento oculta?
3º) O SNS a preservar será restrito aos CPS e os CCI ?
4º) Os Cuidados Hospitalares serão modelos empresariais (mais de 70% da totalidade dos HH's) a privatizar, incorporar novos modelos de gestão ou a discutir a sua universalidade?
Caro Xavier:
Cavaco é um homem que não faz o meu género (político). Eu gosto de questionar abertamente as coisas, como também gosto de ser questionado - sem rodriguinhos. Ele gosta de adiar essas questões é um conhecido e relapso "amante dos tabus".
Mas, neste momento, merecia uma pergunta directa.
Não coloco a questão do colega Jorge Almeida - trabalahar para quem? Ainda sei - para o SNS!
Agora as questões subsidiárias são pertinentes:
- Trabalhar para quê?
- Em nome de que interesses?
Esta última pergunta é fundamental.
Até porque elas incluiem a última "viragem" política sobre Saúde a rotagonizar pelo PSD nas próximas legislativas, anunciada por Menezes.
Se fosse M Ferreira Leite a fazê-lo, bem podiamos, solicitar (exigir) que Belém se explicasse.
Para já existe um motivo de grande preocupação e que deve merecer a maior atenção de todos os democratas:
O SNS, tal como está consagrado constitucionalmente, deixou de ser um "gentlemen's agreement" do regime (nascido do 25 de Abril).
Vão aparecer outras propostas.
Belém não estará inocente nesta alteração, seja ela:
logro,
quimera,
devaneio,
engano...
Engano, será a melhor expressão!
Sr. Presidente, fomos enganados?
PS- É óbvio que não posso colocar-lhe esta pergunta. Nunca foi o meu candidato, nem andou lá por perto.
Mas para a maioria dos votantes portugueses, nas últimas presidenciais, a pergunta poderá ser oportuna...
Embora, o "desmentido" oficial deva ser solene: o Presidente jurou a Constituição!
A ver vamos...
Apostilha:
Cavaco não é politicamente um pedagogo. Nem consta que, na sua carreira académica, o fosse, nem mesmo no cargos que exerceu no Banco de Portugal.
Como PM não há distanciamento histórico suficiente para lulgá-lo na globalidade.
Portanto, pouco há a esperar daí.
Por outro lado, esperava mais e melhor do Xavier:
Lembrou-se, subitamente, de um fustigado leitor, insistentemente designado por "É-Pá" (conotação com gelado) - quando o que está lá é : "e-pá!". i. e., a interjeição electrónica do vulgar pá (rapaz, homem).
Lamentavelmente, deixou de lado os seus últimos e prestimosos "nouvelles companhons de route", Hermes, Brites, Cândida Bordoada, etc. que certamente terão ajuizadas e pacatas opiniões - que ficamos todos à espera - sobre o comportamento político do PR em relação ao SNS e o que daí se espera... (sem ser a recondução "em ombros" de CC!).
Xavier, não se veste diariamente uma bata branca, ou um "pijama cirurgico", durante 30 anos, para nada.
O grande era dos gestores é pensar que é possível:
- ser médico do SNS (não me refiro aos licenciados em Medicina), impunemente (para ele e para os "outros").
O Dr.Cavaco Silva é um político experimentado e,também por isso, nada inocente. À disponibilidade demonstrada para credibilizar investimentos privados de grande fôlego no sector hospitalar, a par do desinteresse do que se passa na área pública (um PR não necessita de ser convidado para visitar um hospital público, só precisa de se fazer anunciar), tem que se lhe atribuir um significado.
Qualquer cidadão minimamente atento percebe que os grandes grupos económicos estão a tentar impor um novo modelo de saúde aos portugueses acente no princípio da convenção, implicando a retirada progressiva do Estado das funções de prestador. Numa primeira fase estão a captar os diferentes subsistemas para de seguida procurarem atrair os doentes do regime geral (pagos pelo orçamento de estado, naturalmente). Só assim se pode entender o "boom" na construção de hospitais privados e o reforço do capital financeiro destes grupos ao associarem-se a congénres europeus. Seguramente o Dr. Cavaco Silva é conhecedor deste "fenómeno" e, pela prática aqui descrita,só vem demonstrar que o apoia. Direi que não surpreende que a um político de ideologia neoliberal não repugne estender a filosofia de mercado ao sector social, o que de facto não se entende é que um partido de matriz Socialista nada faça para o contrariar, sendo mesmo conivente neste propósito.
As intervenções espaçadas do lisboaearredores pautam-se pela qualidade,elevado conhecimento técnico das matérias que aborda e bom senso.
Por isso mesmo, este seu último comentário é surpreendente.
Parece mandatado pelo PR.
Então Cavaco Silva para visitar as unidades prestadoras de cuidados do SNS precisa de ser convidado?
Naturalmente, o PR não deveria incluir na sua agenda política o SNS? Os profissionais da Saúde?
Pela mesma ordem de ideias, o PR quando critica a actuação do ministro da saúde, como aconteceu no seu último discurso à nação terá sido a pedido?!
Do inefável autarca da Anadia?
Do Menezes?
Dos grupos privados da Saúde?
Do SIM, OM, FNAM, BE, PCP, da Teresa Caeiro, da igreja?
O que é indisfarçável na actuação de Cavaco Silva é que se trata de um PR de direita,apoiante dos mais diversos grupos económicos que, no seu entender, poderão fazer o progresso ao nosso país. Não conseguindo esconder a hipocresia com lida com as questões sociais.(a caridadezinha, dos coitadinhos dos pobrezinhos).
Penso que o desempenho do actual PR tem sido a todos os títulos desastrosa (mesmo paraquem votou nele)
Sem pedagogia nem afecto. Um deserto de cultura. Incapaz de qualquer golpe de asa, aliás,como todos os nossos políticos, Cavaco Silva é mais um elemento promotor do tal mal estar difuso de que fala a SEDES.
Caro e-pá,
Longe de mim querer fustigá-lo.
O certo é que a provocação resultou.
Aproveito para lhe dizer quanto estimo a sua colaboração preciosa.
O saudesa seria naturalmente diferente (mais pobre) sem as suas intervenções (e a sua notável capacidade de fogo).
Como não nos conhecemos aproveito para lhe lançar mais um repto.
Quando descer à capital apareça para um copo à volta das PPP.
Um abraço
Excelente comentário do Tavisto.
Nesta perspectiva, CC estava na altura de ser despedido.
O que tinha a fazer, estava feito: dar credibilidade ao processo.
Agora, com um bocadinho mais de vaselina a coisa faz-se.
Os profissionais de saúde, acabam por ser, nada mais, do que carne para canhão!
Ou aceitam o que aí vem (CTI, desemprego)ou são cruelmente trucidados.
Há que lutar enquanto é tempo.
Até já começo a achar graça ao Manuel Alegre.
3:46 PM
Mas ainda há dúvidas ?!...
Esta é a política do do presidente Cavaco.
O Sócrates dos fatinhos não passa de apresentador de serviço.
O homem de plástico, limita-se a lêr os guiões do Aníbal. Até ser despedido.
Caro Xavier:
Volto-lhe a lançar-lhe um repto de a 12 ou a 13 de Abril fazermos um almoço de convívio dos colaboradores interessados e comemorativo do aniversário de saudesa.
Estou disponível ... e, com as mobilizações cibernéticas, há tempo...
Já tentei por mais de uma vez.
A maioria do pessoal não adere.
Não abdica do seu estatuto de semi anonimato.
Talvez o aidenós, o tonitosa.
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